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3 PRINCIPAIS IMPLICAÇÕES DAS NOVAS TECNOLOGIAS DA INFORMAÇÃO SOBRE O TRABALHO

4 A BIBLIOTECA UNIVERSITÁRIA

4.1 A biblioteca universitária e a legislação do ensino superior

Analisar a relação universidade/biblioteca como agências sociais, organizadas para atender às necessidades da comunidade acadêmica e da sociedade em geral, leva-nos a considerar que, dessa relação, surge uma unidade organizacional que reúne os princípios da biblioteca e os da universidade, em diferentes momentos históricos e posicionamentos sociais.

A biblioteca universitária nasce subordinada a uma instituição de ensino superior, com a função específica de apoiar as atividades desta instituição. Seu papel é contribuir decisivamente para o ensino, a pesquisa e a extensão, assumindo, assim, a função social de

prover a infra-estrutura documental e promover a disseminação da informação, em prol do desenvolvimento da educação, da ciência e da cultura. .

Ao ser criado, em 1963, o Conselho Federal de Educação (CFE) estabeleceu a importância da vinculação da biblioteca universitária como um suporte informacional aos cursos superiores, para obterem o seu reconhecimento. Porém, o crescimento da universidade e conseqüentemente, da sua biblioteca, não aconteceu de forma harmoniosa, e sim com muitas desigualdades. Por exemplo, segundo Santana (1989, p.37), “no que se refere à aquisição e seleção do acervo, até a década de 1980, não existia uma política de formação, seleção e desenvolvimento de coleções”. A maioria das bibliotecas universitárias sequer adquiria materiais informacionais visando ao oferecimento de suporte realmente adequado aos cursos oferecidos pela universidade, às suas linhas de pesquisas e atividades de extensão. Faltava- lhes, também, uma comissão de seleção integrada por bibliotecários e por representantes dos corpos docente e discente.

A Reforma Universitária de 1968 marcou o momento crítico de transição e desenvolvimento da universidade brasileira de hoje. Com a reforma, novos objetivos da universidade foram determinados, focalizando-se em ensino, pesquisa e extensão, com o intuito de vinculá-los ao âmbito econômico de desenvolvimento nacional, por meio da produção e da disseminação da ciência e tecnologia. De acordo com a orientação da reforma, a biblioteca universitária deveria ser vista como parte da sociedade na qual estava inserida e envolvida, além de integrar-se com o seu meio ambiente externo tanto geral como específico, e preocupar-se com as funções e as atividades da universidade a qual pertence. Deveria, também, se preocupar com os indivíduos, membros da população universitária, no desempenho de suas atividades acadêmicas e administrativas, centrando neles as suas atividades, e relacionando-os com o seu meio ambiente, tanto geral como especifico.

Sob a orientação dessa Reforma, a biblioteca universitária deveria planejar os seus serviços em relação aos novos objetivos da universidade, ou seja, de ensino, pesquisa e extensão, integrar-se ao sistema acadêmico, opondo-se ao conceito de biblioteca isolada, bem como, introduzir os princípios de centralização, coordenação e cooperação, para poder seguir a orientação administrativa de evitar a duplicação de meios para fins idênticos ou similares, e de racionalidade administrativa com plena utilização de materiais e recursos humanos.

A Reforma Universitária de 1968, no entanto, não concebeu nenhuma diretriz inovadora para as bibliotecas universitárias brasileiras, deixando para os profissionais bibliotecários a interpretação e a adequação da biblioteca a esse novo contexto organizacional acadêmico. Reportando-se à década de 1960, para situar a Reforma Universitária e as reuniões de dirigentes de bibliotecas universitárias, Garcia (1991, f.4), “considera estar ali a origem da Comissão Nacional de Diretores de Bibliotecas Centrais Universitárias (CNBU) e, em conseqüência, a criação da Associação Brasileira de Bibliotecas Universitárias (ABBU) em 1973”. Neste mesmo ano Maria Luisa Monteiro da Cunha, dirigente das bibliotecas da USP, apresenta a problemática da biblioteca universitária, como um dos documentos-base do Congresso Brasileiro de Biblioteconomia e Documentação (CBBD) de Belém em 1973. Antecedido e seguido de tantas iniciativas e proposições, este conjunto sinérgico constitui-se numa das forças propulsoras para a criação do Plano Nacional de Bibliotecas Universitárias (PNBU) em 1986.

“O PNBU decorreu de movimentos de bibliotecários universitários e de funcionários da administração federal ligados a programas de desenvolvimento das universidades, dos cursos de pós-graduação, dos grupos e instituições de pesquisa e dos sistemas e serviços de informação científica e tecnológica” (Garcia, 1991, f.4). Isto pode ser comprovado pelo fato de que, em 1978 e 1981, por iniciativa das universidades, ocorreram, respectivamente, o 1º e o 2º Seminário Nacional de Bibliotecas Universitárias (SNBU), transformados em foros

permanentes do setor e, neste ano de 2004, está em sua décima terceira edição, a realizar-se em Natal - RN.

Na verdade estes eventos têm assegurado, juntamente com o movimento associativo, se não uma coordenação nacional, uma articulação e um intercâmbio entre os dirigentes e os profissionais da área sobre questões que envolvem a biblioteca universitária, tais como, planejamento e gestão; técnicas e tecnologias relacionadas à coleta, indexação, organização, disseminação e uso da informação; serviços, produtos e cooperação; desenvolvimento de recursos humanos, enfim, todas as variáveis que envolvem a atuação das bibliotecas no contexto acadêmico. Esses eventos têm ensejado, ao longo do tempo, a instauração de uma cultura própria e de uma visibilidade do setor. Especialmente os dois primeiros tiveram o mérito de provocar a formação de um grupo de estudos, com vistas à implantação de um Sistema Nacional de Bibliotecas Universitárias.(Lubisco, 2001, p.81).

