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3 AS AVALIAÇÕES DE INICIATIVAS DE MICROFINANÇAS: DA

3.2 OS MODELOS MAIS CONSERVADORES E OS MAIS ABERTO À

3.2.2 A avaliação dos primeiros BCD implantados com apoio da

Avaliação do Projeto de Apoio à Organização de Bancos Comunitários efetuado pela SENAES/MTE, produzido em 2006 pelo Laboratório Interdisciplinar de Estudos em Gestão Social/Universidade Federal do Cariri39 (LIEGS/UFCA),

e o artigo de Silva Júnior (2006). Ambos os textos tratam da avaliação da implantação dos primeiros BCD difundidos sob a égide do Projeto de Apoio à Organização de Bancos Comunitários da SENAES/MTE em parceria com o Instituto Banco Palmas, executado no ano de 2005. Assim, a investigação do LIEGS/UFCA analisou o estágio da difusão, naquele momento (dezembro de 2005 a abril de 2006), das experiências de BCD e sua contribuição como instrumento de desenvolvimento comunitário. Os bancos comunitários de desenvolvimento - alvos das análises propostas nesses dois documento, conforme Silva Júnior (2006, p. 6), foram o Banco Comunitário PAR40, de Paracuru/CE; o Banco Comunitário

39 O LIEGS esteve vinculado à Universidade Federal do Ceará (UFC) de 2006 até junho de 2013, quando o

Campus Cariri desta instituição federal de ensino superior - o qual abrigava este grupo de pesquisa - se transformou em uma universidade. Assim, desde então, o Laboratório Interdisciplinar de Estudos em Gestão Social (LIEGS) está vinculado à Universidade Federal do Cariri (UFCA). Disponível em: <http://liegs.ufca.edu.br>.

40 O Banco PAR foi a primeira experiência de replicação da metodologia de BCD implantado pelo Instituto

Palmas, seis anos após a constituição do pioneiro Banco Palmas. Em setembro de 2004, o Banco PAR foi fundando nas comunidades de Riacho Doce e Nova Esperança, na cidade litorânea de Paracuru/CE pela Associação Banco PAR de Inclusão Social e Desenvolvimento Local. Esta organização se tornou a responsável pela gestão deste BCD com a assessoria do Instituto Palmas para operacionalizar suas atividades. O Banco PAR surgiu com apoio da Prefeitura Municipal de Paracuru, através da Secretaria Municipal de Desenvolvimento Social e

com recursos iniciais do orçamento do Centro de Referência da Assistência Social (CRAS) local. Nos primeiros meses de funcionamento, o Banco PAR operou uma linha de crédito para a produção e criou uma moeda

Serrano, de Palmácia/CE; o Banco Comunitário Bassa, de Santana do Acaraú/CE; o Banco Comunitário Palmas, de Fortaleza/CE; o Banco Comunitário Terra, de Vila Velha/ES; e o Banco Comunitário Bem, de Vitória/ES. Exceto o Banco Palmas que já estava com seis anos de existência e em cuja experiência a metodologia de implantação dos novos BCD se amparava, todos esses outros bancos comunitários de desenvolvimento se encontravam em uma fase inicial de constituição no período da investigação. Esses outros cinco BCD aqui listados haviam sido criados entre setembro de 2004 e dezembro de 2005.

LIEGS (2006, p. 7) e Silva Júnior (2006, p. 10), acrescentam que apesar de terem sido entrevistados representantes desses seis bancos comunitários de desenvolvimento, apenas foram visitados, pelos pesquisadores do LIEGS/UFCA, os BCD localizados no Estado do Ceará por estarem no objeto do Projeto de Apoio à Organização de Bancos Comunitários. De acordo com LIEGS (2006), resultante de uma ação conjunta entre o Instituto Palmas e a SENAES/MTE,

Este projeto tem com objetivos, especificamente: formatar a metodologia dos bancos comunitários de modo conceitual e operacional; implementar a metodologia dos bancos comunitários em municípios do Estado do Ceará, como piloto; capacitar agentes e gerentes de crédito para a implantação dos bancos comunitários; fomentar a criação de uma Rede de Bancos Comunitários; e, incentivar a adesão de outras instituições que atuam com microfinanças para envolverem com o projeto (LIEGS, 2006, p. 6, grifo nosso).

O Relatório do LIEGS/UFCA sugere na sua avaliação, como se verifica em LIEGS (2006, p. 5, 12, 22-25), que os propósitos desse projeto foram alcançados, uma vez que a metodologia dos BCD foi formatada na forma de uma cartilha que descrevia o modelo; foram fortalecidos ou implantados dentre desta metodologia, quatro BCD no Estado do Ceará; foram realizadas formações para os gerentes de crédito os agentes comunitários de desenvolvimento local e economia solidária (agentes de crédito dos bancos comunitários de desenvolvimento; em janeiro de 2006, foi criada a Rede Brasileira de Bancos Comunitários41; e, durante a vigência

do projeto, outras instituições que atuam com microfinanças se associaram para apoiar as social circulante local, a moeda PAR. (LIEGS, 2006, p. 14). Em Rigo (2014, p. 262), ainda se ver o Banco PAR nos registros atuais como um BCD que não desapareceu, apesar dos diversos momentos de fragilização de enfrentou nos seus mais de 10 anos de existência.

