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I PARTE: FERRAMENTAS CONCEPTUAIS

Capítulo 5: A TÉCNICA ALEXANDER

6. Controlo Primário e Direcções

5.3 A Aula e os Procedimentos

 

A mera observação duma aula de TA (geralmente com uma duração de 35 a 45 minutos), dá apenas uma visão muito superficial do que se passa.

Numa aula típica, o aluno coloca-se em frente duma cadeira e o professor coloca- lhe uma mão na nuca. A outra mão pode ser colocada em variados pontos, frequentemente sob o maxilar. O professor repete algumas instruções verbais mas muitas vezes permanece em silêncio. Após uma longa preparação em que nada parece acontecer, com um gesto imperceptível da mão que segura a nuca, o professor leva o aluno a sentar-se. O movimento de sentar e levantar é repetido, mas o professor interrompe o movimento a meio e o aluno fica numa estranha e desconcertante posição chamada de “macaco”.

Como vemos por esta descrição, assistir a uma aula de Técnica Alexander pode revelar muito pouco sobre aquilo que se passa e criar a ilusão de que estamos perante uma estranha cerimónia iniciática. O aluno parece mover-se como uma marioneta nas mãos do professor. Um olhar mais atento revela que algo de enigmático muda na qualidade do movimento do aluno, mas será difícil, numa primeira observação, explicitar o quê.

Uma descrição em linguagem mais científica num estudo sobre os efeitos da Técnica na função muscular respiratória (Austin & Ausubel, 1992), enumera os músculos cujo alongamento é promovido durante uma aula. No entanto, uma descrição analítica e sistemática não esclarece a complexidade dos processos mentais e sensoriais que decorrem durante uma aula. Um conhecimento explícito deste tipo pouco contribui para a sua aplicação prática. A decisão para a acção é sempre conscientemente expressa em termos de movimentos e nunca em termos de músculos. Consequentemente, na área da decisão, não somos capazes de activar o músculo ou grupo de músculos correcto para gerar uma acção directamente. Um sistema sofisticado, que envolve nomeadamente o cerebelo, fá-lo por nós, seleccionando os efectores necessários (Tubiana & Camadio, 2000: 100).

Na perspectiva do professor de TA, o primeiro passo é convencer o aluno de que a forma descoordenada como se comporta é resultado duma concepção incorrecta e duma percepção sensorial deficiente para depois treiná-lo na capacidade de inibir. O aluno “deve

assim tomar uma decisão de se recusar a consentir em executar qualquer actividade de acordo com a sua concepção de como o acto deve ser executado”1 (Alexander: 2000, 79).

O aluno deve colocar-se à disposição do professor, que procura, por exemplo ao mover um braço, dar uma novo registo cinestésico da mínima tensão necessária. O aluno deve inibir qualquer tentação de reagir ajudando no movimento. O professor vai então ajudar o aluno a empregar novos meios para atingir o fim duma forma nova e melhorada, que lhe dará sensações que o podem convencer de estar a agir de forma estranha, mas através da repetição dessas experiências acabarão por se tornar familiares.

O aluno deve manter-se atento e não fazer nada, deixando-se guiar pelas mãos do professor, mas muitas vezes ele não percebe que o pensar vai ter efeitos práticos naquilo que se está a passar (Carrington, 1994: 59). Segundo este autor, é fundamental hierarquizar o foco da atenção do aluno: em primeiro lugar está o pescoço, seguido da cabeça, do corpo e por fim as pernas. Nesse sentido é frequente a repetição das direcções ou instruções no momento em que o professor promove a sua execução no corpo do aluno. As direcções adquirem assim um significado experiencial claro.

O Uso das Mãos  

As primeiras descrições das aulas de Alexander, referem que ele apenas utilizava instruções verbais. Gradualmente terá compreendido a pouca eficiência dessa metodologia e desenvolvido uma forma de usar as mãos para proporcionar experiências aos alunos, induzindo-os a fazer os ajustamentos musculares que antes procurava transmitir verbalmente (Carrington & Carey, 1992).

