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3 AS AVALIAÇÕES DE INICIATIVAS DE MICROFINANÇAS: DA

3.2 OS MODELOS MAIS CONSERVADORES E OS MAIS ABERTO À

3.2.3 A avaliação da implantação e da consolidação dos BCD com apoio

Esta avaliação tratou de ajuizar e qualificar o Projeto de Apoio à Implantação e Consolidação de Bancos Comunitários financiado pela SENAES/MTE e executado pelo Instituto Palmas. De fato, essa é a avaliação da continuidade do Projeto de Apoio à Organização de Bancos Comunitários realizada pelo LIEGS/UFCA em 2006. Nesse segundo ano, o projeto chamou- se Projeto de Apoio à Implantação e Consolidação de Bancos Comunitários, mais uma vez tendo investimento de recursos da SENAES/MTE e realizado pelo Instituto Palmas. A avaliação desta nova fase foi realizada novamente pelo LIEGS/UFCA - nessa oportunidade - entre os meses de fevereiro e julho de 2007, conforme Silva Júnior (2007, p. 42). Aliás, Silva Júnior (2007) é o documento base dos resultados dessa avaliação que será utilizado para os comentários analíticos desta subseção. O Projeto de Apoio à Implantação e Consolidação de Bancos Comunitários, executado em 2006, estabeleceu como objetivo fortalecer a estratégia de BCD enquanto alternativa de acesso ao crédito, geração de trabalho e rende e empoderamento comunitário, buscando a consolidação dos quatro BCD já existentes no Estado do Ceará (Banco Palmas, em Fortaleza; Banco Serrano, em Palmácia; Banco PAR, em Paracuru; e Banco BASSA, em Santana do Acaraú) e a implantação de outros quatro BCD no Estado (nos municípios de Irauçuba, Maranguape, Maracanaú e Beberibe), totalizando até o final daquele ano, oito bancos comunitários em funcionamento no Ceará (SILVA JÚNIOR, 2007, p. 39).

O artigo de Silva Júnior (2007, p. 37) anuncia que as considerações presentes no documento são resultantes da “pesquisa Avaliação dos Impactos da Implantação e Consolidação de Bancos Comunitários para o Desenvolvimento Territorial no Estado do Ceará, Ano II”, conduzida pelo LIEGS/UFCA, que “analisou a metodologia de implantação e consolidação dos bancos comunitários constituídos” e avaliou “os impactos do projeto de implantação e consolidação de Bancos Comunitários para o Desenvolvimento Territorial [...] nas condições de vida das famílias que vivem nos territórios onde os bancos foram instalados”. Não obstante tenha expressado que essa avaliação seria em oito BCD, ela só se deu em sete BCD do Estado do Ceará. Silva Júnior (2007, p. 37) indica que foi apurado o processo de consolidação dos quatro BCD examinados na pesquisa anterior (Banco Palmas, Banco Serrano, Banco PAR e Banco BASSA) e o processo de constituição de mais outros três BCD implantados, em 2006:

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o Banco Comunitário BANCART, de Iraucuba/CE, o Banco Comunitário PAJU, de Maracanaú/CE e o Banco Comunitário BEM, de Maranguape/CE. Assim sendo, ficou de fora da avaliação, a averiguação da implantação do Banco Comunitário dos Assentados - BANDESB, de Beberibe/CE, em função do atraso na implantação deste BCD até maio de 2007, período limite da coleta dos dados da pesquisa Avaliação da Implantação de Bancos Comunitários para o Desenvolvimento Territorial no Estado do Ceará – Ano II44 (SILVA

JÚNIOR, 2007, p. 51).

