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2.2 ORIGEM, FUNDAÇÃO E DESENVOLVIMENTO DAS CIDADES

2.2.5 A Cidade Industrial

Após um conjunto de transformações ocorridas na Europa Ocidental durante a segunda metade do século XVIII e todo o século XIX, relativas à substituição do trabalho artesanal pelo trabalho assalariado e baseado na utilização de máquinas, houve mudanças na divisão do trabalho com introdução de linhas de montagem e da produção em série além do desenvolvimento dos transportes e comunicação com as invenções do telégrafo, trens, navios a vapor. A indústria promoveu a exploração cruel da força de trabalho através de jornadas diárias de trabalho desumanas (15hs). As fábricas ofereciam péssimas condições de trabalho num ambiente sem exaustão, ventilação e instalações sanitárias.

A era industrial provocou nas cidades o crescimento demográfico. A concentração de indústrias na cidade atraía grandes contingentes populacionais e o crescimento desordenado da cidade favoreceu a proliferação de cortiços (2/3 da população de Paris morava em habitações insalubres); falta de higiene, ventilação e iluminação. O período foi assolado pela disseminação de epidemias e de grande atuação de engenheiros e médicos sanitaristas.

A estrutura compacta das cidades medievais não atendia às necessidades da cidade industrial. O poder público retomou o controle sobre o gerenciamento das cidades, criando leis sanitárias para combater os males urbanos e o proletariado gradativamente desperta para a sua importância social. A cidade entrou em crise e buscaram-se soluções para seus problemas mais urgentes. Todas as intervenções traziam nas entrelinhas as intenções de desarticular os movimentos sociais, dispersando a população pobre (ex.: isolamento em vilas operárias) e de criar um cenário urbano adequado à burguesia. Assim, a cidade industrial moderna promoveu a segregação espacial de classes sociais através das suas intervenções, que privilegiavam a circulação, tendo a rua com o grande elemento urbano na cidade industrial. A correção dos conflitos se buscava através de planos de reformas com intervenção no tecido urbano existente. Com a introdução da ferrovia para o transporte de passageiros e com a melhoria do sistema viário para circulação de carruagens, diligências e ônibus de tração animal, a burguesia pôde se instalar nos subúrbios mais distantes, em bairros conhecidos como

subúrbios jardins. Com o subúrbio jardim, reinicia-se a tendência indesejável do suposto crescimento “ilimitado”.

Entre 1853 e 1871, Georges Eugène Haussman, então Prefeito do Departamento de Sene, que englobava Paris, formulou um plano de reforma que demoliu cerca de 60% das edificações da cidade medieval, que era uma cidade de ruas pequenas e sujas, casas feias e escuras e ar insalubre. A urbe era marcada por sucessivas revoltas da população e de difícil acesso às tropas do exército. Haussmann utilizou a lei sobre a expropriação de 1840 e a lei sanitária de 1850 com os instrumentos legais que deram suporte ao plano para facilitar o controle da circulação dentro da cidade e a eliminação da insalubridade e degradação dos bairros.

O Plano tinha uma dimensão estética de revalorização e re-enquadramento dos monumentos e consistiu em uma série de medidas de renovação do traçado urbano, reestruturação fundiária, construção de infra-estruturas, equipamentos e espaços livres.

Além disso, o plano atendia tanto às exigências da nova burguesia industrial como também as de caráter militar, pois possibilitava a contenção dos revolucionários, impedindo- os de fazer “barricadas” nas novas vias amplas e regulares.

O Plano modificou a malha urbana de Paris e criou uma nova rede viária onde a avenida funcionava como elemento principal unindo pontos da cidade. As transformações de Paris se caracterizavam em linhas gerais por (Figura 07):

• Quarteirões irregulares, produto residual de vários traçados;

• A praça como lugar de confluência de vias;

• Regularização das fachadas;

• Implementação de novos serviços primários – aqueduto, esgoto, iluminação a gás, a rede de transportes públicos;

• Nova estrutura administrativa da cidade – dividida em 20 distritos parcialmente autônomos; e

• Implementação de novos serviços secundários – escolas, hospitais, colégios, quartéis, as prisões e parques públicos.

Figura 07 – Uma perspectiva do centro de Paris revelando a reforma de Haussamann. NAGY, 1970.

É bom ressaltar que o projeto de Hausmann não incluía uma proposta para a população mais pobre expulsa da área central.

O Plano de expansão de Barcelona (1859 – 1860) pretendia promover o crescimento e dar continuidade à cidade existente. Ildelfonso Cerdá foi considerado o primeiro urbanista no sentido moderno do termo, por ter sido o primeiro a analisar a cidade como um conjunto complexo de relações e estabeleceu regras universais de regularidade e teorias. O catalão elaborou a Teoria da Construção de Cidades (1875), A Teoria da Viabilidade Urbana (1860- 61) e A Teoria Geral da Urbanização (1863-1867).

A situação era crítica em Barcelona em 1850. Antes da implantação do plano, foi expedido um decreto real permitiria a demolição da cidade diante das péssimas condições de higiene e moradia. Decidiu-se, então, que uma alteração na sua conformação urbana seria a solução mais adequada, começaria pela derrubada da muralha ao seu redor dando início a todo um processo de expansão e intervenção sanitarista na cidade, que seria efetivado através de um plano de expansão ainda a ser ainda elaborado (Figura 08).

O plano apresentava uma grelha ortogonal com quadras de 113m de lado e ruas de 20m cortadas por duas diagonais principais, com larguras de 60m e 80m, confluindo em uma grande Praça das Glórias Catalãs. A quadrícula proposta estendia-se até aos municípios vizinhos e envolvia a velha cidade medieval. O Plano de Cerdá, enquanto projeto social, não foi efetivado.

Figura 08 – O plano de Barcelona de Ildelfonso Cerdá, 1864. LAMAS 2000.

• Em 1882, o engenheiro espanhol Arturo Soria y Mata propôs a cidade de forma linear, em oposição à tradição das demais cidades européias. A estrutura da cidade era um complexo contínuo ou retilíneo, possuindo uma largura variável, de até 700 metros eqüidistante do núcleo central. Fora da faixa destinada às edificações, existiam campos de cultivo, florestas, procurando assim, aproximar o núcleo urbano da natureza. O plano da cidade linear apresentava as seguintes vantagens:

• Casas dispostas em filas podem defender-se melhor nos casos de ataques

• Reserva de área destinada à expansão;

• Isenção para as habitações de ficarem dispostas em torno dos estabelecimentos fabris e distribuídos harmonicamente ao longo das grandes linhas de tráfego; e

• Desenvolvimento nos serviços de transporte.

As principais desvantagens da cidade linear eram a separações dos centros operários, residenciais e administrativos, os números excessivos de cruzamentos de ruas e as residências dispostas à margem de uma artéria de tráfego intenso.