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2.3 MÉTODO E METODOLOGIA

2.3.1 A atividade de formação continuada

As ações da atividade de formação continuada foram organizadas com base no trabalho de Vosgerau (2009), que desenvolveu uma metodologia de formação continuada de professores para a incorporação das TIC. Essa metodologia foi denominada pesquisa-ação- formação e se estrutura a partir de seis princípios fundamentais:

1) a oferta gradual de oficinas de aperfeiçoamento técnico, pois muitos professores ainda desconhecem o uso operacional dos recursos tecnológicos e necessitam do desenvolvimento de competências técnicas;

2) que o suporte a participação à formação seja oferecido de forma bimodal, ou seja, acompanhamento a distância e encontros presenciais, que permitem uma flexibilidade na realização das atividades propostas ao professor;

3) o incentivo aos professores na participação em comunidades de aprendizagem, para que os professores possam se sentir apoiados pelos seus pares;

4) o estímulo à reflexão sobre a utilização e integração das TIC, pois essa reflexão poderá auxiliar o professor a usar a tecnologia quando esta realmente tiver um valor a agregar ao processo de ensino-aprendizagem;

5) a elaboração de material pedagógico integrando as TIC permitirá ao professor o desenvolvimento de competências técnicas para o uso da TIC. Esse princípio complementa o 1º. princípio;

6) ter um componente de planejamento, aplicação e reflexão de cenários pedagógicos que integrem as TIC. O processo de planejar a integração das TIC permite ao professor refletir antes, durante e depois a sua prática Esse princípio complementa o 4º. princípio. VOSGERAU (2009, p. 4).

Ainda segundo essa autora, para que esses princípios sejam alcançados, devem ser realizados processos que se enquadrem nas seguintes categorias (VOSGERAU, 2009, p. 5-7):

a) Formação: ações diretamente voltadas à aprendizagem dos professores participantes;

b) Avaliação: utilização de instrumentos destinados à avaliação somativa e, também, à avaliação formativa;

c) Suporte: apoio à realização das tarefas de formação, de avaliação e, também, ao uso das tecnologias pelos professores.

Os processos formativos, na perspectiva de Vosgerau (2009), devem compreender momentos de mobilização, de integração e de teorização. No caso da formação desenvolvida no âmbito deste trabalho, a mobilização buscou permitir a revisão de conhecimentos dos

professores, sejam eles conhecimentos práticos ou teóricos, de formação inicial e de formações continuadas anteriores, além de apresentar conteúdos, práticas e ideias novas. Os conhecimentos trabalhados na mobilização foram selecionados a partir das necessidades e prioridades dos participantes ou sugeridos pelo pesquisador por meio de oficinas e aulas expositivas.

Segundo a supramencionada obra, a integração ocorre a partir da avaliação e do desenvolvimento de “[...] cenários pedagógicos [...]” (p. 5). Na formação continuada aqui considerada, os cenários pedagógicos compreenderam tarefas, metodologias, planos de aula, sequências de ensino e artigos acadêmicos relativos ao uso das TIC em situações de ensino e de aprendizagem e que foram analisados pelos docentes participantes. Em complemento à avaliação de cenários pedagógicos, também foram incluídos episódios de análise de recursos tecnológicos, tais como softwares e objetos de aprendizagem20, à semelhança do que foi realizado por Gabini e Diniz (2007). Ainda como parte do processo formativo, os professores participantes vivenciaram momentos que buscavam favorecer a reflexão sobre suas aprendizagens e também sobre os seus conhecimentos (VOSGERAU, 2009). Esses momentos, aliados aos processos de autoavaliação dos professores e às análises das ações ocorridas durante a formação, foram realizados com o objetivo de possibilitar o desenvolvimento da teorização.

O suporte aos professores e ao processo de apropriação das TIC em suas práticas teve como objetivos: apoiar os docentes no planejamento e realização de sequências e tarefas de ensino utilizando as TIC, sanar dúvidas quanto ao uso de recursos tecnológicos e auxiliar no desenvolvimento das tarefas da formação continuada. O suporte foi realizado tanto individual quanto coletivamente, nos seguintes espaços:

a) Nas escolas dos professores participantes, com agendamento prévio, para auxiliar os professores no planejamento e na realização de aulas utilizando as TIC;

b) no IFG às quintas-feiras, no horário noturno, e com agendamento prévio; c) nos encontros formativos;

d) via e-mail;

e) via telefone celular.

