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I PARTE: FERRAMENTAS CONCEPTUAIS

Capítulo 5: A TÉCNICA ALEXANDER

5.1 F.M Alexander e a Evolução da sua Técnica

Frederick Mathias Alexander1 (1869-1955), o mais velho de oito irmãos duma família de agricultores nasceu em Wynyard, na Tasmânia. Sofria de problemas respiratórios e deixou de receber educação formal a partir dos 9 anos. Por falta de meios económicos não pôde seguir a carreira de professor que ambicionava e por isso foi trabalhar para uma mina de estanho aos 16 anos. Em três anos amealhou o suficiente para ir para Melbourne onde iniciou uma carreira de declamador. O seu reportório incluía monólogos de Shakespeare, então na moda.

A sua carreira começou a ficar comprometida com a rouquidão que o acometia durante os recitais e que vários médicos consultados não conseguiam resolver. Antes dum compromisso especialmente importante, Alexander recorreu mais uma vez a um médico, que lhe recomendou repouso absoluto da voz. Na véspera do espetáculo, a voz de Alexander estava em perfeitas condições, o que levava a crer que a recomendação do médico dera resultado. Na realidade a rouquidão reapareceu durante o espetáculo que terminou com Alexander quase sem voz. Regressando ao consultório do médico, este desanimadamente não propôs qualquer novo tratamento. Alexander concluiu que se não tinha problemas com a voz depois dum período de repouso e os problemas regressavam quando a voltava a declamar, a origem do problema tinha de estar na forma como ele usava a voz. A rouquidão era um sintoma, e nem o médico, nem o próprio Alexander faziam ideia das suas causas. Encetando um fastidioso processo de auto-observação, Alexander atribui a origem dos seus problemas de rouquidão a um complexo padrão de tensões inadvertidas e desenvolve um protocolo para as erradicar (Alexander, 1985: 21-48).

                                                                                                               

A Emergência das Saliências

Alexander começa por se observar ao espelho enquanto fala ou declama, procurando algo que pudesse estar na origem dos seus males. A primeira constatação de Alexander é que aparentemente nada de estranho se parece passar quando se observa no acto de recitar. Procura por isso comparar o acto de falar normalmente com o acto de declamar. Ao fim de algum tempo apercebe-se de três coisas que aparentemente só acontecem quando declama: puxa a cabeça para trás e para baixo, deprime a laringe e

inspira ruidosamente pela boca. Esta primeira descoberta encoraja-o a observar-se mais

atentamente. Como tem agora pistas para a focagem da atenção, verifica que afinal quando fala, aquelas três aparentes anomalias também estão presentes, embora menos salientes. Apercebe-se por isso de que quanto maiores são as exigências da declamação, maior a tendência para puxar a cabeça para trás, deprimir a laringe e inspirar ruidosamente pela boca. A tendência geral é para aumentarmos o esforço investido, quando a dificuldade do acto é maior. Se fazemos algo de ineficiente quando o acto é simples, ao aumentarmos o esforço a ineficiência dos meios utilizados, torna-se mais aparente. Ou seja, a nossa capacidade de discriminação é reduzida. Esta capacidade de discriminação é extremamente importante para compreender o nível a que a TA procura trabalhar a coordenação.

A hierarquização das saliências

Alexander convence-se de que a origem da sua rouquidão poderá estar naqueles três movimentos. Tendo três acções que pretende então prevenir, põe-se a questão de saber por qual começar. Será que as três actividades são independentes, ou umas serão provocadas por outras? Haverá uma mistura de sintomas com causas? Alexander testa metodicamente as várias hipóteses. Concentrar-se em não deprimir a laringe ou em não inspirar ruidosamente, parece não ter efeito nos outros problemas. Mas verifica que se procurar impedir a cabeça de ir para trás, no processo, a depressão da laringe e a inspiração ruidosa atenuam-se. É o primeiro passo na formulação dum dos princípios da Técnica: o controlo primário.

Alexander obtém aqui o seu primeiro sucesso. A rouquidão começa a diminuir: as mudanças que conseguiu, prevenindo as três tendências nefastas que detectara produzem um claro efeito no funcionamento dos mecanismos vocais e respiratórios. Outro princípio

da Técnica começa a clarificar-se: o uso que damos a certos mecanismos do organismo afectam o funcionamento.

