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Capítulo 2 Análise de propostas apresentadas para a derivação de orações com ordem VS em outras línguas românicas

F) A ordem VSCP

II) VOS também é aceitável com acento contrastivo no sujeito, como em (92):

2.4 A proposta de Bissel (2004)

2.4.1 Críticas à proposta de Bissel (2004)

A análise de Bissel (2004) para as inversões locativas do italiano apresenta três problemas, os quais serão apresentados a seguir:

i) o primeiro problema da proposta do autor é a postulação de uma projeção de especificador à direita de v, para verificação de traço F. Uma proposta como essa não pode explicar por que em PB, por exemplo, o DP sujeito, quando recebe interpretação

(159) A: Quem comeu o bolo? B: *Comeu o João. B’: O João comeu.

ii) um segundo problema para a análise em questão é a falta de motivação para a existência de dois traços distintos a serem checados por uma mesma categoria, no caso v, por meio da projeção de dois especificadores e ainda com ordem definida, primeiro o traço F e depois traço EPP.

iii) o terceiro problema está relacionado à falta de motivação para alçamento de LOC: se LOC é alçado para a posição de Spec de T, apesar de não ter traços completos, pelo fato de T não pode ver o DP, como explicar que depois da subida de LOC para T o DP fica visível e checa seus traços <}> com os traços de T.

2.5 Considerações finais

O presente Capítulo analisa quatro propostas teóricas sobre construções com ordem VS no francês e no italiano. Foram as de Kayne & Pollock (2001), para o francês, e de Belletti (2001, 2002 e 2003) e de Pinto (1997) e Bissel (2004), para o italiano. Os objetivos eram dois: (a) verificar com qual das línguas as orações com ordem VS do PB se assemelhavam mais e (b) analisar a possibilidade de as propostas apresentadas explicarem características sintáticas e semânticas das orações com ordem VS do PB. A conclusão a que se chegou foi a de que as orações com ordem VS do PB se parecem com certos tipos de orações com ordem VS licenciadas no italiano, identificadas por Pinto (1997) como inversões locativas. Em relação às propostas teóricas analisadas para a explicação das características sintáticas dessas orações, foram

identificados alguns problemas e, portanto, no Capítulo 03 a seguir faremos uma proposta alternativa para essas orações.

Capítulo 3

Explicação dos fatos e apresentação da proposta teórica da tese

3.0 Introdução

Como visto no Capítulo 1, no português no Brasil, a ordem VS é bastante freqüente com verbos inacusativos, e ocorre em contextos restritos quando o verbo é inergativo e transitivo. Após a revisão da literatura feita no Capítulo 1 e no Capítulo 2, observou-se que há questões remanescentes ao estudo da ordem VS. Entre as questões, há as seguintes perguntas:

a) Como propor um tratamento explicativo para a “interpretação de lista”, observada com orações com verbos intransitivos?

b) A “interpretação de lista” também ocorre em orações com verbos transitivos e ordem VOS?

c) Por que certas orações com ordem VS só são licenciadas quando há elemento lexical à esquerda?

d) Por que os verbos inacusativos parecem ser sempre gramaticais em construções com a ordem VS e os inergativos nem sempre?

e) Como são licenciadas as orações com ordem V(0)S no PB?

f) Por que em PB a ordem VOS é menos restrita do que a ordem VSO?

g) Por que certas orações com ordem VOS são possíveis e outras não? Em outras

palavras: quais as diferenças entre a agramaticalidade de *Comeu o bolo o João e a gramaticalidade de Provocou surpresa a manutenção da taxa de juros em

16%?

h) Por que a ordem VSO, apesar de bastante rara em línguas como o italiano e o PB, é bastante frequente em várias línguas como o espanhol e o grego. Ou seja, por que certas línguas apresentam restrições à ordem VSO e outras não?

i) Quais os mecanismos sintáticos e semânticos responsáveis pelo licenciamento das diferentes ordens dos constituintes SVO no português?

Para tentar responder a essas questões, o presente Capítulo está dividido em três seções. A primeira seção, 3.1, está dividida em 3 partes e tenta responder às perguntas a) e b) citadas acima. Quais sejam:

a) Como se pode propor um tratamento explicativo para a “interpretação de lista”, observada com orações com verbos intransitivos?

b) A “interpretação de lista” também ocorre em orações com verbos transitivos e ordem VOS?