Há numerosas descrições da extraordinária sensibilidade e perícia com que Alexander conseguia modificações notáveis no corpo dos seus clientes (Binkley, 1993; Fischer, 1998; Westfeld, 1998). Nomeadamente, Westfeld reconhece o extraordinário efeito das suas manipulações que lhe permitiram superar a sua deficiência (provocada por poliomielite) e reaprender a andar com alguma normalidade. Quando começou a treinar                                                                                                                

1 Texto original: “... will make the decision to refuse to give consent to carry out the activity by that habitual use of himself which is in accord with his conception on how the act should be performed.”

professores na sua técnica, Alexander conseguiu transmitir essa sabedoria manual, que tem sido preservada por gerações de professores.

A metodologia usada nas aulas de TA é heurística, na medida em que leva o aluno a descobrir experiencialmente aquilo que se pretende que ele aprenda. Macdonald (1989) cita o comentário dum aluno como um exemplo do que deverá ser o objectivo dum professor de TA: “você não me faz coisas com as mãos; elas persuadem-me a fazer as coisas por mim”2 (MacDonald, 1989:34).

Em muitos dos movimentos procura-se que o pensamento do aluno se dirija para a prevenção de interferências de molde a que os padrões de movimento se organizem de forma óptima. Podemos assim ver uma relação entre a pedagogia não linear associada à teoria dos sistemas dinâmicos. O corpo do aluno organiza-se no campo de gravidade e um padrão de movimento emerge se os constrangimentos impostos forem adequados. Se a articulação dos tornozelos estiver verdadeiramente solta, uma elevação dos braços à frente é compensada por uma abertura do ângulo entre os pés e a perna (articulação tíbio-társica). Uma ligeiro descair da cabeça provoca um desequilíbrio do tronco que se inclinará para a frente caso a articulação das ancas esteja livre de tensão supérflua. A experiência deste tipo de movimentos passivos será descrita no capítulo sete.

O verbo permitir (em inglês allow) está presente na formulação das direcções e é constantemente reiterado nas aulas. A palavra constrangimento usada na formulação teórica dos sistemas dinâmicos tem conotações estranhas ao espírito da TA, mas pode ser aqui utilizada com propriedade, tanto num sentido negativo como positivo.

Constrangimentos são como vimos as numerosas variáveis que influenciam o estado dum sistema dinâmico. Os constrangimentos tanto limitam como possibilitam os diferentes comportamentos ou trajetórias que um sistema neurobiológico pode adoptar. Esses constrangimentos podem ser ambientais ou orgânicos. A gravidade é um constrangimento ambiental, que se limita as possibilidades de movimento, também permite ou provoca movimentos passivos de segmentos do corpo. Cada ser humano para além dos limites que a sua estrutura impõe aos movimentos, pode consciente ou inconscientemente limitar a sua amplitude ou impedir a gravidade de contribuir para a organização do corpo no espaço. Na aula de TA o professor procura minimizar os constrangimentos que o aluno                                                                                                                

impõe à mobilidade e organização do seu corpo através duma excessiva ou mal dirigida actividade muscular.

Ao tocar partes relevantes do corpo, o professor pode salientar informação sensorial relativa a muitos detalhes da acção habituais e inadvertidos. Desta forma, o aluno toma consciência de informação proprioceptiva adicional que passa a poder ser usada no controlo consciente do movimento.

São raras e vagas as descrições detalhadas das várias técnicas manuais usadas na TA. O subtil uso das mãos é um conhecimento transmitido oralmente e experiencialmente nos cursos de formação de professores. As mãos do professor podem ser colocadas nos mais variados pontos. Mas uma das técnicas mais usadas, consiste em colocar os dedos duma mão na base do crânio, no osso occipital. Dessa forma é possível sentir as contracções do pescoço e a rigidez da articulação atlanto-occipital. O antebraço e o cotovelo podem ficar em contacto com a coluna dorsal, dando ao aluno um ponto de referência quanto ao alinhamento do pescoço com as costas. A outra mão pode ser colocada sob o maxilar de forma a poder mover suavemente a cabeça em várias direcções.

Segundo Alcantara (1997a: 72; 1999: 41) o professor de Técnica Alexander usa as mãos com quatro objectivos: monitorizar, prevenir, encorajar, e estimular a consciência proprioceptiva. Estes objectivos são interdependentes, sobrepondo-se com frequência.

