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2.2 ORIGEM, FUNDAÇÃO E DESENVOLVIMENTO DAS CIDADES

2.2.7 A Concepção da Cidade Moderna

O inicio do século XX foi marcado por um período de intensa atividade, tanto no plano teórico quanto institucional (regulamentação da gestão da cidade), e no plano das realizações. O desenvolvimento do transporte possibilitou a dispersão populacional, descongestionando os grandes centros.

A cidade iniciou o século XX deixando para trás a imagem de cidade da noite apavorante e sombria, com melhoria das condições de trabalho e de moradia. O urbanismo se consolidou como disciplina autônoma, que conhece e pode intervir na cidade.

Ao final da década de 1920, o cenário urbano sofreu a interferência das correntes progressistas. O urbanismo barroco, entretanto, sobreviveu até 1920. A partir daí proliferaram dois novos elementos e que moldariam de maneira irreversível a fisionomia das grandes cidades: o automóvel utilizado de forma mais difundida e o arranha-céu (com o advento do concreto armado e do elevador). Percebeu-se então que a malha urbana de traçado ortogonal cheia de cruzamentos viários não era muito apropriada para a circulação dos automóveis com segurança.

Nos E.U.A, Clarence Perry, Henry Wrigth e Clarence Stein, nos anos trinta do século XX, realizaram estudos sobre a unidade de vizinhança, onde as vias não se cruzavam. Clarence Stein, precursor do urbanismo modernista, criou o esquema radburn, com a separação radical de vias para circulação de autos e pedestres. Na faixa central situada ao longo da superquadra seriam implantados as áreas verdes e os equipamentos sociais. Stein defendeu que o tamanho ideal das cidades seria de 10.000 habitantes, necessário para manter a vida social de uma comunidade.

Le Corbusier concebeu em 1922 uma cidade ideal uma vila contemporânea para 3 milhões de habitantes. Em 1925 apresentou a proposta urbanística do Plano Voisin, para o centro de Paris. Depois projetou Ville Radieuse, uma cidade com arranha-céus em 1935. O estudo de Le Corbusier apresenta uma visão precoce da paisagem urbana que iria dominar as

grandes cidades. Na Unidade de Habitação em Marselha, 1945-1952, Le Corbusier adaptou o conceito de unidade de vizinhança em uma única edificação com autonomia e provida equipamentos sociais, além do comércio e serviços. Inspirou ainda os edifícios em forma de barras horizontais: o grand ensemble (exemplo de Sarcelles). Essa solução habitacional leva os moradores a graves problemas sociais de convivência apelidada de sarcelite.

Uma notável contribuição do urbanismo modernista veio da Alemanha e contou com a participação de arquitetos de diversos países como Mies van der Rohe, Hans Scharoun, Josef Frank, Max Taut, Richard Docker, Hans Poelzig, Ludwig, Hilberseimer e Le Corbusier, convidados para criar blocos de apartamentos e casas isoladas para a exposição da Deutscher Werkbund em 1927.

Stevenage foi a primeira cidade criada na Inglaterra em 1946 e planejada para 80.000 habitantes seguindo os princípios do planejamento urbano racionalista, a cidade nova foi criada na região em torno de Londres visando a desconcentração urbana da capital.

Outra cidade inglesa, Milton Keynes (1967 – 1976), foi concebida por uma equipe multidisciplinar com previsão para absorver a descentralização de Buckinghamshire. O módulo básico da planta geral era uma quadrícula com 1 km de lado formado por superquadras de desenho variado com formas do repertório modernista, com alguns desenhos reticulados e outros orgânicos. No plano geral da cidade, além da área central de configuração inspirada na obra de Mies van der Rohe, havia superquadras funcionais de saúde e ensino universitário. Cada superquadra foi planejada para possuir vida própria e autônoma.

Milton Keynes fez parte da mais recente geração de cidades novas e vem demonstrar a introdução da qualidade de vida no plano geral de uso do solo.

Le Corbusier publicou a Carta de Atenas, em 1941, com base nos anais IV Congresso Internacional de Arquitetura Moderna – CIAM, realizado em 29 de julho de 1933, a bordo do navio “Patris II”. A “Carta de Atenas” resume a doutrina do urbanismo funcionalista: “as chaves para o planejamento urbano estão nas quatro funções: moradia, trabalho, lazer (nas horas livres), circulação”. Brasília é o exemplo mais completo já construído das doutrinas arquitetônicas e urbanísticas do CIAM. O urbanismo funcionalista admitia ainda uma quinta função: o centro público, para atividades administrativas e cívicas. A organização de tais funções dever-se-ia processar em setores mutuamente excludentes.

Segundo Lúcio Costa, o plano de Brasília consistia em três elementos estruturais básicos: o cruzamento de dois eixos, dois terraplenos e uma plataforma. O cruzamento axial definiu a área da cidade, contido na figura de um triângulo eqüilátero superposto ao

cruzamento e que marcou a área de terra urbanizada.

O Plano de Brasília é uma ilustração perfeita de como o zoneamento daquelas funções pode gerar uma cidade. Um cruzamento de vias expressas determinou a organização e a forma da cidade onde superquadras residenciais são colocadas ao longo de um dos eixos e áreas de trabalho ao longo do outro. O centro público se localiza num lado do cruzamento entre os dois eixos.

A área de recreação tomou a forma de um lago e um cinturão verde rodeou a cidade, em uma proposta de planejamento urbano total.

Um dos primeiros objetivos do plano de Brasília era eliminar da sociedade brasiliense os valores injustos que os arquitetos associam à estratificação social-espacial capitalista. Neste plano para o desenvolvimento da sociedade, a criação de uma nova cidade e de uma nova sociedade acarretaram a destruição da ordem urbana e social anterior. Na utopia do plano piloto, a distribuição desigual de vantagens originadas por diferenças de classes, raça, emprego, riqueza e família, teria pequeno papel e pouca eficácia na organização da vida urbana. A vinculação entre um projeto urbanístico e um programa de mudança social foi um traço básico do planejamento em grande escala na arquitetura. Em Brasília, planejada para um novo tipo de organização social, a relação entre arquitetura e sociedade foi concebida de forma instrumental. HOLSTON. 1993

Ainda que Brasília seja praticamente o único caso de uma grande cidade implantada sobre os princípios do modernismo, pode-se salientar que, na prática, todas as cidades modernas foram influenciadas em parte pelos princípios, adotando sistemas segregados de uso do solo, tentativas de organização de unidades de vizinhança, grande valorização do sistema viário para utilização pelo automóvel e sistemas de parques e áreas livres urbanas para recriação, como define Le Corbusier.