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I PARTE: FERRAMENTAS CONCEPTUAIS

Capítulo 5: A TÉCNICA ALEXANDER

3. Percepção Sensorial Errónea

Na exposição sobre a articulação e o vibrato vimos como diferentes flautistas podem ter uma percepção diferente das acções envolvidas naqueles processos, gerando                                                                                                                

13 Num questionário feito a estudantes de violino foi-lhes pedido para enumerarem quais as actividades que consideravam relevantes para melhorarem o seu desempenho. Naturalmente que em primeiro lugar mencionaram a prática, mas o sono foi a única actividade não musical julgada relevante para melhorar o desempenho no instrumento (Krampe & Ericsson, 1995: 94). Estas respostas evidenciam quão invulgar é esta atitude encorajada pela TA de que uma prática atenta de qualquer actividade pode refletir-se positivamente no desempenho dum músico. Qualquer tarefa mundana pode tornar-se assim uma preparação para o trabalho musical.

descrições divergentes ou desfasadas da realidade física. Uma das premissas da Técnica Alexander é assim, a constatação de que a nossa percepção nos induz sistematicamente em erro. Alexander (1985, 1995b) usa expressões como “faulty sensory awareness” ou “debauched kinesthesia” para descrever a falta de rigor da nossa representação mental do corpo e do movimento.

“A minha técnica foi desenvolvida com base na premissa de que se algo de mal se passa connosco, é porque nos temos guiado por uma percepção sensorial inexacta, que provoca experiências sensoriais incorrectas, resultando em actividades mal orientadas”14 (Alexander, 1997: 92).

Alexander verificou que a sua percepção o induzia em erro, por exemplo, quando ao procurar colocar a sua cabeça para a frente e para cima, acabava por mover o pescoço colocando o crânio numa posição mais baixa. Por outro lado, era pouco sensível às pequenas diferenças: a retracção da cabeça, aparente quando declamava, era imperceptível quando falava. A sua percepção não lhe dava a informação enquanto não sabia o que procurava. As sensações que não são alvo da atenção não fazem parte da nossa percepção. O declínio da tendência para responder a um estímulo que se tornou familiar, a habituação, liberta recursos da nossa atenção para outros objectos: informação constante tende a ser descartada.

Alguns mecanismos de defesa distorcem a nossa percepção: o reflexo de atenuação, por exemplo, provoca uma contracção do músculo tensor do tímpano e do músculo estapédio, tornando a cadeia de ossículos muito mais rígida diminuindo a condução do som ao ouvido interno. Dessa forma a intensidade dum estrondo é atenuada, quando o antecipamos (Bear et al, 2001: 356).

Por outro lado o nosso cérebro preenche as lacunas da informação sensorial que recebe. Um exemplo é o ponto cego dos nossos olhos. Na nossa retina há um círculo desprovido de células fotossensíveis que coincide com a abertura por onde o nervo óptico deixa o globo ocular e os vasos sanguíneos entram na retina (Bear et al, 2001: 285). A lacuna na imagem é preenchida pelo córtex visual, tal como um restaurador preenche as falhas de tinta numa tela baseando-se nas cores circundantes e na dedução da imagem original. Mas por vezes, as interpretações que o nosso cérebro faz da informação visual induzem-nos em erro, gerando as numerosas e curiosas ilusões de óptica (Gregory, 2009).                                                                                                                

14 Texto original: “My technique has been developed throughout from the premise that if something is wrong with us, it is because we have been guided by unreliable sensory appreciation, leading to wrong sensory experiences, resulting in misguided activities.”

A percepção táctil, também é influenciada pelo carácter activo ou passivo da aquisição da informação: temos uma impressão subjectiva de uma reduzida sensação de contacto quando nos tocamos. Não conseguimos fazer cócegas a nós próprios (Schmidt & Lee, 2005: 160), pois o efeito dum estímulo sensorial é reduzido durante movimentos endógenos. A inibição da informação sensorial por um movimento activo e o seu restabelecimento por estimulações passivas no decurso dum exploração do nosso corpo são um exemplo de antecipação. Quando a tarefa é nova ou o estímulo inesperado a sensibilidade é restaurada (Berthoz, 2000: 87-88).