O primeiro objectivo consiste em sentir o equilíbrio, a leveza ou a rigidez do corpo do aluno. Se a sua tendência é de puxar a cabeça para baixo e para trás, o professor vai procurar prevenir que isso aconteça, resistindo sem forçar, com subtis variações na pressão exercida pelas suas mãos nas direcções em que se pretende promover um maior alongamento. Pequenos movimentos ou toques em pontos estratégicos estimulam a atenção do aluno encorajando-o a permitir certos ajustamentos ou libertar tensões inadvertidas, das quais toma consciência pelo contacto das mãos do professor.

Uma dos objectivos primordiais é ajudar o aluno a manter a articulação atlanto- occipital livre de qualquer rigidez no momento em que executa qualquer movimento ou actividade. Ao sentar um aluno, o professor impede-o de puxar a cabeça para trás; ao guiá- lo num passo em frente, com um pequeno movimento, proporciona-lhe a experiência de iniciar o desequilíbrio para a frente com o peso da cabeça.

As mãos e pulsos do professor devem estar livres, sob pena de perderem a sensibilidade para sentirem a reacção do aluno e controlarem variações ínfimas dos vários

parâmetros. Nas visitas que fiz a três escolas de formação de professores de TA servi de cobaia para os alunos mais avançados, permitindo-me ter a experiência de sentir e comparar as diferenças na qualidade do toque consoante a sua experiência. As escolas reconhecidas pela Sociedade Inglesa de TA, seguem um currículo extremamente exigente, só permitindo a alunos avançados a oportunidade de usarem as mãos nos colegas ou em visitantes. Durante os dois primeiros anos, apenas recebem aulas diárias da Técnica e vão aprendendo a usar as mãos colocando-as apenas nos professores, que assim vão avaliando e apurando a sua sensibilidade.

As mãos podem transmitir numerosas mensagens conscientes ou subliminares. As possibilidades são múltiplas: por exemplo, ao colocar as mãos nos ombros, o professor pode exercer uma força subtilmente variável em cinco direcções diferentes: para baixo com as palmas das mãos; para a frente com o polegar nas omoplatas; para os lados, afastando ligeiramente as mãos em sentidos opostos; uma ligeira torção no sentido exterior e uma maior ou menor pressão com que os dedos apertam os ombros (comunicação pessoal de Pedro de Alcantara).

Pode parecer uma contradição, que ao colocar as mãos nos ombros o professor exerça um ligeira pressão para baixo, quando a TA insiste na necessidade de não puxar para baixo. No entanto, uma ligeira pressão para baixo, correcta e oportunamente feita, estimula reflexos posturais que podem ajudar o aluno a reagir alongando a coluna. Veja-se a elegância com que mulheres carregam cântaros à cabeça: o seu peso só pode ser confortavelmente suportado se o alinhamento e alongamento da cabeça, pescoço e costas forem os ideais.3

 

O Vocabulário

Os professores de TA utilizam um vocabulário só compreensível para os iniciados. A sua correcta interpretação só é possível quando associada às experiências proporcionadas pelas aulas, que gradualmente permitem ao aluno compreender o seu subtil significado. Termos como “think up”, “pull down”, “lengthen and widen”, “allow”, “non- doing” e “end-gaining” são usados com frequência por muitos professores. Outros                                                                                                                

3 Uma aluna minha, com uma postura habitual caracterizada por uma posição do pescoço caído para a frente, ao carregar os tabuleiros de flores na tradicional festa de Tomar demonstra uma atitude postural que raramente consegue manter ao tocar.

preferem trabalhar com o aluno em silêncio, comunicando apenas através das mãos. Importa clarificar os termos que ainda não foram referidos.

Pull down, literalmente puxar para baixo, é a tendência para preceder ou

acompanhar qualquer acção com uma diminuição da estatura, resultante da excessiva tensão de músculos que diminuem o espaço entre as articulações. Um exemplo que pude verificar em mim e em numerosos alunos é o simples abaixamento dum dedo ao tocar flauta, acompanhado dum imperceptível movimento descendente da cabeça, dos ombros ou da própria caixa torácica. Uma pessoa deprimida denota na sua postura e comportamento uma tendência clara para “puxar para baixo”: ombros arredondados, acentuada cifose dorsal que provoca uma compressão do volume da caixa torácica. As inspirações precipitadas e ansiosas de muitos flautistas são acompanhadas duma perda de estatura, à qual se aplica a expressão.