20 Um objeto de aprendizagem (OA) é, em síntese, um recurso digital desenvolvido com fins educacionais. Uma

definição mais operacional é dada por Macêdo et al (2007, p. 20, grifos do autor): “Os OA podem ser criados em qualquer mídia ou formato, podendo ser simples como uma animação ou uma apresentação de slides ou complexos como uma simulação. Os Objetos de Aprendizagem utilizam-se de imagens, animações e applets, documentos VRML (realidade virtual), arquivos de texto ou hipertexto, dentre outros.”.

Apesar de não ser o objetivo dos momentos de suporte, considera-se que eles também contribuam para favorecer a apropriação das TIC na prática dos docentes em formação, por se configurarem como um momento no qual o pesquisador-formador auxilia os professores no processo de incorporação das TIC em suas aulas ou na realização das tarefas formativas.

A avaliação adotou parâmetros distintos daqueles propostos por Vosgerau (2009) e sem a pretensão de realizar uma avaliação de caráter somativo. Foram considerados, como mecanismos avaliativos para a certificação dos participantes, a presença nos encontros e os processos efetuados pelos docentes no decorrer do planejamento e da realização de aulas ou de tarefas mediadas pelas TIC (TMT). A avaliação da apropriação das TIC e do desenvolvimento profissional dos docentes participantes da formação é uma das ações da atividade de pesquisa e será feita, como explicitado no referencial teórico, a partir da TA.

É importante destacar que o desenvolvimento de um processo pertencente à determinada categoria ou subcategoria de ações da atividade formativa pode levar à realização de ações de outra categoria ou subcategoria. Por exemplo, ao realizar uma ação de integração, tal como a análise de um cenário pedagógico, o docente pode se apropriar de conhecimentos técnicos ou didáticos relacionados ao uso das TIC em sala de aula. Em outras palavras, uma ação de integração leva a uma ação de mobilização. Também é possível que ações de formação exijam a realização de ações de suporte, como nos casos em que o pesquisador- formador auxiliou o planejamento ou a execução de aulas mediadas pelas TIC. Por outro lado, no decorrer de um processo de apoio à realização de tarefas da formação, podem ser desencadeadas ações de mobilização, de integração e de teorização. A avaliação, contudo, refere-se a um conjunto de ações realizadas exclusivamente pelo pesquisador-formador com o objetivo de analisar algumas das ações de integração realizadas pelos docentes no decorrer do curso. As relações entre os tipos de ações que compõem a atividade de formação revelam a dinamicidade e a complexidade das ações e das atividades humanas, conforme apontado por Leontiev (2004, 2014). Na Figura 5 encontra-se um esquema representativo das relações entre as ações de formação e de suporte.

Figura 5 - Esquema das relações entre as ações de formação e de suporte

Fonte: Elaborado pelo autor.

No Quadro 5, encontram-se especificadas as metas de cada categoria de ações de formação e de suporte e alguns exemplos de como essas categorias se efetivaram na prática da atividade de formação continuada:

Quadro 5 – Meta geral e exemplos de ações de formação e de suporte

Categoria de ações Meta geral Exemplos de efetivação das ações

Formação

Aprendizagem de

conhecimentos técnicos e didáticos

Como utilizar projetores multimídia Minioficina sobre a elaboração de apresentações multimídia

Debate sobre o uso de vídeos na educação

Integração Favorecer a integração das TIC na prática docente

Análise ou desenvolvimento de cenários pedagógicos envolvendo o

Categoria de ações Meta geral Exemplos de efetivação das ações

uso das TIC

Análise de recursos tecnológicos

Teorização

Possibilitar a reflexão sobre as aprendizagens e as experiências de integração das TIC na prática docente

Socialização e análise das experiências de uso das TIC em sala de aula

Autoavaliação sobre os conhecimentos aprendidos

Suporte Oferecer apoio ao uso das

TIC pelos docentes

Apoio ao planejamento de tarefas e aulas

Apoio à realização das tarefas e aulas mediadas pelas TIC

Fonte: Elaborado pelo autor.

Assim, as ações formativas realizadas pelo pesquisador-formador objetivaram fazer com que os docentes realizassem processos que favorecessem a apropriação dos conhecimentos necessários à integração das TIC nas práticas docentes dos participantes. Esses processos, tais como o de desenvolvimento de tarefas ou aulas utilizando as TIC, podem, em razão do sentido que assumem para os docentes, se configurar como ações ou como uma atividade.