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4. A VOZ DA RUA NO TRABALHO DE CAMPO

4.6 A voz das redações dos estudantes

4.6.1 A cartografia afetiva ou cartografia social participativa

A proposta da cartografia afetiva ou cartografia social participativa foi executada a partir da solicitação feita no final da aplicação do questionário para que o estudante fizesse um mapa, tipo croquis, do percurso entre seu local de moradia e a Pedra de Xangô, registrando pontos que considerasse importantes no caminho.

A principal referência do estudante Catedral (Figura 28), são as ruas que, nesta pesquisa, são chamadas de estruturantes, embora ele não escreva os nomes das mesmas em seu mapa. Seu trabalho pode ser considerado o mapa mais simples da série “Cartografia Afetiva” desta tese. Traz um erro de localização em relação a colocação de uma rua em frente à Pedra de Xangô, sendo que esta rua não existe.

O desenho de Catedral, feito em folha de caderno, indica uma certa falta de cuidado do estudante com o material entregue para esse fim. Apesar dessas ressalvas, o mapa de Catedral traz algumas referências que devem ser registradas: Outros aspectos que o desenho de Catedral permite identificar são:

- A importância que é dada à delegacia de polícia, com uma viatura parada na porta, revelam uma preocupação com a questão de segurança que não surge nos outros mapas.

- O destaque dado à Igreja Católica, como que fazendo um contraponto com as questões religiosas de outra natureza.

- O único mapa que traz uma indicação de pessoas entre a Igreja Católica e a Delegacia e em frente ao Colégio Dona Mora, onde ele estuda.

- Nos mapas dos outros estudantes não há desenho de pessoas “no espaço”, valendo o registro que este estudante procura por uma dimensão humana na relação com as ruas.

- A avenida Assis Valente aparece com o nome pelo qual é conhecida pela população, “Pistão”.

- Vale destaque para as faixas de pedestres desenhadas sobre a pista em frente ao Colégio Dona Mora, onde o estudante atravessa todos os dias para ir à escola.

Figura 28 : A cartografia social participativa de Catedral.

Elaboração: estudante “Catedral”, 2019.

Figura 29: Cartografia social participativa de João 2.

Elaboração estudante João 2, 2019.

A cartografia de João 2 (Figura 29), tem como referência duas vias denominadas de estruturantes nesta tese e indica o arruamento do que esta pesquisa denomina de vias locais, deixando implícito que não localiza as chamadas vias transversais. Um dos elementos importantes do mapa é o desenho das

chamadas ruas locais, ruas sem saída que existem em toda a área de estudo e que são chamadas nesta tese de ruas “antenas de televisão” e ruas “espinha de peixe”. - Percebe-se que o estudante conhece essas ruas, sabe que são ruas sem saída e que para se deslocar nelas é preciso entrar e sair pelo mesmo lugar, o que inclusive é feito pelo transporte coletivo, atrasando a viagem dos passageiros.

- Registra, corretamente, a Avenida Assis Valente saindo do Campo da Pronaica, ao lado do Colégio Dona Mora Guimarães.

Figura 30: Cartografia social participativa de “Jorge Amado”.

O estudante com o pseudônimo de Jorge Amado (Figura 30) toma como referência as vias estruturantes e esboça o desenho de parte da área da APA, com 3 das ruas que definem o polígono da APA, demonstrando capacidade de mapear mentalmente o espaço urbano. Trata-se de um ciclista, o que talvez ajude a compreender essa facilidade pois são ruas que ele percorre de bicicleta todos os dias para ira à escola. Registra a Fundação Bradesco e o Colégio Dona Mora Guimarães.

Figura 31: cartografia social participativa de “Popó”.

Estudante com o pseudônimo de Popó toma como referência as vias estruturantes e indica uma rua fora do perímetro da APA, no caso o local onde está localizado seu ponto de partida, sua residência (Figura 31).

