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2 ESCOLHAS METODOLÓGICAS

2.2 PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS

2.2.1 A pesquisa documental e a pesquisa bibliográfica

Para Santos (2005, p. 193), a pesquisa teórica é um procedimento metodológico fundamental para o pesquisador conhecer o fenômeno a ser investigado. Segundo este autor, o levantamento do material que servirá para a fundamentação da pesquisa possui três objetivos: a) a confirmação das proposições que tenham caráter mais geral; b) a possibilidade de revisar o objeto a ser avaliado; c) a ampliação do escopo narrativo, permitindo maior compreensão e descrição do fenômeno. Nesta fase, o pesquisador deve selecionar todo o material teórico existente sobre o tema, que poderá ser livros, artigos científicos ou qualquer outro material que tenha validade, bem como, fazer um levantamento sobre a organização avaliada, sua história, ações desenvolvidas, e consultar seu banco de dados.

Nesta tese a pesquisa documental focou na obtenção de informações do banco de dados da Rede Brasileira de Bancos Comunitários e outras fontes de dados secundários relacionados aos BCD, como o Sistema de Informações da Economia Solidária (SIES/SENAES/MTE), Esta recuperação de dados se deu entre o segundo semestre de 2012 e a primeira metade do ano de 2013. Já, durante o ano de 2014, no período de estágio doutoral, foi efetuada a captura de dados documentais (principalmente relatórios do governo Francês) acerca de avaliações de práticas e políticas de economia social e solidária francesas fundadas na utilidade social. Por fim, em 2015, foram capturados dados em documentos que tratam de avaliações de BCD no Brasil, nos últimos anos. As fontes destas últimas informações foram os arquivos dos bancos comunitários de desenvolvimento visitados e os relatórios de avaliações de BCD efetuadas pelos próprios ou sob demanda da SENAES/MTE.

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A pesquisa bibliográfica envolve a análise crítica da literatura pertinente ao objeto da tese e aos temas envolvidos na pesquisa - finanças solidárias, bancos comunitários, utilidade social e avaliação dos BCD. Convém lembrar que não há uma abundância na produção acadêmica, no Brasil, sobre Utilidade Social, Bancos Comunitários e Finanças Solidárias. Os bancos

comunitários de desenvolvimento são experiências genuinamente brasileiras e só agora

começam a ser investigados de forma mais intensa. Os pesquisadores deste tema se concentram em poucos núcleos de pesquisa no Brasil e seus estudos normalmente são efetuados em parcerias entre estes núcleos. Em razão disto há uma forte concentração nas referências deste trabalho em torno de quatro ou cinco autores (BORGES, 2010a e 2010b; FRANÇA FILHO, 2004, 2008, 2009, 2010 e 2012, 2013, 2014 e 2015; MELO NETO, 2003, 2007 e 2012; NESOL, 2013a e 2013b; RIGO, 2012, 2013, 2014 e 2015; SILVA JÚNIOR, 2003, 2004, 2006, 2007, 2008, 2009, 2012, 2013 e 2015).

O tema das microfinanças solidárias tem um conjunto de literatura científica ainda menor. Entende-se aqui que ao se tratar de microfinanças ou microcrédito há um referencial teórico internacional vasto. É uma temática bem mais estudada e consolidada. Nesta tese, merece destaque os trabalhos referenciais sobre microfinanças e microcrédito de Bahía Almansa (2011), Barone e Sader (2008), Costa (2010), Garayalde Niño, González e Mascareñas Pérez- Iñigo (2014), International Finance Corporation (2013), Microcredit Summit (1997), Manzoni (2008), Woller e Woodworth (2001) e Zouain e Barone (2007). Por sua vez, as finanças solidárias são um nicho de práticas e pesquisas bem específicos no qual estão estabelecidos, os Fundos Rotativos Solidários (FRS), as Cooperativas Populares de Crédito e, fundamentalmente, os Bancos Comunitários de Desenvolvimento (BCD). Deste modo, com um escopo mais específico existe menos produção acadêmica sobre as (micro)finanças

solidárias. Sobressaem-se aqui os textos sobre o tema de Abramovay e Junqueira (2005),

Cairó i Céspedes e Gómez González (2015), França Filho e Duran Passos (2008), Melo Neto e Magalhães (2007), Parente (2002) e Santos Filho (2011).

