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Mapa 11 – Parcelamento do solo em Macaíba entre 1958 e 2017

3 MACAIBA: EVOLUÇÃO URBANA E SUA INSERÇÃO NO

3.1 FORMAÇÃO E EVOLUÇÃO URBANA DE MACAÍBA

3.1.1 A atividade comercial e a formação do núcleo urbano de Macaíba

Os antecedentes da ocupação do que no século XIX se constituiria o território do município de Macaíba estão diretamente relacionados aos movimentos decorrentes das frentes de ocupação ocorridas no Rio Grande do Norte no início do século XVII. Nesse contexto, entendemos que foi a partir das concessões de datas de sesmarias ao longo das ribeiras dos rios Jundiaí e Potengi que se estabeleceram as bases para a ocupação do território que daria origem ao povoado e, consequentemente, a vila e ao município de Macaíba.

De acordo com Santos, P. (2010), a primeira sesmaria concedida no recém-ocupado território se deu em 9 de janeiro de 1600 ao então Capitão-mor João Rodrigues Colaço, objetivando o plantio. Sobre a sua localização o autor destaca, baseado em Olavo de Medeiros Filho, que as terras doadas “são as mesmas, onde se encontra hoje o município de São Gonçalo do Amarante, inclusive a terra ocupada pela própria cidade, sede do município” (SANTOS, P., 2010, p. 57). Foi a partir dessa concessão que outras foram surgindo nos arredores da nascente capital, bem como no interior da Capitania63.

63A partir da doação dessa primeira sesmaria foram surgindo outras doações em torno da cidade e, em seguida, para o interior da Capitania. Assim, começava, oficialmente, a formação da estrutura produtiva da Capitania do Rio Grande. Para se ter uma ideia da evolução da estrutura de produção da Capitania, já em 1614, existiam 185

Recorrendo a autores que analisam o processo de formação territorial do Rio Grande do Norte, vamos observar que, pari passu à criação e ao desenvolvimento de Natal, iniciaram-se os movimentos de busca de novas áreas destinadas, principalmente, ao desenvolvimento de atividades agropastoris, possibilitando o surgimento de outros núcleos de ocupação (LYRA, T., 2008; MEDEIROS FILHO, 2010; SANTOS, P., 2010).

No livro História do Rio Grande do Norte, Tavares de Lyra examina os desdobramentos da ocupação do território potiguar logo após a fundação de Natal, destacando que “o povoamento do solo e o cultivo de terras eram indispensáveis para a consolidação da conquista. Rodrigues Colaço procurou desenvolvê-los, fazendo largas concessões de sesmarias” (LYRA, T., 2008, p. 45). Ainda de acordo com o referido autor, os movimentos realizados pelos colonizadores na busca de terras para ocupação se deram ao longo dos vales de diversos rios, dentre eles o Potengi e o Jundiaí.

Para o sul, em toda a faixa litoral e numa zona de algumas léguas para o interior, a corrente migratória estava definitivamente encaminhada, notando- se ao longo da costa e às margens dos rios Pitimbu, Pirangi, Trairi, Jacu Curimataú, Guaju e outros em trabalho persistente e intenso de desbravamento do solo. Para o norte, o povoamento não ultrapassava ainda o Maxaranguape, a dez ou doze léguas da capitania; mas nas férteis várzeas banhadas pelo baixo Ceará-Mirim e seus afluentes, bem como na lagoa e no rio Guajiru (Estremoz), os colonos já procuravam um novo habitat. Pelas terras marginais do

Potengi e pelas do Jundiaí, que nele deságua, fato idêntico se dava (LYRA,

T., 2008, p. 63-64, grifo nosso).