Da mesma forma, a tensão nos ombros tende a aproximá-los e arredondá-los. Aplica-se aí a expressão “pulled in” e mais uma vez o antídoto é deixar de o fazer, permitindo que eles se afastem. Não há de facto músculos cuja função seja afastar os ombros, apenas é possível diminuir a tensão, permitindo o alongamento daqueles que os aproximam.

Lengthen: traduzir este verbo por “alongar” pode gerar confusão. Os exercícios de

alongamento muscular, (em inglês são designados “stretching” que podemos traduzir por “esticar”), nada têm a ver com o conceito da TA. Este tipo de exercícios são feitos com o objectivo de forçar os músculos a aumentarem o seu comprimento de repouso. Um alongamento forçado dum músculo, tem o inconveniente de activar o reflexo miotático que despoleta uma contracção reflexa. A sua prática correcta pode aliviar temporariamente tensões acumuladas e aumentar a elasticidade, mas é um processo que actua sobre os sintomas e não sobre as causas. Não é com alongamentos desse tipo que se aprende a inibir ou libertar tensões habituais que acompanham qualquer actividade.

Na TA fala-se em alongamento da coluna, como resultado da inibição de todas as tensões ou desequilíbrios que contribuem para que ela não mantenha o seu comprimento máximo, respeitando as suas curvaturas naturais. Esse alongamento é feito diminuindo a tensão dos músculos do pescoço que retraem a cabeça para trás e a comprimem contra as vértebras do pescoço; a consequente diminuição da lordose da coluna cervical, colocará a cabeça num ponto mais elevado; um melhor alinhamento das vértebras torácicas diminui a

cifose dorsal, reduzindo a contracção excêntrica4 dos músculos superficiais posteriores da parte superior do tronco; simultaneamente uma diminuição da tensão dos músculos lombares diminui a lordose nessa região promovendo uma ligeira retroversão da bacia. Promover este alongamento da coluna, prescrevendo explicitamente a distensão dos grupos musculares envolvidos é uma tarefa difícil de executar duma forma deliberadamente consciente. Por isso a TA através de vários procedimentos, proporciona ao aluno uma experiência repetida desses reajustamentos musculares até que as sensações decorrentes se tornem habituais. A tentação de tentar fazer algo para promover o alongamento é geralmente traduzida em actividade muscular indesejável.

A importância de associar as acções correctas às sensações é crucial, bem como a dissociação de todas as actividades que em nada contribuem para o alongamento.

A mesma ideia de alongar, aplica-se a qualquer parte do corpo. Uma perna ou braço tensos ficam naturalmente mais curtos. Tensão e rigidez nos músculos do tórax diminuem o volume e a elasticidade da caixa torácica. Por isso qualquer gesto deve ser precedido duma expansão de toda a musculatura, de forma a que os músculos utilizados iniciem a sua contracção a partir do seu comprimento ideal.

Uma vez conseguida essa expansão e o desejável alongamento da coluna, importa mantê-los em qualquer actividade. Nesse sentido, uma forma de end-gaining será executar imediatamente qualquer acção sem continuar a manter esse estado. O momento que antecede uma dificuldade na execução pode ser um exemplo claro: muitos alunos encolhem-se literalmente antes e durante a execução duma passagem que lhes suscite insegurança ou receio de falhar. A consciência do problema não é suficiente para o resolver e Carrington (1992) coloca a questão com clareza: “chamar persistentemente a atenção [dos alunos] para suas tensões não os está a ajudar. As pessoas não precisam

                                                                                                               

4 Se uma contracção muscular provoca um encurtamento das suas fibras, nem sempre o comprimento total do músculo diminui. Há assim três tipos de contracções, consoante o comprimento total do músculo diminui, aumenta ou se mantém constante. Numa contracção concêntrica há encurtamento muscular e diminuição do ângulo articular. Mas uma contracção excêntrica caracteriza-se pelo alongamento muscular para além do seu comprimento de repouso. Este tipo de contracção é necessário para a estabilização da articulação ou para o controlo e desaceleração dum movimento efectuado pelo músculo antagonista, aquele que se opõe à acção articular realizada pelo agonista. Numa contracção isométrica, o comprimento do músculo permanece constante, seja pela activação simultânea de músculos antagonistas ou recorrendo a uma resistência externa.

apenas que lhes chamem a atenção para o problema; precisam do reforço da experiência de se moverem sem puxar para baixo”5 (Carrington, 1992: 48).

