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CAPÍTULO 5 – Caracterização sócio-ambiental

5.2. Visitas, diálogos e impressões

5.2.4. A caverna Santana (PETAR)

A caverna Santana está situada nas proximidades do núcleo Santana (PETAR), localizado a 3 km do Bairro da Serra, em direção ao município de Apiaí. As visitas à caverna Santana foram realizadas em novembro de 2004 e novembro de 2006.

O núcleo Santana possui uma boa infra-estrutura para a recepção de turistas. Contudo, o único roteiro oferecido pelos guias do núcleo é a caverna Santana. Além desta, existem outras cavernas dentro do PETAR nas proximidades do núcleo Santana, bem como a trilha do Betari. Para se ter acesso a esses outros destinos turísticos é necessário a contratação de um guia particular preparado para atuar localmente, isto é, é necessário contratar um monitor local. Trata-se de uma estratégia para aumentar a receita local por meio da prestação de serviços dos monitores do Bairro da Serra e Iporanga. Os serviços de monitoria oferecidos, gratuitamente, pelo núcleo Santana são realizados por guardas-parque do PETAR e por monitores ambientais contratados pela prefeitura de Iporanga para atuarem no referido núcleo.

Por ocasião de minha primeira visita à caverna Santana, em novembro de 2004, participei de um pequeno grupo formado por mim e outras duas pessoas. Apesar de se tratar de um final de semana, o movimento turístico, de acordo com depoimentos coletados com os guias locais, estava excepcionalmente abaixo do esperado.

Seguimos em silêncio até a entrada da caverna sem que o monitor aproveitasse esse tempo para discorrer sobre aspectos mais gerais do parque, como o seu papel na conservação da biodiversidade, ou sobre o destino do dinheiro pago na entrada, ou mesmo sobre o envolvimento do parque na temática do desenvolvimento local e soluções de conflitos com a comunidade afetada.

A caverna Santana possui áreas destinadas à visitação e outras de uso restrito, onde a visitação turística não é permitida. O trecho da caverna destinado ao uso público conta com inúmeras estruturas de apoio e facilitação do acesso, tais como passarelas de concreto ou madeira, escadas e grades de proteção. Alguns trechos que oferecem um certo risco de queda não possuem corrimãos e, apesar de ser considerada uma caverna de baixa dificuldade, há, em vários pontos, problemas relacionados à segurança.

Ao longo do percurso, encontramos um grupo de, mais ou menos, vinte pessoas. Eram estudantes em excursão escolar, todos com idade entre 13 e 15 anos, provenientes de São Carlos, interior do estado de São Paulo. Estavam todos sentados em semicírculo num dos salões da caverna ouvindo a exposição de um dos três monitores que os acompanhavam (Figura 5.2.4.1). Esses monitores prestam serviços para a pousada onde os alunos estavam hospedados e operam dentro de uma estrutura bem organizada composta pela pousada, uma

operadora de turismo e um grupo de monitores que trabalham a partir de pacotes turísticos. Aproximamo-nos e decidimos ouvir a exposição. O texto apresentado pelos monitores, sobre aspectos técnicos da formação de cavernas, foi extremamente longo e cansativo. Por mais que eu me esforçasse, minha atenção se dispersava. Não havia meios para manter-me concentrado ao texto que estava sendo apresentado. Por fim, cedi ao cansaço e minha atenção foi deslocada para as crianças que estavam sentadas na minha frente.

Figura 5.2.4.1 – Monitor ambiental (ao fundo) discursa para grupo de alunos: reprodução da sala de aula dentro da caverna (foto do autor).

Para minha surpresa, eu não era o único que estava entediado com o texto apresentado pelo monitor. A expressão de enfado e manifestações de desconforto foram, aos poucos, tomando conta de toda a platéia. A falta de atenção foi se convertendo em conversas laterais e o nível de ruído foi se amplificando. Um segundo monitor, muito inseguro e com péssima dicção, assumiu a palestra, mas não conseguiu recuperar a atenção dos alunos. Mudaram de assunto e começaram a falar de um experimento musical realizado pelo grande músico Hermeto Pascoal naquela caverna e, precisamente, naquele lugar. Segundo o relato dos palestrantes, Hermeto percutia as estalactites em busca de sons com afinação precisa para a sua composição ou improvisação. A título de ilustração, os monitores pediram para que todos apagassem suas lanternas e carbureteiras, e deram início a uma

demonstração despretensiosa da sonoridade das estalactites. Embora o monitor que se dispôs a fazer a demonstração não fosse músico, tinha certamente uma boa intuição musical. O resultado foi surpreendente. O som produzido se assemelha ao da marimba, mas dentro da caverna, sob as condições privilegiadas de acústica e reverberação natural, aquela pequena demonstração se converteu num belo espetáculo. Os ânimos se reacenderam, e todos aplaudiram com entusiasmo ao final da breve apresentação.

Nossa segunda visita à caverna Santana ocorreu em novembro de 2006, durante o feriado prolongado do dia de Finados. Chegamos ao núcleo por volta das 16h e, de acordo com nosso guia, o movimento turístico era pequeno naquele momento, tendo havido um fluxo mais intenso no período da manhã.

Nosso pequeno grupo, formado apenas por mim e outra turista, foi guiado pelo Sr Paulo, que trabalha como monitor ambiental no PETAR há 29 anos e, certamente, é um dos guias mais experientes do lugar. Preparado pelo curso para a formação de monitores ambientais em 1997, o Sr Paulo é um dos monitores contratados pela prefeitura de Iporanga para atuar no núcleo Santana.

O trajeto dentro na caverna Santana, de aproximadamente 1h, teve os 55 minutos iniciais registrados em gravação fonográfica (Anexo 2 – faixa 2). Também nesse registro, assim como naquele realizado na caverna Chapéu (núcleo Caboclos), mantivemos o som em seu estado original, isto é, sem intervenções de edição. Procuramos com isso preservar a fidelidade do registro em seu estado integral, com o discurso, pausas e ruídos.

O texto apresentado pelo monitor mantém o padrão técnico fundamentado nos aspectos morfogenéticos de cavernas. A didática não é boa, o que dificulta o acesso às informações apresentadas. A qualidade das informações é questionável, uma vez que há equívocos em relação à terminologia, datas e processo de formação dos espeleotemas. Quanto ao interior da caverna Santana, há um intenso processo de transformação que ocorre em, pelo menos, dois aspectos da caverna. O primeiro deles é causado pela deposição de fuligem proveniente da queima do carbureto1, o que compromete seriamente o aspecto visual da caverna. O segundo diz respeito ao ruído produzido pelos próprios turistas. Para quem espera encontrar um ambiente tranqüilo e silencioso na caverna Santana, a experiência pode ser profundamente desanimadora, como podemos verificar a partir dos 12’40” do percurso realizado dentro da caverna (Anexo 2 – faixa 2).