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A avaliação da mobilidade para a sustentabilidade local

A MOBILIDADE E SUA INTEGRAÇÃO NA GOVERNAÇÃO LOCAL

3.4 A avaliação da mobilidade para a sustentabilidade local

Como anteriormente referimos em secções anteriores, a temática relativa à conceptualização da mobilidade sustentável tem sido caracterizada pela sua diversidade, definições e interpretações diferentes. De acordo com Hardi et al., (1997), embora pareça mais lógico chegar a um acordo na definição de desenvolvimento sustentável antes de decidir o que medir, na prática, ambas as discussões estão a ser feitas em simultâneo, uma vez que se pretende operacionalizar o desenvolvimento sustentável, indo além da sua abrangente conceptualização. Isto faz reflectir sobre a necessidade de instrumentos de medida, especialmente nas situações em que se tem de tratar com a complexidade e com a incerteza.

Embora a responsabilidade de prosseguir um caminho em sustentabilidade não caiba apenas aos governos locais, estes têm um papel determinante no liderar e formar uma estrutura em que todos os stakeholders estejam envolvidos e sejam co-responsáveis. Neste processo, os governos municipais devem reunir com todos os actores locais, envolvendo-os, de forma a estruturarem um conjunto de indicadores de avaliação do progresso para a sustentabilidade, adequados à especificidade das suas comunidades. Neste sentido, o recurso à participação dos cidadãos é, também aqui, um método recomendado para a identificação do quadro de indicadores para o desenvolvimento sustentável; por outro lado, além de ser um método, a participação em si mesma é também um indicador.

Uma importante questão relativa ao processo de selecção está em quem selecciona os indicadores de mobilidade e como. Duas aproximações dominam o campo, de acordo com Hardi et al., (1997: 75, 76):

Na primeira, a aproximação top-down: Os peritos e os investigadores definem, em conjunto, a estrutura e o quadro de indicadores a ser aplicado pelas diferentes audiências e pelos decisores que procedem à sua adaptação, atendendo às especificidades locais. A vantagem é que esta aproximação apresenta uma concepção mais homogénea, um quadro de indicadores cientificamente mais válido. Este pode incluir medição de processos irreversíveis e valores limiar. A sua limitação é que não há uma relação directa com as comunidades; falta a sensibilidade das prioridades da comunidade e não se considera a limitação de recursos.

Na segunda, aproximação bottom-up: As temáticas a medir e o quadro de indicadores são propostos através de um processo de participação que é iniciado pela opinião da comunidade, de líderes e decisores e, depois, concluído com a consulta de peritos. A vantagem desta aproximação é que o envolvimento e a adesão da comunidade ao processo é um facto, isto é, são atendidas as suas prioridades, conseguindo-se com que a escassez local dos recursos ambientais seja claramente reflectida. A limitação desta aproximação está no poder ser demasiado simplista, podendo faltar questões importantes para o desenvolvimento sustentável.

A situação óptima é aquela em que as comunidades seleccionam prioritariamente as questões num processo participativo com todos os stakeholders e as incorporam numa estrutura desenvolvida por peritos.

No Reino Unido a metodologia adoptada reflecte essencialmente uma aproximação bottom-up, uma vez que o processo de escolha e selecção de indicadores é, ele próprio, um processo que necessita do envolvimento das comunidades locais, utilizando-se a metodologia “step by step”.

Na sua publicação Local Quality of Life Counts (Detr, 2000b), o governo do Reino Unido apresenta-nos um menu com 29 indicadores, desenvolvido a partir de versões locais de alguns indicadores de desenvolvimento sustentável nacionais, incluindo indicadores resultantes dos processos das Agendas 21

Locais, bem como outros organismos governamentais e locais, tendo sido testado por muitas autoridades locais. Estes indicadores têm em conta a protecção do ambiente, as necessidades sociais e o sucesso económico.

Uma outra fonte de análise decorre do contributo apresentado pela Comissão Europeia (2000) através do relatório técnico “Para um Perfil da Sustentabilidade Local – Indicadores Comuns Europeus”, lançado na 3ª Conferência Europeia das Cidades Sustentáveis, realizada em Hannover em Fevereiro de 2000.

O desenvolvimento deste conjunto comum de indicadores resultou da iniciativa conjunta da Direcção Geral do Ambiente da Comissão Europeia, da Agência Europeia do Ambiente e do Grupo de Peritos sobre o Ambiente Urbano, relevando o contributo de representantes portugueses. Esta iniciativa, teve por objectivo estimular as autoridades locais a desenvolverem estruturas de indicadores no domínio da sustentabilidade local, promovendo, em simultâneo, uma forma de tornar possível o acompanhamento e a comparação do progresso, cruzando toda a Europa. As autoridades locais da Europa estão agora envolvidas em testar o conjunto de 10 indicadores, cinco considerados obrigatórios e cinco de natureza voluntária.

A terceira pesquisa incidiu sobre a metodologia de Bossel (1998, 1999), defendendo, este autor, a construção de um sistema de indicadores constituído por vários subsistemas com um papel e uma função fundamental no desenvolvimento do sistema global. Para cada subsistema (natural, humano e suporte), o autor definiu um conjunto de indicadores que reflectem o grau de satisfação dos orientadores básicos e a forma como cada subsistema contribui para o desenvolvimento sustentável do sistema global9. Por último, foram escolhidos um conjunto de indicadores de síntese, seleccionados por grupos de trabalho, os quais participaram e partilharam de experiências internacionais relacionadas com o ambiente urbano, resultando a publicação Advanced Study

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Para Bossel (1998: 98) os indicadores deverão ser definidos claramente e sem ambiguidades. Eles podem incluir medidas qualitativas (suficiente/insuficiente) ou medidas quantitativas. Estas questões podem ser adequadamente respondidas sem informação base de indicadores numéricos por pessoas com bons conhecimentos dos sistemas. Para uma maior análise sistemática e comparação de desenvolvimentos regionais, indicadores numéricos devem ser requeridos. Quanto maior for o detalhe pretendido, mais indicadores devem ser definidos.

Course on lndicators for Sustainable Urban Development (IIUE, 1998), iniciativa organizada pelo Instituto Internacional para o Ambiente Urbano (IIUE, 1998: 24).

A divulgação das estratégias de mobilidade no desenvolvimento sustentável pode ser feita numa óptica de promoção de uma melhor qualidade de vida para todos, numa perspectiva intra e inter-geracional. Neste sentido, procura- se integrar as políticas económicas, sociais, ambientais e espaciais e os seus objectivos. Estes, como se referiu, necessitam ser entendidos como mutuamente influenciadores e, a falha na prossecução de um, pode abalar os progressos em direcção ao desenvolvimento sustentável.

Os governantes devem atender, na definição e decisão de políticas, às diversas formas de pensar, à expressão dos diferentes pontos de vista dos seus parceiros de desenvolvimento local, aceitando a diversidade dos seus argumentos; esta actuação é uma alternativa às formas de participação tradicional onde, perante situações de complexidade e de incerteza, surgem, por vezes, os conflitos e o distanciamento do cidadão, na tentativa do encontro de soluções. Por outro lado, o espaço de intervenção autárquica para a sustentabilidade é um espaço muito abrangente e complexo, envolvendo áreas de infra-estruturas e ordenamento, ambiente e recursos naturais, desenvolvimento individual e social, apoio ao desenvolvimento económico, desenvolvimento político e institucional (Vasconcelos, 2001).

3.5 Conclusões

A complexidade da abordagem integradora da mobilidade, é complementada pela literatura referenciada neste capítulo por outra problemática, associada à cultura organizacional da governação local, em que normalmente se colocam «dificuldades» no estabelecimento e divulgação de indicadores de mobilidade, de forma a que a comunidade local e os municípios tenham interesses na integração das políticas sociais e ambiental. Parece haver consenso dos vários contributos da literatura associada à problemática analisada e discutida ao longo do capítulo, em que os domínios de análise devem estar na reconciliação das componentes sociais, com um uso eficiente de recursos

naturais, nomeadamente em relação aos transportes, ao uso de energia, à utilização de novas tecnologias e o seu impacte sobre o emprego. Por outro lado, é de todo relevante analisar as consequências sociais das taxas ambientais e a necessidade de adicionar medidas, como a contabilidade ambiental, devendo este processo de mobilidade sustentável ser apoiado pela administração central.

Neste capítulo reforça-se, ainda, a intervenção dos governos locais na avaliação das estratégias de mobilidade sustentável, em que esta pode ser feita numa temática de promover uma melhor qualidade de vida para todos, numa perspectiva intra e inter-geracional, constituindo um forte instrumento para integrar as políticas económicas, sociais, ambientais e espaciais, através de objectivos associados ao ordenamento do território e progresso social, apoiando o desenvolvimento individual e cultural, protegendo o ambiente, usando prudentemente os recursos naturais, defendendo-se o desenvolvimento económico, apoiando-se o emprego. Estes objectivos, como se referiu, necessitam ser entendidos como mutuamente influenciadores e, a falha na prossecução de um, pode abalar os progressos em direcção à mobilidade sustentável.

Pensamos, com estas considerações, ter respondido à questão específica de com se deve avaliar as opções estratégicas da mobilidade sustentável no processo da Agenda 21Local. Acrescenta-se, ainda, como fundamento importante para a sua operacionalidade, a presente questão específica dos envolvimentos dos governos locais e da comunidade local, como forma integradora destes elementos associados à mudança de actuação colectiva de aprendizagem no processo de governação local, no âmbito das Agendas 21 Locais, na sua expressão mais adaptada ao caso português, os Planos Municipais de Ambiente - tradicionalmente da iniciativa dos governos locais – os quais poderão apoiar a mudança na estrutura e cultura organizacional da administração local, constituindo-se como planos de intervenção estratégica e operacional, cujo design e desenvolvimento foram explanados neste capítulo.

CAPÍTULO IV