Revisão dos principais aspectos abordados e análise dos resultados

Como resultou evidente da análise dos capítulos 2,3 e 4, pretendeu-se obter um quadro conceptual que fosse capaz de apreender e compreender as dinâmicas da mobilidade sustentável no processo da A21L, as quais têm, na sua base, movimentos e direcções criados na sequência da identificação feita pelos vários actores, concretamente os municípios, de idênticas concepções face ao(s) assunto(s) suficientemente mobilizador(es), capazes de induzirem agregações e partilha de conhecimento e acção no processo.

Foi com base neste quadro teórico que se procuraram, em toda a sua amplitude, os movimentos e os processos de mudança que caracterizavam a governação local e continuam a identificar a mobilidade sustentável no processo da A21L.

Para compreender essa tarefa, foi decisiva a opção por quatro conceitos fundamentais, sobre os quais assentou a responsabilidade de constituição da base conceptual utilizada e proposta:

1- O enfoque da governação local na mobilidade sustentável, no processo da Agenda 21 Local.

2- A intervenção das comunidades locais, na elaboração e execução de medidas e acções de políticas públicas.

3- A cultura organizacional nos municípios, na coordenação de políticas públicas de mobilidade.

4- Evidências das boas praticas e casos de insucesso de mobilidade sustentável, no processo da A21L, em contexto internacional.

Desenvolvendo:

1 - O enfoque da governação local na mobilidade sustentável, no processo da Agenda 21 Local

Como foi referido, ao longo do trabalho, uma das formas, através da qual, os diferentes governos locais procuram desenvolver as suas medidas e acções, sobre a mobilidade sustentável, no âmbito do processo da A21L, é tentando integrar o seu âmbito num Plano Integrador Ambiental, sobre novas gamas de recursos e/ou actividades em que se inclua:

- Um processo de gestão de conflitos e prioridades sociais entre múltiplas dimensões (necessário optimizar para um melhor suporte ao processo A21L), gerindo equilíbrio entre os seus benefícios e custos na partilha de soluções.

- Um processo sustentável, em que o potencial de cada dimensão do sistema deve ser equacionado (económico, social e ambiental), representando um contributo vital para o desenvolvimento do processo da A21L.

- Um novo olhar sobre a realidade e o conhecimento (os governos locais poderão empreender uma abordagem holística), pensando, organizando, intervindo de forma diferente, definindo um conjunto de políticas públicas que se enquadrem

num contexto de democracia deliberativa, base para uma intervenção, em direcção ao desenvolvimento sustentável.

2 - A intervenção das comunidades locais na elaboração e execução de medidas e acções de políticas públicas

A complexidade de toda esta implementação de políticas públicas na Agenda 21 Local, é um desafio à capacidade de pensar global, actuando localmente e à capacidade de pensar e agir, de forma sustentável. Neste sentido, os governos locais, como potenciais espaços de enquadramento e permeabilidade aos desafios que se apresentam no contexto da sustentabilidade, podem constituir-se como peças fundamentais de reorganização das sociedades, como orientadores e catalisadores das novas exigências que se colocam ao contexto societário e como autênticos agentes de mudança social.

Quanto mais perto estiver o nível do poder junto das comunidades locais, mais fácil se torna promover o encontro de soluções colaborantes e igualmente repartidas. Os governos locais devem envolver, activamente, os actores locais, ajudando-os a identificar os problemas das suas comunidades, para que eles também se empenhem na sua resolução, promovendo-se uma consciencialização, uma responsabilização e uma intervenção colectiva.

Parece consensual admitir que não é tradicional, na administração local portuguesa, o envolvimento das suas comunidades nos processos de planeamento e de intervenção, tal o resultado demonstrado pela análise de conteúdos às entrevistas realizadas neste estudo. Neste processo, as autoridades locais trabalharam em conjunto com membros de associações, empresários, políticos, residentes e técnicos, utilizando técnicas semelhantes às utilizadas pelos municípios espanhóis ao nível da participação e envolvimento, com recurso a fóruns de discussão e realização de workshops pouco significativos, realidade que nos surpreendeu, tendo em conta o alcance do próprio processo da A21L.

Acrescente-se, ainda, que a participação será também uma questão de defesa de uma democracia deliberativa, em que a participação da comunidade

local é condição necessária para a consumação do processo deliberativo e democrático.

Como referiram os entrevistados neste estudo, "as coisas já estão a mudar, mas mudam muito devagar, por vezes desesperamos porque queremos que as coisas evoluam mais depressa (….)". A lentidão inicial deste processo evolutivo reflectirá um período de inovação, de «incubação». Depois, com a apreensão global dos novos comportamentos, conhecimentos, tecnologias e investigação, com a partilha de experiências e de boas práticas de mobilidade sustentável neste processo da A21L, poderá ser divulgado – indivíduo a indivíduo, organização a organização – através de cadeias de difusão e influência, obtendo-se, assim, um efeito multiplicador e potenciador, fazendo com que todos, pouco a pouco, no tempo e no espaço, descubram a mobilidade sustentável como um objectivo prioritário, com o enfoque final na maximização do bem estar global das comunidades locais.

3 - A cultura organizacional dos municípios na coordenação de políticas públicas de mobilidade

Se se realça este ponto, é porque ele assume especial acuidade na compreensão da cultura organizacional municipal e na sua acção, no processo de políticas locais, sendo um contributo importante para uma melhoria contínua do processo da mobilidade sustentável no âmbito das A21L. Para tal salientam-se: - A força, a importância que a implementação e concretização do Plano de Ambiente – em que mobilidade sustentável é parte integrante – poderá ter na mudança e operacionalidade das políticas públicas da governação local.

- O compromisso da participação, o qual leva a que as medidas e acções, na implementação de políticas públicas de mobilidade sustentável, se transformem em planos de acção sociais e colectivos. O processo participativo, na prática, revelou-se insuficiente, mas entende-se, numa perspectiva teórica, a acção colectiva, como uma necessidade técnica emergente dos processos de planeamento de mobilidade sustentável da própria A21L.

4 - Evidências das boas praticas e casos de insucesso de mobilidade sustentável no processo A21L, em contexto Internacional;

Estamos, ainda, crentes e convictos que a análise e implementação das propostas internacionais apresentadas no estudo, constituirão uma alternativa, relativamente à metodologia aplicada à mobilidade sustentável no processo português, constituindo, também, um desenvolvimento importante para a própria A21L.

Apesar de entendermos que as experiências internacionais valem o que valem, não descuramos a pertinência de que elas revelaram o grau de importância de que novos métodos de mobilidade são inovadores e solucionam muitos dos problemas de mobilidade urbana, pese embora o facto de, para tal, ser necessário implementar perspectivas flexíveis e inovadoras, em relação à tomada de decisão e de implementação, num enquadramento municipal colaborativo.

Por todas estas quatro considerações resumidas do trabalho, julgamos que a nossa proposta de modelização para a concepção da mobilidade sustentável no processo da A21L, constitui uma importante ferramenta de elaboração de uma proposta de plano, cujas dimensões foram equacionadas numa perspectiva sensível à diversidade de olhares, práticas e interesses envolvidos no processo da A21L e cuja interpretação e estruturação, das diferentes etapas do processo, constitui uma nova perspectiva para os vários planos ambientais municipais, sendo que, a informação daí decorrente, proporcionará uma resolução alternativa ao problema objecto deste estudo.