É possível perceber, pelo conteúdo expresso na citação, que os rios tiveram uma importância fundamental para a determinação dos caminhos da ocupação do território norte- rio-grandense, principalmente com a expansão da atividade criatória, ainda que esse processo tenha levado algum tempo para chegar às terras mais ao interior (agreste e sertão). Nesse contexto, na medida em que os cursos fluviais foram sendo objeto de interesse dos colonizadores, visando o reconhecimento do território ou mesmo o estabelecimento das atividades de plantio e criação, eram gestadas as condições para o surgimento dos primeiros núcleos de ocupação.

Sobre a relação entre os rios e as cidades, Baptista e Cardoso (2013, p. 126) afirmam:

A história das relações do homem – e suas cidades – com os rios segue uma trajetória complexa, marcada por variadas formas de interação ao longo do

doações de sesmarias, cobrindo as áreas das Ribeiras do Potengi, Jundiaí, Pirangi, Mipibu (Trairi) e Ceará-Mirim” (SANTOS, P., 2010, p. 58).

tempo e do espaço, fundada na dinâmica e sazonalidade naturais dos corpos de água, mas, sobretudo, nas significativamente variáveis necessidades e expectativas humanas, no decorrer de distintos períodos, épocas e lugares. Trata-se de uma relação com aproximações e antagonismos sucessivos, materializados de forma distinta ao longo do tempo, nas diversas culturas e nos diversos sítios.

Macaíba é um dos exemplos de como, historicamente, as relações que as sociedades mantêm com os rios nos ajudam a explicar não apenas a origem de uma cidade, mas sua evolução. O título dado a esta seção do trabalho quer deixar evidente que a relação entre a cidade e o rio, no caso o Jundiaí, é de fundamental importância, na medida em que ele foi um dos elementos primordiais para o assento dos primeiros povoadores e para o surgimento da cidade.

O sítio que deu origem à cidade de Macaíba se localizou na margem esquerda do rio Jundiaí, que, desde o início do povoamento, por meio de um porto formado em sua margem esquerda, se constituiu na via principal para as transações comerciais que lá se desenvolveram e para o escoamento de parte da produção agrícola advinda de outras regiões do RN. A ocupação do território que compreende Macaíba teve seu início por volta da segunda década do século XVII, quando se deram as primeiras concessões de terras às margens dos rios Jundiaí e Potengi.

Nesse contexto, o engenho Potengi (depois denominado Ferreiro Torto), pode ser considerada como uma das referências mais concretas de como se deu a ocupação naquele território (LYRA, A., 2016a). Ainda que a capitania do Rio Grande não registrasse uma expressiva produção de açúcar, em comparação com outras capitanias então existentes, o engenho Potengi, juntamente com o Cunhaú, se constituiu num dos principais pontos/centros de produtores de açúcar no território (LYRA, T., 2008; ARAÚJO, D., 2010).

Considerando o contexto em que se deu a ocupação da área onde atualmente está localizada a cidade de Macaíba, podemos observar como as atividades agrícolas e de criação tiveram um papel importante, fazendo surgir outras propriedades que, ao longo do tempo, foram servindo de base para o crescimento do seu núcleo urbano (Quadro 1).

Quadro 1 – Formação do sítio urbano de Macaíba.

PROPRIEDADE PROPRIETÁRIO ANO

Engenho Potengi1 Francisco Coelho Início do séc. XVII

Sítio Coité Coronel Manoel Teixeira Casado2 1728

Engenho Jundiaí Fabrício Gomes Pedroza 1840

Fazenda Barra3 Coronel Estevão José Barbosa de Moura 1850

Fonte: Lyra, A. (2009a; 2010b; 2016a); Lyra, T. (2008). Notas:

1 Atual Ferreiro Torto

2 As terras passaram, no início do século XIX, para a propriedade de Francisco Pedro Bandeira de Melo e, logo em

seguida, para Fabrício Gomes Pedroza.