Nesta fase, Alexander está particularmente focado na depressão da laringe que surpreendentemente se mantém, ou até agrava quando faz (ou pensa fazer) o contrário do que fazia. Descobre assim que à depressão da laringe está associada uma tendência para

elevar o peito e arquear as costas sobretudo na zona lombar. São novos problemas

específicos que se salientam e enquadram num padrão global. A voz é assim influenciada pelo uso de todo o tronco e o puxar da cabeça para trás e para baixo não é apenas um mau uso de partes específicas mas o gatilho dum padrão global.

Alexander verifica que esta elevação do peito e arqueamento das costas pode ser descrita como uma encurtamento e estreitamento das costas. De facto um aumento da lordose lombar é provocado por uma contracção dos músculos extensores da coluna que estão inseridos na bacia, vértebras e costelas. Um encurtamento destes músculos, aproxima a parte de trás da caixa torácica da bacia, o que faz com que a distancia linear entre a primeira vértebra dorsal e o cóccix diminua: ficamos de facto mais baixos. Uma elevação excessiva do peito com retracção dos ombros, provoca de facto uma diminuição da distância entre as omoplatas. Alexander começa a usar as expressões “alongar a estatura” e “alargar as costas”2 (Alexander, 1985: 31) .

Continua no entanto a praticar pacientemente. Os seus esforços não são totalmente infrutíferos pois novas saliências emergem na sua percepção, integrando um complexo padrão global de mau uso que cada vez com maior clareza se vai desenhando. Descobre uma condição de tensão excessiva no organismo que afectava em particular as pernas, pés e dedos dos pés. Verifica que no acto de declamar tem os dedos dobrados e a planta dos pés arqueadas o que interfere no equilíbrio. O seu mapa corporal vai-se clarificando e a amnésia sensoriomotora vai-se dissipando.

Ineficácia da instrução prescritiva

Alexander associa então esta tensão nas pernas e pés, a uma recordação das instruções prescritivas dum antigo professor de interpretação dramática: “Take hold of the floor with your feet” (idem: 33). O professor demonstrara o que pretendia e Alexander procurara imitar, acreditando que se lhe diziam o que fazer para corrigir algo que estava                                                                                                                

errado, seria capaz de o fazer e tudo correria bem. Depois de perseverar ficara satisfeito por pensar que estava a “agarrar o chão com os pés” como tinha visto fazer. Vemos aqui um exemplo duma provável má tradução do conhecimento tácito dum professor ou uma má retroversão da instrução feita pelo aluno e do efeito duradouro e subliminar que pode ter (um paralelo com a minha experiência será feito no capítulo nove). Ao longo do processo de descoberta dos vários elementos do padrão, Alexander vai tentando corrigi-los, constatando dois factos que abalam a sua convicção na capacidade de alterar os seus hábitos recorrendo à explicitação das correcções a fazer: a tendência para corrigir um erro fazendo o oposto em vez de preveni-lo e a deficiente consciência proprioceptiva que o leva a reverter inadvertidamente para o hábito que procura erradicar.

Alexander comete um primeiro erro no processo. Decide colocar a cabeça claramente para a frente, convencido de que assim conseguiria erradicar completamente a tendência para a puxar para trás. Mais à frente mesmo do que lhe parecia normal. Verifica que quando põe a cabeça à frente também a puxa para baixo, com um efeito praticamente igual ao de puxar a cabeça para a trás e para baixo.3 A depressão da laringe é praticamente igual nas duas posições, e Alexander está naturalmente convencido da relação directa entre a posição da laringe e os seus problemas vocais.

Alexander conclui que fazer o exacto oposto dum erro não constitui necessariamente uma solução, mas geralmente constitui um erro igualmente nefasto. Esta ideia será por ele retomada com frequência. A maior parte das tentativas de correcção postural enfermam deste mesmo erro. O problema está à primeira vista na dificuldade em encontrar o ponto médio entre dois extremos opostos. Mas perceber que o erro é

provocado por algo que fazemos e portanto devemos deixar de fazer é a forma mais

eficaz de equacionar o problema.

