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Diante dos objetivos desta pesquisa, que aborda, por meio da autoavaliação, as concepções dos/as educandos/as (da terceira etapa do primeiro segmento da EJA) e dos educadores sobre o processo avaliativo na escola pesquisada, optei pela abordagem qualitativa de pesquisa, a fim de obter uma visão mais ampla do fenômeno autoavaliativo no processo de ensino e aprendizagem.

A opção por uma abordagem qualitativa justifica-se por ser essa a mais apropriada aos estudos das ciências sociais, permitindo o estudo da experiência humana, sobretudo por adequar-se aos “... produtos das interpretações que os humanos fazem durante suas vidas, da forma como constroem seus artefatos materiais e a si mesmos, sentem e pensam” (MINAYO, 2008, p. 57).

O método utilizado é o da pesquisa-ação, que é empregado pelo GENPEX e se adequa a essa pesquisa, por privilegiar a interação dos sujeitos envolvidos e propiciar a reflexão constante sobre o processo, em prol de uma transformação individual e social. Esse método prescinde da neutralidade das pesquisas tradicionais, valendo-se de uma perspectiva dialética de ação-reflexão-ação.

Por se tratar de pesquisa de cunho social que privilegia o caráter subjetivo das interrelações, apreendido por meio das impressões e sentidos de seus interlocutores, ela possui diferentes enfoques conceituais e metodológicos. Dessa forma, apresento a seguir as

concepções de René Barbier (2002), Michel Thiollent (1997) e André Morin (2004) acerca dessa abordagem.

A pesquisa-ação, para Barbier (2002), tem um caráter mais existencialista e, por isso, é encarada como uma concepção filosófica de existir e de “fazer pesquisa” interdisciplinar. Desenvolve-se coletivamente e tem como objetivo uma adaptação relativa do sujeito ao mundo. É um processo dinâmico, construído pelo pesquisador a partir de elementos interativos da realidade. O processo ocorre de forma entrecruzada, em espiral, pois os elementos que o constituem estão em constante interação, influenciando-se e complementando-se mutuamente. Engloba uma visão complexa do ser humano, que é entendido como uma “totalidade dinâmica, biológica, psicológica, social, cultural, cósmica, indissociável” (BARBIER, 2002, p. 87) e que, na interação com o outro, é capaz de melhorar a si mesmo e a própria realidade.

A pesquisa-ação, na concepção de Thiollent (1997), é um método que se fundamenta numa base empírica de caráter político-social, voltado para a transformação. É uma pesquisa que se realiza por meio de ação ou resolução de um problema coletivo, que surge do coletivo e exige maior envolvimento, interação e cooperação por parte dos pesquisadores e dos participantes. Tem como objetivo resolver, ou pelo menos esclarecer, a situação observada, aumentando o conhecimento do pesquisador e a consciência do grupo considerado.

A pesquisa-ação, para Morin (2004), é um método que busca, por meio de uma ação estratégica e pela implicação dos atores, a criação do saber numa relação dialética e constante entre teoria e prática, pesquisa e ação. Dentro de uma perspectiva construtivista, o autor discorre sobre uma Pesquisa-ação Integral e Sistêmica (PAIS), que se utiliza do pensamento sistêmico “para modelar fenômeno complexo ativo em um ambiente igualmente em evolução, no intuito de permitir a um ator coletivo intervir para induzir uma mudança” (MORIN, 2004, p. 91). Desse modo, a mudança deve ser estratégica e planejada em espirais sucessivas, pois a realidade se constitui de múltiplas construções mentais, em que o pesquisador e o objeto pesquisado se confundem em suas interações, desvelando concepções que, se elaboradas no plano da hermenêutica e comparadas dialeticamente, levam a um consenso.

A PAIS demanda uma transformação recíproca da ação, do discurso e das relações sociais. É produzida individualmente numa prática coletiva, eficaz, instigadora e engajadora. É um tipo de pesquisa desenvolvida in loco e dividida, segundo Barbier (2002) e Morin (2004), em cinco etapas: o contrato – aberto e formal, mas não estruturado; a participação – cooperativa, podendo levar à co-gestão; a mudança – indutiva, transformativa; o discurso – espontâneo, esclarecido e engajado; e a ação – individual, individual/grupal, grupal/coletiva e comunitária.

Morin (2004), Barbier (2002) e Thiollent (1997) defendem que a definição do problema e os objetivos da ação devem ocorrer de forma coletiva, por meio de um contrato formal ou informal entre os pesquisadores e os sujeitos da pesquisa. Esse contrato informal tem sido estabelecido entre a Escola Carandá-Guaçu e o GENPEX todo ano, desde 2015, quando a proposta de trabalho é apresentada para a direção e para os educadores. Nessa reunião, são definidos planos de ação que atendam às necessidades da comunidade escolar.

Esses mesmos autores falam da importância da implicação do ator pesquisador ou pesquisador participante (Morin) ou pesquisador coletivo (Barbier) – o principal instrumento da pesquisa – e também da importância do diálogo, do contrato, da escuta sensível (Barbier), do uso do diário de bordo (Morin e Thiollent) ou diário de itinerância (Barbier) e do processo que ocorre em espiral. Para Morin (2004), a base da espiral é mais larga, devido à complexidade do contexto, e vai se estreitando à medida que os atores vão interagindo e novas significações vão se constituindo. Esse processo mescla planejamento e ação, combinados com uma constante coleta de informações, em que “os autores de pesquisas e os atores sociais se encontram reciprocamente implicados: os atores na pesquisa e os autores na ação” (MORIN, 2004, p. 57). A pesquisa-ação entende que deve haver uma participação de todos os envolvidos no processo, desde a elaboração da problemática da ação, até a busca de soluções e de explicações.

Segundo Thiollent (1997), a pesquisa-ação divide-se em quatro etapas principais: fase exploratória, fase principal, fase de ação e fase de avaliação. Na fase exploratória, busca-se, juntamente com os pesquisadores e atores, o entendimento do cenário a ser pesquisado (o contexto escolar), a fim de se obter um diagnóstico preliminar dos problemas existentes. É na fase principal que são utilizados os principais instrumentos de pesquisas (questionários e entrevistas individuais e coletivas), com o intuito de se obter um diagnóstico mais preciso do problema a ser estudado, num processo constante de ação-reflexão-ação. Na fase de ação, busca-se trabalhar com medidas práticas, para se obter os objetivos almejados após a reflexão sobre os dados encontrados. E, por último, tem-se a fase de avaliação, em que se verifica os resultados alcançados e suas consequências para o contexto social (THIOLLENT, 1997).

Ao longo dessas quatro fases, os dados são produzidos e analisados, como dito anteriormente, num processo cíclico e em espiral. Por ser a pesquisa-ação uma pesquisa de cunho social, construída ao longo de todo o processo juntamente com os sujeitos da pesquisa, considero que a apresentação dos atores sociais e do lócus da pesquisa faz-se necessária, antes mesmo da descrição das intervenções de campo e dos dispositivos utilizados. Desse modo, apresento-os na seção seguinte.