A certificação consiste num processo voluntário de reconhecimento externo que visa
demonstrar a aptidão da organização, qualquer que seja a sua dimensão, natureza ou
setor de atividade, que de uma forma consistente consegue proporcionar produtos e/ou
serviços que vão de encontro aos requisitos, expectativas e satisfação dos seus clientes,
bem como aos requisitos estatutários, normativos e regulamentares aplicáveis. Segundo
o IPQ, organismo nacional de normalização da ISO, este reconhecimento é efetuado
após a realização de uma primeira auditoria externa à organização levada a efeito por um
organismo de certificação, vulgarmente designado por entidade certificadora
independente e acreditada no âmbito do Sistema Português da Qualidade (auditoria de
concessão). Esta auditoria é suportada no referencial normativo ISO 9001, e visa
comprovar que o SGQ implementado na organização cumpre com os requisitos deste
referencial. Após a realização desta auditoria, e caso a organização esteja em
cumprimento com o estabelecido, é-lhe emitido um certificado que o comprova, sendo-lhe
concedida a designação de empresa certificada segundo a ISO 9001.
Uma vez certificada, a organização deve manter o seu SGQ implementado, e evidenciar
que o mesmo se revela adequado e eficaz ao longo do tempo, sendo este facto
comprovado com a realização anual de uma auditoria de acompanhamento pela entidade
certificadora que lhe atribuiu o respetivo certificado. Findo a realização de duas auditorias
de acompanhamento nos dois anos seguintes (auditoria de 1º. acompanhamento e
auditoria de 2º. acompanhamento), a organização certificada é alvo de uma quarta
auditoria com vista à renovação do seu certificado (auditoria de renovação). Quer as
auditorias de concessão, quer as auditorias de renovação caracterizam-se por serem de
maior duração comparativamente com as de acompanhamento, na medida em que visam
a concessão ou a renovação do certificado.
Em resultado de cada uma destas auditorias, independentemente do seu tipo de
auditoria, é deixado à organização pela entidade certificadora, um relatório, que além de
evidenciar a conformidade do SGQ implementado com os requisitos da ISO 9001, inclui
um conjunto de constatações. Estas constatações, que não são mais do que
observações deixadas pela equipas auditora, são devidamente indexadas às cláusulas
dos requisitos da ISO 9001 e caracterizadas segundo metodologia própria da entidade
certificadora, e constituem um suporte objetivo na promoção da melhoria do SGQ
auditado e consequentemente do desempenho da organização, consubstanciando a
efetiva mais-valia de um processo de auditoria externa.
Existem vários tipos de certificações que se distinguem pela natureza do referencial
normativo pelo qual se regem as auditorias, e segundo o qual a organização quer ver
reconhecido o seu desempenho. O estudo que se apresenta aborda, em particular, a ISO
9001 e a certificação dos SGQ implementados numa amostra de municípios Portugueses
segundo este referencial normativo. Neste caso, é conferida a designação de município
certificado segundo a ISO 9001, que atesta a focalização do mesmo na eficácia do seu
SGQ de modo a que se encontre alinhado com as necessidades e expectativas dos seus
cidadãos. Este processo pode abranger, como abordaremos de seguida, a totalidade das
atividades desenvolvidas pelo município, ou apenas algumas, correspondendo assim a
uma certificação global ou parcial, respetivamente.
Para Lopes e Saraiva (2009: 218) “as certificações são um meio através do qual a
qualidade pode ser orientada, apreendida e melhorada”. Também Pinto e Soares (2009:
22) referem que “o sistema de gestão da qualidade, assumindo-se como um processo
dinâmico e estando sujeito a uma avaliação periódica, onde são analisados os objetivos
propostos, o seu cumprimento e a eficácia das medidas corretivas implementadas,
resulta num esforço de gestão que se pode traduzir na melhoria contínua do desempenho
da qualidade da própria organização”. Este autor defende que a generalidade das
organizações, quando se propõe a implementar um SGQ, têm por objetivo a certificação
como meio que garanta “aos clientes (internos e externos), à gestão de topo e a todas as
partes interessadas que as atividades da organização se processam de modo controlado
e de acordo com o previsto”. Este processo, resulta então para muitas organizações, em
vantagens que se prendem com a publicidade que daí advém, e que consegue, num
mercado tão competitivo, traduzir-se num fator de diferenciação positiva para os seus
clientes (Pinto e Soares, 2009). Também Lopes e Saraiva (2009: 193) referem que “numa
sociedade em constante mudança, em que a obtenção e a melhoria da qualidade é
considerada como uma vantagem competitiva sustentada, a certificação tem vindo a
assumir, cada vez mais, um papel bastante importante no seio das organizações”.
No entanto, é importante que as organizações tenham em consideração que lhes cabe a
capacidade de assumirem este processo com o intuito de melhorarem o seu
desempenho, na medida em que o mero cumprimento de procedimentos instituídos com
vista à certificação poderão não assegurar, per si, a qualidade dos produtos fornecidos ou
serviços prestados (Chase, 1993, apud Sousa, 2007). Também Ashton (1993 apud
Sousa, 2007) partilha desta opinião quando refere que nas organizações onde a
certificação em si mesma é um fim, a mesma traduz-se num volume acrescido de
formulários e procedimentos administrativos, onde vulgarmente se descura o seu
potencial na melhoria contínua do seu desempenho. Segundo ainda os defensores da
teoria institucional, este foco na certificação como um fim, faz com que as mudanças
sejam apenas formais não se produzindo mudanças internas de procedimentos e rotinas
com vista á melhoria efetiva do desempenho organizacional (Carruthers, 1995; Modell,
2009).
Segundo Dias (2012: 01), “todo o processo de planeamento e implementação de um
sistema de gestão da qualidade, bem como a sua certificação, é realizado de forma
voluntária pelas organizações, motivadas por objetivos internos de melhoria do sistema
de gestão da organização, ou externos, na busca de novos clientes e onde a certificação
é tida como um aspeto de marketing importante”. Segundo Carvalho e Santos (2004: 03),
“a consideração da empresa como um sistema que interage com a envolvência e cujas
partes interagem entre si, permite identificar as relações de causa e efeito que nela se
desenvolvem, com a consequente localização dos principais focos de problemas
existentes, onde se devem concentrar os esforços na resolução, racionalização e controle
dos mesmos”.
São exatamente estas fragilidades que o estudo que se apresenta propõe identificar e
tipificar em resultado das auditorias realizadas aos SGQ implementados na amostra de
municípios Portugueses certificados alvo deste estudo, com vista a dar início ou
continuidade ao seu processo de certificação segundo a ISO 9001, no pressuposto de
que ao serem identificadas poderão fomentar a melhoria contínua do seu desempenho.
CAPÍTULO 4
No documento
A Importância da Certificação na melhoria contínua da gestão municipal: o caso da ISO 9001
(páginas 55-58)