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Capítulo 2 Análise de propostas apresentadas para a derivação de orações com ordem VS em outras línguas românicas

F) A ordem VSCP

II) VOS também é aceitável com acento contrastivo no sujeito, como em (92):

2.2.5 Análise da proposta de Belletti (2001, 2002, 2003)

Em resumo, entre os mecanismos responsáveis pelo licenciamento de diferentes ordens, pode-se observar que Belletti dá ênfase a dois aspectos principais, envolvidos na derivação da ordem VS. O primeiro está relacionado à interpretação de foco que as orações com ordem VS recebem: foco da informação, e o segundo com a hipótese da autora sobre a existência de um núcleo funcional - Focus Phrase - FP, localizado acima do VP, destinado à checagem dos traços de foco dos elementos da oração. O movimento dos elementos da oração é causado pela necessidade de checagem dos traços dos elementos na posição de foco, altera a ordem de constituintes não marcada na língua, que no caso do italiano é SVO.

A análise de Belletti para o italiano traz contribuições para o entendimento das características sintáticas das orações com ordem VS do PB. Um ponto que merece destaque na análise da autora é o fato de ela trazer dados de ordem VOS proferidos em contextos de narrações concomitantes, ou contextos previsíveis, como a autora denomina, como as os dos jogos de futebol. Esses dados são bastantes semelhante aos dados das orações com ordem VOS atestados no PB por Pilati (2002) e apresentados no Capítulo 1 seção (1.2). A análise de Belletti para essas orações correlaciona o licenciamento da ordem VOS ao fato de o constituinte contendo a seqüência VO ser um tópico, pois nas narrações de jogos de futebol o predicado é interpretado como uma situação típica dos jogos e é considerado como se fosse elemento retirado de uma lista de possibilidades. Nesse caso, orações com ordem VOS seriam, casos de topicalização remanescente interna à oração.

para o argumento interno do verbo. A autora afirma que se o objeto intervir entre o verbo e o sujeito pós-verbal a oração é agramatical pela violação de princípios gramaticais, mais precisamente pela violação da Condição de Elo Mínimo. Na proposta da tese, Capítulo 3, retomaremos essa discussão levantada por Belletti, para explicar a ordem o licenciamento e as restrições apresentadas pelas orações com VOS no português.

A seguir apontaremos alguns problemas encontrados na proposta de Belletti, para justificar a não adoção da proposta da autora. Um primeiro problema da análise de Belletti é a proposta do grande DP, utilizada para explicar o licenciamento do sujeito pós-verbal. A questão problemática se relaciona principalmente à possibilidade de aplicar a proposta da autora a outras línguas, pois não há evidências de que em línguas como o português o italiano e o grego o DP entre na derivação como um grande DP, na forma de [pro,DP],

Outra questão básica da proposta da autora que precisa ser averiguada em detalhe é a relativa à posição dos advérbios na oração. Belletti elabora toda sua proposta baseada nos seguintes dados em (41) e (42), repetidos abaixo com a mesma numeração:

(41) a. ?Capirà completamente Maria. ‘Entenderá completamente Maria’ b. ?Capirà bene Maria.

‘Entenderá bem Maria’ c. Capirà tutto Maria.

‘Entenderá tudo Maria’

(42) a. *Capirà Maria completamente ‘Entenderá Maria completamente’ b. *Capirà Maria bene.

‘Entenderá Maria bem’ c. *Capirà Maria tutto. ‘Entenderá Maria tudo’

A questão que se coloca é se esses dois advérbios ocupam realmente a posição funcional mais baixa na sentença. A resposta dessa questão é crucial para que se possa manter uma proposta como a da autora. Um potencial problema para a proposta da autora em relação à questão dos advérbios é o seguinte: Se a autora afirma que nas orações com ordem VS o sujeito veicula informação nova, uma oração como (41B) seria, na verdade, a resposta a uma oração como (103B).

(103) A: Chi capirà bene? (Quem entenderá bem?) B: ICapirà bene Maria.

‘Entenderá bem Maria’

Nesse caso, o predicado, contendo o advérbio, faz parte da informação antiga e, por esse motivo, de acordo com a hipótese da autora, o predicado (incluindo o advérbio) ocuparia a posição de tópico interna à oração. Ou seja, numa oração como (103B) o advérbio não seria gerado naquela oração - ele é informação já veiculada pelo discurso. Por esse motivo, uma oração como (41B) parece não poder servir como um bom argumento para a proposta da autora em relação à posição de advérbios.

Além dos problemas apontados acima, há na literatura críticas à proposta de Belletti. Entre elas citamos a de Roussou & Tsimpli (2003). Essas autoras fazem várias críticas a proposta da periferia do VP. Uma delas é o fato de a proposta da autora ser muito restritiva e excluir a princípio a possibilidade de VSO. Segundo Roussou & Tsimpli, ao excluir a ordem VSO, a autora tem de apelar para outros mecanismos para derivar orações com ordem VSO, que é uma ordem freqüente no grego.14 Esse realmente é um problema para a proposta da autora, principalmente numa teoria como a gerativista que além de ter como princípios básicos a adequação descritiva e adequação explicativa busca uma teoria sintática que leve à gramática universal. Outra crítica é que a proposta de Belletti além de restringir a ordem VSO não explica as diferenças sintáticas e semânticas dessa ordem nas duas línguas. Segundo Roussou & Tsimpli, a ordem VSO é mais produtiva em grego do que em espanhol. No espanhol (cf. Zagona, 2002), a ocorrência de VSO depende de fatores como tópico e foco, e em grego não, ou seja, é a ordem não marcada nessa língua.15

Devido aos fatores citados acima, chega-se à conclusão de que apesar de a proposta de Belletti conseguir captar certas características da derivação da ordem VS em italiano e até mesmo em PB, há problemas teóricos, como a postulação do grande DP e da periferia interna ao VP e empíricos pois a não há como explicar as características sintáticas da ordem VS em línguas como o grego e espanhol.

14 “Belletti’s (2001, in press) account [...] is too powerful as it excludes VSO altogether and has to rely on some additional mechanism in order to distinguish Italian from Spanish (and Greek)”

15 “[_Jltalian differs from Greek and Spanish in that it does not allow for VSO. Furthermore, Greek and Spanish differ in that VSO appears to be more productive in Greek, as it does not depend on the presence of a topic or focus in clause-initial position, and is less sensitive to the thematic structure of the predicate.”