Ao tentar promover o máximo alongamento da coluna, Alexander verifica que ao pôr a cabeça para a frente, tende a puxá-la para baixo. Para alongar a estatura deve pôr a cabeça para a frente e para cima (forward and up). Este para a frente e para cima, presta-se a confusões e Alexander (2000a) em escritos posteriores manifesta alguma frustração com a expressão, mas não encontra uma mais adequada.

                                                                                                               

3 As diferentes posições, que numa descrição deste tipo se tornam confusas serão clarificadas no próximo subcapítulo.

Mas a velha tendência para elevar o peito4 mantém-se, acompanhada do já referido arqueamento lombar, provocando um estreitamento das costas. O efeito adverso na forma e funcionamento do tronco leva-o a concluir que pôr a cabeça para a frente e para cima não é suficiente se não prevenir a elevação do peito e simultaneamente provocar um alargamento das costas.

Convencido de que já interiorizou com clareza aquilo que deve impedir-se de fazer, faz uma primeira tentativa de combinar “prevenção” e “actividade”. Recomeça a declamar e falar, procurando manter a cabeça para a frente e para cima, promovendo um alongamento e alargamento das costas.

Intuição do Esquema de Reconhecimento

No entanto não consegue manter aquelas condições ao declamar. Suspeita não estar a fazer o que pensava. Neste momento Alexander já deixara de recorrer ao espelho. Volta a usar o espelho, acrescentando-lhe mais dois colocados de cada lado de forma a poder obervar-se de frente, de lado e por trás. Descobre que no momento crítico em que tenta combinar a manutenção do alongamento com o uso da voz, não põe a cabeça para a frente como pensava, mas para trás.

Alexander vê-se então num impasse, confrontando-se com uma dolorosa realidade: Há uma crença generalizada de que se nos dizem o que fazer para corrigir um erro, o podemos fazer e sentimos que o estamos a fazer, tudo corre bem. A minha experiência, todavia, mostra que isto é uma ilusão5 (Alexander, 1985: 33 ).

Confiava que conseguia pôr em prática qualquer ideia que julgasse desejável. Estava a sofrer duma ilusão quase universal: a de que por sermos capazes de fazer o que queremos em actos que são familiares e envolvem experiências sensoriais familiares, teremos igualmente sucesso em fazer aquilo que queremos duma forma contrária aos nossos hábitos e que portanto envolvem experiências não familiares6 (idem: 32).                                                                                                                

4 A expressão elevação do peito, presta-se também a confusões: neste caso, a caixa torácica é elevada pela acção dos músculos das costas, provocando uma acentuação da lordose lombar e uma aproximação das omoplatas. Numa inspiração completa, como veremos no capítulo oito, as costelas elevam-se pela acção do diafragma e dos músculos do peito: há igualmente uma elevação do peito, mas sem um arqueamento da coluna.

5 Texto original: “The belief is very generally held that if only we are told what to do in order to correct a wrong way of doing something, we can do it, and that we feel we are doing it, all is well. All my experience, however, goes to show that this belief is a delusion.”

6 Texto original: “... the delusion that because we are able to do what we ‘will to do’ in acts that are habitual and involve familiar sensory experiences, we shall be equally successful in doing what we ‘will to do’ in acts which are contrary to our habit and therefore involve sensory experiences that are unfamiliar.”

Alexander tem uma clara percepção prática da função do esquema de reconhecimento no controlo dos movimentos, cem anos antes de ele ser teorizado.

Tal como previsto na Teoria do Esquema, o nosso sistema de controlo compara as consequências sensoriais do movimento com a memória das consequências do movimento executado da forma habitual (o esquema de reconhecimento). Se o movimento está a ser executado de forma não habitual, as consequências sensoriais diferem do esquema de reconhecimento e automaticamente o sistema de controlo altera a execução do movimento. Como afirma Alexander (1985), “o homem julga a justeza dos seus actos comparando as sensações que os acompanham, com as sensações memorizadas durante a execução habitual desses actos.” Não tem experiência de pensar em sequência os passos do que tem de fazer. Se vai ter de fazer algo de forma totalmente diferente do habitual, a sensação de estranheza leva-o a crer estar a fazer mal. Não podia confiar nas suas sensações para o informar se estava a fazer o que pretendia. Tem de continuar a actividade mesmo que as suas sensações lhe digam que o que está a fazer está mal.

