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2 NEGOCIAÇÃO COLETIVA

3.3 A autocomposição dos conflitos coletivos de trabalho

A principal forma autocompositiva de solução dos conflitos é sem dúvida a negociação coletiva direta entre as partes. Nela, os litigantes agem diretamente para pôr fim às suas controvérsias, não havendo participação de nenhum intermediário.

A negociação coletiva é a forma incentivada pela OIT (objeto de sua recomendação de nº. 92) e vista de forma pacífica pela doutrina como ideal para a solução dos conflitos de trabalho. Não é, todavia, a negociação em si que soluciona o conflito, mas somente o seu resultado positivo 262.

Tamanha importância dada à negociação coletiva justifica-se porque as partes são mais conhecedoras das peculiaridades do conflito, sendo igualmente as mais indicadas para deliberarem sobre as suas pretensões.

261 TEIXEIRA FILHO, João de Lima. A arbitragem e a solução dos conflitos coletivos de trabalho. In Curso de Direito Coletivo do Trabalho (FRANCO FILHO, Georgenor de Souza. Contribuições sindicais e liberdade sindical In PRADO, Ney (coord). Direito Sindical Brasileiro: Estudos em Homenagem ao Prof. Arion Sayão Romita. São Paulo. LTr, 1998. p. 330.)

262 GIGLIO, Wagner. Obra citada. p. 57.

Nada impede, contudo, que as partes empreguem procedimentos formais ou informais de conciliação e de mediação para que a negociação coletiva chegue a bom termo. Embora indiretamente um terceiro venha a contribuir para que as partes cheguem a uma solução do conflito, esta não deixará de ser ditada pelas próprias partes. Assim, tanto o sucesso numa conciliação como o êxito de uma mediação redundarão numa negociação.

Como destaca Russomano263, a conciliação surge como a primeira forma de solução indireta dos conflitos de trabalho, tendo em vista ser tão tênue a intervenção do terceiro conciliador e ainda tão forte a importância da livre vontade dos litigantes na composição do conflito. O conciliador é terceiro que não decide, nem sequer propõe. Ele apenas ouve as alegações e pretensões das partes, coordenando-as e ajudando-as na tentativa de chegar a um acordo.

Na conciliação há grande valorização da informalidade, não se exigindo padrões ou normas rígidas. Os litigantes podem negociar com maior liberdade, respeitando os direitos mínimos garantidos aos trabalhadores, sendo o resultado positivo a transação.

A conciliação pode ser facultativa e obrigatória. Na verdade, apenas sua tentativa pode ser obrigatória. A lei pode exigir trâmites conciliatórios sempre que as partes queiram seguir outros caminhos para a solução do conflito, mas sempre será facultada às partes a recusa de acordo, ou seja, sempre prevalecerá a livre vontade das partes no momento de concluir ou não o acordo. A obrigatoriedade de sujeição à tentativa de conciliação é prevista na legislação brasileira tanto para o ajuizamento do dissídio coletivo (§2º do art. 114 da CF) quanto para a deflagração da greve (art. 3º da Lei 7789/89). Também nos dissídios individuais, quando existentes Comissões de Conciliação Prévia, torna-se obrigatória a tentativa de conciliação através delas antes do ajuizamento da reclamação (art. 625-D, da CLT).

A rigor, a conciliação pode ocorrer tanto judicial quanto extrajudicialmente, pois nada impede que, instaurado o dissídio coletivo, as partes se conciliem no seu curso, em qualquer momento antes da decisão final. Aliás, a

263 RUSSOMANO, Mozart Victor. Obra citada. p.238/239.

tentativa de conciliação judicial é obrigatória tanto para os dissídios individuais (arts.

846 e 850 da CLT) quanto para os dissídios coletivos (arts. 860 e 862 da CLT).

A conciliação extrajudicial ganha mais relevância na medida em que contribui para atenuar a cultura brasileira de solucionar conflitos em juízo e desafoga o judiciário. Mesmo em juízo, o conciliador, na figura do juiz, deve-se portar como um mero orientador das partes e não pode impor uma solução enquanto desempenha o papel de conciliador, devendo limitar-se a estimular para que o acordo aconteça.

Semelhante à conciliação, a mediação é a intervenção destinada a produzir um acordo. Surge como uma intervenção autocompositiva e apresenta às partes a possibilidade de resolver a disputa de acordo com suas necessidades objetivas.

Enquanto segunda forma de solução autocompositiva, a mediação desenvolve-se com a participação de um mediador, eleito pelos litigantes, que possui as mesmas tarefas de um conciliador, além de outras maiores: pode propor soluções para os conflitos. Aqui também prepondera a vontade das partes, sendo que a proposta do mediador não tem força coercitiva.

Na realidade, as figuras da conciliação e da mediação aproximam-se em alguns pontos, mas afastam-se em outros. Assim destaca Nascimento264:

[...] o conciliador não tem as mesmas possibilidades e iniciativas do mediador. A extensão dessas possibilidades não é bem delineada pela doutrina. A diferença entre as duas figuras está menos na sua função e perspectivas de atuação do agente e mais no âmbito em que é exercida. A mediação é basicamente extrajudicial e a conciliação é judicial e extrajudicial.

A mediação é um instituto privado, não há a intervenção do Estado.

Quando houver um litígio judicial, ou o magistrado atuará como conciliador, ou dará uma solução definitiva. Não cabe a ele o papel de mediador.

A mediação igualmente pode ser facultativa ou obrigatória. No Brasil só existe a forma facultativa, realizada por iniciativa comum das partes envolvidas no conflito. A mediação nos conflitos coletivos no Brasil é geralmente realizada nas

Delegacias Regionais do Trabalho (previsão no art. 616, da CLT 265) quando uma das partes a ela reclama e a outra é convidada a comparecer na delegacia para uma

“mesa redonda”, presidida pelo delegado ou outro funcionário que realiza a função de mediador. Todavia, não há coerção para a parte comparecer. Embora as mediações comumente ocorram no âmbito do Ministério do Trabalho, e é dirigida por agente deste, nada impede que as partes optem por outro profissional qualquer, estranho a qualquer órgão público. Com bom preparo e sem qualquer impedimento, os membros do Ministério Público do Trabalho também têm atuado satisfatoriamente como mediadores na solução de conflitos coletivos de trabalho.

A mediação acaba sendo um modo de solução intermediário entre a conciliação e a arbitragem. O conciliador apenas coordena os argumentos e as reivindicações das partes. Já o mediador vai além, interferindo diretamente no conflito, recomendando a solução justa, inclusive avaliando as pretensões dos litigantes. Não pode o mediador, entretanto, adotar determinada solução e impô-la às partes, pois esse papel cabe ao árbitro266.