• Nenhum resultado encontrado

4 ANÁLISE DOS RESULTADOS

4.2 A cadeia de suprimentos da ONG EMAÚS

Para se entender a cadeia de suprimentos da ONG é necessário entender o seu ponto de origem. A cadeia de suprimentos da ONG tem muita similaridade com

fluxo de logística reversa, mas não se aplica, pois o produto não retorna ao fornecedor do produto.

A ONG trabalha com materiais de pós-consumo, ou seja, produtos que seriam descartados.

Os produtos de pós-venda se caracterizam por serem produtos que apresentaram algum tipo de defeito e precisam ser trocados, enquanto os de pós- consumo se caracterizam como produtos que não exercem sua funcionalidade ou estão obsoletos. (LEITE, 2009)

Levando em consideração que para Hong (2010, p. 51) a cadeia de suprimentos é “[...] uma forma integrada de planejar e controlar o fluxo de mercadorias, informações e recursos, desde os fornecedores até o cliente final, procurando administrar as relações na cadeia logística de forma cooperativa e para o benefício de todos os envolvidos”.

Entendendo também que a cadeia de suprimentos só terá um fim em seu ciclo com o descarte final do produto (BALLOU, 2006), se propôs o que consiste a luz dos 3 Rs os fluxos logísticos da ONG conforme Figura 14.

Para a cadeia de suprimentos da ONG, levou-se em consideração o ponto de partida da cadeia, a coleta dos caminhões do Emaús em suas rotas.

Como destino final da cadeia, levou-se em consideração a reutilização sendo destinada ao consumidor, a destinação para reciclagem e o descarte.

Tomando por base que o Emaús somente exerce um fluxo reverso de materiais sem retorno ao centro produtivo original, foi proposto um fluxo com algumas alterações para que esteja mais adequado à realidade da organização e, assim, seja possível analisar com a perspectiva dos 3Rs posteriormente

Figura 14 – Atividade logística reversa modificado pelo autor.

Fonte: Modificado de Lacerda (2006). Materiais secundários Revender Recondicionar Reciclar Descarte

Expedir Separar Coletar

A figura 14 demonstra os processos da ONG que ocorrem em cada fase, da entrada do produto até a sua saída retornando ao consumidor ou sendo reciclado ou descartado.

A modificação realizada foi em retirar o campo “Retornar ao Fornecedor”, pois não se aplica ao fluxo da ONG EMAÚS.

4.2.1 Procedimento de Coleta - Doações via Rota dos caminhões e Doações diretas na própria instituição

Conforme fluxo observado na Figura 14, a coleta na instituição está ligada a doações via rota dos caminhões até a chegada à ONG.

Os produtos chegam à ONG pelos caminhões que fazem as rotas para obter as doações. Outra forma de coleta se dá pelas pessoas que deixam o produto de pós-consumo no próprio EMAÚS. Há também doações deixadas em pontos de coleta espalhados por Fortaleza, sendo recolhidas pelos caminhões em suas rotas.

A ONG também atua com garantias ao produto que foi consertado, sendo assim, neste caso em especial ela atua com produtos de pós-venda.

As rotas feitas pelos caminhões são planejadas diariamente e levam em consideração a quantidade de materiais e a regional que se encontram os materiais a serem coletados. Hoje a ONG conta com 3 caminhões que fazem diariamente coletas dentro da cidade, e uma vez no mês fazem uma coleta na região metropolitana.

Lacerda (2002) afirma que há dois grandes grupos de materiais que entram na logística reversa: embalagens e produtos. No caso do EMAÚS, a organização trabalha somente com produtos.

4.2.2 Recondicionamento e Reutilização - O papel do almoxarifado e as oficinas na instituição

Após a chegada do produto ao EMAÚS, o produto fica condicionado no Almoxarifado e depois passa por uma triagem em que é dividido para as devidas oficinas. Conforme informações obtidas, 70% do que chega no EMAÚS consegue ser reutilizado e os outros 30% são destinados à reciclagem ou ao descarte.

A tabela 1 mostra as oficinas que existem na ONG e a quantidade de técnicos alocados em cada uma delas.

Tabela 1 - Oficinas de recuperação de materiais

Oficinas Quantidade de Pessoas

Marcenaria 02 Eletrônica 02 Eletrodomésticos 01 Informática 01 Fogões 01 Refrigeração 01 Máquina de lavar 01

Fonte: Elaborado pelo autor (2019).