3 A construção principal existe até os dias atuais com a denominação de “Solar do Caxangá”.

A primeira propriedade de que se tem referência é a que formava o engenho Potengi, a qual, pela leitura dos autores pesquisados, depreendemos ser a que deu origem ao atual Ferreiro Torto (Figura 1). A construção remanescente, atualmente denominada de Solar Ferreiro Torto64, pode ser encontrada a poucos quilômetros do local onde, efetivamente, no século XIX se deu o surgimento do povoado e do atual centro da cidade.

Figura 1 – Solar Ferreiro Torto.

Fonte: Prefeitura de Macaíba, com fotografia de Djackson A. Farias. Disponível em: <http://www.prefeiturademacaiba.com.br/noticia/1191/solar-ferreiro-torto-seguira- moldes-oficiais>. Acesso em: 10 jul. 2017.

64 No local, que já foi sede do Poder Executivo municipal, funciona atualmente um museu sob a administração da

Escrevendo acerca das incursões holandesas realizadas no território da capitania do Rio Grande após a tomada da Fortaleza dos Reis Magos na primeira metade do século XVII, Lyra, T. (2008) faz um breve registro acerca de quem teria sido o primeiro proprietário do engenho Potengi e de sua possível localização, ao afirmar: “Esse engenho pertencia a Francisco Coelho (Ferreiro Torto é ainda hoje o nome de um engenho situado à margem direita do rio Jundiaí e à pequena distância de Macaíba [...])” (LYRA, T., 2008, p. 87, grifo nosso)65.

Teixeira (2014, p. 123) também se remete ao proprietário do Ferreiro Torto e à sua provável localização em terras que formam o atual município de Macaíba.

No auto da repartição são citados dois engenhos distintos, provavelmente os mesmos a que fez referência Domingos da Beiga, na citação que transcrevemos anteriormente. A data 93, situada ao longo “(...) do Rio Potengi da banda do sul” foi aparentemente bem sucedida depois de ter ficado devoluta por seis anos. Com seu novo proprietário, Francisco Coelho, ela passou a ter casas, roças e gado vacum, servindo ainda para “(...) canas fazendo-se o engenho do padre vigário como fica dito”. Trata-se do segundo engenho do

Rio Grande do Norte, depois conhecido como engenho do Ferreiro Torto

– como alegam alguns autores – localizado às margens do Potengi e próximo de Natal, e onde hoje funciona um museu. O outro engenho, igualmente muito importante, é os dos Albuquerque Maranhão (grifo nosso).

Como visto, a ocupação das áreas situadas ao longo dos rios Potengi e Jundiaí não é tão recente, sendo o Ferreiro Torto um dos elementos que marcam o processo de ocupação do território que forma atualmente a cidade de Macaíba, ainda que ele não tenha contribuído efetivamente para a formação de um povoado (LYRA, A., 2016a). O casarão que até a presente data figura nas terras remanescentes do Ferreiro Torto foi construído somente no século XIX, quando seu proprietário era o Coronel Joaquim José do Rego Barros66 (LYRA, A., 2010b), e

65 Tavares de Lyra também destaca a ocorrência de episódios de massacre realizado pelos holandeses (em aliança

com os índios tapuias) na capitania do Rio Grande, ainda na primeira metade do século XVII, no Ferreiro Torto. “[...] e a ele se haviam recolhido P. Vaz Pinto, provedor da Fazenda Real, moradores de Natal e dos lugares próximos, e diversas pessoas, que, depois da capitulação, abandonaram o forte, todos naturalmente embalados pela ilusão de que auxílios valiosos lhes seriam enviados da Paraíba e Pernambuco. Aguardava-os, como aconteceu aos habitantes das outras capitanias, a mais dolorosa decepção, porque, repelidos, a princípio, os holandeses, sem desistir de seus sombrios e tenebrosos planos de dominação, voltariam, como voltaram, a esmagá-los com a mais revoltante crueldade [...] estimulada pela perversidade de Calabar, caíram sobre o engenho onde vitimaram o capitão Francisco Coelho, toda a sua família (mulher e cinco filhos) e sessenta pessoas que nele se haviam refugiado [...]” (LYRA, T., 2008, p. 87-88).

