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A atribuição de Caso nominativo ao sujeito: a proposta do Grande DP

Capítulo 2 Análise de propostas apresentadas para a derivação de orações com ordem VS em outras línguas românicas

F) A ordem VSCP

2.2.1 A atribuição de Caso nominativo ao sujeito: a proposta do Grande DP

Considerando como correta a hipótese do sujeito interno ao VP (Koopman & Sportiche, 1991) e o contraste ente (68) e (69), Belletti (2001) levanta duas hipóteses para as estruturas com ordem VS: (i) ou o sujeito permanece na sua posição de origem, interna ao VP, ou (ii) ele é alçado para uma posição muito baixa na estrutura da oração, mais baixa que o Especificador mais baixo que abriga um advérbio, para uma posição funcional denominada FocusP.

De acordo com a autora, o problema de se postular que a posição de sujeito em orações pós-verbais é a posição original interna ao VP está relacionado ao Caso desses sujeitos. Como se sabe, na teoria, Caso é o traço morfossintático crucial para o licenciamento de NPs manifestos. No entanto, não há Caso disponível para o sujeito pós-verbal dentro do VP, a menos que se admita que o Caso nominativo seja acessível à posição de sujeito interna ao VP, possivelmente por meio de uma relação com um expletivo associado. No entanto, essa possibilidade não mantém a atribuição de Caso e a checagem como processos locais, o que leva a autora a concluir que não há Caso

Considerando como válida a hipótese de que o sujeito pós-verbal se move para uma posição de Foco interna à oração - FocusP a movimentação do sujeito para Especificador de FocusP, segundo Belletti (2002) se daria porque os itens presentes na numeração de uma oração com ordem VS seriam diferentes dos presentes em orações com ordem SV. Nas sentenças com ordem VS, a posição pré-verbal do sujeito seria preenchida por um pro expletivo nulo, associado ao sujeito pós-verbal, como em (73a). Nas estruturas com sujeito pré-verbal não haveria tal expletivo, e o EPP seria satisfeito pelo sujeito lexical, (73b).

(73) a. pro ha parlato Gianni. ‘pro faloi Gianni’ b. Gianni ha parlato. ‘Gianni falou’

A favor da postulação de que as orações com ordem VS apresentam um arranjo lexical (Lexical Array) maior que o de orações com ordem SV, Belletti argumenta que, segundo Chomsky (2000), as diferenças entre arranjos lexicais maiores e menores só podem ocorrer se forem escolhidas para algum objetivo, ou seja, se a escolha tiver um reflexo na derivação final da oração. Como orações com ordem VS trazem um elemento com foco da informação nova e orações com ordem SV não trazem essa informação, haveria então argumento para se licenciar uma oração com um item a mais. Considerando essa linha de raciocínio como correta, não seria necessário postular uma propriedade de licenciamento especial para o traço de foco, como um traço de Caso, por exemplo.12

12 Belletti (2001) propôs que Foco, e não Caso, seria o licenciador do sujeito pós-verbal. A hipótese era a seguinte: foco é um traço sintático checado no núcleo de uma projeção funcional na estrutura da oração.

No entanto, em Belletti (2003), ao analisar estruturas com duplicação de elementos (doubling structures), a autora faz uma nova proposta para explicar a atribuição de Caso nominativo aos sujeitos das orações com ordem VS. Sua proposta é a seguinte:

Há estruturas nas línguas românicas em que pode-se argumentar a favor de o DP entrar na derivação na forma de um “grande DP”, contendo o clítico e o DP. Essa argumentação se dá, por exemplo, para explicar orações como (74) (clitic doubling

structures - CLD):

(74) Loj vi a Juanj. ‘O vi a João'

A proposta do grande DP para orações com (74) foi feita porque a análise de orações com duplicação tem de explicar a existência de dois argumentos na oração recebendo apenas um papel temático e um Caso. O “grande DP” seria um tipo de estrutura capaz de resolver esse problema (cf. Cecchetto, 2000). Isso porque o papel temático seria atribuído ao grande DP, na posição onde ele foi inserido na derivação. O Caso seria atribuído ao clítico, na posição adequada (cf. Belletti, 1999 e Sportiche 1998), e a parte lexical do grande DP recebería Caso por meio da relação que estabelecería com a posição original do grande DP.

Isso cria uma configuração de checagem regular. O traço sintático em questão possui habilidades de licenciamento. O sujeito se move para o especificador de Focus P e o verbo é alçado para uma posição mais alta. derivando a ordem VS. A propriedade de licenciamento desse traço não necessita apelar para

Adotando a hipótese do grande DP, Belletti estende a análise de orações como (74), a casos como (75), em que ocorre deslocamento à direita (75a) (right dislocation - RD) e deslocamento à esquerda (75b) {clitic left dislocation - CLLD):

(75) a. Lo vedo, Gianni. (RD) ‘O vi, Gianni’

b.Gianni, lo vedo (CLLD) ‘Gianni, o vi’

A autora ressalta que no “grande DP” um dos elementos é um NP lexical e o outro é uma palavra funcional, um clítico ou um quantificador, como em (75). Por esse motivo, não são possíveis estruturas em que há a duplicação de dois NPs lexicais, como em (76b).

(76) a. I miei amici hanno tutti parlato. ‘Meus amigos tem todos falado’

b. *1 miei amici hanno Ioro parlato.

‘Meus amigos tem eles falado’

A parte funcional do grande DP é denominada pela autora doubler, e a parte contendo o NP lexical é denominada o doublee. A organização do grande DP seria como em (77):

(77) DP,

A

Di A

d p2

A

D2 NP - 89-

O local do DPi seria o do doubler, pronome ou do quantificador, e o do DP2 seria correspondente ao DP lexical, ao doublee. A autora considera que quando 0 DP2 se move para alguma posição na oração, o DP] remanescente vai para 0 local na derivação reservado ele. Essa posição a ser preenchida dependerá do tipo do DP], que como visto pode ser um clítico, um pronome forte ou quantificador.

No caso de orações com as em (78), a autora considera que o pronome forte é responsável pela veiculaçâo de informação nova e 0 sujeito pré-verbal tem a interpretação de tópico.

(78) Gianni verrà lui ‘Gianni virá ele’

Um contexto em que tal oração poderia ser usada seria (79)

(79) Maria manderà suo fratello, invece Gianni verrà lui. ‘Maria mandará seu irmão, mas Gianni virá ele’

Para a autora, a interpretação de foco atribuída ao pronome forte se dá pelo fato de ele ocupar a posição de foco interna à oração (FocusP).

Ainda em relação a exemplos como (78), a autora acrescenta que, se houver uma pausa antes da pronúncia do pronome forte, é produzida uma entoação de abaixamento. Nesse caso, o pronome é interpretado como tópico. Um possível contexto para esse tipo de oração seria o em (80):

(80) Gianni verrà, lui; lo conosco, so che è affidabile (Maria invece non so cosa farà) ‘Gianni virá, ele; eu o conheço, eu sei que ele é confiável (Maria, ao contrário, eu não sei o que ela vai fazer)

Numa oração como em (80), a proposta é que o pronome preenche a posição de tópico da periferia do VP. Belletti acrescenta que o contexto pragmático em que uma oração como (78) é licenciada é parecido com o contexto em que ocorrem orações do tipo RD, como é o caso da oração em (81):

(81) Lo conosco, Gianni, (so che mantiene le promesse)

‘Eu o conheço, Gianni, (eu sei que ele mantém suas promessas)

A diferença nas derivações das estruturas em (80) e (81) é que em (80) é o pronome que ocupa a posição de tópico da periferia do VP e em (81), é o DP - Gianni.