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2 ESCOLHAS METODOLÓGICAS

2.2 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

2.2.2 A pesquisa no campo

Com o desígnio de se alcançar o propósito desta investigação que se classifica como exploratório-descritiva, conforme Cervo e Bervian (2006), a etapa da pesquisa de campo deste trabalho pode ser distribuída nos seguintes momentos:

(i) visitas a três experiências de BCD, Foram identificados bancos comunitários de

desenvolvimento para serem visitados, tendo em vista o estágio de desenvolvimento que pudessem oferecer informações para subsidiar tanto a compreensão de utilidade social em um BCD como a definição dos indicadores a serem incorporado à matriz de avaliação. A escolha recaiu sobre três BCD: o Banco Palmas, em Fortaleza (Estado do Ceará); o Banco Tupinambá, em Mosqueiro-Belém (Estado do Pará); e o Banco Timbaúbas, em Juazeiro do Norte (Estado do Ceará).

Os dois primeiros foram selecionados por serem das mais consolidadas e exitosas experiências de BCD em funcionamento no Brasil. O Banco Palmas foi o pioneiro entre todos os BCD do Brasil, existe desde 1998, e vem sempre posando na vanguarda dos bancos comunitários de desenvolvimento e mesmo das finanças solidárias no país. A experiência deste BCD, com 18 anos de existência, tem muito a oferecer sobre a trajetória de sucesso, os benefícios coletivos gerados e a sustentabilidade destes empreendimentos. O Banco Tupinambá é também precursor, pois foi o primeiro banco comunitário de desenvolvimento instalado na região Norte do país - a região Amazônica, em 2009. Em apenas sete anos de existência o Banco Tupinambá já tem obtido resultados que o colocam em destaque entre os 103 BCD do Brasil, sendo protagonista em algumas ações da Rede Brasileira de Bancos Comunitários18 e premiado em âmbito nacional por seus projetos19. Pela ascensão, pelos

18 O Banco Tupinambá foi um dos organizadores, através do Instituto Tupinambá, do 1º Encontro Norte e

Nordeste de Bancos Comunitários e do 4º Encontro Nacional da Rede Brasileira de Bancos Comunitários, ambos realizados em Fortaleza (Ceará), no período de 24 a 26 de novembro de 2016. O grande momento destes encontros foi a criação, como já tratado anteriormente neste trabalho, da entidade máxima legal representativa dos BCD brasileiros, o Banco Nacional das Comunidades. Além de ter sido atuante nas ações prévias para constituição desta organização, os representantes do Banco Tupinambá obtiveram um assento no seu colegiado de gestão. Disponível em http://bancotupinamba.blogspot.com.br/2015/11/programacao-neno-4- encontro-nacional-da.html e http://www.institutobancopalmas.org/banco-nacional-das-comunidades/

19 Pelo projeto Caminho das Boas Práticas, o Banco Tupinambá foi reconhecido em dezembro de 2015 com

'Prêmio CAIXA Melhores Práticas'. Este prêmio é entregue anualmente para 20 projetos selecionados pela Caixa Econômica Federal que apresentam soluções para o desenvolvimento sustentável, por meio de ações inovadoras e indutoras do desenvolvimento local, da integração das políticas públicas, melhor adequação dos espaços urbanos e que provoquem mudanças nos padrões de produção e de consumo. Informações disponíveis em http://bancotupinamba.blogspot.com.br/2015/12/banco-tupinamba-e-premiado-em-brasilia.html e http://www20.caixa.gov.br/Paginas/Noticias/Noticia/Default.aspx?newsID=3176

projetos e pelo reconhecimento, este BCD tem consideráveis informações a serem apreendidas para a construção de uma resposta ao problema de pesquisa desta tese.

Se estes dois BCD tiveram sua escolha pelo que podiam oferecer para este estudo em função de seus itinerários exitosos, o terceiro BCD investigado foi selecionado por estar, no momento, na contramão dos outros dois. Esta rota oposta que vivencia o Banco Timbaúbas, ainda que possa ser sugerida como momentânea, tem elementos sui generis que podem fazer o contraponto de reflexão acerca da utilidade social, dos benefícios coletivos, da própria natureza de um Banco Comunitário de Desenvolvimento e quais fatores permitem a sustentabilidade de um BCD. Como o Banco Timbaúbas fica em Juazeiro do Norte (Ceará) e seu percurso já vinha sendo acompanhado pela Incubadora de Empreendimentos Populares e Solidários da Universidade Federal do Cariri (ITEPS/UFCA), à qual o autor desta tese esteve vinculado, foi mais inteligível identificar este BCD como o empreendimento a ser estudado em um estágio diferente dos outros dois. Aliás, por se conhecer os dirigentes do Banco Timbaúbas de um largo tempo se tornou mais acessível a visita e o dialogo sobre os temas relacionados as razões dos insucessos e as dificuldades enfrentadas por este BCD20.

