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A AVALIAÇÃO DA EXTENSÃO UNIVERSITÁRIA: AÇÕES DO FORPROE

CAPÍTULO III – EXTENSÃO UNIVERSITÁRIA: ESPAÇO DE TENSÕES E CONFLITOS

4. A BASE NORMATIVA E OS PRIMEIROS PASSOS PARA A INSTITUCIONALIZAÇÃO DA EXTENSÃO

4.3. A AVALIAÇÃO DA EXTENSÃO UNIVERSITÁRIA: AÇÕES DO FORPROE

A definição de um modelo para a avaliação das atividades de extensão constitui-se hoje um dos maiores desafios para as universidades, uma vez que não existindo, esta área do fazer acadêmico fica à margem do processo de discussão interno e externo sobre os parâmetros de qualidade das universidades, o que traz como consequência a ausência de programas específicos, pouca participação da extensão no modelo da matriz orçamentária, dos critérios de contratação docente, dentre outras.

A avaliação da extensão universitária que transita pelo complexo e multidimensional processo de avaliação do sistema universitário deve ter por eixo norteador a missão e a função da universidade, a sua natureza autônoma, principalmente no que diz respeito à liberdade de pensamento e aos fundamentos de sua relação com o entorno social em que está inserida.

Um elemento fundamental para se implementar a avaliação da extensão está na clareza sobre seu conceito. A extensão universitária por muito tempo, e em algumas instituições até hoje, não tem seu conceito muito claro e, nesse sentido, o seu registro e seus mecanismos de controle não têm uma sistematicidade confiável, tanto é assim, que em vários momentos no discurso do FORPROEX aparece a meta de sistematização de extensão e construção de uma base de dados para as universidades brasileiras.

Outro elemento que está na base do problema da avaliação da extensão é decorrente de sua natureza metodológica e das diversas formas de sua operacionalização, que têm exigências de indicadores específicos.

[...] Salienta-se que não será qualquer indicador que estará adequado a todas as ações de extensão e que ações vinculadas a projetos de extensão

diferenciados merecem indicadores também diferentes. Da mesma forma, não será qualquer indicador que poderá se enquadrar em qualquer processo de avaliação, porque cada um deles procurará responder a fins diferenciados contendo metas e objetivos também diferenciados (DALBEN; VIANA, 2008, p.32).

As ressignificações do processo de ensino e aprendizagem e do modelo de produção do conhecimento proposto pelo FORPROEX31 remetem a novos referenciais de avaliação institucional.

Em seu encontro de 199332, o Fórum definiu a avaliação como “um processo político- técnico, não se restringindo apenas à tomada de decisão administrativa, e, enquanto tal, deve envolver, como sujeito e objeto, todos os segmentos da comunidade universitária.” (FORPROEX, 1993 apud NOGUEIRA, 2000, p.57). Essa concepção se dá dentro de um projeto pedagógico institucional e deve contemplar como indicador a indissociabilidade entre ensino, extensão e pesquisa, a globalidade da instituição e a relevância social do fazer acadêmico.

Sendo a extensão realizada pelas universidades pretensamente de natureza acadêmica, não pode deixar de ser avaliada pelos aspectos que a qualificam como tal.33 Nesse sentido, é necessário criar mecanismos com o objetivo de avaliar a sua produção acadêmica, a sua contribuição ao ensino, à pesquisa e a sua própria produção, em razão das especificidades que a envolve.

O FORPROEX, em seu VII Encontro, indica que a avaliação deve contemplar duas ordens de fatores: de natureza endógena, relacionados com a sua função acadêmica; de natureza exógena, relacionados com a função social da universidade e complementa afirmando que a avaliação da extensão deve abordar três níveis inter-relacionados:

O compromisso institucional para estruturação e efetivação das atividades de extensão; o impacto das atividades de extensão junto aos segmentos sociais que são alvos ou parceiros dessas atividades e os processos, métodos e instrumentos de avaliação (FORPROEX, 1993 apud NOGUEIRA, 2000, p. 58).

31 Descritos no item 4.1 deste capítulo.

32 VII Encontro Nacional do Fórum de Pró- Reitores de Extensão das Universidades Públicas (FORPROEX),

realizado na Universidade Federal do Mato Grosso – UFMT, de 15 a 18 de junho de 1993.

33 A avaliação acadêmico-institucional possui nos documentos publicados pelo FORPROEX: “Avaliação

Nacional da Extensão Universitária” (2001), e “Institucionalização da Extensão nas Universidades Públicas Brasileiras, estudo comparativo 1993/2004” (2006), referencias importantes para sua implementação.