Discriminação

A nossa percepção depende dos nossos hábitos: hábitos de movimento e de pensamento. Para Alexander os dois são indissociáveis. As mais recentes teorias neurológicas estabelecem firmemente a relação entre percepção e acção (Berthoz, 2006) e a plasticidade do córtex sensorial prova que a representação de partes do nosso corpo depende da experiência e da prática. Hábitos sedentários e excesso de estímulos externos distraem-nos da experiência do corpo; hábitos e preconceitos culturais levam-nos a abandonar movimentos naturais que nos fazem perder a amplitude e flexibilidade de certas articulações, convencendo-nos da sua impossibilidade.15

Um aspecto fundamental da nossa propriocepção, é a capacidade de discriminar a informação sensorial de diferentes partes do corpo. É sabido que a representação das diferentes partes do corpo no córtex somatossensorial não corresponde às proporções das dimensões das partes em causa. A representação das mãos ou da face ocupam uma área muito superior à do tronco ou das pernas (homúnculo de Penfield ou mapa somatotópico corporal no córtex somatossensorial, Bear et al, 2001: 415).16 Estudos neurológicos mostraram como a representação da mão esquerda dos violinistas, que executa                                                                                                                

15 Cranz (1998: 25), no seu livro sobre a cadeira e todas as suas implicações estéticas, culturais e posturais conta um caso passado na Índia colonial. O proprietário duma fábrica considerando impróprio que os seus empregados trabalhassem de cócoras (a mais natural e ergonómica posição para nos sentarmos) colocou bancos e as ferramentas em mesas elevadas. No primeiro dia os empregados sentaram-se desconfortavelmente, mas no segundo dia estavam de novo de cócoras sobre o banco.

16 Um violoncelista professor de TA, William Conable (Conable, 1991: 127-131) considera assim que muitas dificuldades de movimento têm a sua origem num deficiente mapa corporal. Se pedirmos a uma pessoa para esticar um braço com os dedos estendidos e seguidamente lhe pedirmos para descontrair os dedos, o mais provável é que ela relaxe simultaneamente o pulso deixando cair a mão juntamente com os dedos. Muitas pessoas não têm uma clara localização da articulação das pernas com o tronco ou da cabeça com o pescoço. Essa imprecisão na percepção da localização precisa das articulação é resultante dos hábitos de movimento como veremos no próximo subcapítulo a propósito da flexão do tronco à frente no acto de sentar.

movimentos dos dedos de grande precisão, é muito maior que a da mão direita, que apenas segura o arco (Peretz & Zatorre, 2003: 367). Igualmente se demonstrou que a área activada podia aumentar em pouco tempo quando indivíduos sem treino instrumental eram sujeitos a um curto período de prática de movimentos digitais controlados, revelando a grande plasticidade do cérebro que permite dessa forma solidificar a aprendizagem. A capacidade de discriminação entre dois pontos varia ao longo do corpo, sendo que as distâncias chegam a variar até 20 vezes (Bear et al, 2001: 402). A ponta dos dedos possui a maior resolução, porque a densidade de mecano-receptores é muito maior. Tocados na mão a distancias mínimas, apercebemo-nos de que o ponto de contacto é diferente; mas nas costas, a nossa capacidade de discriminar distâncias é muito menor.

Percepção e Acção

O significado duma percepção é também a forma como ela nos leva a agir. Se chove, algumas pessoas correm para um abrigo, enquanto outras gostam de andar à chuva. As percepções daquilo que acontece variam em função daquilo que nos levam a fazer. O facto de ambos os grupos concordarem que está a chover, não significa que tenham a mesma percepção do acontecimento. Por isso a percepção, para além da atribuição de significado a um estímulo é ela própria um estímulo para a acção. Na psicologia ecológica, Gibson (1986) introduziu o conceito de “Affordance”: perante umas escadas, o cérebro não se interessa pelas dimensões exactas dos degraus mas pela relação que existe entre a sua altura e o tamanho das pernas do observador, a fim de determinar se é possível transpô-las. No entanto a impossibilidade de transpormos um precipício depende das circunstâncias: se formos perseguidos por um animal feroz certamente nos abalançamos a saltar uma distância que em circunstâncias normais consideraríamos impossível. A memória desse feito poderá alterar a nossa percepção futura das dimensões do precipício.