O propósito foi obter uma melhor compreensão da realidade destes bancos in loco e permitir o entendimento entre o quadro teórico e o desempenho organizacional. Nas visitas de campo, o pesquisador se insere total ou parcialmente na organização investigada e passa a viver um pouco do cotidiano de seus integrantes. A proximidade com seu objeto de pesquisa pode tornar mais acessível a coleta de dados, interpretá-los e integrá-los (VIEIRA; PEREIRA, 2005, p. 227-228). Todavia, Barbour (2009, p. 13) alerta que esta técnica possui grande capacidade de produzir observações corrompidas e até deturpadas, pois o pesquisador pode assumir posições da organização em estudo. Entretanto, este autor acolhe os argumentos de Viera e Pereira (2005, p. 229) que a ida a campo implica em intensificar as relações entre investigador e objeto, uma vez que se deixa de trabalhar com informações secundárias para realizar a observação diretamente;

20 Este banco comunitário de desenvolvimento é um empreendimento com cinco anos de existência. Fundado em

abril de 2011, teve uma caminho ascendente nos três primeiros anos com o estabelecimento de parcerias locais e nacionais, com o crescimento da circulação da moeda social Timba no bairro (SILVA, 2013, p. 86-100; CHAGAS, 2014, p. 55-63). Só que nos últimos dois anos o Banco Timbaúbas vem experimentando intensos e constantes momentos de fragilidades relacionados a dispostas entre as lideranças da associação que gerencia o BCD, ao afastamento da incubadora ITEPS/UFCA, à perda de credibilidade junto a comunidade e a escassez de recursos para o fundo de crédito que levou ao temporário fechamento do Banco das Timbaúbas em 2015. Em 2016, este BCD aparentar reagir novamente com o restabelecimento de parcerias, do processo de incubação e com o entendimento entre os membros.

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(ii) entrevistas semiestruturadas para realização de levantamentos exploratórios com líderes

de organizações-chave(Consultores, Banco Central, SENAES/MTE) do ambiente relacional da Rede Brasileira de Bancos Comunitários - uma vez que a atuação destes entes impacta nos apoios, financiamentos e formulação de políticas públicas para os BCD, e com coordenadores dos bancos comunitários visitados e estudiosos e pesquisadores do tema da utilidade social na França. Convém sublinhar que a compreensão do significado, da importância e de como pode ser percebida a utilidade social dos BCD são aspectos questionados nas entrevistas com os dirigentes das organizações parceiras dos BCD e com as próprias lideranças dos BCD visitados. É pertinente afirmar que as entrevistas são importantes como técnica de captura de dados e, para Pinheiro (apud SANTOS, 2005, p. 184), pode ser conceituada como uma prática discursiva, onde se obtém informações em questões estratégicas que só podem ser levantadas por meio desta técnica. Santos (2005, p. 184), corrobora com isto e enfatiza que a participação do pesquisador é imprescindível, pelo que se gera da prática discursiva, resultado da interação entre pesquisador e entrevistado. É justamente isto que se esperava das entrevistas neste estudo;

(iii) grupos focais com moradores dos territórios dos BCD visitados para dialogar com aqueles que são diretamente atendidos e atingidos com as ações do banco comunitário no território e capturar qual a percepção, o entendimento e a avaliação deles acerca do que pode ser, ou melhor, já vem sendo a utilidade social dos BCD. Gondim (2003, p. 158) afirma que a escolha metodológica de pesquisa “apoiada na técnica dos grupos focais considera os produtos gerados pelas discussões grupais como dados capazes de formular teorias, testar hipóteses e aprofundar o conhecimento sobre um tema específico”. Para Ruediger e Riccio (2006, p. 151), esta técnica possibilita uma análise das percepções dos participantes do grupo em suas proximidades e divergências acerca do tema - ou temas - em foco e enfatiza-se por meio dela “não apenas as percepções individuais, mas também aquelas oriundas das interações do coletivo, expressas nas estruturas discursivas e na defesa ou crítica de temas e aspectos relevantes da pesquisa”. No grupo focal, há a ação de um mediador, que é responsável por coordenar o grupo, introduzir os temas na discussão por meio de perguntas com o intuito de captar e entender atitudes, ideias, opiniões, das pessoas participantes (RUEDIGER; RICCIO, 2006, p. 154-155).

Isto posto, a finalidade do uso dos grupos focais nesta pesquisa se justifica em função desta técnica proporcionar um alto poder de análise. O grupo focal pode ser definido como uma “roda de conversa” onde pessoas integrantes de determinada organização ou grupo de

interesse expõem ideias, sentimentos e expectativas sobre elas, cujas proposições são orientadas por um mediador (BARBOUR, 2009, p. 20-21). Deste modo, essa técnica é empregada, como explicam Oliveira e Freitas (1998, p. 84), quando o pesquisador necessita “explicar como as pessoas consideram uma experiência, uma ideia ou um evento, visto que a discussão durante as reuniões do grupo é efetiva para fornecer informações sobre o que as pessoas pensam, sentem ou agem”. Ao se articular com as demais técnicas de capturas de dados desta pesquisa, será possível melhor compreender o objeto investigado. Ademais, é uma forma mais aprofundada e coletiva, esclarecer resultados de outros estudos ou que tenham emergido nas análises da pesquisa, e ainda, validar os dados obtidos nos outros métodos da pesquisa (OLIVEIRA; FREITAS, 1998, p. 85).