O processo de maturação, em torno das idéias de um sistema ou plano nacional de bibliotecas universitárias, gestado nos três primeiros SNBU's, foi determinante para lançar a pedra fundamental do futuro plano. Coube ao Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia (IBICT), a responsabilidade de arrolar e consolidar as recomendações daqueles eventos anteriores, e apresentá-las no IV SNBU, realizado em Campinas, em 1985, dando origem ao documento-base do PNBU.

Finalmente, criado em 24 de abril de 1986, com a portaria 287 do Ministério da Educação e Cultura (MEC), o Plano Nacional de Bibliotecas Universitárias foi acompanhado da instituição do programa de mesmo nome, com a portaria 288 do MEC, visando a garantir sua implantação. Sua macro-concepção centrava-se num sistema nacional com a incumbência de:

Assegurar condições para a definição de padrões de organização e desenvolvimento de sistemas e serviços bibliográficos nas universidades, bem como dos meios de comunicação e de interligação dos sistemas, e a determinação de diretrizes para a aplicação de recursos humanos, bibliográficos, financeiros, tecnológicos que garantissem a consolidação do Sistema Nacional de Bibliotecas Universitárias (Garcia, 1991, f.5).

O PNBU traçou diretrizes e ações, objetivando mudanças significativas para as bibliotecas universitárias. Garcia (1991) ressalta as metas mais importantes:

- estabelecimento de um percentual mínimo orçamentário da universidade a ser investido no sistema de bibliotecas;

- aperfeiçoamento e atualização contínua do profissional bibliotecário e auxiliares, (pessoal de apoio);

- elaboração de instrumentos que auxiliem a biblioteca universitária na elaboração da política de formação e desenvolvimento de coleções do acervo;

- estabelecimento de normas, padrões e metodologias que propiciem um eficiente processamento técnico;

- estabelecimento de uma rede de intercâmbio de dados bibliográficos e documentários, com a contribuição de um banco de dados central de grande porte, visando a catalogação cooperativa, o empréstimo interbibliotecário, a comutação bibliográfica, etc.;

- divulgação de metodologias para o relato das necessidades de informação dos usuários, previamente identificadas;

- integração das bibliotecas universitárias em programas de cooperação, aquisição, sistemas especializados, etc.

Não resta dúvida que as bibliotecas universitárias auferiram imensos benefícios, tanto no que diz respeito a recursos de diversas ordens que lhes foram alocados, a capacitação de pessoal e, principalmente, à possibilidade de desenvolver uma visão da biblioteca universitária não só integrada à vida acadêmica, mas à vida do País (Lubisco, 2001, p.83).

Embora a criação do Plano e do Programa Nacional de Bibliotecas Universitárias tenha se dado em 1986, sua institucionalização, através de decreto federal, ocorreu quase quatro anos depois, pelo Decreto número 98.964, de 16/02/1990, com o nome de Programa Nacional de Bibliotecas das Instituições de Ensino Superior (PROBIB).

O PNBU desenvolveu inúmeras propostas e processos modernizadores, que vieram beneficiar a reestruturação das bibliotecas universitárias, com melhorias nos serviços prestados aos usuários e nas suas atividades funcionais.

O PNBU foi uma experiência pioneira de planejamento e atuação sistemática no desenvolvimento das bibliotecas universitárias federais, que teve como resultado principal estender a problematização da biblioteca universitária à administração das universidades, às agências de Ciência e Tecnologia, e, de uma certa forma, ao próprio MEC, que depois do PNBU, incorporou alguns procedimentos de atendimento às demandas orçamentárias das bibliotecas (Garcia, 1991, f.32).

Posteriormente, o Ministério da Educação e Cultura (MEC) estabeleceu portarias que fixam normas para autorização e reconhecimento de cursos que incluem as bibliotecas universitárias. A portaria número 641, de 13 de maio de 1997, dispõe sobre a autorização de novos cursos em faculdades integradas, faculdades isoladas, institutos superiores ou escolas superiores. A portaria número 877, de 30 de julho de 1997, dispõe sobre os procedimentos para reconhecimento de cursos, habilitações de nível superior e renovação de reconhecimento. A partir dessas portarias, o MEC disponibiliza, em sua página na Internet, os roteiros para aprovação e reconhecimento de cursos, orientando as IES no momento de receber as Comissões de especialistas para os procedimentos de avaliação e verificação dos cursos superiores.

O desenvolvimento das bibliotecas universitárias das IES privadas segue as normas fixadas por estas portarias do MEC, e pelos roteiros disponibilizados pelas comissões de especialistas. Na maioria dos casos, as IES atendem ao mínimo exigido pelas comissões de especialistas no momento da autorização dos cursos e, posteriormente, para o reconhecimento. O que se observa é a falta de um planejamento em longo prazo, que priorize a biblioteca em todos os momentos da vida universitária, e não apenas nos momentos de avaliação pelo MEC.

As bibliotecas das IES confessionais e católicas, tais como as PUC’s, passam pelo mesmo processo de avaliação de cursos do MEC, entretanto, essas IES possuem bibliotecas melhor

estruturadas do que as outras IES privadas. Isto pode ser explicado pelo fato de as IES católicas e confessionais terem se estruturado, na década de setenta, como universidades, e passado a constituir centros de ensino, pesquisa e extensão, com certo padrão de excelência.