No que se segue, o Fórum apresenta 13 indicadores para avaliação do compromisso social, que tratam basicamente da institucionalização da extensão no nível normativo e de formas internas de fomento; 7 indicadores para a avaliação do impacto das atividades de extensão junto aos segmentos sociais, que tratam dos fatores determinantes das atividades de extensão, relação com os segmentos sociais e a apropriação, utilização e reprodução do conhecimento e, por fim, 4 indicadores para processos, métodos e instrumentos de avaliação, que tratam da análise qualitativa de como o projeto de extensão é elaborado, estruturado e implementado (FORPROEX, 1993 apud NOGUEIRA, 2000, pp. 59-60).

Percebemos que desde 1993, o debate do FORPROEX é propositivo e traz para a discussão sobre avaliação conceitos e diretrizes democráticas e emancipadoras.34 Entretanto, o contexto em que está inserida a discussão é de pouca valorização institucional da extensão, com a ausência de base de dados confiável e falta de uma política de financiamento de seus projetos, o que fez com que o contrato social estabelecido não reconhecesse as dimensões emancipadoras35 propostas pela extensão para a avaliação.

Em 1997, o FORPROEX, em seu XI Encontro, volta a ter como tema “Avaliação da Extensão Universitária e o PAIUB”, e apresenta, de forma complementar ao documento de 1993, o detalhamento de indicadores de avaliação da extensão dentre eles:

A indissociabilidade, grau de inserção nos projetos pedagógicos; identificação de linhas de ação comuns entre Pró-Reitorias de Ensino, Pesquisa e Extensão, surgimento de várias linhas de pesquisa; reflexão sobre o ensino ministrado a luz da experiência vivida; interação Universidade/Sociedade; a Relevância Social: quais as mudanças ocorridas nos níveis comportamental, econômico, cultural, ambiental, educacional; e níveis de integração com as Instituições governamentais e sociedade organizada (convênios, contratos, parcerias, intercâmbios, etc.) 36

As discussões promovidas pelo FORPROEX não conseguem ter desdobramentos práticos, inicialmente pela pouca institucionalidade da extensão universitária no interior de cada IES e também pelo fato do programa de avaliação do MEC apresentar como prioridade a avaliação do ensino, seja da graduação através do PAIUB, seja da pós-graduação via CAPES.

34 Tais conceitos e diretrizes são também propostos pelo PAIUB.

35 O compromisso institucional para estruturação e efetivação das atividades de extensão. O impacto das

atividades de extensão junto aos segmentos sociais que são alvos ou parceiros dessas atividades. Os processos, métodos e instrumentos de avaliação. Indissociabilidade. Interação Universidade/Sociedade.

36 Súmula da Avaliação da Extensão Universitária e o Paiub. Documento Final do XI Encontro Nacional do

Fórum de Pró- Reitores de Extensão das Universidades Públicas (FORPROEX), Realizado na Universidade Federal do Paraná – UFPR. Curitiba - PR. 1997.

A partir de 2000, na tentativa de apresentar propostas mais consistentes e sistematizadas para a avaliação da extensão, uma vez que o PAIUB foi esvaziado pela falta de financiamento, o FORPROEX começa a se organizar para além da realização dos encontros nacionais de Pró-Reitores, de forma que passa a se organizar por grupos de trabalhos (GT) temáticos. Inicialmente foi constituído o Grupo de Trabalho (GT) Sistema de Dados e Informações eRENEX (Rede Nacional de Extensão) e, no mesmo ano, o GT sobre Avaliação Institucional, oficializado em março de 2000, ano em que ocorre na Paraíba o I Encontro Nacional de Avaliação da Extensão Universitária.37

A partir de então, o Fórum aprofunda e potencializa a discussão sobre avaliação institucional, publicando o documento Avaliação Nacional da Extensão Universitária em 2001 e realizando o II Encontro Nacional de Avaliação da Extensão Universitária, também na Paraíba em 2002, e ainda divulgando a pesquisa “Diagnóstico da Extensão Universitária no Brasil”, em 2005.

O documento Avaliação Nacional da Extensão Universitária, publicado em 2001, contempla os elementos conceituais, reforçando os princípios e diretrizes expressas pelo Fórum em 1993. Este documento apresenta diretrizes para subsidiar a avaliação da extensão, contemplando as necessidades e exigências de modelo quantitativo, e também sinaliza para o exercício da autonomia.