41 Como já apontado em seção anterior desta tese, desde novembro de 2015, os BCD brasileiros estão

representados pela Associação Nacional de Bancos Comunitários de Desenvolvimento, atendendo pelo nome fantasia de Banco Nacional das Comunidades, da qual pode-se afirmar que substitui e/ou conduziu para um via formal-legal a Rede Brasileira de Bancos Comunitários.

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práticas de BCD, dentre essas o Banco Popular do Brasil (BPB) - que foi o parceiro inicial em relação aos recursos para o fundo de crédito dos BCD.

Para apontarem estes resultados ao final do relatório, os investigadores do LIEGS/UFCA - que participaram da avaliação - usaram da triangulação de fontes de dados para validar as diversas informações capturadas através do cruzamento destas. Conforme Silva Júnior (2006, p. 6), neste caso da Avaliação do Projeto de Apoio à Organização de Bancos Comunitários, a triangulação se efetivou depois que os dados obtidos através de documentos oficiais (do Instituto Banco Palmas, da SENAES/MTE, a Carta dos Prefeitos42, entre outros) foram

cruzados com informações levantadas em entrevistas com profissionais envolvidos na atividade investigada (“os gerentes e agentes de crédito dos seis BCD, o Sr. Joaquim Melo Neto Segundo, diretor presidente do Instituto Palmas, e o Sr. Antonio Valdir Oliveira Filho, gerente de microcrédito do Banco Popular do Brasil”) aliadas à observação direta sobre o objeto pesquisado obtidas nas visitas de campo aos BCD de Palmácia/CE, de Paracuru/CE, de Santana do Acaraú/CE e de Fortaleza (Conjunto Palmeiras)/CE (LIEGS, 2006, p. 7-12). Silva Júnior (2006, p. 7) relata ainda que um momento relevante para levantamento dos dados foi a participação na 1ª Oficina Metodológica dos Bancos Comunitários que ocorreu na sede da Associação de Moradores do Conjunto Palmeiras, em janeiro de 2006.

Metodologicamente para a pesquisa, a oficina representou um momento de se avaliar o estágio em que se encontravam os BCD que compareceram (Banco Palmas, Banco Serrano, Banco PAR, BASSA, Banco Bem, Banco Terra, Banco BEM de Maranguape/CE, Banco EcoLuzia, de Simões Filho/BA, e Programa Viva Nordeste, de Salvador/BA) (SILVA JÚNIOR, 2006, p. 7). Além disso, serviu para se entrevistar pessoas presentes que se relacionam aos órgãos parceiros e apoiadores dos BCD, como os representantes SENAES/MTE, prefeitos e secretários municipais das prefeituras as quais possuíam BCD), como exprime LIEGS (2006, p. 10). Em que pese todo o desenho metodológico utilizado para

42 A nomeada Carta dos Prefeitos representou, como relatado em Silva Júnior (2006, p. 6-7), um símbolo na

deflagração do processo de instalação dos bancos comunitários no Estado do Ceará. Esta carta foi assinada e entregue ao Secretário da SENAES/MTE – Prof. Paul Singer, em outubro de 2005, durante o seminário de lançamento do Projeto de Apoio à Organização de Bancos Comunitários realizado pelo Instituto Palmas. De acordo com LIEGS (2006, p. 8), foram signatários da carta que apontava o manifesto interesse de constituir experiências de BCD em seus municípios, os prefeitos cearenses de Beberibe, Fortaleza, Itapipoca, Maracanaú, Maranguape, Palmácia, Paracuru, Paraipaba, Quixadá, Santana do Acaraú, São Gonçalo do Amarante e Trairi. Deste 12 municípios os quais os prefeitos apontaram desejo, na Carta dos Prefeitos de 2005, de implantarem um BCD em seu territórios, oito efetivamente implementaram, como pode ser visto em Rigo (2014, p. 262-263), até 2011. Não praticaram o que propuseram ao assinarem a carta, os prefeitos municipais cearenses de Itapipoca, Paraipaba, São Gonçalo do Amarante e Trairi.

captura e triangulação de dados, observa-se que a investigação promovida pelo LIEGS/UFCA, não desenvolveu indicadores para avaliar e/ou atestar o funcionamento dos BCD em questão. Outrossim, na ação foram identificados também indicadores que apontassem a algo sobre a natureza dos BCD ou que trouxessem referência a respeito da apuração se os BCD visitados eram viáveis, seja econômico ou socialmente. Importa, nesta situação, que a negligência desta investigação quanto à sugestão de indicadores pode estar relacionada ao fato dos BCD investigados estarem em um estágio absolutamente inicial, ou por se tratar da primeira pesquisa avaliativa sobre banco comunitário de desenvolvimento e não se ter noção exata da necessidade desta ordem de avaliação, ou ainda - e parece ser este o motivo mais congruente, a investigação visava verificar se o Projeto de Apoio à Organização de Bancos Comunitários tinha atingido seus propósitos e não se os BCD recém-implantados poderiam ser sustentáveis ao longo do tempo.