66 De acordo com Lyra, A. (2010b, online): “Foi o Coronel Joaquim José do Rêgo Barros quem ordenou a

construção do casarão térreo setecentista que foi erguido sobre as ruínas da casa grande que serviu de quartel e alojamento ao terço dos paulistas. A casa era ampla, cercada de jardins e pomar, sendo bastante confortável. [...] reconstruiu ainda o porto que era utilizado frequentemente para seu deslocamento para a capital e para o transporte da cana de açúcar, além disso, reformou a capela dotando-a de um pequeno cemitério. Todo esse cenário era cercado por uma extensa mata e campos, os quais se alargavam pelas margens do Jundiaí as do Pitimbú.”

seus últimos proprietários foram, já no século XX, o Sr. Manoel Duarte Machado e, logo após a sua morte, sua esposa, a Sra. Amélia Duarte Machado – também chamada de Viúva Machado (LYRA, A., 2010a; MEDEIROS, A., 2014).

Outras três propriedades existentes na área que forma o território do município de Macaíba, e que sinalizam para a ocupação das terras que margeiam o rio Jundiaí no período anterior ao surgimento da cidade são: o sítio Coité, cujo primeiro proprietário foi o Coronel Manoel Teixeira Casado (século XVIII), o engenho Jundiaí, de propriedade de Fabrício Gomes Pedroza (século XIX), e a fazenda Barra, que tinha como proprietário o Coronel Estevão José Barbosa de Moura (LYRA, A., 2009a; 2016a). Dessas propriedades, apenas a última tem elementos remanescentes na paisagem urbana de Macaíba, que é a casa que servia de sede da referida propriedade, denominada de Solar Caxangá.

O efetivo surgimento de Macaíba como povoado, na primeira metade do século XIX, está diretamente ligado ao sítio Coité e à figura de Fabrício Gomes Pedroza. Fabrício Pedroza, que já era dono do engenho Jundiaí, casa-se com a filha do senhor Francisco Pedro Bandeira de Melo, então dono do sítio Coité, e vem a herdá-lo anos mais tarde, fazendo dessas terras o ponto primordial para a formação de um dos mais importantes centros de comércio do Rio Grande do Norte (RODRIGUES, W., 2006; DANTAS, G., 2007; LYRA, A., 2009a; 2016a).

Medeiros (1973, p. 93-94 apud DANTAS, G., 2007, p. 94) destaca o contexto em que Fabrício Pedroza iniciou suas atividades:

Fabrício Gomes Pedroza, paraibano de Areia e senhor do Engenho Jundiaí, próximo a Coité, casara-se em segundas núpcias com a filha de Francisco Pedro Bandeira e, percebendo que as terras do sogro, próximo à margem esquerda do rio Jundiaí, [...] serviam de ancoradouro às embarcações que transportavam mercadorias para Natal, vindas dos Vales do Norte (Ceará- Mirim e São Gonçalo), do sul (Vales do Capió, Canguaretama e Goianinha) e do Centro (Seridó), construiu vários armazéns.

Rodrigues, W. (2006, p. 168) também ressalta o papel desempenhando por Fabrício Pedroza para a economia provincial na segunda metade do século XIX:

Entre 1850 e 1870, um ator especificamente, o comerciante Fabrício Gomes Pedrosa, consegue alterar significativamente a lógica de escoamento da produção da região, esboçando um segundo ciclo de investimentos. Usando o rio como aliado de seus empreendimentos, ele soube reconhecer o potencial de algumas localidades, trazendo comerciantes e criando uma infra-estrutura que reforçava a posição comercial desses entrepostos.

