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3 AS AVALIAÇÕES DE INICIATIVAS DE MICROFINANÇAS: DA

3.2 OS MODELOS MAIS CONSERVADORES E OS MAIS ABERTO À

3.2.1 A avaliação da inclusão financeira promovida pelo Banco Central do

Andrade e Diniz (2016, p. 150) realizaram um trabalho que visou analisar a relação entre as atividades de articulação política, desenvolvidas para a obtenção dos dados e informações necessários para avaliar a política pública de inclusão financeira do Banco Central do Brasil (BC) entre 2009 a 2012. O trabalho utilizou a metodologia de estudo de caso, expondo as principais iniciativas de inclusão financeira promovidas pelo BC no período, assim como as atividades de articulação política motivadas, direta ou indiretamente, pelas informações mobilizadas pelo BC. Em Andrade e Diniz (2016, p. 155) tem-se que o entendimento de inclusão financeira para o BC é “prover acesso a produtos e serviços financeiros adequados às necessidades da população”, segundo exposto no Relatório de Inclusão Financeira (RIF) desta instituição em 2010. Conforme os autores, a atuação do Banco Central do Brasil junto à política de inclusão financeira se baseou no projeto estratégico Inclusão Financeira I –

38 A MIX é uma organização mundial de suporte as IMF que foi criada e é sustentada, principalmente, grande

players globais do mercado financeiro tradicional. Formam o grupo de fundação e de manutenção da MIX, a empresa de consultoria em assistência a pobreza Consultative Group to Assist the Poor (CGAP); os bancos Citigroup e Deutsche Bank; o grupo financeiro de administração de cartões de crédito MasterCard; a seguradora internacional MetLife; o fundo de investimento Omidyar Network; além do Banco Mundial e da

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Diagnóstico e Articulação, instituído em 2009 com duração até 2011 e continuado pelo projeto estratégico Inclusão Financeira II – Mapeamento e Regulação, previsto para durar até 2013 (ANDRADE; DINIZ, 2016, p. 159).

Do ponto de vista crítico existem dois aspectos a serem comentados acerca da perspectiva de inclusão financeira adotada pelo BC, e que em nenhum instante são tratados criticamente no texto dos autores nas suas análises preliminares sobre a inclusão financeira incentivada pelo BC. A primeira observação é que os autores apenas exibem que o Banco Central do Brasil - ao visar uma ‘adequada inclusão financeira’ - colabora na redução da pobreza “com o desenvolvimento da indústria financeira, que fomenta o crescimento econômico, e o aumento da qualidade de vida da população” (ANDRADE; DINIZ, 2016, p. 156, grifo nosso). Em outras palavras, este viés é totalmente alinhando com o modelo da bancarização e com a indústria das microfinanças. O BC não esta tratando, portanto, de modelos mais singulares de microfinanças como os bancos comunitários de desenvolvimento ou os fundos solidários. E, dai, surge o segundo aspecto observado. Quando trata de qualidade de vida da população, não há no artigo - e, por conseguinte na política de inclusão financeira do BC que está em análise naquele documento - referencia que se trata de uma preocupação mesmo com uma dimensão emancipatória e de caráter coletivo. Parece sugerir que esta melhoria da vida da população se dá pela melhoria individual de cada membro que eventualmente poderá repercutir em ganhos de qualidade de vida coletivos, mas isto não está bem evidenciado no documento.

Ademais, os autores complementam que durante estes dois projetos, foram realizados fóruns sobre inclusão financeira pelo BC, cujo objetivo era articular os diversos atores envolvidos no processo de inclusão financeira no país. Um dos resultados desses fóruns apontou a foi a identificação da necessidade de se organizar e consolidar dados e informações disponíveis no BC sobre o assunto, para efetivo diagnóstico do setor de microfinanças, segundo apontam Andrade e Diniz (2016, p. 160). Em 2010, o BC introduziu a “promoção da inclusão financeira” como um dos seus objetivos estratégicos, extensivo até 2014. Ainda em 2010, como indicam os autores, o BC instituiu um órgão administrativo para tratar das questões de inclusão financeira e responsabilidade socioambiental do sistema financeiro. No ano seguinte, o BC liderou o lançamento da Parceria Nacional para Inclusão Financeira (PNIF), entendida uma “rede de atores públicos e privados engajados em ações coordenadas para a promoção da Agência das Nações Unidas para o Desenvolvimento Agrícola - International Fund for Agricultural Development (IFAD/ONU). Disponível em: http://www.themix.org/