Por outro lado, LIEGS (2006, p. 3) enfatiza que, alguns princípios do Instituto Palmas relacionados ao caráter de difusão metodológica de práticas e projetos desenvolvidos por este órgão, foram utilizados para a equipe de avaliação inferir se os BCD implantados com suporte do Projeto de Apoio à Organização de Bancos Comunitários (Banco Serrano, Banco PAR, e BASSA) estavam ajustados a tais princípios. Silva Júnior (2006, p. 2) adverte que os princípios são: i) Sistematização metodológica, que busca perceber se a sistematização metodológica foi adequadamente realizada e possibilita futuras replicações em outros territórios; ii) Política pública, que intenta vocacionar o BCD dentro de um escopo em que este possa ser assumido por uma política pública governamental na sua totalidade ou em parte da metodologia; e iii) Empoderamento comunitário, que pretende tornar a metodologia de fácil implantação, domínio e apropriação pela comunidade cujo BCD for implantado. No relatório, há um comentário avaliativo o qual salienta que em relação ao terceiro princípio, o BCD “comprovadamente, corresponde a uma tecnologia social que pode no período de seis meses até um ano ser totalmente assumida pela comunidade local sem a necessidade de assessoramento contínuo posterior” (LIEGS, 2006, p. 4). Esta argumentação é acompanhada da afirmação em LIEGS (2006, p. 4) que “em relação aos outros dois princípios havia a necessidade de mais discussão e prática (princípio da sistematização metodológica) e de negociação e vontade política (princípio da política pública)” da parte dos gestores públicos para assumirem o BCD em suas ações governamentais e políticas púbicas.

Decerto, a avaliação divulgada no relatório do LIEGS/UFCA não apresentou indicadores anteriores que basearam a avaliação. Porém, estes princípios utilizados como fundamento, não

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de avaliação do Projeto de Apoio à Organização de Bancos Comunitários, mas de observação do modelo de implantação dos BCD, trouxe considerável contribuição para a percepção da natureza própria dos bancos comunitários de desenvolvimento ao enfatizar, sobremaneira, os elementos qualitativos singulares destas práticas. Veja-se o caso do princípio da política pública que suscitou, naquele momento, que um BCD tem antes de qualquer orientação utilitária individual - típica dos programas de microfinanças convencionais orientados para o empreendedorismo - uma propensão para advir-se um instrumento de política pública inclinado para os benefícios coletivos, ‘socialmente úteis’, e prezar o bem comum. Outrossim, o princípio do empoderamento comunitário insinua, desde a replicação metodológica dos primeiros BCD, que um banco comunitário de desenvolvimento deve ser uma prática de finanças solidárias direcionada para a comunidade, apossada por ela, gerida ‘com, por e para’ o território inspirando o empoderamento sócio, econômico, cultural-identitário e político da comunidade.

Em outros termos, se não expôs indicadores, com os princípios, já foi possível inferir alguns aspecto da natureza sui generis dos BCD que se tornariam centrais em uma postura crítica de avaliá-los não pela sua viabilidade econômica, mas pelas suas particularidades de retorno social, cultural e político. É atestável esta afirmação ao se visualizar no relatório do LIEGS/UFCA - a partir dos comentários resultantes das visitas de campo - a forma de implantação dos BCD com o empoderamento comunitário; os ganhos produzidos para a noção de pertencimento com a circulação de moeda social; a dinâmica de circulação da riqueza no local a partir da introdução da moeda; as parcerias estabelecidas com o poder público municipal e como os comerciantes do território; e a utilização de políticas públicas já estabelecidas para estimular o uso do BCD no território43 (LIEGS, 2006, p. 13-20). Conclui-

se que esta primeira pesquisa sobre os BCD já aponta que as avaliações a análises futuras sobre estes empreendimentos de finanças solidárias deveriam ir além da perspectiva economicista, financeira e quantitativa, sobretudo pelas sobrelevantes informações qualitativas apresentadas. Por fim, convém expor que destes primeiros BCD citados na avaliação do relatório do LIEGS/UFCA (Banco Palmas, Banco Serrano, Banco PAR,

43 Destaca-se o caso da Prefeitura Municipal de Paracuru ao passar a depositar os recursos que se destinavam

para um programa mensal de distribuição de cestas básicas para famílias de baixa renda mulheres das comunidades (Riacho Doce e Nova Esperança) nas quais estava implantado o Banco PAR, diretamente neste BCD. Com esta prática, as famílias tiveram que se dirigir ao Banco PAR para receberem um valor (e não mais a cesta básica) em moeda social - no caso daquela comunidade o PAR, que as pessoas utilizariam para compra de alimentos ou outros produtos nos comércios da próprio território (SILVA JÚNIOR, 2006, p. 12-13).

BASSA, Banco Bem, Banco Terra), apenas o Banco Comunitário BASSA, de Santana do Acaraú/CE não funciona mais, como pode ser visto em Rigo (2014, p. 262-264).

3.2.3 A avaliação da implantação e da consolidação dos BCD com apoio da