Para Alexander, o tipo controlo instintivo serviu à humanidade durante milhões de anos, mas tornou-se inadequado no estado presente da civilização que exige uma rápida adaptação a um ambiente em constante mudança.7 Controlo e direcção instintivos deixaram de ser satisfatórios. Alexander suspeita assim que a falta de fiabilidade das sensações é um produto da vida civilizada.

Restaurar essa fiabilidade torna-se assim uma necessidade. De facto, a passagem para uma vida sedentária, que implica a permanência prolongada em novas posturas, aconteceu demasiado depressa. O nosso corpo adaptou-se ao longo de milhões de anos a condições de vida que subitamente, em escassas centenas de anos mudaram drasticamente. A nossa capacidade de adaptação é notável, mas não é perfeita.

Alexander convence-se de que deverá deixar de confiar ou basear-se nas sensações associadas com a direcção instintiva, e em vez disso empregar processos racionais para a substituir por uma nova direcção consciente.

No entanto, verifica que não consegue impedir os dois tipos de controlo de se sobreporem, pois não há uma clara linha divisória entre eles. Confronta-se com a força do

                                                                                                               

7 Cerca de 100 anos depois Carl Rogers (1994: 152) escreveria: “Ensinar ou transmitir conhecimentos faz sentido num ambiente que não muda... Encaramos uma situação totalmente nova em que o objectivo da educação, se queremos sobreviver, é a facilitação da mudança e da aprendizagem.”

hábito e no momento crítico, quando começava a declamar, imediatamente a direcção instintiva dominava a direcção pensada.

Desapontado, decide fazer a experiência de perante a intenção de declamar, recusar fazê-lo imediatamente, concentrando-se em prevenir as tensões que se tinham salientado na sua percepção. Formula um conjunto de instruções, para alterar os detalhes que procura alterar na sua coordenação, integrando progressivamente todas elas numa experiência única. Um processo de integração das saliências. Os progressos são encorajadores, mas frequentemente a regressão para os hábitos que procura erradicar manifesta-se insidiosamente.

Depois de muitas tentativas, introduz um novo elemento, no momento crítico em que vai declamar. Depois de inibir a reacção de declamar para monitorizar cuidadosamente a sua coordenação geral, toma a decisão de aleatoriamente não fazer nada, fazer algo de completamente diferente como por exemplo levantar um braço ou prosseguir na sua intenção inicial de declamar (idem: 45-46).

Aparentemente o procedimento é desconcertantemente simples, mas na realidade trata-se de fintar a sua própria intenção. Com efeito enquanto se concentra nas instruções não sabe ainda o que se vai seguir. Procura desligar a preparação do objectivo, estar no momento, no aqui e agora. Nos actos mais insignificantes o nosso pensamento está já no objectivo final e a preparação é geralmente inadvertida e portanto refractária a qualquer alteração.

Mantendo-se na dúvida quanto à actividade que vai realizar, não dá tempo ao seu cérebro de antecipar as consequências sensoriais do acto, fruto da descarga corolária. Procura surpreender-se tal como quando ao subir umas escadas somos surpreendidos pelo último degrau com que não contávamos. Assim uma actividade que já foi automatizada só pode ser alterada se de alguma forma fintarmos o nosso sistema de controlo, que no fundo é ele próprio um hábito.8

Com os seus problemas vocais e respiratórios resolvidos, Alexander retomou a sua carreira e começou a ser solicitado para auxiliar outros actores. Durante vários anos Alexander vai ensinar personalidades do meio teatral de Melbourne, com problemas vocais e respiratórios. Vários médicos reconhecem o seu trabalho e enviam-lhe pacientes com                                                                                                                

8 Este processo foi seguido por mim, no episódio narrado no capítulo dois, quando inesperadamente coloquei a flauta entre os lábios da aluna que pronunciava as sílabas articulatórias, não lhe dando oportunidade de alterar inadvertidamente o movimento da língua.

problemas respiratórios. Alexandre abandona a sua carreira dramática e começa a desenvolver formas de partilhar a sua experiência. Tem apenas 25 anos quando se muda para Sidney fundando um Conservatório de Drama e Ópera, onde aplica o seu método.

