• Nenhum resultado encontrado

CAPÍTULO IV A AÇÃO: DO SABER INGÊNUO AO SABER CIENTÍFICO

5.1 A biblioteca escolar na Espanha e na Catalunha

A cidade de Barcelona sempre esteve ligada aos movimentos culturais e ao fomento à leitura. Mesmo antes de ser Comunidade Autônoma, já apontava para iniciativas precursoras no país, principalmente em relação à formação do leitor infanto-juvenil, conforme Colomer (2003, p.28):

[...] em 1908 já se debatia na Câmara Municipal de Barcelona a necessidade de dotar as bibliotecas públicas de sessões infantis. Em 1918 a Mancomunitat inaugurou as três primeiras Bibliotecas Populares da Catalunha, que sempre tiveram sessões infantis, as primeiras de todas a Espanha. Logo, em 1921, a Câmara Municipal de Barcelona criou bibliotecas escolares circulantes destinadas às escolas da cidade.

Das bibliotecas escolares circulantes até a regulamentação da biblioteca na escola foi um longo percurso. Não se pode perder a perspectiva da influência dos movimentos mundiais em prol da leitura, principalmente na década a partir da 2a Guerra Mundial com movimentos de criação de espaço

para leitura de crianças e jovens. Conforme Colomer (2003, p.25-26), em 1953, houve a criação do International Board on Books for Young People (IBBY) - Organização Internacional para o livro infantil e juvenil. Nos anos de 1960 a Federação Internacional de Associações de Bibliotecas (IFLA) destinará uma seção aos livros infantis.

Esses e outros eventos contribuíram para disseminar a importância da leitura na formação das crianças e jovens. E na Catalunha não foi diferente e a partir da década de 70 do século passado houve uma intensificação dos esforços a fim de promover a leitura. Para Colomer (2003, p.30):

A consciência de que era preciso considerar a leitura de ficção na escola foi se ampliando durante as décadas de sessenta e setenta, para passar a lugar-comum durante os anos oitenta, quando se generalizaram conceitos como os de “prazer de ler” ou “incentivo à leitura” nos ambientes educativos.

Documentos que regulamentaram a biblioteca escolar são escassos, de acordo com a Fundación Germán Sánchez Ruiperéz (2005, p.54), embora se possam encontrar menções diretas e indiretas, na legislação sobre o tema. Por exemplo, a Lei Orgânica 1/1990, do Sistema Educativo Espanhol, aponta em seu preâmbulo a necessidade de, na sociedade atual, oferecer informação e conhecimento e que “o sistema educativo terá como princípio básico a educação permanente. Portanto, preparará os alunos para aprenderem por si mesmos”.

Em 10 de dezembro de 2003 foi estabelecido pelo Real Decreto 1537/2003 que todas as escolas teriam a obrigatoriedade da existência de uma biblioteca que “contribuísse para o cumprimento dos objetivos curriculares da escola e que dispusesse de fundos bibliográficos e computadores suficientes para agilizar o fomento de leitura nos alunos”. Mais tarde, a Lei Orgânica 10/2003, de 23 de dezembro, de Qualidade da Educação apontava que “os alunos apresentam deficiências de expressão oral e escrita relacionadas com a falta do hábito de leitura” e na busca de solução para esse problema indica “um melhor funcionamento das bibliotecas escolares” (FUNDACIÓN GERMÁN SÁNCHEZ RUIPERÉZ 2005, p.54).

Na Catalunha, e em conseqüência, em Barcelona, é a partir dessas leis que haverá um melhor delineamento da incumbência da Biblioteca Escolar no processo de formação de leitores:

Nas instruções sobre a organização e o funcionamento das escolas Infantil e Primária do período 2004-2005 estabelece: A organização da biblioteca de sala, o uso planejado da biblioteca escolar, a criação de espaços de intercâmbio para fazer comentários e recomendações de leitura, entre outras atividades, favorecem o gosto pela leitura e contribuem para adquirir o hábito leitor. O uso e o manuseio freqüentes de obras literárias e obras de divulgação científica são particularmente importantes para desvelar nos meninos e nas meninas o gosto pela leitura (FUNDACIÓN GERMÁN SÁNCHEZ RUIPERÉZ 2005, p.74).

O Conselho de Educação da Catalunha apresentou, em 2005, o Puntedu7, com o objetivo de “reformular o papel das bibliotecas escolares”. Nesse programa cuja abrangência abarca 2004-2007, a BE é concebida como “espaço de recursos e de aprendizagem do uso das novas tecnologias nas escolas que pretende melhorar a compreensão leitora e o gosto pela leitura dos alunos” (FUNDAÇÃO GÉRMAN SÁNCHEZ RUIPERÉZ, 2005, p.75).

5.1.1 Barcelona, a capital da Comunidade Autônoma da Catalunha

A região da Catalunha, situada a nordeste da Espanha, possui uma história própria, um modo diferente de ser espanhol, aliás, denominação que não é bem vista pelos nascidos naquela região, pois vêem a Catalunha como uma nação, uma vez que possui cultura e idioma próprios. A História Catalã está recheada de lutas, guerras e tentativas de independência, mas todas elas foram sufocadas pelo poder espanhol. Nada disso fez com que o catalão diminuísse o orgulho por sua terra e sua cultura.

Atualmente, a região é muito rica e pujante, destaca-se no perfil nacional. A Catalunha é uma das principais locomotivas da Espanha, tanto na economia quanto na cultura. A região é bilíngüe, fala-se o catalão e o espanhol, este mais por exigência espanhola que por vontade da população da região.

7

Segundo o catálogo El Palau de la Generalitat (1999), Barcelona é capital da Catalunha e sedia a Generalitat, como é chamado o governo dessa Comunidade Autônoma. É uma das cidades mais importantes do Mediterrâneo. Possui a população de quase dois milhões de habitantes. Inicialmente chamada Barcino, a cidade foi fundada pelos romanos na época do Imperador Augusto (27 aC - 14 dC). Ainda é possível encontrar ruínas de construções do século III e princípios do século IV. Também é possível identificar construções medievais que sinalizam para o esplendor medieval vivido pela cidade nessa época.

A cidade é uma das capitais culturais da Europa. Destaca-se pelo turismo e por seu empreendedorismo industrial. Por outro lado, a arquitetura modernista da cidade, um misto de sinuosidade réptil com o neobarroco, informa subliminarmente o modo de ser do povo barcelonês, que aparentemente mostra-se por completo, mas que só com o tempo é que se pode partilhar de sua convivência e intimidade.

Além de ser um dos pólos editoriais da Espanha, a cidade mantém uma das estratégias mais atuantes na política pública de leitura. Ao todo, em Barcelona, são 30 bibliotecas distribuídas nos vários bairros da cidade. A estrutura dessas bibliotecas impressiona pelo tamanho, pelo acervo, pela praticidade e ausência de burocracia para usufruí-las. Todas elas contam com uma seção para as crianças muito bem organizada.

O fomento à leitura na região de Barcelona compõe-se de alguns aspectos, dentre eles, oferecer suporte às bibliotecas da cidade e dos municípios vizinhos. Conforme Montserrat e Ventura (2002, p.9), esse suporte se dá por meio da construção de bibliotecas, no assessoramento técnico, na aquisição dos fundos documentais e na manutenção do sistema de informática. Em 2001, a rede contava com 143 bibliotecas e oito ônibus-biblioteca. Aproximadamente 1/4 das bibliotecas estão situadas na cidade de Barcelona.

5.2 A mediação de leitura na biblioteca escolar em Barcelona: uma