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Escola e Biblioteca de Orlandai (Col-legi di Educaciò Infantil i Primària Orlandai)

CAPÍTULO IV A AÇÃO: DO SABER INGÊNUO AO SABER CIENTÍFICO

5.2 A mediação de leitura na biblioteca escolar em Barcelona: uma amostragem

5.2.1 Escola e Biblioteca de Orlandai (Col-legi di Educaciò Infantil i Primària Orlandai)

A Escola Orlandai está localizada em Sarrià, bairro da região noroeste de Barcelona. A infra-estrutura do bairro é muito boa, a aparência é muito agradável: ruas mais largas e bem limpas que as centrais. A aparência das moradias corresponderia no Brasil ao que se chamaria a de classe média em ascensão.

Na região próxima à escola Orlandai há muitas outras escolas, públicas e particulares, cujo padrão arquitetônico impressiona a qualquer latino- americano, mais pelo aspecto da organização espacial do prédio que pela suntuosidade. As escolas mantêm um aspecto limpo, são bem construídas, com utilização de materiais de qualidade, muitas janelas, no entanto, sem ostentar.

Quando cheguei a Sarrià pela primeira vez, antes de encontrar Orlandai, as escolas desse bairro me pareceram diferentes das escolas que encontrei mais próximo às regiões centrais, que eram mais fechadas em sua fachada externa. No entanto, ao chegar a Orlandai, deparei-me com uma fachada de linhas geométricas muito modernas, porém, totalmente fechada ao exterior.

A concepção arquitetônica da escola em Barcelona, acredito que seja uma característica espanhola, é estar fechada para o exterior, ou seja, com pouca visibilidade de quem vê de fora. Os portões de entrada não mantêm a distância que em geral encontramos nas escolas brasileiras, principalmente as londrinenses. Outra característica é que as escolas possuem arquitetura mais vertical que horizontal, não são como as nossas. Para se ter uma idéia do aspecto geral da escola é preciso entrar no pátio; esse era o caso da escola Orlandai.

Foto 25 - Fachada da Escola Orlandai

Orlandai é o que chamaríamos no Brasil de escola estadual de educação infantil e ensino fundamental. A escola contava com 252 alunos e era considerada modelo na região, devido entre outros aspectos, aos seus programas pedagógicos: aulas de psicomotricidade, idioma, música, laboratório de novas tecnologias, informática, biblioteca, educação física e teatro.

Em Orlandai busquei informações a respeito da mediação de leitura realizada por meio da biblioteca escolar. Assim, observei dois aspectos básicos: o mediador de leitura e ações de mediação de leitura na biblioteca escolar.

A biblioteca da escola Orlandai estava localizada logo na entrada da escola. A planta da biblioteca era sextavada. Era muito bem estruturada, tanto arquitetonicamente quanto no mobiliário. Aliás, acredito que em Barcelona conheci os móveis mais funcionais que havia visto para bibliotecas destinadas a crianças.

Foto 26 - Biblioteca de Orlandai

O acervo estava disposto de duas maneiras distintas: em prateleiras maiores e menores. Logo na entrada da biblioteca que tinha cerca de média 50m2, encontramos as prateleiras menores. Eram cinco ao todo e tinham o aspecto de balcão de fórmica branca com, aproximadamente, um metro de comprimento por 90 cm de altura. Possuíam divisões, ora com bandejas para acondicionar livros, ora misto de bandejas e compartimentos para outros objetos. As prateleiras possuíam rodinhas que davam mobilidade para variar sem esforço a disposição dos móveis no ambiente.

Foto 27 - Biblioteca de Orlandai: estantes pequenas

Os livros acondicionados nessas prateleiras estavam organizados de modo mais informal, inclusive era uma das áreas que os alunos

mais gostavam de ficar, pelo que observei. Assim, as estantes estabeleciam de modo bastante sutil, a distinção entre uma zona informal e outra mais formal constituída pelas estantes maiores e as mesas. Essa zona dava o aspecto de mais intimidade e conforto na sala, havia almofadas quadradas, como assentos de bancos, dispostas num tapete. Além disso, as estantes formavam uma pequena divisória de modo que a criança podia sentir-se mais reservada, sem, no entanto, perder a visão do que acontecia no ambiente. À esquerda da entrada havia apenas um computador para que fossem realizados os empréstimos, pois o acervo possuía código de barras e eram as próprias crianças que utilizavam o leitor de código para realizar os empréstimos.