Munido duma carta de recomendação dum médico de Melbourne, Alexander embarca para Londres em 1904, nunca mais voltando à Austrália. Na capital inglesa contará com vários actores, escritores e personalidades da aristocracia entre os seus alunos. Publica vários panfletos de divulgação da sua técnica e começa a ser conhecido como “the breathing man”. Contacta com vários médicos com quem mantém relações nem sempre cordiais. Vai-se envolver em algumas polémicas em páginas de jornais sobre as virtualidades da sua técnica (Staring,9 2005).

Como um dos objectivos da Técnica era restaurar um bom funcionamento do organismo, corrompido por maus hábitos adquiridos pelo estilo de vida urbano, um dos seus sonhos era criar uma escola primária onde através do ensino simultâneo da Técnica a aquisição de maus hábitos fosse prevenida. Esse sonho materializou-se em 1924 com a colaboração de duas alunas suas formadas na escola de Montessori. Em 1931, cria o primeiro curso de treino de professores da sua Técnica.

Síntese

A investigação de Alexander, que Dewey10 (Alexander, 1985: 9) considerava obedecer a critérios experimentais e rigor científico, pode-se enquadrar na metodologia heurística proposta por Moustakas (1990). De facto, Alexander dedica-se a um assunto com importantes implicações pessoais, mergulha no problema através do aturado e fastidioso processo de auto-observação, do qual resultam descobertas iluminantes fruto duma auto-consciência cada vez mais apurada; procura explicações para a origem do problema e segue um longo processo de incubação, com periódicas reflexões que proporcionam uma dissociação entre a sua experiência como objecto da investigação e                                                                                                                

9 A exaustiva investigação de Jeroen Staring (2005) sobre Alexander confronta as publicações da época sobre higiene postural e respiratória. O estudo gerou alguma polémica nos meios da Técnica Alexander por procurar atribuir as origens de algumas das ideias e procedimentos de Alexander a vários autores da época e não deixar de salientar algumas posições racistas expressas no primeiro livro de Alexander. Na minha opinião o estudo revela um conhecimento profundo duma imensidão de publicações da época e prova sobretudo que Alexander estava atento e informado de muito do que se publicava. Terá recebido influências várias o que em nada retira o mérito e originalidade da síntese que representa a Técnica.

investigador. A sua síntese criativa é feita na narrativa autobiográfica do processo (Alexander, 1985: 21-48). A validação das suas descobertas é feita, quer pela constatação de que os seus problemas eram comuns, em maior ou menor grau, na generalidade das pessoas, quer como professor, procurando aperfeiçoar uma metodologia para partilhar a sua experiência.

A investigação de Alexander pode ser descrita como uma ingerência da dimensão explícita do seu conhecimento nos detalhes até então inespecificáveis e inadvertidos do seu comportamento tácito ao declamar. Identifica o seu conhecimento tácito (representado pela forma desadequada como se coordena para declamar) e verifica a sua ineficiência. Decide corrigi-lo usando o pensamento analítico e prescritivo. Verifica que o seu comportamento tácito habitual resiste às alterações explícitas prescritas pela sua rigorosa análise do gesto. A apropriação do conhecimento que Alexander extrai da sua auto-observação só começa a ter sucesso quando procura transformar as instruções explícitas em instruções preventivas não prescritivas apurando a sua sensibilidade proprioceptiva. Verifica que o controlo tácito das coordenações às quais até então não atribuíra qualquer relação com o uso da voz é deficiente, devido a adaptações musculares inadvertidas.

No final, a síntese de Alexander é uma técnica que adopta uma metodologia que procura resolver este conflito entre o explícito e o tácito; a sabedoria do tácito emerge quando a dimensão explícita escolhe quando intervir e quando não intervir, quando deve ser actor e quando deve ser receptor e testemunha dos processo tácitos.