Do ponto de vista dos procedimentos metodológicos adotados na pesquisa, o texto retrata que houve um levantamento de ordem documental, com consulta à base de dados do Instituto Palmas, além de buscar dados complementares junto às demais instituições envolvidas no projeto, tais como a SENAES/MTE, as Prefeituras Municipais, o Governo Estadual e o BPB (SILVA JÚNIOR, 2007, p. 42). Esse autor esclarece que foi realizado um levantamento bibliográfico de literatura científica das temáticas microfinanças e economia solidária, bem como foi executada um levantamento em campo com observação direta nos territórios das experiências de BCD em Fortaleza (Conjunto Palmeiras), Irauçuba, Maracanaú, Maranguape, Palmácia, Paracuru e Santana do Acaraú. Silva Júnior (2007, p. 42) completa que nestas visitas foram concretizadas entrevistas com os gerentes e agentes de crédito destes sete BCD, com o Sr. Joaquim Melo, diretor do Instituto Palmas, e com o Sr. Marcello Correa, gerente de microcrédito do BPB. Segundo Silva Júnior (2007, p. 44), esta entrevista aconteceu durante o II Encontro da Rede Brasileira de Bancos Comunitários, entre 18 e 20 de abril de 2007, em Caucaia/CE, “aproveitando a presença de membros do Banco Popular do Brasil no encontro”. A propósito, quando aborda esta entrevista com o Sr. Marcello Correa, o documento traz uma pertinente análise, comparativa em alguns momentos, com as afirmações obtidas na entrevista realizada para a avaliação do ano I do projeto, em 2006, com o Sr. Valdir Oliveira Filho antecessor do Sr. Correa na gerência de microcrédito do BPB.

O autor proclama que a entrevista do segundo aconteceu um ano após à realizada com o primeiro e declara que

Para Valdir Filho, a aproximação com os bancos comunitários trazia o Banco Popular para uma estratégia mais focada nos seus objetivos originais de fazer chegar o crédito aos menos assistidos, utilizando uma metodologia que proporcionava conhecer cada cliente como indivíduo. Naquela época (19

44 Não há informação no documento se houve um acordo entre LIEGS/UFCA, SENAES/MTE e Instituto Palmas

para não aguardar a criação deste BCD e não considerá-lo nesta perscrutação. Entretanto, Rigo (2014, p. 262) comunica que o Banco Comunitário BANDESB foi criado ainda no 2007, sem precisar o mês.

de abril de 2006) o Banco Popular do Brasil sofria com as críticas pela sua atuação mais como varejista e seus constantes prejuízos frutos da alta inadimplência (SILVA JÚNIOR, 2007, p. 45).

Destarte, quando ocorreu a entrevista com o Valdir Oliveira Filho, o BPB estava nos meses iniciais do convênio de cooperação com o Instituto Palmas para operar suas linhas de crédito através dos BCD, transformando-os em correspondestes bancários do BPB, e para contribuir na ampliação do fundo e da oferta de crédito dos BCD. Passado mais de um ano do início desta cooperação, o entrevistado Marcello Correa reconheceu que o redesenho organizacional permitiu uma melhor gestão da carteira de microcréditos do BPB e afirmou que o BPB assumiu dois modelos de atuação, um deles passando a ter relevância depois desse convênio: “O comercial que tem nos correspondentes bancários e no seu comportamento como banco de varejo à sua estratégia; e o social que tem no banco comunitário e em outros fundos o viés de aproximação com o público informal e com o desenvolvimento territorial sustentável” (SILVA JÚNIOR, 2007, p. 45). Estas duas entrevistas foram entendidas, naqueles anos, como capitais para se entender o que pensava o BPB sobre o estágio da parceria com o Instituto Palmas e as perspectivas em relação ao futuro da relação com os demais bancos comunitários. Mesmo que Silva Júnior (2007) não faça avaliação sobre este convênio de cooperação, é apropriado que algumas considerações sejam efetuadas neste instante. Com efeito, esta parceria de cooperação entre o Instituto Palmas, os bancos comunitários de desenvolvimento e o Banco Popular do Brasil que existiu entre 2005 e 2011 teve um saldo positivo para todos os envolvidos. Para o BPB ajudou a recuperar a imagem da instituição na sua aproximação com um público significativo o qual ele propunha apoiar e que só por meio dos BCD, aquele banco conseguiu. Para o Instituto Palmas permitiu ampliar o público alcançado pelas suas linhas de crédito e obter certa tranquilidade e garantia de funcionamento dos BCD sob sua assessoria, durante a metade de uma década, uma vez que tinha assegurado uma fonte de crédito para ofertar seus produtos e serviços microfinanceiros. Finalmente, todos os BCD que funcionaram como correspondente bancário do BPB usufruíram de uma oportunidade de ampliar sua base de clientes, comprovar seu modelo de funcionamento e confirmar sua alta significância para o desenvolvimento socioeconômico de um território.