adequada inclusão financeira da população brasileira” (ANDRADE; DINIZ, 2016, p. 160). Através de um dos seus Relatórios de Inclusão Financeira (RIF), de acordo com os autores, o BC apresentou um índice de inclusão financeira (IIF), em 2011. O IIF é um indicador composto a partir da agregação de outros indicadores que denotam inclusão financeira, como número de agências bancárias e correspondentes bancários no país, volume de crédito disponível, volume de recursos de depósitos à vista destinados a operações de microcrédito, quantidade de contratos e volume de recursos de operações no âmbito do Programa Nacional de Microcrédito Produtivo Orientado (PNMPO), de acordo com o que demonstram Andrade e Diniz (2016, p. 161-163).

Neste caso, pode-se ver mais uma limitação que é a ênfase quantitativista sobre o que é avaliado pelo BC para determinar o IIF no país, em 2010 e 2011. Isso corrobora com as duas primeiras observações já efetuadas no parágrafo anterior que sugere não ter, o BC uma real preocupação com os dados e resultados qualitativos produzidos pela inclusão financeira no país naquele momento. O que merece ser destacado é quanto foi investido, quantas agência e correspondeste estão ativos e não como vem sendo aplicado o investimento e que ganho qualitativo para os beneficiários esta inclusão vem gerando. Também é digno de nota que os autores não ofertam qualquer comentário crítico sobre isto, uma vez que se propõe analisar o modelo de inclusão financeira promovido pelo Banco Central do Brasil. Aparentemente, Andrade e Diniz (2016) apenas constatam e referendam o caminho que adotou o BC acerca da política de inclusão financeira entre 2009 e 2012.

Por fim, os autores concluem afirmando que “as atividades de articulação política contribuíram destacadamente na obtenção dos dados e informações necessários à avaliação da política pública de inclusão financeira liderada pelo BC” (ANDRADE; DINIZ, 2016, p. 168). Contudo, no que se espera de análises mais aprofundadas sobre o resultado da avaliação da política de inclusão financeira do BC, não há muito a inferir. Andrade e Diniz (2016, p. 166- 168) apesar de afirmarem que precisariam ser avaliados, ao menos estes três aspectos da política pública de inclusão financeira liderada pelo BC (i. o acesso da população brasileira a serviços financeiros; ii. o uso desses serviços pela população; iii. a adequação desses serviços às necessidades da população), eles mencionam apenas que para o item (iii) não há dados e informações nos RIF e no IIF que permitam uma avaliação. Já para os outros dois aspectos (acesso e uso de serviços financeiros), os autores apontam que avaliação é possível, mesmo que não seja factível perceber uso de serviços financeiros por canal de acesso.

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Em síntese, não se tem uma afirmação conclusiva neste trabalho sobre o que representou e como impactou a política de inclusão financeira liderada pelo BC. Por outro lado, fica evidente que o documento referenda o que considera o BC como dimensões mais relevantes para avaliar a inclusão: o acesso da população aos serviços, o uso desses serviços, e a adequação desses serviços às necessidades da população. Ou seja, são enfatizados nestas análises elementos absolutamente acríticos do que pode se traduzir em uma inclusão financeira mais valorativa, substantiva e emancipatória. Isto reafirma e reforça a necessidade de se encontrar outras dimensões e indicadores para se avaliar o que representa inclusão financeira de populações, sobretudo mais fragilizadas, e mesmo de empreendimentos de microcréditos que estão inseridos nestas políticas de inclusão financeira.

3.2.2 A avaliação dos primeiros BCD implantados com apoio da SENAES/MTE (2006)