Se a ligação entre percepção e acção é fundamental, a eficiência das nossas acções pode estar comprometida se a percepção não é fiável. Um estudo (citado em Davids et al, 2008: 66) mostrou como movimentos de correcção postural podiam ser induzidos em indivíduos colocados em salas cujas paredes se moviam sem que disso se apercebessem. Se a parede se afastava os indivíduos inclinavam-se para a frente pois a informação visual era interpretada como sinal de que se estavam a inclinar para trás. Nestes casos a informação visual é determinante, apesar de entrar em contradição com as sensações nas

plantas dos pés e com a informação vestibular. A experiência feita com crianças levou algumas a cair. Nas alterações posturais que propus a vários alunos que tocavam ligeiramente inclinados para a frente, a primeira reacção foi de que sentiam que estavam inclinados para trás, manifestando mesmo receio de cair. Por isso uma alteração postural feita de forma prescritiva dificilmente é apropriada pelo aluno enquanto a sua concepção e experiência do alinhamento não se alterar.

Percepção é selecção e antecipação. A percepção pressupõe uma decisão: a decisão de atender às sensações dos sentidos. À sensação à qual se aplica a atenção, e que de passiva se tornou activa e saliente, chama-se percepção (Berthoz, 1993: 16). Por isso a percepção supõe o movimento, a atenção, o hábito, a imaginação, a memória e finalmente o julgamento. O presente é visto através do conhecimento do passado, o que pode induzir em erro. O cérebro cria descrições a partir de características simples recebidas pelos sentidos e representadas pela actividade de neurónios especializados. Essas representações são armazenadas na memória e de facto percepção e memória estão intimamente relacionadas (Gregory, 2009: 7).

Eficiência muscular e percepção das sincinesias

Das variadas actividades musculares envolvidas numa acção, a nossa percepção selecciona e salienta as que considera mais relevantes. Há no entanto sensações, contracções e gestos imersos na nossa consciência subsidiária a que dificilmente acedemos. Nomeadamente a forma como utilizamos a musculatura postural, aquilo que Ian Waterman17 foi forçado a atender focalmente no dia a dia.

Para uma utilização eficiente da musculatura há que ter em conta uma variedade de factores que em larga medida estão imersos na nossa consciência subsidiária:

1) Para cada movimento alguns músculos têm de se contrair para efectuar o movimento, enquanto outros têm de trabalhar para criar a estabilidade necessária para realizar o movimento; alguns músculos têm de actuar para garantir correcções ou afinações na trajectória do movimento;

2) Para cada uma destas acções há um esforço mínimo necessário para satisfazer as necessidades do movimento, e qualquer esforço maior do que esse é desnecessário e um desperdício;

                                                                                                                17 Cf. capítulo três (Cole, 1995).

3) Todos os outros músculos não envolvidos naquelas três funções têm finalidades que não são necessárias para a execução do movimento considerado e portanto devem manter-se distendidos durante a execução do movimento (Weed, 1990: 57-58).

Para optimizar a eficiência do gesto, torna-se essencial tomar consciência das contracções inadvertidas desadequadas do objectivo a concretizar, as sincinesias (Godinho, 2002: 211). Na realidade aquilo que Alexander (1995b: 32) designa de “misdirected energy”.

Das coordenações primárias resulta que a contracção de músculos distais tendem a propagar-se em contracções de músculos mais proximais. A justificação deste fenómeno deve-se às características de alguns músculos, nomeadamente o facto de atravessarem mais do que uma articulação. Assim a tensão na periferia repercute-se ao longo dos membros até às inserções mais proximais. Como exemplo pode referir-se o facto de uma contracção com a força máxima do punho geralmente resultar numa contracção de todo o braço e dos músculos de suporte ao nível do ombro, mesmo quando essa tensão não é necessária. Da mesma forma a tensão excessiva no movimento dos dedos repercute-se nos braços, ombros, pescoço e costas e vice-versa. Daí a importância de ao trabalhar problemas mecânicos específicos estar atento em primeiro lugar ao estado de distensão de músculos sem qualquer função no movimento em causa ou que têm apenas a função de assegurar a estabilidade das articulações que se movem. Na TA, para um movimento específico localizado a atenção deve centrar-se na coordenação geral de todo o corpo e na inibição de contracções desnecessárias ou excessivas em zonas do corpo muitas vezes distantes da musculatura directamente envolvida na acção.