- Traz uma das informações mais importantes entre todos os mapas: registra com precisão o local de saída da Caminhada da Pedra de Xangô, entre a Fundação Bradesco e o Campo da Pronaica, na esquina da Avenida Assis Valente. Foi o único mapa que fez um registro a esse respeito, fato que se torna relevante porque trata- se do lugar onde foram feitas as fotos motivadoras da redação.

- Registra a área de vegetação nos dois lados da Avenida Assis Valente, incluindo o entorno da Pedra de Xangô. Trata-se de área remanescente de Mata Atlântica. - Atribui uma importância significativa à presença da Fundação Bradesco na área em estudo.

Figura 32: Cartografia social participativa de “Roberto Gil”.

O estudante que assina com o pseudônimo de Roberto Gil (Figura 32) toma como referência do espaço as vias estruturantes mas indica a localização de uma rua local citada nas entrevistas que é o Ponto 11, local bastante conhecido no bairro de Cajazeiras 11, mas fica fora do perímetro da APA.

- O mapa não guarda qualquer noção de proporcionalidade, o que aliás não é um requisito nesse tipo de cartografia. No entanto, o registro de memória do estudante, certamente referendado por um percurso feito a pé com anotações para a construção do mapa, traz contribuições sobre esse recorte do espaço urbano que devem ser registradas.

- A localização do Ponto 11, no bairro de Cajazeiras 11, citado como local importante e referência nesse território, junto à Escola Municipal Cajazeiras 11.

- A saída de Cajazeiras 11 para a BR-324 que liga Salvador a Feira de Santana e que facilita muito o deslocamento do transporte público e privado em direção ao centro da capital baiana e outros bairros.

- A conexão que o mapa traz entre Cajazeiras, 11, Cajazeiras 10 e o Colégio Dona Mora Guimarães, o que explica o grande número de estudantes que moram nesses bairros e estudam nesse colégio.

- O fato de não dar tanto destaque ao Campo da Pronaica, embora o registre, mas realça a presença da Escola da Fundação Bradesco.

- Indica a localização de um hotel de alta rotatividade, o Hotel Shamego e diversos estabelecimentos comerciais, além de uma Igreja da Universal.

- Indica a localização de um local denominado “Morro do Piolho”, que deverá ser melhor aprofundado posteriormente, até por ser fora do perímetro definido para a pesquisa.

Em sua cartografia social participativa a estudante que assina com o pseudônimo de Charly Brown Jr., (Figura 33), toma como referência do espaço uma via estruturante para organizar, a partir dela, seu roteiro de deslocamento. Desenhado originalmente em 3 partes, que foram unidas pelo pesquisador para facilitar sua leitura e interpretação, sem cortar nenhum item incluído nesses três desenhos.

Figura 33: cartografia social participativa de “Charly Brown Jr”.

- A cartografia da Figura 33, de Charly Brown Jr, apresenta a maior complexidade de informações. A estudante faz diariamente a pé o percurso entre sua casa e a escola, tendo o cuidado de ir anotando, passo-a-passo, os detalhes de tudo que via e achava que deveria incluir no mapa.

- O trecho não é uma rua reta como ela indica, faz várias curvas que não aparecem no desenho.

- O ponto de partida, a Avenida Geraldo Brasil, onde deve estar localizada sua residência, fica ao lado de um grande empreendimento Tenda, um dos novos condomínios de apartamentos que a especulação imobiliária tem feito surgir em toda a área de Cajazeiras, muitos ligados ao programa Minha Casa, Minha Vida.

A cartografia de Charly Brown Jr traz ainda como aspectos que merecem destaque os seguintes fatos:

- Registra a rotatória de Cajazeiras 11 com saída para a Boca da Mata.

- O registro do Colégio Dona Mora Guimarães, do Campo da Pronaica e da rotatória para acesso à avenida Assis Valente estão corretos.

- Importante perceber que ela registra a presença de cobertura vegetal abundante em todo o trecho da avenida Assis Valente e no entorno da Pedra de Xangô.

- Registra corretamente a avenida que sai ao lado da Pedra de Xangô.