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Os programas nacionais de fomento à leitura e rede municipal de ensino de

CAPÍTULO II A LEITURA NO BRASIL

2.3 Os programas nacionais de fomento à leitura e rede municipal de ensino de

Da década de 1980 para cá houve uma intensificação nos programas de distribuição de livros, aumento da publicação de livros direcionados ao público infanto-juvenil, além da formação de grupos regionais e nacionais de estudo e pesquisa acerca do fomento à leitura e à formação do leitor. Também em Londrina houve na Secretaria Municipal de Educação, pouco a pouco, a influência dos movimentos nacionais na busca de estratégias que levassem à leitura.

Em análise dos programas de Língua Portuguesa do currículo municipal de Londrina, para 3a e 4a séries, da década de 60 à década de 90 do século passado (SILVA, 2001, p.36-58), constatei a evolução na maneira de conceituar a leitura, a literatura e a formação do leitor. O programa do final da década de 60 não se referia à literatura especificamente, mas citava que o aluno deveria ser levado ao “uso da leitura para a recreação e informação”. Dessa forma, a leitura era recomendada de um modo genérico, havia maior preocupação com aspectos mecânicos da leitura, tais como a leitura sem mexer os lábios ou emitir sons.

No Guia Curricular de 1979, a disciplina de Língua Portuguesa era chamada de Comunicação e Expressão e ainda não havia designação de fomento à literatura. Apenas permanecia a citação vaga de “adquirir o gosto pela leitura e a capacidade de usá-la como instrumento de informação e recreação”, como indicara o programa da década anterior.

Na década de 1970 houve a criação das primeiras salas de leitura da rede municipal de ensino de Londrina, seis ao todo. Em 1971, foi instalada a primeira sala e, em 1973, pela Lei/Decreto No 761, foram criadas mais três salas de leitura, como eram denominadas as bibliotecas escolares. Em 1974, criou-se mais um sala de leitura e, em 1978, outra foi instalada (cf. Anexo A).

No Programa Curricular de 1987, a abordagem à leitura começa a mudar, já existia a orientação para ler textos literários (em prosa e verso). Nesse programa houve a utilização menos genérica dos termos que se referiam ao texto literário e sua veiculação na escola, embora ainda permanecessem as orientações para transformar texto em pretexto para atividades curriculares do ensino de Língua Portuguesa.

Em 1989, comecei a trabalhar na Rede Municipal de Ensino de Londrina, era professor regente de 1a a 4a série. Na época, a escola estava situada numa das periferias mais violentas da cidade. Na escola não existia biblioteca, o acervo estava acondicionado uma mistura de almoxarifado, despensa e depósito. Não havia espaço suficiente para todas as seções que a escola precisava.

A escola recebia livros do Governo, mas não possuía espaço adequado para acondicioná-los, por isso, ficavam amontoados na sala-

almoxarifado. Os alunos não podiam emprestar os livros, pois existia o medo de que pudessem estragá-los ou perdê-los. Assim, permaneciam intactos, sem chegar a quem eram destinados.

Posteriormente a escola usou a estratégia de deixar com cada sala de aula uma parte do acervo para que os alunos lessem no período de aula. Se o professor emprestasse o livro deveria assumir a responsabilidade pelo livro, caso o aluno o perdesse. Assim, quase nenhum professor emprestava livro para os seus alunos.

Nessa década houve um dos maiores números de instalação de salas de leitura na rede municipal, 26 ao todo. A Lei/Decreto Nº. 3733 de 09/10/84 criou 12 salas de leitura. De 1986 a 1988, foram instaladas mais 14 salas de leitura (cf.Anexo A).

No início da década de 90, mais precisamente em 1992, houve a publicação de outra proposta curricular da rede municipal de ensino de Londrina, nela na seção de Língua Portuguesa havia uma subseção exclusiva para leitura que se subdividia em três modalidades: leitura-prazer, leitura- pretexto, leitura-busca de informação. Havia a inquestionável distinção entre leitura literária e não literária, ou seja, leitura para fruir, o texto literário; e leitura para buscar informações, para os exercícios de língua portuguesa. A proposta estava embasada por especialistas que influenciaram grande parte do desenvolvimento de pesquisas de 1980 para cá, dentre eles destacamos: João Wanderley Geraldi, Marisa Lajolo, Regina Zilberman, Eliane Yunes e Glória Pondé.

Nesse período, eu estava formado em Letras e atuava no

ensino fundamental, mas a prática da sala de aula impelia-me ao estudo voltado à mediação de leitura na escola, principalmente a literária.

Na década de 1990 o Governo Federal enviou à escola coleções de livros que estavam mais no âmbito do leitor adulto. Para crianças foram poucos os títulos enviados.

No Estado do Paraná, no final da década de 90, cada escola recebeu uma verba destinada para compra de livros. Cabia à escola, mediante lista de títulos enviados pelo governo estadual, selecionar o que desejaria adquirir para, no dia predeterminado, ir ao centro de formação estadual de professores, localizado na cidade de Faxinal do Céu/PR, e proceder à compra.

Em meados da década de 90, as escolas começaram a receber paulatinamente livros para compor sua biblioteca. Não importava se a escola tivesse ou não espaço físico destinado a ela e nem existiam determinações para isso. Mas na rede municipal de Londrina, pela Lei No 771 de 01/11/1995 (Anexo A), foram criadas mais nove salas de leitura. Todavia, na escola em que eu trabalhava ainda lutávamos para ter um espaço destinado à biblioteca, o que conseguiríamos posteriormente.

Em 1999, diante da realidade de meu dia-a-dia na escola, comecei a pesquisar acerca da mediação de leitura literária que era realizada nas escolas da rede municipal. A pesquisa revelou-me um horizonte além da leitura literária. Mostrou-me que era preciso uma composição de instituições e procedimentos para formar leitores; dentre eles estavam os cursos de formação do professor e a utilização da biblioteca.

Pude constatar que nem todas as salas de leitura funcionavam, que nem todas as escolas emprestavam livros para os alunos, nem realizavam a Hora do Conto. Além disso, as orientações para o trabalho a ser realizado na biblioteca da escola não eram feitas diretamente pela Secretaria Municipal de Educação. Portanto, havia muito a se fazer. Então, surgia aí o embrião para a intervenção que iria propor para a rede municipal nos anos posteriores, como é o que apresentarei a seguir.