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A Intervenção dos governos locais na mobilidade

A MOBILIDADE E SUA INTEGRAÇÃO NA GOVERNAÇÃO LOCAL

3.3 A Intervenção dos governos locais na mobilidade

Os governos municipais, sendo os principais agentes de desenvolvimento local, devem saber agir de forma integrada, respeitando, em simultâneo, o quadro legal para a acessibilidade e mobilidade.

Church et al., (1991), referia que "o papel e conceito dos governos locais está agora à beira da revolução [...] Penso esta mudança como um passar de ‘sente-se, esteja quieto, vamos cuidar de si’ para uma escola de governos locais que defenda ‘levante-se, envolva-se, trabalhe connosco’".

Esta mudança tem muitas dimensões mas, talvez, uma das mais determinantes, seja passar do enfoque tradicional de uma gestão através da oferta

para uma gestão da procura, tendo-se em conta que uma gestão pela procura só funciona bem quando numa determinada área geográfica uma dada procura provoca uma oferta, trabalhando-se em conjunto, tal como se verifica no quadro seguinte.

Gestão da oferta (enfoque tradicional) Gestão da procura (enfoque inovador) Perante um conjunto crescente de neces-

sidades da comunidade, aumenta-se auto- maticamente a oferta de bens e serviços urbanos, com pouco envolvimento dos cida- dãos, gerando custos acrescidos para a comu- nidade em termos de pagamento de taxas.

Uma gestão através da procura implica um aumento da eficiência no uso de energia, água, terra, sistema de transportes, requerendo que o cidadão se levante, se envolva, trabalhe com o governo local.

Caminho de paternalismo.

Participação activa com a comunidade, recor- rendo-se ao partenariado, juntando-se esforços. Esta orientação é um directo imperativo de uma estratégia pela gestão da procura.

Controlo de gestão rígido, normativo. Uma expansão de serviços requer uma cada vez maior eficiência na gestão dos governos.

Controlo de gestão mais democrático. Requer-se a participação da comunidade e grupos de interesses, stakeholders.

Os governos locais defendendo a unilate- ralidade.

Os governos locais começam a reconhecer que o início de um movimento multilateral, regional, para a cooperação, pode ser preferível, possibilitando mais autonomia local, maior poder de flexibilidade no ajustamento às condições locais. Esta medida, sau- dável, construtiva, de desempenho local, deve ser apoiada pela própria descentralização, requerida para a implementação da gestão da procura como estratégia.

Quadro 3: Os Governos locais e a gestão

Fonte: Elaborado a partir de Chuch, et al., 1991,

A dimensão política, institucional, governamental e local surge, então, como determinante na condução destas estratégias conjuntas para a mobilidade. Como vimos neste capítulo, os contributos de inúmeros autores vão no sentido de que as políticas suportam um ou mais objectivos, mas não todos em conjunto, surgindo a necessidade de gerir equilíbrios entre os seus benefícios e os seus custos, de forma a optimizar o melhor suporte para a problemática da mobilidade sustentável.

3.3.1 O envolvimento do cidadão

Para Balducci (2001; 2001a), a pertinência do processo participativo nos processos de planeamento está associada à natureza da intervenção que se pretende efectuar e à tipologia de problemas em análise, em que problemas de mobilidade, sejam objecto de planeamento e análise. Marshall, et al., (2001), reflecte como a verdadeira mediação, consistente com as metas de uma prática democrática participativa, se torna cada vez mais essencial nos processos de tomada de decisão pública. Para este autor, mediação, sem ser “inclusiva”, caracteriza uma tomada de decisão elitista. Mediação, sem envolver a igualdade e a qualidade da participação, é fazer negócio. Mediação, sem envolver uma mudança observável nas relações entre os participantes, é oportunismo. O elitismo e a negociação com “segundos” interesses, falham no âmbito dos ideais democráticos e de todo o desenvolvimento humano e societário (Marshall et al., 2001).

Assim, o processo de participação é, também, uma tomada de consciência de que existem diferenças de poder e que esse poder pode ser colocado “em risco” na progressão para sistemas baseados na partilha do poder. Vasconcelos, (2001: 778), com base no pensamento de Bryson et al., (1992), refere que "planear para a sustentabilidade acaba por se enquadrar nos chamados problemas complexos no mundo de ‘no one in chargel/de poder partilhado’, onde as instituições têm de partilhar objectivos, actividades, recursos, poder ou autoridade, de forma a conseguir ganhos colectivos ou em minimizar as perdas". O quadro seguinte releva a participação, versus negociação, em áreas de elevado risco ambiental tal como a mobilidade.

Coordenação central: Baixa participação

Ajustamento mútuo: Alta participação

Negociação não

eficiente

• Definição pobre dos problemas • Escassa mediação • Arrogância na investigação da prevenção; suposições • Baixa discussão • Acção unilateral • Baixos compromissos

• Boa definição do problema de mobilidade e acessibilidade • Situações de impasse • Difícil mediação

• Muita discussão, pouca acção • Atitude defensiva relativamente à mediação • Tempo desadequado, instabilidade Negociação eficiente • Oportunidade de negociação • Definição pobre do problema • Baixa participação e envolvimento • Paternalismo • Suposições • Falta de confiança • Colaboração • Positivos sum games

• Boa definição dos problemas • Participação mutuamente reconhecida

• Investigação para a prevenção • Aprendizagem social Área s de Elevado Ris c o de Crise ambie n tal

Quadro 4: Participação versus negociação em áreas de elevado risco ambiental

Fonte: Adaptado de Balducci, Alessandro (2001a)

3.3.2 A capacidade colectiva de aprendizagem

De acordo com Healey e Shaw, (1993: 775), se se pretende procurar soluções conjuntas que simbolizem a visão de um desenvolvimento sustentável, então a participação dos actores locais no processo deve ter o seu início o mais a montante possível, privilegiando-se as funções de comunicação, utilizando-se para o efeito formas apropriadas de organização como a divulgação, o diálogo e a negociação. Pires (1995: 20), refere, também, que este processo que envolve a necessidade "de mais acentuada pluridisciplinaridade e de aumento de contactos institucionais e com a comunidade local, exigirá o desenvolvimento de capacidades de comunicação e empatia com grupos socioprofissionais, bem como de áreas de saber de suporte à interdisciplinaridade, que estão normalmente ausentes das ‘qualificações’ formais dos profissionais tradicionalmente envolvidos na actividade do planeamento" (citação de Pires referida em Paisana, 1999: 22). Dryzek, (2000), realça, também, a importância da comunicação no processo evolutivo da democracia deliberativa, na procura de uma democracia cada vez mais autêntica, onde o desempenho democrático é

conseguido através da comunicação, a qual encoraja a reflexão sobre as preferências, sem coerção.

A melhor forma de educar as pessoas sobre a mobilidade é ajudá-las a descobrir, ao longo de todo o processo, o que é que o termo envolve, o que significa, como ele deve afectar os seus modos de vida, como elas podem ser genuinamente envolvidas. Os indivíduos descobrem, assim, o desenvolvimento sustentável por elas próprias e começam a aplicá-lo no seu próprio local.