Para tanto, em primeiro lugar, a seção investigará a possibilidade de propor um tratamento explicativo para um aspecto da descrição das orações com ordem VS, que é o fato de elas receberem sempre “interpretação de lista”. A seção parte da hipótese de que a denominação “interpretação de lista” está relacionada com o tipo de foco

identificacional. Em segundo lugar, tentará verificar se essa classificação é pertinente para as orações com verbos transitivos, ou seja, com ordem VOS. Por fim a seção verificará se a análise proposta, segundo a qual orações com ordem VS do PB recebem foco identificacional, também pode ser implementada para orações com ordem VS do italiano (cf. Pinto, 1997).

A segunda seção do Capítulo, 3.2, tem como objetivo principal responder às perguntas c) e d), repetidas a seguir:

c) Por que certas orações com ordem VS só são licenciadas quando há elemento lexical à esquerda?

d) Por que os verbos inacusativos parecem ser sempre gramaticais em construções com a ordem VS e os inergativos nem sempre?

A seção argumenta a favor da hipótese de que as orações com ordem VS do PB são orações com inversão locativa, isto é, orações com a estrutura (Loc)VS. Entre as idéias defendidas estão: i) por serem tipos de inversões Iocativas é que certas orações com ordem VS só são licenciadas quando há elemento lexical à esquerda e ii) também é por serem tipos de inversão locativa que verbos inacusativos parecem ser sempre gramaticais nesse tipo de construção, pois estes são verbos que geralmente selecionam elementos locativos como argumentos, o que favorecería a ocorrência da estrutura (Loc)VS. Na seção 3.2 também são apresentadas descrições das características sintáticas e semânticas das inversões Iocativas em quatro línguas: a) no chichewa, seguindo Bresnan & Kanerva (1989), e no inglês e no chichewa, seguindo Bresnan (1994); b) no inglês, seguindo Levin & Rappaport Hovav (1995); c) no italiano, seguindo (Pinto, 1997); e d) no português do Brasil, seguindo Pilati (2004).

A seçào 3.3 traz a proposta da tese para explicar as características sintáticas e semânticas atestadas nas orações com ordem VS no PB. O objetivo principal é dar respostas às perguntas de e) ei), repetidas a seguir:

e) Como são licenciadas as orações com ordem V(0)S no PB?

f) Por que em PB a ordem VOS é menos restrita do que a ordem VSO?

g) Por que certas orações com ordem VOS são possíveis e outras não ? Em outras palavras: quais as diferenças entre a agramaticalidade de *Comeu o bolo o João e a gramaticalidade de Provocou surpresa a manutenção da taxa de juros em 16%? h) Por que a ordem VSO, apesar de bastante rara em línguas como o italiano e o PB, é bastante freqüente em várias línguas como o espanhol e o grego. Ou seja, por que certas línguas apresentam restrições à ordem VSO e outras não?

i) Quais os mecanismos sintáticos e semânticos responsáveis pelo licenciamento das diferentes ordens dos constituintes SVO no português?

A seção 3.3 está dividida em três partes: a seção 3.3.1 faz um resumo de propostas anteriores, que têm como objetivo explicar a codificação de foco em orações com ordem VS em várias línguas: a seção 3.3.2 traz a proposta da tese para explicar a derivação das orações com ordem VS no PB. A proposta se baseia nas constatações apresentadas nas seções 3.1 e 3.2 e defende, portanto, que as orações com ordem (PP)VS do PB são orações que recebem interpretação de foco identificacional e são orações que contém um tipo inversão locativa. As idéias centrais da proposta da tese são (i) a codificação de foco é um fenômeno estritamente sintático: ligada à seleção temática feita pelo predicado e às

do verbo, categorização sintática de informações lexicais, e formas de atribuição de Caso; e (ii) a interpretação das orações em relação ao tipo de foco também é o resultado de um processo sintático. O foco não é o resultado da leitura imposta por regras da interface fonética para a descrição estrutural gerada pelo sistema computacional (como postulado em diversos estudos), mas uma configuração determinada pelas propriedades morfossintáticas da língua em articulação com os princípios da gramática universal, que presidem as operações do sistema computacional. As orações com ordem (PP)VS são interpretadas como contendo foco identificacional (ou orações apresentativas ou com interpretação de lista) como conseqüência direta do fato de apresentarem um elemento de natureza locativa ou temporal na posição de sujeito da sentença. A terceira seção, 3.3.3, estabelece uma comparação entre a proposta da tese de que o PB licencia um pronome nulo com referência locativa na posição pré-verbal e as análises teóricas que tentam explicar as características da sintaxe do PB, tais como o enfraquecimento do sistema de concordância verbal (cf. Duarte, 1995, entre outros) e o aparecimento de estruturas de tópico (cf. Pontes, 1987).