Silva Júnior (2007, p. 44) enfatiza que um momento singular para avaliação do Projeto de Apoio à Implantação e Consolidação de Bancos Comunitários foi a participação dos pesquisadores do LIEGS/UFCA no II Encontro da Rede Brasileira de Bancos Comunitários, ocorrido de 18 a 20 de abril de 2007, em Caucaia/CE. No primeiro encontro - chamado de 1ª Oficina Metodológica dos Bancos Comunitários e que serviu para o levantamento de dados da

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pesquisa de avaliação em 2006 - foi criada a Rede Brasileira de Bancos Comunitários. Nesse encontro de 2007 os debates centraram-se no dos grandes temas fundamentais (conceituação, marco jurídico, sustentabilidade, política pública, gestão, investimento/captação, moeda social) para o estabelecimento da Rede e fortalecimento dos BCD. Nesse encontro foi delimitada uma definição mais precisa do que são os BCD e elaborado o termo de referência dos bancos comunitários de desenvolvimento. Para constatar a importância deste momento, tanto a definição quanto o termo de referencia ainda perduram até 2016 quando se busca conhecer o que é, quais as características, quais os propósitos, qual a estrutura de gestão, como se mantém, quais os produtos e serviços que são ofertados, qual o público prioritário e qual a área territorial de abrangência de um BCD45.

Nessa avaliação da implantação e consolidação de BCD, conduzida pelo LIEGS/UFCA em 2007, também não foram ordenados indicadores para apurar os processos e a metodologia de implantação e consolidação dos sete BCD, no âmbito do Projeto de Apoio à Implantação e Consolidação de Bancos Comunitários. Mais uma vez, os investigadores preferiram utilizar princípios orientadores que consideravam elementares para o surgimento, implementação e firmamento de um BCD, para conduzirem a pesquisa. Silva Júnior (2007, p. 38-39) aponta estes princípios característicos na constituição e funcionamento de um BCD: i) Mobilização endógena do território, que apregoa o entendimento de que a criação de um BCD deve acontecer a partir de um interesse intrínseco ao/do território, mesmo se percebendo a necessidade de apoios e estímulos de agentes externos; ii) Hibridação de princípios econômicos, que anuncia serem as ações econômicas empreendidas pelo BCD oriundas de fontes e regulação ampliadas, as quais estão imbricadas em uma hibridação de princípios econômicos que estão além da perspectiva mercantil, mas absorvem e interagem com um viés não mercantil e não monetário; iii) Construção conjunta da oferta e da demanda, que designa o incitamento do BCD a propor que os negócios no território com aporte de recursos desta prática de finanças solidárias devem ser estabelecidos com a oferta de produtos ou serviços para o atendimento da demanda da comunidade; e iv) Garantia e controle baseados nas relações de proximidade e confiança mútua, que advoga a indispensável absorção da força do histórico dos relacionamentos do tomador de crédito no BCD para a obtenção do empréstimo, assim como do papel da comunidade para o controle social da inadimplência.

45 O Termo de Referência dos Bancos Comunitários de Desenvolvimento e informações complementares sobre

esse documento estão disponíveis em; <http://www.institutobancopalmas.org/termo-de-referencia-dos- bancos-comunitarios-de-desenvolvimento/>.

Mais uma vez, cabe comentar a lacuna deixada por uma avaliação ao não estabelecer os indicadores que poderiam bem expressar não tanto a instalação, mas sobretudo constatar a pretensa consolidação dos quatro BCD (Banco Palmas, Banco PAR, Banco Serrano e Banco BASSA) como objetivava o Projeto de Apoio à Implantação e Consolidação de Bancos Comunitários. Assim, uma oportunidade de elencar indicadores foi perdida nas primeiras avaliações de BCD sejam esses indicadores mais ajustados ao perfil da viabilidade econômica ou mais nivelados com a sustentabilidade social dos bancos comunitários de desenvolvimento. Por outro lado, é justo admitir e saudar os pesquisadores do LIEGS/UFCA pelo emprego dos quatro princípios listados em Silva Júnior (2007). Tais princípios já advertem para aspectos próprios dos BCD que devem ser verificados com rigor para denotar o quanto aqueles bancos comunitários de desenvolvimento foram implantados com efetividade e estavam inseridos de modo conveniente em um processo de robustecimento da experiência. Igualmente, estes princípios parecem denunciar com perspicuidade o quanto um BCD implantando e consolidado em vista da sua pretensa sustentabilidade futura está mais próxima de aspectos multidimensionais sócio, econômico, político, cultural e ambiental que apenas de aspectos relacionados à dimensão econômico-financeira deste empreendimento de finanças solidárias.