Da estruturação do sistema nervoso, nomeadamente no que se refere ao inervamento recíproco, que estimula a activação simultânea dos músculos de ambos os membros, resultam contracções desnecessárias realizadas pelo membro oposto em paralelo com a acção desenvolvida. São designadas por contracções paratonais ou irradiação contra-lateral (Godinho, 2002: 212). Por exemplo, é comum verificar-se no início da aprendizagem da escrita a tendência para mobilizar o membro contrário.18 As tensões suscitadas por dificuldades no movimento duma mão tendem a repercutir-se na tensão da mão oposta.

                                                                                                               

18 Esta tendência para o acoplamento dos movimentos de ambos os membros está na origem da dificuldade em esfregar uma mão no peito, batendo simultaneamente com a outra e seguidamente trocar a acção entre as mãos.

Mas será que podemos afirmar que essas contracções aparentemente involuntárias são inconscientes? Já referimos na introdução a distinção que Stumpf (Fabro, 1978: 138) faz entre aquilo que é inconsciente daquilo que é inadvertido. Segundo Styles, (1997: 215) há duas abordagens para definir o significado de “consciente”. Na primeira abordagem se o sujeito afirma que não se apercebe do estímulo isso é considerado prova da falta duma consciência subjectiva. Mas numa outra perspectiva, consciência é a capacidade do sujeito agir com base no estímulo mesmo que aparentemente não se aperceba dele.

Portanto se o sujeito afirma não se aperceber do estímulo mas no entanto é capaz de reagir a esse estímulo, o sujeito está objectivamente consciente. Se for capaz de fazer escolhas discriminatórias não podemos falar em inconsciência.19 Este aparente paradoxo é ilustrado pela experiência de Henry (1953), referida no capítulo quatro: um indivíduo era capaz de manter imóvel um puxador reagindo através de variações de tensão voluntárias e portanto conscientes a variações de forças inferiores àquelas que era capaz de discernir, das quais podia assim afirmar não ter consciência. Era assim capaz de reagir a um estímulo de que não se apercebia. Da mesma forma, quando mantemos uma conversa, a nossa atenção pode ser despertada por uma palavra familiar pronunciada (por exemplo o nosso nome) numa conversa paralela que não estamos a seguir atentamente. Aquela palavra salienta-se num discurso cujo significado não estamos a interpretar (Schmidt & Lee, 2005: 96).

Deixamos de ter consciência do zumbido duma lâmpada fluorescente pelo efeito da habituação. Mas é certo que se esse ruído cessar subitamente a nossa atenção é despertada. Uma saliência, deixa de o ser, e a sua ausência transforma-se ela própria noutra saliência. Assim um flautista apercebe-se ou estranha a ausência de certas tensões preparatórias de que nunca se apercebera e reage com estranheza ou incredulidade quando consegue resultados inesperados na sequência duma preparação em que essas contracções estiveram ausentes. Uma experiência que relatarei no capítulo nove.

As nossas percepções são em larga medida função das nossas experiências prévias, as nossas assunções e os nossos objectivos ou necessidades. Tendemos a depender do que queremos ou necessitamos e daquilo que a nossa experiência passada nos leva a assumir que vai resultar. Isso cria crenças que auto-limitam a nossa capacidade de ultrapassar o                                                                                                                

19 “If the subject reports lack of awareness but nevertheless is able to make a discriminatory response, the subject is objectively aware. According to Eriksen, the subject is unconscious of the stimulus only when he is unable to make a discriminatory response” (Styles, 2007: 215).

limiar do que julgamos possível, nomeadamente no que diz respeito ao esforço que associamos ao controlo das nossas actividades.