Por seu turno, a temática da utilidade social é praticamente nula como tema de pesquisa acadêmica no Brasil. Na primeira etapa da pesquisa bibliográfica desta tese até 2013 - realizada antes do período do estágio doutoral no exterior, não foram encontrados registros sobre esta temática em bases de dados de pesquisa de textos científicos, no país. Não obstante, uma vasta publicação foi identificada no cenário técnico e científico francês. Diante disso, durante o estágio do doutorado na França, em 2014, foi possível recolher um amplo espectro de textos (livros, capítulos de livros, artigos, dossiês, relatórios e ensaios) sobre utilidade

social (L’utilité sociale), inclusive sobre utilidade social nos empreendimentos de economia social e solidária e sobre avaliação da utilidade social neste tipo de empreendimento. Outrossim, apesar de existirem estudos, guias e relatórios técnicos acerca da avaliação da utilidade social em políticas e práticas associativas elaborados no âmbito de conselhos regionais e departamentais, a produção bibliográfica mais relevante, de caráter acadêmico, sobre a problemática utilidade social de organizações do campo social na França é aglutinada em torno de alguns importantes autores: Duclos (2007, 2008, 2009 e 2010), Fraisse (2001, 2007 e 2008), Gadrey (2004, 2005 e 2006), Gardin (2001 e 2014), Jany-Catrice (2012 e 2014), Hély (2006, 2008 e 2009) e Offredi (2010).

Importa sobrelevar que Jean Gadrey, atém de ser autor citado por outros autores dos textos sobre utilidade social em função do seu pioneiro trabalho de 2004, “L’utilité sociale des organisations de l’économie sociale et solidaire’’ (A utilidade social das organizações da economia social e solidária, em livre tradução)17, também é um respeitável pesquisador e

autor na temática dos novos fatores de riqueza. Neste caso, com um trabalho de 2007 - ‘‘Les nouveaux indicateurs de richesse’’ (Os novos indicadores de riqueza, em livre tradução) - elaborado em co-autoria com a pesquisadora do tema Florence Jany-Catrice. É pertinente considerar que a temática dos novos fatores de riqueza é um dos temas abordados nesta tese. Como já exposto anteriormente, a compreensão de que se deve pensar e avaliar os BCD a partir de uma distinta lógica de viabilidade capitaneada pelo viés de sua utilidade social, incita uma maneira original de expressar as outras formas de riqueza geradas na prática dos bancos comunitários de desenvolvimento. E estas riquezas produzidas nos BCD se apresentam em novos indicadores que não aqueles convencionais baseados somente na perspectiva financeira e na viabilidade econômica mercantil. Por esta razão, além de Dowbor (2007 e 2009), Gadrey (2000), Gadrey e Jany-Catrice (2012), Jany-Catrice (2012) e Veiga (2010), outros três estudiosos referenciais que versaram sobre o ressignificado de riqueza (MÉDA, 1999 e 2008), a reconsideração dos fatores de riqueza (VIVERET, 2004 e 2010) e a revisão da avaliação de riqueza (SEN, 2010) também tem suas publicações elencadas na revisão de literatura para esta tese.

17 Um relatório encomendando pela Delegação Interministerial para a Economia Social (DIES) do governo

francês sobre a estagio da discussão sobre avaliação da utilidade social, a partir da síntese de 38 documentos de pesquisa sobre a economia social e solidária na França, em termos de avaliação da utilidade social e benefícios coletivos das organizações deste sector (GADREY, 2004, p. 7).

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