De facto não há qualquer vantagem em pedir a um aluno para fazer ou deixar de fazer algo com músculos de que não tem consciência ou de cuja tensão não se apercebeu ou é incapaz de controlar.

Os Procedimentos

Os procedimentos usados nas aulas de Técnica Alexander são de uma simplicidade enganadora. Nenhum dos procedimentos tem como objectivo aprender uma posição determinada, mas desenvolver a capacidade de pensar em diferentes direcções de forma simultânea e seguindo uma hierarquia determinada. O objectivo dos procedimentos é conseguir mudanças significativas no comportamento do aluno.

No desenvolvimento dos procedimentos, Alexander usa as chamadas posições de vantagem mecânica (Alexander, MSI: 118-119) No fundo qualquer posição, que quando combinada com as direcções, vai facilitar a adequada expansão de todo o organismo (Alexander, 2000a: 78). Essas posições dão ao professor a oportunidade de proporcionar com as mãos no aluno uma experiência diferente de coordenação (Alexander, 2002: 118). “O que caracteriza um procedimento da TA não é uma posição das partes do corpo no espaço mas as direções (ou tendências) que as partes podem ter em relação uma à outra e cada uma em relação ao todo”6 (Alcantara, 1997: 104).

Três dos procedimentos mais comuns, “a posição do macaco” (capítulo sete), “as mãos nas costas da cadeira” (capítulos sete e nove) e o “ah sussurrado” (capítulo oito) serão alvo duma descrição detalhada na segunda parte da dissertação, inseridos no contexto da minha experiência com eles e da sua relevância para alterações substanciais na minha técnica de execução e metodologia de ensino. Mas para os compreender com mais clareza importa começar por analisar o gesto mais frequentemente repetido numa aula de TA e as razões que o justificam.

                                                                                                               

5 Texto original: “Persistently drawing someone’s attention to their tightening is not helping them. It isn’t just that people need their attention drawn to the problem; they need reinforcement of the experience of moving without pulling down.”

6 Texto original: “What characterizes an Alexander procedure is not a position of bodily parts in space but the directions (or tendencies) that these parts may have, one in relation to the other and each in relation to the whole.”

Sentar e Levantar

O uso consciente do mecanismo em todos os actos da vida com base na coordenação geral, constitui um verdadeiro problema intelectual do controlo construtivo sem fim, que desenvolve o interesse e o prazer geral mesmo em actos quotidianos como ‘sentar’ ou ‘estar de pé’7 (Alexander, 1997: 181).

Nas aulas de Técnica Alexander o procedimento mais comum é o chamado trabalho com cadeira. Levantar e sentar é um gesto que é repetido várias vezes na maior parte das aulas. Qual a razão desta aparente obsessão com este gesto quotidiano? Em primeiro lugar importa realçar que o objectivo principal não é aprender a melhor maneira de levantar e sentar, embora esse objectivo acabe por ser alcançado indirectamente. “Não é o levantar ou sentar mesmo nas melhores condições que tem qualquer valor: isso é simples cultura física. O que conta é o que estivemos a fazer como preparação quando se trata de fazer movimentos”8 (Alexander, 1995a: 194).

Como habitualmente nos sentamos de forma tácita, um professor de TA procura que nos passemos a sentar e a levantar doutra forma, mas sem necessariamente explicitar concretamente o que mudou. No decurso duma série de aulas, a repetição da experiência de sentar e levantar guiado pelas mãos do professor acaba por promover uma aprendizagem implícita duma forma mais económica de realizar aquele movimento. A mecânica desse movimento implica aproveitar da melhor forma os constrangimentos impostos pela força da gravidade e pela constituição anatómica das articulações esqueléticas. Para isso é necessário controlar e diminuir tensões habituais em certas articulações, mantendo a tonicidade da musculatura postural do tronco. Daí o ênfase que Alexander coloca na preparação para o movimento: criadas as condições ideais, o movimento resulta duma combinação da acção da gravidade com uma intervenção pontual