Alexander, quando trabalha com um gago verifica um fenómeno deste tipo: “…a familiar quantidade de tensão que lhe dava a ‘sensação correcta’ era a quantidade desnecessária associada ao habitual uso dos mecanismos, do qual a gaguez era um sintoma”20 (Alexander, 1985: 72). O gago era incapaz de tentar pronunciar certas sílabas antes de se colocar num estado de tensão muscular excessiva associada a todas as experiências anteriores e que portanto era “inconscientemente” considerada necessária para o acto de falar. O problema reside na convicção profunda de que a preparação para o acto de falar (ou tocar) exige toda uma parafernália de tensões preparatórias criando-se assim sincinesias habituais.21 Estudos neurológicos apontam no sentido da importância crucial da antecipação na construção da nossa percepção. “A percepção do esforço por aquele que o realiza resultará tanto de uma antecipação da força empregue como da informação sensorial do movimento produzido”22 (Berthoz & Petit, 2006: 70).

É pouco provável que alteremos as nossas percepções a não ser que não consigamos fazer alguma coisa baseados nelas. Se as nossas acções parecem permitir-nos alcançar os nossos objectivos, não vamos alterar as nossas percepções mesmo que nos provem que elas estão erradas. Na realidade o significado de “errado” neste contexto é uma percepção que não “resulta” para o sujeito. A capacidade para aprender depende em larga medida da capacidade de descartar percepções erradas e desenvolver novas, pois como afirma John Dewey no prefácio dum dos livros de Alexander, “usamos precisamente as condições que necessitam de reeducação como os nossos padrões de julgamento23 (Alexander, 1995b: 182).

Corrigir a nossa percepção e interpretar mais criteriosamente as nossas sensações torna-se crucial pois, “todos querem estar certos, mas ninguém pára para considerar se a sua ideia de ‘certo’ está correcta”24 (Alexander, 1995a: 205).

                                                                                                               

20 Texto original: “…the familiar amount of tension that ‘felt right’ to him was the unnecessary amount associated with the wrong habitual use of his mechanisms of which his stuttering was a symptom.”

21 Numerosas sincinesias habituais serão referidas nos próximos capítulos: associadas ao “apoio” expiratório, á intensificação da dinâmica, etc.

22 Texto original: “La perception de l’effort par celui qui l’accomplit proviendrait autant d’une anticipation de la force déployée que du retour sensoriel du mouvement produit.”

23 Texto original: “One uses the very conditions that need re-education as one’s standards of judgment.” 24 Texto original: “Everyone wants to be right, but no one stops to consider if their idea of right is right.”

Dissociar sincinesias, eliminando contracções supérfluas para a acção pretendida e discriminar pequenas diferenças de esforço são dois resultados da maior acuidade perceptiva proporcionada pela prática da TA. A este nível é de particular relevância conhecer as implicações da lei da psicofísica de Weber-Fechner (Jones & Lederman, 2006: 4), que relaciona a percepção dum estímulo com a sua intensidade física. O limiar da capacidade de discriminar diferenças na intensidade dum estímulo sensorial é inversamente proporcional à intensidade do estímulo. A relação entre a percepção e o estímulo é logarítmica. Por isso a escala de decibéis estabelece uma relação logarítmica entre a percepção de volume sonoro e a energia do som: dois aspiradores não nos dão uma percepção do dobro da intensidade sonora dum só. Mas esta relação aplica-se a todos os sentidos: numa sala com uma vela acesa, apercebemo-nos claramente da diferença de luminosidade provocada pelo acender duma segunda vela; se na sala estiverem 50 velas acesas, a variação de luminosidade ao acender uma nova vela não é perceptível; se de olhos fechados segurar o meu computador portátil e alguém lhe colocar um maço de cigarros em cima, não me apercebo da diferença de peso, no entanto se repetir a experiência segurando num caderno, o peso extra do maço de cigarros será claramente perceptível. Por isso diminuir o esforço envolvido numa actividade, aumenta a nossa capacidade de discriminar e controlar pequenas variações da sua intensidade. Este facto é consistente com o princípio do tamanho no recrutamento das unidade motoras do nosso sistema muscular.25

Questionar a fiabilidade da nossa percepção e procurar refiná-la e corrigi-la é assim uma das preocupações centrais da aprendizagem da TA.

                                                                                                               

25 Cada neurónio motor inerva um número variável de fibras constituindo com elas uma unidade motora. A contracção de cada unidade motora, provocada pelo potencial de acção é breve. O trabalho de um músculo é assim constituído por sucessivos disparos das várias unidades motoras que vão sendo recrutadas. Vemos aqui um exemplo de como a realidade física e a nossa percepção são bastante diferentes: a uma sensação de