Neste sentido, o princípio da mobilização endógena do território já apontava a necessidade de uma movimentação e concentração da comunidade no local cujo BCD será instalado para que a metodologia - como todas as adaptações e ajustes ao local - seja devidamente aplicada. Além do mais, este princípio sendo cumprindo já demonstraria que a apropriação do BCD pela comunidade na continuidade se dará de forma mais rápida. Com base neste princípio, Silva Júnior (2007, p. 43-44) alerta que dos três novos BCD avaliados, dois deles (Banco BANCART, de Irauçuba, e o Banco Paju, de Maracanáu), estiveram bem alicerçados neste princípio quando fundados. Já o mesmo não foi percebido em Maranguape, onde o Banco BEM (Banco dos Empreendedores de Maranguape para não confundir com o Banco Bem, de Vitória/ES) “não está bem caracterizado como banco comunitário. […] a prefeitura do município tem uma forte inserção no banco e a instituição que deveria gerir o banco (Uma associação de associações de um território com mais de 10 municípios) não tem sido atuante” (SILVA JÚNIOR, 2007, p. 43).

Finalmente, os avaliadores consideraram que dos outros quatro BCD (Banco Palmas, Banco Serrano, Banco PAR e Banco BASSA), três foram efetivamente constituídos firmados neste princípio. Já o Banco BASSA, como explana Silva Júnior (2007, p. 43), “está vinculado ao

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Fórum dos Assentamentos de Santana de Acaraú e tem a particularidade de ter sua sede na cidade, mesmo estando relacionado aos assentamentos de Santana”. Ou seja, é um BCD de assentamentos da zona rural do município, mas está localizado na sede. Isto demonstra uma desterritorialização e, por conseguinte, uma dificuldade na apropriação do BCD pela comunidade. Também não parece conveniente, por dificultar suas operações e gestão, um BCD vinculado a várias comunidades dispersas em um mesmo município. Talvez, isto também seja motivo para justificar a informação prestada no final da subseção anterior que o BASSA seja destes BCD o único que não se encontra mais em operação. Então, se apreende que o princípio da mobilização endógena do território é crível para sugerir se um BCD que foi edificado sob sua égide apresenta mais possibilidade na continuidade ser percebido fielmente como um BCD.

No tocante ao segundo princípio, a hibridação de princípios econômicos pode ser traduzida como na diversificação das fontes de captação de recursos e da oferta de serviços pelos bancos comunitários de desenvolvimento, combinando simultaneamente as relações de troca de natureza mercantil com as de caráter redistributivas, com as de base reciprocitárias e de práticas da chamada economia da domesticidade. Os investigadores apontaram que dos sete BCD, quatro estão nivelados com o que preconiza este princípio: o Banco Palmas, o Banco Serrano, o Banco BANCART e o Banco Paju. Por sua vez, o Banco BASSA (em processo de retomada do funcionamento na época, após mudança de sede, auência de apoio da prefeitura municipal e da paralisação no uso de moeda social), o Banco PAR (fragilizado pela descontinuidade do uso da moeda social, pelo enfraquecimento na relação com os órgãos do poder público e pela pouca atuação do Instituto Palmas na assessoria ao BCD) e o Banco BEM (em função de uma descaracterização como BCD, não uso regular de moeda social e oferta apenas de serviços como correspondente bancário) não aparentavam aderência a este segundo princípio (SILVA JÚNIOR, 2007, p. 43-44, 47). No Banco BEM, por exemplo, apenas são efetuados empréstimos através das linhas do correspondente bancário. Não existe relação de identidade entre o BCD e seus usuários que produzisse relações de proximidade e mesmo este BCD não incentivava outras formas de trocas econômicas. Portanto, deste princípio também podem ser tirados ensinamentos quanto sua fiabilidade para indicar que a presença da hibridação de princípios econômicos é uma conditio sine qua non para a efetiva caracterização de um BCD. E por um caráter inerente a este princípio já fica evidente que não se deve avaliar a viabilidade de um BCD apenas tomando por requisito suas ações econômicas mercantis.

