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CAPÍTULO IV A AÇÃO: DO SABER INGÊNUO AO SABER CIENTÍFICO

5.2 A mediação de leitura na biblioteca escolar em Barcelona: uma amostragem

5.2.2 Escola e Biblioteca de Reina Violant-Comas i Solà

A Escola Reina Violant era de responsabilidade do município (Ajuntament) de Barcelona e estava localizada no Distrito de Gràcia que é formado por seis distritos: Vila de Gràcia, Salut, Penitents, Vallcarca, Coll e Camp d´em Grossat (CHIFONI, 2000, p.7).

Vila de Gràcia, popularmente apenas Gràcia, é uma das regiões mais tradicionais da cidade. Os nativos da cidade orgulham-se ao dizer que em Gràcia existe a essência do que é ser catalão. Para se chegar à escola Reina Violant é preciso percorrer parte de uma das mais antigas ruas do mundo, a Gran de Gràcia, construída na época dos romanos. Por essa rua

entraram os franquistas bombardeando a cidade, por ela mesma fortaleceu a resistência ao regime do ditador.

No bairro de Gràcia estão alguns símbolos de resistência catalã, dentre eles, um abrigo antiaéreo. Mas são as obras de Gaudí, um dos catalães mais ilustres da cidade, que demarcam extra-oficialmente a fronteira de Gràcia com outros bairros da cidade: de um lado a igreja A Sagrada Família e do outro lado, o Parque Güell.

As ruas de Gràcia são apertadas e suas calçadas mais apertadas ainda. No entanto, a movimentação cultural é intensa. É como se o bairro, que durante o dia parece uma cidadezinha do interior, à noite se transformasse numa grande metrópole; pelas ruas há um intenso transitar de moradores e estrangeiros que vivem em Barcelona. Uma das características desse bairro é que existem poucas famílias imigrantes, são mais estudantes, artistas, pessoas com maior grau de formação acadêmica.

Ainda que Gràcia esteja situada geograficamente muito próxima ao centro da cidade, mantém uma distância cultural muito significativa, principalmente em relação à língua. Nos supermercados às vezes torna-se difícil para um estrangeiro buscar com precisão o que deseja, pois ao contrário de outras regiões de Barcelona, eles não são bilíngües, não se apresentam em espanhol, apenas em catalão. Na arquitetura de Gràcia há uma síntese do que é Barcelona, construções antigas ao lado de outras de estilos modernistas. Aliás é ali onde aparecem as primeiras obras significativas do arquiteto modernista Gaudí. Era nessa região da cidade que se encontrava a segunda escola visitada por mim.

Ao se caminhar duas ruas paralelas à Gran de Gràcia, pouco a pouco, fugia-se do alarido dessa milenar rua e se encontrava numa tranqüilidade de cidade do interior do Brasil. Logo adiante, misturada às demais construções da rua estava a escola. De início, para quem não conhece, fica difícil destacá-la diante dos outros prédios. A discrição da arquitetura exterior de Reina Violant contrastava com a sua pujança interna.

Foto 29 - Fachada interna de Reina Violant

Reina Violant, como a maioria das escolas de Barcelona, era um prédio de três a quatro andares, mas que da rua não se descobria como estava estruturado internamente. No entanto, o pátio era aberto e dele podiam- se ver as quatro paredes que o cercavam, do térreo ao terceiro andar.

A escola tinha um clima agradável, familiar: crianças correndo, professores trocando idéias, as escadas internas com turmas que desciam e subiam, pais entregando os filhos nos portões. Fui recebido com simpatia e amabilidade desde o portão de entrada. A escola existia há 74 anos, mas em Gràcia apenas há 30 anos.

De acordo com as informações que obtive de Teresa Maña, pesquisadora da Universidade de Barcelona (UB), em Reina Violant eu poderia conhecer uma escola que tinha o perfil muito comum às escolas primárias da cidade. A boa impressão que tive no primeiro contato com Reina Violant só foi ampliando à medida que fui conhecendo um pouco mais do trabalho pedagógico que era desenvolvido na escola. Na verdade, a dinâmica me lembrou muito as de Londrina.

De acordo com informações da direção da escola, 80% do pais possuíam nível superior, o que denotava alunos que tinham um bom nível cultural, além de nível econômico estável, pois mais de 70% possuía emprego fixo.

O corpo docente de Reina Violant era composto por 14 professores com a idade média de 50 anos. A escola era de educação infantil e primária, no entanto, nesse prédio estavam apenas as seis turmas do primário

com 25 alunos cada uma, pois a educação infantil estava num prédio próximo dali. Ali, como na outra escola, os alunos tinham 5 horas/aula por dia.

Para se chegar à biblioteca de Reina Violant era necessário usar o elevador ou subir os vários lances de escada, pois estava situada no último andar. Depois, seguia-se por um corredor muito iluminado pelas janelas que davam em direção ao pátio e no final dele encontrava-se uma ante-sala que dava acesso a duas salas e a principal era a Biblioteca.