Assim, a história de Macaíba está diretamente ligada tanto à constituição desses conjuntos de propriedades, que ao longo do tempo foram servindo de referência para o surgimento de novas áreas de assentamento e para a expansão do núcleo urbano, como à consolidação dos fluxos comerciais ocorridos no porto localizado às margens do rio Jundiaí, com a movimentação de embarcações pelo seu curso levando mercadorias da nascente cidade até Natal e também para fora da Província.

Esses fluxos eram favorecidos pelo fato de o curso fluvial sofrer as influências dos regimes das marés, o que favoreceu a penetração de embarcações até as áreas mais interioranas. Fabrício Pedroza foi o principal agente para a formação dos primeiros traçados do nascente povoado, bem como o responsável pelo estabelecimento das primeiras construções e sua denominação. Por meio de excerto retirado do diário familiar de Maria Terceira da Silva Pedroza, uma das filhas de Fabrício Pedroza, Lyra, A. (2016a) aponta as circunstâncias em que o povoado recebeu a sua denominação:

[...] naquele dia 26 de outubro de 1855, aniversário de papai, ele reuniu representantes do clero, amigos e familiares, não para sua comemoração natalícia, mas sim, para a fundação de um povoado pela qual bateu-se com todas as forças para ver prosperar. Assim nasceu o povoado da Macaíba, margeando o Jundiaí (PEDROZA, 1900, manuscrito, apud LYRA, A., 2016a, online).

A área conhecida como as Cinco Bocas é apontada por Lyra, A. (2010c) como sendo o marco zero de Macaíba, pois nesse local estava edificada a que seria a primeira residência do povoado (a casa sede do sítio Coité), e ali existia um cruzeiro67. Ainda que na atualidade essa área mantenha-se com a disposição das ruas tal como no seu início, podemos observar que ela se encontra bastante modificada nas feições arquitetônicas, guardando poucos elementos de períodos anteriores (Figura 2).

Outro elemento que impulsionou a expansão do povoado foi a criação da feira, que teve sua movimentação estimulada a partir dos fluxos gerados pela dinâmica comercial do povoado, que atraía cada vez mais pessoas para fazer a comercialização de seus produtos, transformando a área onde ela ocorria num grande mercado (RODRIGUES, W., 2006; DANTAS, G., 2007). À medida que o povoado foi se estruturando, surgiram os primeiros arruamentos,

67 Escrevendo sobre a trajetória do macaibense Francisco Freire da Cruz (1881 – 1910), Lyra, A. (2010c, online)

observa: “Em Macaíba, terra natal de Francisco Freire da Cruz, existia no Largo das Cinco Bocas um cruzeiro, erguido por volta de 1880, que significava o marco zero da cidade. Por isso, a artéria que segue daquele ponto para oeste da cidade, era chamada de Rua da Cruz” (grifos nossos). O aludido largo recebe esse nome por ser o ponto em que existe até os dias atuais a confluência de 5 logradouros: as ruas Francisco da Cruz, Baltazar Marinho, Prudente Alecrim e das travessas Coronel Batista e Afonso Saraiva, todas localizadas no centro da cidade.

compreendendo as atuais ruas Francisco da Cruz, Prudente Alecrim, Afonso Saraiva, Baltazar Marinho, Coronel Batista, Pedro Velho, rua da Conceição, Nair Mesquita e Teodomiro Garcia68.

Figura 2 – Largo das Cinco Bocas, Centro de Macaíba, na atualidade.

Fonte: Elaboração a partir de imagem do Google Earth Pro (2017).

Juntamente com a fixação do comércio e da feira, entendemos que outros dois elementos foram fundamentais para a consolidação de Macaíba como núcleo urbano: a Capela São José e a Igreja Matriz de Nossa Senhora da Conceição. Esses espaços não foram apenas elementos que simbolizavam a afirmação da fé da sociedade que se constituía (LYRA, A., 2009c; 2016b), mas também serviram para consolidar a própria existência da cidade, pois a “oficialização de núcleos urbanos perante ao poder institucional dava-se com a edificação de uma capela que uma vez visitada por um cura, poderia promover o povoado à categoria de vila ou de cidade” (GODOY; BRAY, 2003, p. 188).

Tanto as terras onde foi construída a Igreja Matriz de Macaíba (dedicada a Nossa Senhora da Conceição), como o local onde foi construído o cemitério São Miguel, foram

68 Remetendo-se ao desenvolvimento de Macaíba, Dantas, M. (1985, p. 30) afirma: “Tudo isto foi, como bem se

pode avaliar, o que preponderantemente concorreu para o enriquecimento e a prosperidade de Macaíba, com o surgimento quase de imediato, de suas oito ruas principais, hoje denominadas Teodomiro Garcia, Augusto Severo, Conceição, Francisco da Cruz, Pedro Velho, Maurício Freire, Prudente Alecrim e Dona Emília. E em sequência tantas outras mais que completaram o desenvolvimento da cidade [...]”.

resultantes de doação feita por Fabrício Gomes Pedroza, tendo a pedra fundamental da Igreja sido lançada em 1858 e sua construção concluída somente por volta dos anos de 1900 (DANTAS, M., 1985; LYRA, A., 2009c; 2009d). Durante algum tempo, o principal templo religioso do povoado foi a Capela São José69, cuja construção ocorreu dentro das terras pertencentes à fazenda Barra, propriedade do Coronel Estevão José Barbosa de Moura (LYRA, A., 2016b).

Não é, portanto, de se questionar o fato de que, a partir da construção da Igreja Matriz, tenha se estabelecido e consolidado, com o passar do tempo, a praça da Matriz – o que foi acompanhado por uma ocupação residencial que deu origem à atual rua da Conceição –, e que esse espaço tenha se afirmado como um ponto de centralidade na dinâmica social em Macaíba, das festividades civis e religiosas, dos eventos políticos etc.

Registros históricos mostram que antes mesmo de finalizados os trabalhos de construção da Igreja Matriz, ocorreram os primeiros festejos dedicados à padroeira local, tendo a primeira festa ocorrida no ano de 1861. A partir dos relatos pessoais de Maria Terceira da Silva Pedroza, Lyra, A. (2010a, online) levanta algumas informações sobre o que seria a primeira festividade dedicada a Nossa Senhora da Conceição em Macaíba.

Um dos apontamentos diz respeito ao translado da imagem da padroeira Nossa Senhora da Conceição da comunidade de Guarapes para o povoado da Macaíba. [...]. Em 1861, Antônio Pessoa de Araújo Tavares, marido de Guilhermina da Silva Pedroza, filha de Fabrício Pedroza, tendo empreendido viagem de negócios a Corte (Rio de Janeiro), trouxe uma imagem de Nossa Senhora da Conceição para sua esposa. [...] São notas de Terceirinha: “Acordaram as manas Guilhermina e Feliciana que o vulto da Imaculada Conceição, comprada na corte pelo meu cunhado Antônio Tavares para presentear a Guilhermina, deveria, com o consentimento do nosso pae, ser imediatamente sagrado como orago da capela em construção na Macaíba” (LYRA, A., 2010a, online, grifo do autor).

Tendo como referência a produção concernente à história de Macaíba, podemos concluir que entre as duas últimas décadas do século XIX (Figura 3) e o início do século XX os limites de ocupação da então chamada villa da Macahyba (RODRIGUES, W., 2006) estavam restritos à porção de terra que se estendia pela margem esquerda do rio Jundiaí. As atuais ruas da Conceição, Dr. Pedro Velho (antiga rua São José) e Nair Mesquita (antiga rua do Comércio),

69 “No dia 19 de março de 1876, era inaugurada e benta pelo vigário de São Gonçalo do Amarante Manoel

Fernandes de Lustosa Lima, com grande assistência da população que a construiu com veneração. [...] A história