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3 PRINCIPAIS IMPLICAÇÕES DAS NOVAS TECNOLOGIAS DA INFORMAÇÃO SOBRE O TRABALHO

3.3 Implicações das novas tecnologias da informação sobre o controle do trabalho

Desde os primórdios do modo de produção capitalista, o capital vem procurando, a todo custo, desenvolver um controle sobre a força de trabalho, no sentido de reprimir a manifestação das particularidades e singularidades próprias da subjetividade dos trabalhadores, por acreditar que esta representa risco ao processo de acumulação. Ao retirar o conteúdo subjetivo do trabalho, tornando-o cada vez mais abstrato e, portanto, mais controlável, o capital começa a reunir a possibilidade de desenvolver o planejamento que favorece o encontro da previsibilidade necessária ao processo de ampliação da acumulação.

Quanto mais dividido e parcelado se encontra o trabalho, mais simples ele vai se tornando, pois depende de operações bem delimitadas, rotineiras e de ciclo curto. A padronização das ações que os trabalhadores devem executar procura uma uniformização, uma homogeneidade em direção a uma indiferenciação. Estamos diante, portanto do trabalho abstrato12

homogêneo e indiferente. De acordo com essa lógica, o trabalho será plenamente realizado independente de quem o execute.

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Conforme defendido por Marx (1968): “todo trabalho é, por um lado, dispêndio de força de trabalho do homem no sentido fisiológico, e nessa qualidade trabalho humano abstrato gera o valor da mercadoria. Todo trabalho é, por outro lado, dispêndio de força de trabalho do homem sob forma especificamente adequada a um fim, e nessa qualidade de trabalho concreto útil produz valores de uso”.

Em linhas gerais percebemos que este movimento em direção ao trabalho abstrato pode ser caracterizado pela dinâmica do processo que expressa a busca da subtração do conteúdo subjetivo do trabalho, os elementos do particular e da singularidade do trabalhador que fazem com que ele crie modos de significação específicos, que dêem sentido à sua ação. Este movimento representa uma transferência clara dos saberes e fazeres do trabalhador para a esfera do capital. Na medida em que o trabalho vai se transformando em algo abstrato, o capital amplia a possibilidade de incorporar os conhecimentos dos trabalhadores nos elementos mecânicos, através das máquinas. As máquinas acabaram por sintetizar, de modo mecânico, um dado conjunto de tarefas anteriormente realizadas pelos trabalhadores. Assim, os trabalhadores passaram a se ajustar às características das máquinas. Isto implica a redução dos graus de liberdade, de autonomia propriamente dita, que o trabalhador possui para organizar não só o modo de fazer uma tarefa segundo as suas características fisiológicas, como também arranjos mentais de significação da sua condição social decorrentes da sua subjetividade. (Martins, J. 2000, f.5).

Esse movimento em direção ao trabalho abstrato fica mais claro com o nascimento das fábricas, que trouxe consigo a necessidade da instauração de uma nova ética que desse suporte e tornasse possível a habituação dos trabalhadores, cujo trabalho fora regido, até então, pelos ritmos da natureza, a essa nova ordem.

Se o relógio foi o primeiro instrumento de controle e disciplina fabris, foi com o cronômetro de Taylor que eles ganharam contornos definidos. O controle e a disciplina fabris foram fundamentais nas formulações de Taylor e Ford. Vários pesquisadores caracterizam a história do início do taylorismo, nos Estados Unidos, pela introdução de um rígido sistema repressivo no interior das fábricas, tirando, do trabalhador, o domínio que ainda detinha sobre seu próprio trabalho. Para Taylor (1989), a gerência tinha necessidade de conhecer e compreender o processo de produção, conhecimento este, até então, em mãos dos trabalhadores. Tratava-se de uma disputa entre ela e os trabalhadores, pelo controle da produção.

Para Franzoi (2002, p.60), “é consenso que com a fábrica nascem o controle e a disciplina fabril, e que é com o taylorismo/fordismo que eles são aprimorados”. O mesmo autor (2002, p.60) destaca que os estudiosos dividem-se, porém, quanto a considerar que a imposição de um controle e de uma disciplina tenha sido o seu verdadeiro objetivo e o motor do

desenvolvimento da tecnologia em geral, desde as primeiras máquinas a vapor até os princípios da administração científica.

Braverman (1987), destaca que “o objetivo primeiro do capital é a sua valorização, fazendo com que o controle da força de trabalho seja o motor de toda e qualquer inovação tecnológica que leva, inevitavelmente, à degradação do trabalho”. Incluem-se, neste debate, diversos autores (Coriat13; Marglin14 citado por Franzoi, 2002, p.60) que se colocam contra a tese do determinismo tecnológico. Ao contrário, esses autores afirmam que a técnica é uma escolha arbitrária que é regida pelo objetivo da valorização do capital, privilegiando, sempre, o controle sobre os trabalhadores. Com o advento das novas formas de gestão do trabalho, principalmente das inspiradas no modelo japonês, que, para alguns, constituem-se em um novo paradigma, reacendem-se os debates em torno do controle sobre os trabalhadores. Alguns autores defendem que esses novos métodos intensificam o mesmo, ou, pelo menos, que nada mais são do que o mesmo controle existente no modelo taylorista/fordista, apenas com uma roupagem menos autoritária.

Ao estudar as relações de trabalho na indústria de transformação nos Estados Unidos, Edwards15, citado por Franzoi (2002, p.61), distinguiu três tipos de controle: 1) a coerção personalizada; 2) o controle técnico, ou seja, quando a própria maquinaria dirige o processo de trabalho, impondo seu ritmo; e 3) o controle burocrático.

É no processo de trabalho que se estabelece a principal disputa entre capital e trabalho, cujo elemento central é o seu controle. Neste sentido, têm papel de destaque as estratégias dos empregadores, na busca por controlar o trabalho, através de novas tecnologias da informação e a resistência dos trabalhadores a essas estratégias utilizadas para esse controle.

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CORIAT, Benjamim. Ciência, técnica y capital. Madrid: Blume, 1976.

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MARGLIN, Stephen. Origem e funções do parcelamento de tarefas. In: GORZ, André. Crítica da divisão do trabalho. São Paulo: Martins Fontes, 1996.

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