Nessa ante-sala, do lado esquerdo, existia uma estante antiga com os livros mais antigos da escola que, de acordo com a diretora, era sinal da história da escola e da evolução da biblioteca. Do lado direito havia uma mesa com a Xinxeta, rato mascote da biblioteca, escolhida pelos alunos.

Foto 30 - Xinxeta

Cada semana a Xinxeta tem uma pergunta ou adivinhação num envelope e a criança que chegar pode tentar desvendar. Os labirintos da Xinxeta instigavam a criança, desde a entrada da biblioteca, a penetrar no desafiante mundo das palavras.

Ao entrar na biblioteca nos deparamos com um espaço de, aproximadamente, 50m2, como na escola anterior, mas a disposição e o tipo de mobiliário eram um pouco diferentes da escola anteriormente visitada.

O formato da entrada era em L e depois predominava um espaço maior de forma retangular. No geral, a sala era bem iluminada, todo circundada por janelas grandes, donde se podia ter uma visão geral do pátio de cima para baixo. Logo na entrada, à direita estava a parede com janelas que

dava para as salas do último andar e ainda se podia ver o pátio de cima para baixo. À esquerda, à frente duas estantes pequenas que faziam divisão entre ambiente formal com mesas e cadeira e do ambiente mais informal com tapete de fibra sintética e dois mini-sofás, além de estantes pequenas com livros infantis organizados por letra do alfabeto.

Foto 31 - Biblioteca de Reina Violant

Havia dois blocos de mesas: na entrada uma mesa maior coletiva e no salão 6 mesas redondas com 4 cadeiras cada. Nas paredes da esquerda havia estantes grandes e do outro lado da sala a parede era ocupada por estantes. O acervo tinha entre 4000 e 5000 volumes. Os livros organizados nas estantes maiores estavam classificados de acordo com a classificação da Tabela Decimal Dewey, cuja organização divide o conhecimento em 10 classes e para cada classe designa uma numeração, conforme Piedade (1983, p.93):

000 Generalidades

100 Filosofia e disciplinas relacionadas 200 Religião

300 Ciências Sociais 400 Línguas

500 Ciências Puras

600 Tecnologia (Ciências Aplicadas) 700 Artes. Recreação e Artes Cênicas 800 Literatura (Belas Letras)

900 Geografia. Biografia. História.

Além da separação dos livros por cores para orientar as faixas etárias, por exemplo, o azul era usado para crianças cuja idade corresponderia à primeira série.

Figura 32 - Biblioteca de Reina Violant: mesas e cadeiras

O acervo da biblioteca de Reina Violant está dividido em três idiomas principais: catalão, espanhol e inglês. Como informei anteriormente, nas escolas de Barcelona as crianças são bilíngües, são alfabetizadas tanto em catalão quanto em espanhol. Portanto, o acervo desses dois idiomas eram acondicionados juntos, embora tenha percebido maior incidência dos livros em catalão. Para os livros em língua inglesa havia uma estante separada.

A biblioteca da escola era organizada, como na anterior, pelos professores da escola. Não havia bibliotecária, apenas uma estagiária de Biblioteconomia, paga pela associação de pais da escola, duas vezes por semana, à tarde. Suas funções são as de organizar a biblioteca, encapar livros, realizar os empréstimos, contar histórias e montar aspectos comemorativos na biblioteca.

5.2.2.1 Leitura na biblioteca de Reina Violant: mediador e mediação

Na Reina Violant cada turma tem uma hora por semana na biblioteca pela manhã para pesquisa e 45 minutos à tarde. Nas aulas da tarde há empréstimo de livros e Hora do Conto. De acordo com a professora da turma, o que corresponde à 4a série no Brasil, as Horas do Conto acontecem alternadamente em catalão e em espanhol. Como na escola anterior, os alunos chegaram à biblioteca com a professora de sala de aula, mas já os esperava a estagiária que interagia conjuntamente com a professora.

(parecida com um caderno). Foram até as estantes e começaram a escolher os livros e posteriormente anotavam na agenda as referências do livro escolhido (título, autor etc.). Indaguei à professora se era solicitado trabalho a respeito da leitura feita pelos alunos, mas a resposta foi negativa, pois para ela a leitura era algo de imaginação que deve dar prazer e gosto ao leitor e só isso poderia formá-lo. No entanto, na Hora do Conto pude constatar que as atividades eram muito similares àquelas encontradas em Orlandai, principalmente ao solicitar um registro da história ouvida ou lida.

Após contar uma história, a estagiária solicitou aos alunos que trouxessem na próxima semana um desenho da personagem principal do enredo contado. Depois, cada aluno que quisesse comentava sobre o livro que lera na semana anterior. A participação dos alunos me pareceu mais espontânea em Reina Violant que em Orlandai.

5.3 Orlandai/Reina Violant (Barcelona) e Escolas Municipais (Londrina):