Adiante, no centro da sala, havia duas mesas grandes de design moderno com 14 cadeiras cada uma, suficientes para os alunos da turma, uma vez que a média de alunos no primário é de 25 alunos por turma. Ao redor das mesas, da parede esquerda, contornando até chegar à 1/3 da parede do lado direito, estavam dispostas 12 prateleiras, com seis bandejas cada uma. A regulagem das bandejas possuía duas alturas diferentes: as três primeiras com maior espaço (aproximadamente 50 cm) e as três últimas com as medidas mais comuns (30 cm). Tal disposição se justificava devido ao tamanho dos livros infantis que geralmente possuem um tamanho que foge do convencional. Portanto, aí também estava explicitamente a preocupação com o manuseio do acervo pelos menores. Os livros das prateleiras maiores, ao todo 12, seguiam o padrão mais convencional, separados por assuntos, como por exemplo: história sagrada, mitologia, etc.

Foto 28 - Mobiliário da BE Orlandai

A escola não tinha bibliotecária formada na área; eram os professores que promoviam as atividades de leitura na escola. O trabalho mais constante com a biblioteca da escola era de duas professoras, sendo que uma delas era também a diretora.

5.2.1.1 Leitura na biblioteca de Orlandai: mediador e mediação

Em Orlandai, uma das mediadoras de leitura que realizava atividade na biblioteca era a diretora. No período da tarde, uma vez por semana, os alunos do que seria 4a série do fundamental, aqui, iam à biblioteca da escola. Liam, emprestavam livros, comentavam a respeito dos livros que leram na semana anterior. Posteriormente os 24 alunos escolhiam livros para emprestar. Os empréstimos eram feitos pelos próprios colegas que usavam o leitor de barras de códigos para registrar os empréstimos.

Fui informado pela diretora que as atividades de leitura na biblioteca estavam circunscritas ao contar histórias, registrar a história e desenhar aspectos existentes na história. Procurei saber mais sobre a prática e pude comprovar que era essa mesma a estratégia. Tive acesso a atividades propostas. Solicitei à escola que descrevesse como era encaminhada a leitura por meio da biblioteca e obtive a seguinte descrição.

A turma que acompanhei corresponderia à quarta série do ensino fundamental no Brasil, crianças de 10 e 11 anos. Eram ao todo 24 alunos, desses, quatro eram estrangeiros, filhos de imigrantes, inclusive uma brasileira que não sabia mais o português. Ao chegarem à aula a professora informou-os que deveriam falar em espanhol, pois o visitante não sabia catalão. Então foi solicitado aos alunos que falassem do livro que levaram para casa na semana anterior. Cinco crianças contaram o que tinham lido. À medida que contavam sobre a história lida, a professora ia fazendo perguntas sobre quem era o autor, quem traduziu, quando foi publicado. Após isso cada criança ficou livre para ler e posteriormente escolher os livros que emprestaria naquela semana. Após, aproximadamente, 50 minutos as crianças foram embora.

Posteriormente, elaborei um questionário e enviei à escola para que a professora responsável pelas aulas na biblioteca me descrevesse como era a mediação de leitura na biblioteca (Apêndice H) e obtive a seguinte resposta:

Quadro 7 - Mediação de leitura na BE de Orlandai

Antes de começar a aula, sempre são feitas recomendações orais pelos alunos e professores. Cada aluno completa a ficha técnica dos livros que leu e pode fazer um trabalho optativo sobre um dos aspectos do livro, tais como:

- Recomendação a algum colega explicando o porquê de sua recomendação.

- Carta ao autor cumprimentando-o, ou sugerindo alguma mudança, ou perguntando algum tipo de informação.

- Carta à bibliotecária explicando algum aspecto do livro que lhe haja interessado. - Descrição do personagem protagonista ou antagonista.

- Descrição de alguma paisagem que tenha gostado ou impressionado muito. - Mudar o final da história.

- Comentário sobre as ilustrações.

- Comentar algum fragmento do livro que, por seu vocabulário, seja especialmente irônico, divertido, enigmático.

- Resumo etc.

As informações coletadas de Orlandai reforçam a idéia do caráter pedagogizante, utilitário no uso da literatura na escola. Durante as visitas que fiz, a princípio, relutei em acreditar que eram realmente aquelas as estratégias usadas: uso de fichas para resumo, desenho, etc. Posteriormente, constatei que era uma prática usada não apenas em Orlandai, mas em Reina Violant também, ainda que de um modo menos oficial, como eram as fichas de Orlandai.