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O contrato de concessão florestal e as expectativas dos atores

CAPÍTULO V AS EXPECTATIVAS DOS ATORES

5.1. O contrato de concessão florestal e as expectativas dos atores

A LGFP em seu art. 26 e o Decreto regulamentador 6.063/2017 em seu art. 35 e 36 estabelecem que os editais devem conter a descrição detalhada da metodologia para julgamento das propostas, sendo que o SFB definirá em cada edital de licitação federal um conjunto de indicadores que permita avaliar a melhor oferta, levando-se em conta o maior preço ofertado para outorga, a melhor técnica relativa a menor impacto ambiental, maiores benefícios sociais diretos, maior eficiência e maior agregação de valor ao produto ou serviço florestal na região de concessão. Tais indicadores podem ser utilizados para fins de pontuação na melhor proposta ou para fins de bonificação, devendo ser mensuráveis de forma objetiva, relacionar-se a aspectos de responsabilidade direta do concessionário e ter aplicabilidade e relevância para o respectivo critério (BRASIL, 2007).

O anexo 07 dos contratos de concessão florestal da Flona do Jamari apresenta treze indicadores. Quatro indicadores são exclusivos para fins de bonificação. Dos nove indicadores de classificação, sete são também utilizados para fins de bonificação. Desta forma, considerando a sobreposição de indicadores, no contrato do caso estudado há nove para classificação e onze para bonificação:

Quadro 12. Indicadores Indicadores para classificação

A1 Monitoramento da dinâmica de crescimento e da recuperação da floresta.

A2 Redução de danos à floresta remanescente durante a exploração florestal.

A3 Compra e contratação de insumos locais.

A4 Geração de empregos locais.

A5 Geração de empregos da concessão florestal.

A6 Diversidade de produtos explorados na unidade de manejo florestal.

A7 Diversidade de espécies exploradas na unidade de manejo florestal.

A8 Diversidade de serviços explorados na unidade de manejo florestal.

A9 Grau de processamento local do produto.

Indicadores exclusivos para bonificação

B2 Política afirmativa de gênero.

B3 Fornecimento de matéria prima para utilização pela indústria local.

B4 Implantação e manutenção de sistema de gestão e desempenho de qualidade socioambiental

Indicadores para classificação que também se aplicam para bonificação A1 Monitoramento da dinâmica de crescimento e da recuperação da floresta.

A2 Redução de danos à floresta remanescente durante a exploração florestal.

A4 Geração de empregos locais.

A5 Geração de empregos da concessão florestal.

A6 Diversidade de produtos explorados na unidade de manejo florestal.

A7 Diversidade de espécies exploradas na unidade de manejo florestal.

A8 Diversidade de serviços explorados na unidade de manejo florestal.

(Fonte: SFB, 2008 – com adaptações)

Em momento posterior à celebração do contrato do caso estudado, o SFB editou e atualizou resoluções para tratar do tema. Atualmente a resolução que trata dos indicadores é a Resolução nº 38, de 05 de Outubro de 2017, disponibilizada no diário oficial de 09 de outubro de 2017. Tal resolução não se aplica aos contratos pretéritos por depender de aditivo contratual (art. 1º §1º). A norma apresenta nove indicadores para o critério de menor impacto ambiental, todos aplicáveis para fins de bonificação, cinco deles também são classificatórios. Para o critério de maior benefício social são também apresentados nove indicadores, todos aplicáveis para bonificação e um deles para classificação. Para o critério de maior eficiência são apresentados seis indicadores, todos aplicáveis para bonificação e apenas um destes classificatório. Para o critério de maior agregação na região são apresentados dois indicadores, um destes classificatório (SFB, 2017f).

Algumas alterações pontuais na modelagem contratual podem refletir em ganhos econômicos, sociais e ambientais da forma esperada pelos atores envolvidos no processo de concessão florestal. As percepções e as expectativas levantadas deram conta de que os reflexos econômicos, sociais e ambientais positivos poderiam ser maximizados caso houvesse maior uso dos produtos florestais não madeireiros, mais incentivos para o aproveitamento do material lenhoso residual e dos resíduos florestais, maior beneficiamento dos produtos e fomento para o desenvolvimento de outras espécies de madeira.

Acredita-se que uma possível solução para atender em grande medida a tais expectativas passa pela forma como o termo de contrato de concessão florestal regula a agregação de valor na região da concessão florestal.

Cumpre registrar que o instrumento contratual apresenta em anexo o indicador “A- 6”, que tem como critério a maior eficiência e busca tratar da “Diversidade de produtos explorados na unidade de manejo florestal”. Para fins classificatórios no certame licitatório, tal indicador estabelece que os candidatos poderão ganhar até quarenta pontos em sua proposta, sendo doze pontos relativos à exploração da madeira em tora; dezesseis pontos relativos ao material lenhoso residual da exploração (“desde que o volume explorado seja de no mínimo 30% do volume de madeira em tora extraída”); e doze pontos caso a concessionária explore produtos florestais não madeireiros “desde que represente no mínimo 5% do total pago ao poder concedente referente à madeira em tora auferida na concessão”. Além disso, caso se explore produtos florestais não madeireiros além de tal compromisso contratual há uma bonificação consubstanciada no desconto de 5% sobre o valor do m3 de madeira em tora.

Além disso, o edital de Jamari estabeleceu que seriam eliminados os concorrentes que explorassem menos de 15 espécies para produção madeireira. Estabeleceu-se no edital que os concorrentes poderiam receber até quarenta pontos caso alcançassem 40 espécies na exploração. Por meio do anexo contratual intitulado indicador “A-7” o contrato previu como bonificação o desconto sobre o valor do m3 de madeira em tora, que pode chegar até 3% caso a concessionária consiga incrementar 80% ou mais no número de espécies.

O edital trouxe a previsão de que caso fossem explorados serviços de hospedagem, atividades de esportes de aventura e visitação e observação da natureza o concorrente poderia ter até 20 pontos incorporados à sua proposta. Além disso, segundo o indicador “A-8” previsto como anexo contratual, a exploração de cada um destes serviços poderia se reverter em até 1% de desconto sobre o valor do m3 da madeira em tora se a concessionária superasse o compromisso contratual – para se entender que tais serviços seriam explorados e fazer jus a pontuação e bonificação o faturamento com serviços deve ser de ao menos 20% do faturamento total da concessionária.

O anexo contratual que prevê o indicador “B-4”, por sua vez, trata do fornecimento de matéria prima para utilização pela indústria local. Segundo tal indicador, a cada 20% de matéria prima fornecida à indústria local, a concessionária terá um desconto de 1% nos valores devidos.

Como se vê, o órgão gestor tomou cuidado de apresentar incentivos ao maior uso dos produtos florestais não madeireiros, ao aproveitamento do material lenhoso residual e dos resíduos florestais, ao maior beneficiamento dos produtos e ao desenvolvimento de outras espécies de madeira. Todavia, não obstante tais incentivos, há uma percepção comum de que tais atividades poderiam ser incrementadas, o que indica que os incentivos contratuais talvez

não tenham sido suficientes para o pleno desenvolvimento dos diversos potenciais da atividade de concessão florestal. Mudanças pontuais podem auxiliar que se caminhe para a maximização dos benefícios econômicos, sociais e ambientais, o que pode reforçar o papel da política de concessões florestais em gerar renda, tributos e empregos, conservando os recursos naturais.