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Ao chegar à escola o grupo seria recepcionado pela direção, supervisão e professor da Hora do Conto. Cabia, hierarquicamente, ao diretor fazer essa apresentação, pois era necessário que o visitante percebesse a unidade existente entre essas instâncias na escola. Nessa época ainda havia resistência de algumas escolas em aderir às idéias que o Projeto propunha. Assim, as visitas eram uma das maneiras de divulgar mais facilmente as idéias contidas no Projeto para a Rede Municipal, tanto para a direção quanto para os

professores, de que era possível reestruturar o trabalho pedagógico da biblioteca.

Por outro lado, durante a visita era clara a indagação no rosto de alguns professores visitantes: por que minha escola não é assim? O que devo fazer para ter apoio administrativo e pedagógico de minha escola? Outras vezes as observações eram oralmente feitas. Além disso, as indagações e os confrontos surgidos durante a visita causaram no professor um questionamento de sua própria realidade, daquela vivida em sua escola e acredito que foram levadas para cada escola, direta ou indiretamente.

Aquele professor que, em 2002, iniciara o Projeto com a auto- estima baixa, pouco a pouco ia recuperando o orgulho de realizar o trabalho. Era necessário dar-lhe espaço para dizer, para apresentar aos demais colegas o que realizava na escola. Tudo isso valorizava a sua prática e, indiretamente, a ação pedagógica de todos. Era o resgate de uma ação docente que por muito tempo tinha sido desprestigiada.

Cabia ao professor mediador de leitura apresentar como estruturara seu horário para as aulas, como funcionava a biblioteca da escola, como era a realização de suas aulas e mostrar como a biblioteca estava organizada.

4.11.2 O espaço da biblioteca: concepções arquitetônicas

Como destaquei anteriormente, em 2002, cada escola recebeu informações a respeito do espaço físico da biblioteca, pois para que a escola realizasse as intervenções possíveis em seu espaço, era preciso lançar mão de informação acerca do assunto.

Se o espaço não estava adequado, era necessário buscar os responsáveis pela projeção desses espaços: arquitetos e engenheiros. Fui à Diretoria de Obras Públicas e iniciei o contato com essa divisão. A princípio houve certo ceticismo da parte daqueles profissionais. Afinal, nunca tinham ouvido falar de mim, eu não era da área, era apenas um professor que não entendia de arquitetura ou engenharia, pelo menos foi assim que me senti na primeira reunião com eles.

uma reprodução de uma sala de aula comum: espaço retangular com quadro de giz. Nada denotava que houvesse um estudo prévio que levasse em conta as peculiaridades de uma biblioteca para a escola, para crianças. Não parece muito comum, de acordo com o que constatei na busca de referências sobre a arquitetura escolar no Brasil, a preocupação com o estudo que leve em conta a dinâmica pedagógica da escola ao projetar edifício. Não era só em Londrina, mas me parecia haver uma tendência nacional em ignorar aqueles que fazem da parte do cotidiano escolar no momento de projetar um edifício para esse fim.

Nas conversas que tive com a equipe responsável pelos projetos arquitetônicos, naquele momento, percebi que as informações a respeito do espaço apropriado para a biblioteca não estavam claras. No próprio departamento não existia uma proposta que orientasse a construção desse edifício. Então, levei para eles o material coletado, principalmente o de Avilés (1998). A partir de então, os profissionais foram percebendo que eu não estava questionando a arquitetura das bibliotecas de um modo ingênuo e sem pesquisa. Deixei evidente a necessidade de investigação científica para melhorar os espaços e, principalmente, a busca de parceiros, no caso eles, para realizar esse projeto.

Era preciso construir parâmetros que estabelecessem um padrão de espaço para biblioteca da escola na rede municipal de ensino. Então, de acordo com Avilés (1998), Perrotti (1990) e Obata (1999), Carvalho (1990) e Bortolin (2001), elaborei uma proposta de espaço para as bibliotecas escolares da rede. Antes de enviar a proposta à divisão de projetos arquitetônicos da Prefeitura do Município de Londrina (PML), submeti o projeto à supervisão de dois arquitetos Roberto Alves de Magalhães e Teba Ilana Godoy, meus amigos, para que auxiliassem na consecução daquela tarefa.

A seguir, destaco os principais aspectos contidos no documento denominado - Espaço e mobiliário para biblioteca escolar: pré- requisitos (Apêndice F), que foi enviado ao Setor de Obras e ao Setor de Compras da PML como sugestão aos projetos arquitetônicos e à aquisição do mobiliário das bibliotecas.

4.11.2.1 O Espaço

Em 2002, após visitar as bibliotecas escolares, foi possível constatar o caos estabelecido nas escolas. Urgia rediscutir o modo espacial integrando numa concepção pedagógica para a mediação de leitura, pois o espaço tem influência direta em nosso comportamento, conforme Carvalho (1990, p.12) destaca:

[...] a participação individual (ou em grupo) em um determinado espaço físico é influenciada não só pelo espaço físico e suas propriedades, mas também pelas pessoas que aí estão, seus papéis e atividades, definidos pelo contexto social no qual está inserido aquele ambiente físico.

O espaço da biblioteca deve ser bastante flexível e oferecer a possibilidade de se transitar nele com tranqüilidade. Além disso, deve ser utilizado de forma dinâmica (exposições, Hora do Conto, etc.). Então, de acordo com Avilés (1998, p.56) o espaço destinado à criança, além de conforto e beleza, deve:

[...] situar sempre na planta baixa ou primeira planta do edifício; [...] A disposição das portas e janelas deve permitir vislumbrar [...] os serviços infantis são uma fonte de atração para todo mundo e, sobretudo para outras crianças que podem observá-los de fora e sentir-se tentado a entrar e utilizar a biblioteca; [...] É obrigatório suprimir as barreiras arquitetônicas mediante a instalação de rampas de acesso, piso antiderrapante [...].

Mudar a perspectiva da mediação de leitura na rede municipal passava pela readequação do espaço da biblioteca da escola, pois o modo como a escola se relaciona com o espaço e organização destinados à promoção de leitura, reflete a concepção de leitura que ela tem. Assim, estabeleceremos, para o modelo de espaço da biblioteca escolar da rede municipal de ensino de Londrina, duas zonas dentro desse espaço: zona formal e zona informal.

A zona formal seria aquela que recepciona o usuário e o encaminha para o que ele procura. Nessa área teríamos a entrada, a recepção e as mesas para estudos/pesquisas. Já a zona informal seria aquela onde a

criança pudesse ficar mais à vontade, sem mesas, apenas com um tapete emborrachado (BORTOLIN, 2001), por exemplo, como apresenta a foto 11: