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e deve ter intenção formativa. É uma atividade que deve estar em consonância com os princípios e critérios refletidos na coletividade e referenciados no projeto político pedagógico da unidade escolar, na proposta curricular e nas convicções acerca do papel social da instituição. Sua realização envolve tanto aspectos técnicos quanto políticos, na medida em que os protagonismos são respeitados. Desse modo, deve propiciar a inclusão, o diálogo, a construção da autonomia, a mediação, a participação e a responsabilidade coletiva, além de possibilitar os ajustamentos do ato de ensinar, que deve ir se moldando às demandas da comunidade escolar e consequentemente da aprendizagem (FERNANDES e FREITAS, 2007).

Segundo Distrito Federal (2012), a avaliação deve estar voltada para as aprendizagens – com intenção formativa –, num processo contínuo e com procedimentos metodológicos diversos. Os procedimentos avaliativos que devem ser utilizados para averiguar as aprendizagens ao longo do processo são descritos nas Diretrizes Operacionais da EJA e ratificados nas Diretrizes de Avaliação Educacional. São eles: avaliação por pares, portfólio/EaD webfólio ou portfólio virtual, registros reflexivos, autoavaliação, seminários, pesquisas e trabalhos em grupo, testes e provas – até 50% da nota, numa perspectiva formativa.

E tanto a definição do processo avaliativo quanto os procedimentos avaliativos descritos acima se encontram no Projeto Político Pedagógico da Escola Carandá-Guaçu. De acordo com o PPP, a Escola utiliza-se das seguintes formas de avaliação: diagnóstica, das aprendizagens e institucional. E dialoga com uma ótica de educação ampliada – para além da escolarização –, reconhecendo a educação como um “direito universal de aprender ao longo da vida” (DISTRITO FEDERAL, 2012, p. 83-84), capaz de transformar jovens e adultos em cidadãos autônomos, críticos e ativos socialmente.

Segundo a entrevista com Aida (vide APÊNDICE D, página 181) e os educadores que responderam ao questionário sobre a prática avaliativa (vide APÊNDICE C, página 180), a escola faz uso dos seguintes procedimentos avaliativos: observações, relatórios descritivos, provas (escritas, oral, com/sem consulta, em grupo, individual, dissertativa, objetiva, etc.), trabalhos (pesquisa, pesquisa de campo, elaboração de materiais didáticos, seminários, etc.), autoavaliação, participação nas aulas, projetos, dentre outros. Esses dados serão apresentados com mais minúcia no capítulo 4.

Os/as educandos/as são informados/as sobre o resultado do seu progresso por meio da correção das provas escritas e pelo Registro Avaliativo (RAv)41. Essa informação se encontra no Projeto Político Pedagógico da Escola (2017), nas diretrizes Operacionais da EJA (2014) e nas Diretrizes da Avaliação Educacional (2014).

Corazza (2001) ratifica que os pareceres descritivos produzidos pelos educadores acerca do desempenho dos educandos (a exemplo do RAv) é geralmente tratado como um instrumento à parte daqueles utilizados ao longo do processo avaliativo, quando eles próprios deveriam ser utilizados com tal propósito. Para que o trabalho se desenvolva numa perspectiva formativa, o uso desses documentos deve englobar:

a) autoavaliação e registros descritivos feitos pelos/as alunos/as sobre seus desempenhos; b) anotações sistemáticas – diárias, semanais e mensais –, feitas pelos professores em seus diários de classe, onde registram observações sobre si próprios e sobre as crianças; c) escrita de pareceres, parciais ou finais, realizados por pais, mães, familiares e responsáveis pelos/as alunos/as; d) fichas escritas para reuniões pedagógicas – ou escritas durante suas realizações –, contendo apontamentos sobre trabalho de sala de aula, a turma de cada aluno/a (CORAZZA, 2001, p. 25).

Segundo Freitas (2008), a avaliação de caráter emancipatório deve trabalhar com: observação, registro e reflexão constante, concepção de erro construtivo, autoavaliação e conselho de classe participativo, como formas de trabalhar a co-responsabilização no processo de aprendizagem.

Segundo Oliveira e Pacheco (2008), tudo que se desenvolve na sala de aula resultará no processo avaliativo. Sendo assim, a avaliação é parte integrante do trabalho pedagógico e tem uma intencionalidade que precisa dialogar com as especificidades do público alvo. Por isso é tão importante o diálogo entre a organização curricular da EJA e os mecanismos de avaliação empregados em sala de aula, para que se tenha um ensino mais consistente com as demandas dos/as educandos/as, tornando-os agentes ativos no processo de aprendizagem.

Freitas (2008) propõe uma avaliação como prática investigativa, a fim de se compreender, por meio de uma “reflexão-ação-reflexão” (FREITAS, 2008, p. 80), o que foi aprendido pelos estudantes, levando-se em consideração o papel das pequenas mudanças, as soluções individualizadas e a impossibilidade da previsão exata, tornando essa investigação mais dinâmica e flexível. E, para tal, é necessário diálogo constante entre os saberes – formais e informais –, por meio de uma prática dialógica, que trate o erro como um “objeto de investigação, no sentido de compreensão, acompanhamento e problematização do processo de

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O RAv – Registro Avaliativo – é um formulário usado pelos educadores da SEEDF para descrever o processo de aprendizagem dos/as educandos/as nas séries iniciais do ensino fundamental, numa perspectiva de avaliação formativa.

aprendizagem” (FREITAS, 2008, p. 80). É imprescindível a interação dos educandos com os educadores e entre seus pares, bem como a mediação do educador como forma de problematizar e orientar as discussões. Assim, os registros avaliativos da evolução dos educandos são fundamentais, ideia compartilhada tanto por Corazza (2001) quanto por Hoffmann (2014).

A seguir, trago as análises dos dados produzidos durante a última fase da pesquisa-ação, interrelacionando-os com os documentos oficiais da SEEDF e com os estudos de diversos autores, tendo como objetivo analisar as contribuições da autoavaliação para as aprendizagens de estudantes da terceira etapa do primeiro segmento da EJA.

4 A AUTOAVALIAÇÃO E A COMPREENSÃO DO PROGRESSO DAS APRENDIZAGENS

Apresento, neste capítulo, as concepções dos/as educandos/as e educadores sobre o processo avaliativo na Escola Carandá-Guaçu e ressalto a autoavaliação como aliada da avaliação formativa, bem como suas contribuições para as aprendizagens de estudantes da terceira etapa do primeiro segmento da EJA. Os dados produzidos foram categorizados e apresentados de forma a dialogar com os objetivos específicos da pesquisa. Dessa forma, o capítulo foi dividido em três subcapítulos: o processo avaliativo na Escola Carandá-Guaçu, a autoavaliação na Escola Carandá-Guaçu e as concepções dos/as educando/as sobre as intervenções autoavaliativas.

Em cada subcapítulo apresento as concepções dos interlocutores da pesquisa, problematizando e interrelacionando-as com as falas de autores trazidos nos capítulos anteriores, ao mesmo tempo em que busco o diálogo com outros autores, a fim de contemplar as falas dos sujeitos da pesquisa, que exigiram um aprofundamento em questões como a alfabetização e a perspectiva histórico-cultural.