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3.3 A Diversidade Biológica no Brasil

3.3.1 A Biodiversidade na Constituição Federal de 1988

A constituição democrática de 1988 estabelece uma série de dispositivos expressa ou tacitamente relacionados à biodiversidade, destacando sua importância para as presentes e futuras gerações de brasileiros.

No capítulo reservado ao meio ambiente (Brasil, 1988), arrola como dever do poder público e da sociedade, a preservação e a restauração dos processos ecológicos essenciais e o manejo ecológico das espécies e ecossistemas (art.

225, § 1º, I); a preservação da diversidade e integridade do patrimônio genético do país e fiscalizar as entidades dedicadas à pesquisa e manipulação de material genético (art. 225, § 1º, II); a proteção dos espaços territoriais e seus componentes a serem especialmente protegidos (art. 225, § 1º, III); a proteção da fauna e da flora e de sua função ecológica (art. 225, § 1º, VII).

A Carta Constitucional prevê ainda princípios e critérios para a preservação da Floresta Amazônica brasileira, da Mata Atlântica, da Serra do Mar, do Pantanal Mato-grossense e a Zona Costeira, todos erigidos à condição de Patrimônio Nacional (art. 225, § 4º).

No que se refere à preservação e restauração dos processos ecológicos essenciais, evidencia-se a preocupação em indicar como responsabilidade do

Poder Público, em todas as esferas de governo (federal, estadual e municipal), quanto aos processos responsáveis pelo funcionamento dos ecossistemas (fluxo de energia e matéria e processos da evolução, por exemplo), através da promoção de ações destinadas a garantir a manutenção do que se encontra em boas condições e à recuperação do que foi degradado.

O manejo ecológico das espécies e ecossistemas, conforme a lição de Silva (2001), diz respeito ao cuidado com o equilíbrio das relações entre a comunidade biótica e seu hábitat, através de uma gestão ambiental que considere princípios científicos, técnicas e tecnologias capazes de manter ao máximo as características e condições naturais existentes, por meio de programas de manutenção da biodiversidade ou de reflorestamento com essências nativas ou exóticas, como exemplifica Milaré (2002).

A preservação da biodiversidade, disposta na Constituição de 1988, significa a adoção de medidas voltadas ao reconhecimento, inventário e manutenção da variedade e diferenças dos seus elementos componentes, demonstrando a preocupação com a diversidade e a integridade do patrimônio genético nacional, essenciais para a produção de novas utilidades alimentares ou farmacêuticas.

De alta significância é a determinação constitucional quanto ao controle das entidades de pesquisa e manipulação de material genético, em face do desenvolvimento da biotecnologia em todo o mundo, abrindo a possibilidade de estudos e exploração em larga escala das espécies da flora e da fauna e dos mais variados microorganismos, com aplicações ilimitadas na indústria, na medicina e na agricultura, desenvolvimento este que demanda o maior cuidado com as pesquisas e a manipulação dos materiais genéticos, tanto no sentido de garantir os aspectos econômicos e estratégicos decorrentes da propriedade intelectual sobre os conhecimentos produzidos – com a repartição dos benefícios oriundos do desenvolvimento tecnológico e científico – quanto no que se refere ao

estabelecimento e respeito aos valores éticos, sociais, morais e culturais envolvidos.

A definição de espaços territoriais protegidos, referida na norma constitucional, diz respeito à proteção das áreas de interesse ecológico relevante, face às suas características naturais e principalmente sua diversidade biológica, de modo a garantir sua representatividade e integridade, como explica Gouveia (1993), reduzindo ou impedindo intervenções danosas ao meio ambiente.

Destaca-se a previsão expressa de que embora esses espaços,possam ser criados por lei ou por decreto do executivo, estabelecendo os mecanismos de uso, conservação e preservação da área e dos recursos naturais nela contidos, somente podem suprimidos ou alterados através de lei, assegurando uma maior participação da sociedade, através dos seus representantes eleitos, na modificação do regime de sua destinação ou uso.

A proteção à fauna e à flora é também expressa pela ordem constitucional brasileira como obrigação do Poder Público e da sociedade, inclusive vedando textualmente as práticas que possam colocar em risco sua função ecológica, venham a provocar a extinção de espécies ou submetam os animais à crueldade.

A proteção constitucional, como salienta Milaré (2002) “se estende para além do ser vivo, abrangendo suas relações ecossistêmicas”, representando um princípio destinado à garantia da mais ampla proteção da biodiversidade brasileira.

No que se refere à fauna, o princípio protetivo abrange os animais silvestres, domésticos e domesticados, terrestres e aquáticos, em razão da sua importância enquanto espécies e indivíduos para o equilíbrio dos ecossistemas em que se inserem, pois como salienta Milaré “nem todas as espécies de animais têm a mesma função na biosfera, apresentando cada qual peculiaridades que lhe são inerentes do ponto de vista ecossistêmico”.

No que diz respeito à flora, sua proteção também foi prevista textualmente, abrangendo todas as formas de vegetação, em vista da sua inter-relação com a fauna, pelo desempenho de funções tróficas e alimentares, além da sua importância utilitária para o homem (alimentar, farmacológica, extrativista, energética, estética, turística, recreativa, cultural etc).

Por fim, a carta constitucional assegura um tratamento especial às macrorregiões, referindo-se literalmente à Floresta Amazônica, a Mata Atlântica, a Serra do Mar, o Pantanal e a Zona Costeira, como bens de valor inestimável, cuja utilização deve observar os ditames legais, dentro de condições que assegurem a preservação ambiental e o uso dos seus recursos naturais. Cuida o dispositivo, de garantir a proteção dessas regiões como um todo, dadas as características ambientais específicas, inclusive sua imensa diversidade biológica, que as distinguem e enriquecem, justificando um tratamento não fragmentário ou reducionista desses espaços, voltado à manutenção da sua integridade ecossistêmica. O dispositivo omitiu, sem justificativa plausível, outros importantes biomas brasileiros, como a Caatinga e o Cerrado, cuja importância ambiental se equipara à das macrorregiões referidas, sendo assim merecedores de uma maior proteção, cuja ocupação sem precedentes, vem preocupando cientistas e ambientalistas.