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CAPÍTULO III AS CONCESSÕES FLORESTAIS NO BRASIL

3.3 O funcionamento do modelo brasileiro de Concessões Florestais

3.3.2 O regime econômico da concessão florestal

Os contratos celebrados entre o poder concedente e as concessionárias preveem um regime econômico que atribui à concessionária as seguintes obrigações: i) preço calculado sobre os custos de realização do edital de licitação; ii) pagamento não inferior ao valor mínimo definido no edital, calculado em função da quantidade de produto ou serviço auferido, ou em razão do faturamento; iii) responsabilidade por realização de investimentos previstos em contrato; iv) indisponibilidade dos bens considerados reversíveis (Art. 36).

A LGFP define que na estipulação do preço calculado sobre os custos de realização do edital de licitação seja considerado o estimulo à competição e concorrência, garantia de condições de competição do manejo em terras privadas, cobertura dos custos do sistema de outorga, geração de benefícios para sociedade, estimulo ao uso múltiplo da floresta,

manutenção e ampliação da competividade de atividades de base florestal e a aplicação de referências internacionais (Art. 36). Embora a Lei trate do ressarcimento dos custos do edital, como forma de incentivo a que empresas de pequeno porte, microempresas e comunidades locais participem da concorrência, a Lei os dispensa da necessidade de arcar com os custos do edital (Art. 24).

O pagamento não inferior ao valor mínimo definido no edital calculado em razão da quantidade de produto ou serviço ou em razão do faturamento deve ser definido em contrato de concessão, leva em conta a aplicação de critérios de revisão ou reajuste conforme condições contratuais (Art. 38). Tratam-se dos preços florestais que, conforme definido na Resolução SFB nº 25/2014 de 02 de Abril de 2014, correspondem a quantia paga pela efetiva exploração dos produtos florestais madeireiros, não madeireiros e material lenhoso, divide-se em: i) preço do produto madeira em tora, calculado por metro cúbico; ii) preço do produto material lenhoso residual da exploração, que pode ser pago por tonelada ou volume; e iii) preço do produto florestal não madeireiro, calculado com base na unidade volumétrica de cada produto florestal (SFB, 2014).

A Lei determina que a regulamentação específica trate de valor mínimo anual, VMA, a ser exigido da concessionária independentemente da produção, limitado a 30% do valor mínimo definido no edital, tal valor decorre de uma estimativa de produção ou de valores auferidos pela execução do objeto da concessão. Assim, ainda que a concessionária não produza, ou produza pouco em determinado ano, terá de pagar pela concessão (Art. 36).

A Resolução nº 25/2004, artigo 9, expedida pelo Conselho Diretor do Serviço Florestal Brasileiro, deixa claro que caso o valor pago pela concessionária em razão de sua produção se iguale ou ultrapasse o montante estipulado a título de VMA a obrigação de pagamento de VMA resta suprida. Todavia, caso os valores pagos não alcancem o VMA há necessidade de complementação da quantia. Trata-se de um estímulo econômico para que ocorra a produção florestal em um patamar mínimo (SFB, 2014).

A LGFP cuidou de estabelecer parâmetros para distribuição dos preços pagos pela concessionária em razão da atividade florestal nas florestas nacionais. Foi preocupação do legislador determinar que tais recursos deveriam ser distribuídos proporcionalmente entre as diferentes esferas da federação.

Nas Flonas, o VMA é revertido integralmente ao órgão gestor (SFB) para custeio de suas atividades. Já os demais valores decorrentes dos preços florestais nas Flonas são destinados na seguinte proporção: 40% para o ICMBio, com seu uso restrito à gestão das Unidades de Conservação de Uso Sustentável; 20% para os Estados, destinados

proporcionalmente à distribuição da floresta pública outorgada em suas respectivas jurisdições, voltado e condicionado ao apoio e promoção da utilização sustentável dos recursos florestais; 20 % aos municípios, também destinados proporcionalmente à distribuição da floresta pública outorgada em suas respectivas jurisdições, voltado e condicionado ao apoio e promoção da utilização sustentável dos recursos florestais; e 20% destinado ao Fundo Nacional de Desenvolvimento Florestal (Art. 40). O quadro abaixo ilustra esta distribuição:

Figura 8. Distribuição dos recursos arrecadados pela concessão em Florestas Nacionais. (Fonte: SFB, 2015)

Para que recebam tais recursos, a LGFP obriga os Estados e Municípios a instituírem um conselho de meio ambiente com participação social. O conselho ainda tem a função de aprovar tanto o cumprimento das metas relativas à aplicação destes recursos referentes ao ano anterior quanto a programação da aplicação dos recursos do ano em curso (Art. 39, §3º).

A LGFP criou o Fundo Nacional de Desenvolvimento Florestal, de natureza contábil, gerido pelo órgão gestor federal, destinado a fomentar o desenvolvimento de atividades sustentáveis de base florestal no Brasil e promover inovação tecnológica no setor (Art. 41), com seu custeio oriundo dos preços florestais.

Além destes valores, em razão do que dispõe o artigo 26 da LGFP, que determina que as licitações de concessão florestal deverão levar em conta os maiores benefícios sociais diretos, os procedimentos licitatórios conduzidos pelo SFB têm contabilizado e pontuado propostas que apresentem maior valor investido nas comunidades locais em bens e serviços. Assim, os contratos de concessão celebrados com a licitante vencedora estabelecem que as concessionárias sejam obrigadas a depositar anualmente um valor a ser investido em

comunidades adjacentes e residentes na Flona. Tal valor deve ser revertido em equipamentos sociais, bens e serviços, conforme propostas que venham a ser aprovadas pelos conselhos de meio ambiente dos municípios de abrangência da área concedida.

Tais valores são vinculados, depositados em conta específica devem ser convertidos em benefícios diretos às comunidades adjacentes, tendo os conselhos municipais de meio ambiente autonomia para execução dos recursos de acordo com a demanda das comunidades.

Durante a tramitação do projeto de Lei algumas preocupações surgiram, como a necessidade de fiscalização não apenas da área concedida, mas também das demais florestas, evitando que a madeira de concessão tenha que competir com a madeira ilegal (ARAUJO, 2008). A concorrência com madeira ilegal ainda é um dos muitos entraves que a implementação da política de concessões florestais enfrenta, conforme apresentado a seguir.