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Visita ao município de Apiaí e ao Núcleo de Caboclos (PETAR)

CAPÍTULO 5 – Caracterização sócio-ambiental

5.2. Visitas, diálogos e impressões

5.2.3. Visita ao município de Apiaí e ao Núcleo de Caboclos (PETAR)

O município de Apiaí, localizado nas porções mais elevadas do Vale do Ribeira, em cotas de altitude ao redor dos 1000 m, possui clima tropical de altitude, favorecendo o desenvolvimento de hortênsias que vicejam em abundância e ornamentam os jardins da cidade, bem como a araucária, um tipo de pinheiro nativo bastante comum na paisagem florestal dos arredores da cidade.

O artesanato local, uma nítida herança indígena, é baseado principalmente na confecção de diferentes utensílios de cerâmica, muito famosos regionalmente devido à beleza, originalidade e qualidade das peças.

Dentre os municípios visitados ao longo deste trabalho, Apiaí é certamente aquele que, segundo nos pareceu, tem melhor se organizado em torno da recepção turística, resultado da vocação local e do apoio e incentivo da atual administração do município. Assim como o município de Eldorado, Apiaí possui um centro de apoio ao turista e um excelente serviço de atendimento realizado por um guia turístico local. Mapas e encartes ilustrados contendo os principais atrativos da cidade e um minucioso calendário anual de atividades fazem parte do material de suporte ao turista. Os principais atrativos incluem, além do artesanato, as construções e ruínas históricas, a comida típica, trilhas, cachoeiras e cavernas.

Dentro da modalidade do ecoturismo, o município faz uso de duas áreas de preservação: o Parque Natural Municipal Morro do Ouro e o Parque Estadual Turístico do Alto Ribeira (PETAR), o qual se sobrepõe parcialmente à área do município. Embora haja, localmente, roteiros turísticos que incluem a visitação dos atrativos naturais localizados no Bairro da Serra em Iporanga, a exclusividade local em termos de ecoturismo no PETAR fica por conta do acesso estratégico ao núcleo Caboclos desse parque.

O núcleo Caboclos é um dos quatro núcleos do PETAR, sendo que a estrada de acesso está situada no km 264 da rodovia SP 250, entre os municípios de Guapiara e Apiaí, a 29 km deste último. A partir da entrada de acesso, inicia-se uma jornada de 16 km em estrada de terra até o centro de recepção do núcleo Caboclos. A estrada, encravada no meio da floresta, é muito bem conservada e, juntamente com seu entorno, compõe um belíssimo cenário.

O núcleo conta com poucos funcionários. Não há água encanada e, tampouco, luz elétrica. As trilhas que levam aos destinos turísticos (cavernas e cachoeiras) são bem sinalizadas e conservadas, apesar do aspecto selvagem que confere uma característica especial ao lugar. A infra-estrutura é mínima, sendo composta de um pequeno escritório central, guarita, um pequeno alojamento e uma área de camping. O núcleo dispõe também de um guarda-parque para realizar o trabalho de guia turístico para as várias cavernas abertas à visitação.

De acordo com as informações fornecidas pelos funcionários do núcleo, o número de visitantes é sempre pequeno quando comparado com os do núcleo Santana (Bairro da Serra), o que pudemos verificar por ocasião de nossa visita no feriado prolongado de 02 de novembro de 2006, quando não avistamos nenhum outro visitante além de nosso pequeno grupo.

Com o objetivo de obter uma avaliação das “situações reais”, optei por deixar de lado a minha identidade de pesquisador e assumir a condição de turista ordinário, estratégia que adotei em boa parte dos trabalhos de campo, principalmente, aqueles envolvendo a visitação de cavernas.

O trabalho no núcleo Caboclos incluiu a visita da caverna Chapéu, considerada pelo guia local a mais apropriada para iniciantes devido ao baixo nível de dificuldades em seu trajeto. As cavernas do núcleo Caboclos se encontram em estado natural, muito bem conservadas e não dispõem de estruturas de segurança, tais como aquelas que encontramos na caverna Santana e do Diabo.

Nosso grupo, formado por mim e por outra turista, foi guiado pelo Sr Adalberto, guia turístico e guarda-parque do PETAR, preparado pelo curso para formação de monitores

ambientais em 1997.

O percurso na caverna Chapéu, de aproximadamente 40 minutos, foi parcialmente registrado em gravação fonográfica por meio de equipamento profissional portátil (Microtrack: M-audio) para evitar qualquer tipo de inibição por parte do guia. Do tempo total do trajeto, foram registrados os 16 minutos finais que constam integralmente, sem intervenções de edição, no anexo 2 (faixa 1 do CD) ao final deste trabalho. Nesses registros sonoros, procuramos preservar a originalidade da gravação, isto é, mantivemos o conteúdo sonoro real e integral ao longo do percurso final dentro da caverna.

O propósito do registro fonográfico é trazer para fora da caverna a dimensão sonora desse ambiente, que define um de seus aspectos mais espontâneos, tendo no silêncio, quase absoluto, a sua expressão mais intensa e peculiar, de grande valor e raridade em toda a biosfera. Cabe salientar que decidimos não realizar as transcrições para preservar a possibilidade de uma experiência pessoal para o ouvinte em relação ao conteúdo integral das gravações em que as pausas no discurso, a inteligibilidade das palavras, a dicção do monitor ambiental, bem como o som natural da caverna são componentes valiosos do ambiente sonoro que não podem ter menor peso em privilégio do conteúdo textual (Anexo 2 – faixa 1).

Outro aspecto de grande importância, que pode ser apreciado no registro fonográfico diz respeito ao desempenho e trabalho do guia turístico em relação aos diferentes aspectos de seu discurso. Dentre esses aspectos, cabe ressaltar a forma e a estrutura da apresentação em que estão inseridas a didática e a capacidade de comunicação do guia turístico, bem como o conteúdo do texto apresentado. O registro fonográfico da caverna Chapéu tem, também, como objetivo a função de servir de referência para avaliação comparativa do ambiente sonoro registrado na caverna Santana, a qual trataremos adiante neste trabalho.

Sobre o conteúdo do texto apresentado pelo monitor, há uma forte limitação ao aspecto técnico da formação de cavernas, em que as informações fornecidas pelo guia são, muitas vezes, insuficientes ou mesmo equivocadas. À dificuldade evidente de domínio sobre o aspecto técnico dos processos morfogenéticos em cavernas, soma-se a ausência de informações relacionadas à proposta de conservação do parque, ou mesmo sobre a questão social, tão marcante na região. Contudo, o guia que nos acompanhou nos pareceu conhecer muito bem o percurso dentro da caverna Chapéu, propiciando um deslocamento seguro para nosso grupo e prestando auxílio sempre que necessário.