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A cidade no ciberespaço: entre a expansão e a mimese

No documento O CIBERESPAÇO COMO CATEGORIA GEOGRÁFICA (páginas 111-113)

4. PRESSUPOSTOS TERRITORIAIS DO CIBERESPAÇO

4.3 A cidade no ciberespaço: entre a expansão e a mimese

A identificação das relações territoriais no ciberespaço perpassa uma outra esfera desse novo universo que diz respeito ao advento do que vem se chamando de cibercidades, outros nomes também são postulados como cidades digitais, cidades virtuais ou cidades-ciborgues (LEMOS, 2005). O surgimento de cibercidades pode ser percebido com a ampliação das rede telemáticas ocorrido na década de 1980, quando as cidades passam a se conectar de modo mais eficiente e rápido em todo o mundo. Num primeiro momento cabe a separação do que seja a cibercidade enquanto a cidade que se digitaliza, ou seja, enquanto uma cidade que amplia o uso de TICs entre seus habitantes, o que está extremamente relacionado aos processos de inclusão digital já abordados, e que potencializa o uso da cidade através dessas TICs.

As cidades modernas, enquanto artifícios técnicos e organismos, possuem a dinâmica de serem os lócus primordiais da inovação tecnológica e, também, de serem as maiores usuárias dessa inovação. Nesse sentido, o uso das cidades através das TICs perpassa contemporaneamente, a utilização dessas tecnologias como estratégias de vivência nos espaços urbanos: seja pela difusão dos GPS em dispositivos de telefonia móvel, ou mesmo em carros, pelo uso de sites especializados para buscar informações acerca da cidade, ou mesmo pelo uso da captura imagética da cidade para dispor em rede por motivos de fruição, as TICs têm cada vez mais alterado a forma como perceber, agir e se relacionar nas e com as cidades. De certa forma todas as cidades, especialmente as metrópoles já podem ser consideradas cidades ciborgues dado o nível de vinculação entre as mesmas e os dispositivos tecnológicos hoje existentes.

Além dessa particularidade das cidades contemporâneas baseadas num processo de transformação ciborgue das mesmas (LEMOS, 2005), onde a transformação dos equipamentos urbanos passam em alguma medida pela inserção de elementos das TICs em seu funcionamento (compra on-line de ingressos para eventos, trajetos e horários de ônibus disponíveis eletronicamente, ambientes controlados via computadores, dentre outros), as cidades passam a participar também

do ciberespaço através de sua inserção no universo digital de diversas formas, o que marca mais usualmente a utilização mesmo do termo cibercidade.

André Lemos (2006) identifica pelo menos quatro acepções para o que seja a cibercidade: uma primeira vinculada à representação que governos, inciativa privada ou sociedade civil organizada fazem de cidades existentes na rede internet, são portais com “instituições, informações e serviços, comunidades virtuais e representação política sobre uma determinada área urbana” (LEMOS, 2006, on-line) que buscam prolongar a urbe dentro das redes de computadores; a segunda acepção diz respeito à criação de projetos-piloto de incremento ou implantação de infraestruturas de redes de tecnologia de informação e comunicação com acesso público em determinadas porções de cidades, com o objetivo de “criar interfaces do espaço eletrônico com o espaço físico através de oferecimento de teleportos, telecentros, quiosques multimídia, e áreas de acesso e novos serviços com as tecnologias sem fio como smartphones e redes Wi-Fi” (LEMOS, 2006, on-line); um terceiro tipo de cibercidade corresponde às modelagem tridimensionais de cidades baseadas em sistemas de informação geográfica e espacial que procuram processar e analisar dados acerca de dinâmicas espaciais existentes em cidades com fulcro no “planejamento, servindo como instrumento estratégico do urbanismo contemporâneo” (idem); a última forma de se entender as cibercidades foca no desenvolvimento de “'cidades metafóricas', formadas por projetos que não representam um espaço urbano real” (idem), nas quais ambientes de interação entre usuários servem-se dos modelos de cidades reais para o desenvolvimento de comunidades virtuais.

A importância desses dispositivos para a compreensão dos fenômenos territoriais no ciberespaço está disposta na relação semântica e simbólica criada pelos mesmos como formas de ampliação do espaço das cidades dentro do ciberespaço, afinal, elas criam uma mimese das cidades no universo digital, estruturando formas de se relacionar dentro do ciberespaço próximas às vivenciadas nas cidades reais. A cidade contemporânea, como expressão técnica com fluxos constituidores da pós- modernidade, adentra o ciberespaço e é ao mesmo tempo, em alguns casos, condicionada por ele. Projetos que procuram tornar o ciberespaço como uma ágora

decisória, ampliando o poder de participação da população nos rumos da cidade já são encontrados em larga escala em diversas cidades no mundo. No Brasil, projetos como o portal Porto Alegre CC74 instituem uma tentativa de identificação de

problemas urbanos, através da participação cidadã, com foco na tentativa de resolução dos mesmos.

Os problemas verificados pelos cidadãos ao longo da cidade tornam-se visíveis para outros que podem corroborar com a demanda ou rechaçá-la e, em caso positivo, peticionar o governo a tomar determinada decisão para a resolução do problema. Assim, o território da cidade se amplia dentro do território ocupado por ela naquele site específico do ciberespaço. É claro que tais perspectivas só podem ser materializadas devido ao espantoso incremento tecnológico ocorrido cotidianamente e ao acesso aos bens tecnológicos possível devido a um desenvolvimento econômico específico ocorrido nas últimas décadas em alguns países como o Brasil. Sem essas duas condições, pensar em cibercidades seria algo possível apenas nos países do eixo tradicional de desenvolvimento econômico e tecnológico, ou seja América do Norte, Europa e Japão. Mas a realidade da dispersão tecnológica possível à emergência das cibercidades tem sido peça fundamental para a estruturação territorial do ciberespaço como se demonstrará a seguir.

No documento O CIBERESPAÇO COMO CATEGORIA GEOGRÁFICA (páginas 111-113)