Todo o projeto foi concebido para que a instituição de ensino superior possa construir sua própria avaliação, organizando as informações relevantes, identificando tendências gerais, conhecendo com profundidade seus processos e analisando o seu plano de extensão. Espera-se contribuir para uma avaliação capaz de subsidiar o processo decisório e de orientar ajustes necessários de acordo com os objetivos e metas traçados pela instituição. (FORPROEX, 2001, pp. 43-44) O documento referenciado apresenta propostas de dimensões para investigações, importantes naquele momento histórico, em que a grande preocupação era a institucionalização, destacando a importância de se “investigar aspectos norteadores do plano pedagógico institucional, principalmente os relacionados à política, à infra-estrutura e à relação universidade e sociedade”, quais sejam:

 Política de gestão;  Infra-estrutura;

37 Observa-se uma inversão de ordem feita pelo Fórum, primeiro criou o GT de informações para depois criar o

GT de avaliação, uma vez que o resultado do trabalho do GT de avaliação é que deveria estabelecer as informações a sistematizar.

 Relação Universidade-Sociedade;  Plano Acadêmico;

 Produção Acadêmica.

Sobre os aspectos metodológicos, o documento Avaliação Nacional da Extensão Universitária (2001) apresenta como diretriz, a realização de um processo de avaliação que seja institucional, democrático e gerador de mudanças, uma avaliação tecnicamente competente e politicamente legítima. Outro destaque está na hierarquização dos níveis de complexidade da avaliação da extensão:

 Avaliação Diagnóstica;

 Avaliação de desempenho político institucional;  Avaliação de programas/projetos;

 Avaliação de Impacto.

Por fim, o documento apresenta categorias e indicadores, qualitativos e quantitativos, para a avaliação nas cinco dimensões de investigação – política de gestão, infra-estrutura, relação universidade-sociedade, plano acadêmico e produção acadêmica –, o que tornou a proposta inovadora para aquele momento.

Aos olhos da regulação pode parecer uma falha o fato da proposta do Fórum não apresentar padrões referenciais de análises, mas aos olhos da emancipação constitui um avanço, pois cabe a cada IES por sua autoanálise estabelecer quais as metas a serem atingidas; ou seja, quem definirá qual o referencial a ser atingido para cada indicador será a própria instituição, a partir de seu projeto pedagógico e da sua realidade institucional.

Dentre esses elementos, o Fórum reforça a necessidade de avaliação do impacto das atividades e toma o referencial emancipatório como o norteador de tal proposta.

[...] O parâmetro da relevância social da atividade tem de ser considerado, não apenas pelo ângulo da universidade, mas a partir da definição conjunta com a comunidade. Neste sentido, este é um parâmetro que precisa ser combinado: à avaliação da capacidade da universidade de colaborar para que a comunidade se torne autônoma para responder às questões trabalhadas em conjunto; à construção conjunta de um novo conhecimento; à divisão de responsabilidade nas parcerias entre a universidade e a comunidade; à afirmação de que a Universidade não pode substituir os poderes públicos especificamente responsáveis pela operacionalização das políticas sociais nos mais diversos campos, ainda que possa e deva com eles contribuir (FORPROEX, 1993 apud NOGUEIRA, 2000, pp. 57-58).

Todavia, não houve continuidade dos trabalhos para se construir uma proposta de avaliação de programas/projetos e de avaliação que pudessem analisar o impacto. As dimensões propostas pelo Fórum em seu projeto de avaliação institucional, não foram consideradas pelo MEC em seu projeto de avaliação institucional.

No tocante à avaliação de impacto, o documento do FORPROEX de 2001 sinaliza para algumas categorias de análises e referenciais norteadores, quais sejam:

Relevância social, econômica e política dos problemas abordados nas atividades de extensão; segmentos sociais envolvidos nas atividades de extensão; interação com órgãos públicos e privados e segmentos organizados da sociedade civil; objetivos e resultados alcançados; apropriação, utilização e reprodução, pelos parceiros, do conhecimento envolvido na atividade de extensão; feito nas atividades acadêmicas (FORPROEX, 2001, p. 30).

O discurso do Fórum não consegue chegar aos níveis de implementação em razão da visão meritocrática, produtivista e quantitativa presente na visão neoliberal de avaliação do governo de então, bem como pelo fato da interlocução realizada pelos Reitores, através de seus fóruns com o MEC, excluir a discussão da avaliação do impacto da extensão.

Em toda a sua história o processo de interlocução do Fórum de Pró-Reitores com os Reitores, seja via CRUB ou ANDIFES, sempre foi frágil, poucos eram os reitores que absorviam o discurso da extensão e tinham junto ao MEC uma visão mais aguerrida a favor desse discurso (Entrevista 03). E, mesmo quando se consegue criar alguns canais de diálogo e de práticas no campo da avaliação da extensão, estes não conseguem ir além de poucos indicadores produtivistas, quantitativos e meritocráticos, que se viabilizam muito mais por pressão do FORPROEX junto ao MEC e ao FORPLAD, do que pela iniciativa dos reitores, ou de suas instâncias colegiadas.

4.4. A AVALIAÇÃO DA EXTENSÃO UNIVERSITÁRIA: DIRETRIZES