O terceiro princípio - construção conjunta da oferta e da demanda - tem uma forte articulação com o segundo quando retrata que um BCD não deve ter preocupação operacional se o produto/serviço oferecido será uma linha de crédito que vai dar um retorno econômico mais elevado que os ganhos sociais do investimento ou se será apenas cobrir os custos de operação (SILVA JÚNIOR, 2007, p. 39). Outrossim, este princípio também conforma que o BCD deve orientar os tomadores que o crédito tem que ser utilizado para produtos e serviços em razão da demanda do público da comunidade e focado no desenvolvimento socioeconômico do território. Diante disto, a constatação da avaliação do LIEGS/UFCA é que os mesmo quatro BCD que foram considerados ajustados ao segundo princípio estavam também em forma com o este terceiro. Os outros três BCD, de acordo com Silva Júnior (2007, p. 47), ou estavam em recuperação de suas operações, como os casos dos Bancos BASSA e PAR, ou suas linhas de crédito de correspondente bancário e sem qualquer vinculo identitário com a população não permitiam que se orientasse a construção da oferta e da demanda no território. Pode-se ultimar, dessa maneira, que este princípio assegura que um BCD em processo de implantação e consolidação que não conseguir estabelecer ações para equilibrar oferta e demanda em seu território não cumprirá um dos seus principais propósitos.

Já o quarto e último princípio, garantia e controle baseados nas relações de proximidade e confiança mútua, representa que um banco comunitário de desenvolvimento sustenta as suas operações de concessão de crédito reforçando os laços sociais dos moradores do território onde o BCD operava. A reputação do tomador de crédito no BCD não é julgada pela ausência do nome do tomador nas listas de restrições ao crédito, como Serasa e SPC, mas na confiança estabelecida pelas relações entre os vizinhos e no comércio do território. Sendo de certa maneira redundante, como apenas o Banco Palmas, o Banco Serrano, o Banco BANCART e o Banco Paju funcionavam regularmente como BCD - naquele momento da pesquisa, eram estes BCD que colocavam em prática esse quarto princípio. Mesmo o Banco BEM disponibilizando crédito, o fato de funcionar substancialmente somente como um correspondente bancário não o permitia praticar esse princípio em suas ações de concessão de crédito. É isso o que nos apresenta Silva Júnior (2007, p. 43-44, 47). Indo além dos princípios e observando a avaliação geral sobre os sete BCD, este autor retratou que existiam problemas comuns a todos que foram elencados assim:

1. Gestão (necessidade de capacitação dos gestores dos bancos); 2. Fundo de Crédito (necessidade de parcerias para captação dos recursos); 3. Sustentabilidade (necessidade de desenvolver produtos que reduzam a dependência dos projetos governamentais); 4. Moedas Sociais (necessidade

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de lastro para emissão e de transferência de confiança que garanta a circulação) (SILVA JÚNIOR, 2007, p. 47).

Com relação à avaliação global empreendida pelo LIEGS/UFCA acerca do Projeto de Apoio à Implantação e Consolidação de Bancos Comunitários, Silva Júnior (2007, p. 49) afirma que “o projeto atingiu parte de suas expectativas neste segundo ano. […] a implantação dos novos bancos foi concluída com sucesso, mas a consolidação dos já implantados – salvo o Banco Palmas – ainda precisa de mais investimento em assessoria e capacitação”. E o autor adiciona para se consagrarem como política pública ainda havia um longo caminho a ser percorrido, pois faltaria “uma difusão do conceito, o estabelecimento de um marco jurídico, a regulamentação dos bancos comunitários junto ao sistema financeiro nacional e a integração entre ações das várias secretarias do Governo Federal” (SILVA JÚNIOR, 2007, p. 39). Passados nove anos desta análise é factível expressar que a difusão do conceito está no patamar mais próximo de ter sido plenamente alcançado. A integração ente ações das secretarias do Governo Federal para fomenta as experiências de BCD não aconteceu de modo absoluto, mas em iniciativas esporádicas. Finalmente, nem o marco jurídico nem a regulamentação dos BCD junto ao sistema financeiro nacional aconteceram até este ano de 2016. Concluindo, esta avaliação do Projeto de Apoio à Implantação e Consolidação de Bancos Comunitários, mesmo que não tenha apontado indicadores que possam ajudar nesta tese, a avaliação comunica aqueles quatro princípios que denotam que uma avaliação de BCD deve, acima de tudo, privilegiar um espectro relacionado à sua atuação social do que a manifestação dos interesses extremadamente direcionados a sua viabilidade social.