A triagem dos materiais é feita diariamente, o que dá uma oportunidade de criação maior de fluxo de caixa. Se o produto precisa ser reciclado, eles ganham pela reciclagem. A triagem também acontece diariamente para diminuir o tempo da sua disposição do produto para venda. Nesta fase o produto será recondicionado a fim de se recapturar o valor.

Dentro das oficinas, conforme a Tabela 3, há uma análise dos materiais em relação ao seu conserto ou não. Caso se verifique que o produto não pode ser consertado, o técnico reaproveita as peças que podem ser reaproveitadas e envia para o desmonte o que não conseguir reaproveitar.

Em uma visão de cadeia de suprimentos e tendo os materiais de pós- consumo como recursos/insumos, esta é uma das etapas em que o produto está agregando valor ao consumidor quando este vira “produto acabado” para se fazer a revenda.

4.2.3 Reciclagem - O papel da área de Desmonte, o Ecoponto e o Descarte

Na área de Desmonte, há uma divisão do produto do que pode ser reciclado – como plástico, papel, ferro, entre outros. Geralmente o ferro é vendido para uma

sucata, e os demais materiais são reciclados junto ao ECOPONTO3, que se destina

geralmente a papel e plástico.

3 O ECOPONTO é uma iniciativa da prefeitura de Fortaleza no incentivo à reciclagem. Mais informações

podem ser acessadas em: https://www.opovo.com.br/noticias/fortaleza/2017/05/confira-o- funcionamento-dos-ecopontos-em-fortaleza.html.

Contudo, segundo o Reginaldo, há materiais – como o plástico seco retirado de televisões – que o ECOPONTO não recebe. Para estes e outros itens que a instituição não consegue reciclar ou reutilizar, o descarte é o lixo convencional.

Se observa com isso um gap em relação a eficiência do reaproveitamento de alguns materiais pela ONG.

No desmonte também é possível retirar peças de um produto para se reutilizar em outro, como acontecem com os eletroeletrônicos.

O Ecoponto se torna um importante parceiro para o Emaús, não sendo concorrente com o mesmo, pois muitos dos materiais recebidos pelo Emaús não são recebidos pelo Ecoponto, como por exemplo, roupas e brinquedos. Outra característica do Emaús é que ONG presta um serviço de ir buscar na casa do doador, eliminando assim, as despesas com transporte pelo doador.

4.2.4 Revenda

Sendo o produto consertado e separado para reutilização, ele será enviado

ao Bazar4. Geralmente os melhores produtos reaproveitados são postos a venda em

um Bazar que há em um shopping da cidade, os demais são disponibilizados no EMAÚS geralmente aos sábados.

Segundo informações obtidas, os produtos que trazem maior retorno financeiro à organização são os relacionados à marcenaria: móveis em geral e produtos relacionados à eletrônica.

Há uma particularidade no fluxo do produto antes de chegar ao consumidor final: em algumas ocasiões ele passa por um “atravessador”. Segundo informações da entrevistada, ela afirma que os atravessadores são geralmente os clientes que querem comprar os produtos com os preços mais baixos possíveis. Esses atravessadores, conforme palavras da entrevistada, querem comprar algo por R$50,00 para vender por R$500,00.

Geralmente os produtos vendidos pelos atravessadores são

comercializados em feiras que ocorrem nos bairros próximos.

4 Os melhores produtos são enviados para o bazar que há dentro do Shopping Benfica, um shopping

Os resultados do exercício de 2017, constatados no relatório disponibilizado pela ONG, mostra que há mercado e que o EMAÚS é sustentável financeiramente.

Para se analisar a cadeia de suprimentos da ONG, levou-se em consideração como ponto de partida da cadeia, a coleta dos caminhões do Emaús em suas rotas.

O destino final da cadeia se caracteriza com a compra de materiais pelo consumidor e a destinação para reciclagem e/ou descarte de materiais pela ONG conforme pode ser observado na figura 15.

Fonte: Criado pelo autor.

A organização tem suas áreas bem definidas, contudo as mesmas não estão formalizadas com seu escopo de atividades através de procedimentos ou políticas de trabalho.

Figura 15 – Cadeia de suprimentos do ponto de origem até o ponto de descarte da ONG EMAÚS.

Reutilização (Volta às oficinas)

Documentos relacionados