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O tamanho do ciberespaço

No documento O CIBERESPAÇO COMO CATEGORIA GEOGRÁFICA (páginas 68-76)

2. REFLEXÕES SOBRE A MATERIALIDADE DO CIBERESPAÇO

2.4 O tamanho do ciberespaço

Alguns apontamentos já foram feitos acerca da amplitude e extensão – em termos de dimensão e impactos – do ciberespaço, entretanto, cabe ainda tecer algumas considerações acerca de seu tamanho. Uma possibilidade coerente seria apenas informar que o ciberespaço possui o tamanho mesmo do mundo, ou seja, da Terra. Mas tal averiguação seria por demais simplista. Deve-se pensar o tamanho do ciberespaço, então, enquanto alguns critérios: quantidade de meios (dispositivos), número de usuários dos meios, quantidade de plataformas comunicacionais disponíveis em rede (aqui entendidas mais especificamente como os sites), quantidade de bytes trafegados, número de empresas ou grupos de mídia existentes no mundo, dentre outros critérios possíveis.

É fato que atualmente todos esses dados são de difícil apreensão em termos mundiais. Fatores como a falta de pesquisas específicas, ou a multiplicidade de métodos de pesquisa para alguns dados, tornam uma tabulação precisa um tanto mais complexa de ser realizada. Em números aproximados, estima-se, por exemplo que somente de televisores existam mais de um bilhão e meio no mundo30. O que já se

equipara às projeções acerca dos computadores. Segundo estimativas da consultoria em TIC Forrester31, existem em atividade no mundo mais de um bilhão de 29 Mais à frente serão discutidas as questões pertinentes acerca da localização no ciberespaço que colocarão

essas perspectivas e foco.

30 Disponível em: CIA World Factbook <https://www.cia.gov/library/publications/the-world-factbook/>, acesso em 20 de dezembro de 2012.

31 “Uso do PC aumentou de quase 500 para 755 milhões entre 2003 e 2007. Em 2003, havia cerca de 496 milhões de PCs em uso entre os 67 maiores países do mundo, dominado pela 178 milhões nos Estados Unidos e seguida pelo Japão em um distante segundo lugar com quase 45 milhões. Países da Europa

computadores (incluídos aí desktops, laptops e outros portáteis). Somente no primeiro mês de 2013 foram vendidas cerca de 28 milhões de unidades de computadores, segundo estimativas da consultoria Gartner, especializada em desenvolvimento de negócios em TIC32. Para as linhas telefônicas existentes no

mundo, dados do Banco Mundial33 para o ano de 2010, apontam a existência de 1,1

bilhão de linhas. As estimativas acerca dos telefones celulares ficam acima de qualquer comparação: existiam 5,9 bilhões de assinaturas de telefones celulares no mundo segundo dados do Banco Mundial34 para o ano de 2011. Considerando as

pessoas em todo o mundo que possuem acesso à rede mundial de computadores, o mesmo estudo do Bando Mundial35, calcula que para cada grupo de 100 pessoas,

pelos menos 32,8 consigam acessar à internet. Além disso, ainda para o mundo, de cada 100 pessoas, 8,6 possuem tecnologia de alta velocidade36 (como a banda larga)

para conexão à internet em seus próprios domicílios.

Os dados brasileiros referentes à base material do ciberespaço vêm apresentando um crescimento significativo nas últimas décadas, acompanhando de certo modo a tendência mundial e em alguns casos ultrapassando-a, como na quantidade de usuários de internet e na quantidade de linhas telefônicas (Figuras 01 e 03). Os gráficos abaixo (Figuras 01, 02, 03 e 04) conseguem dar uma pequena dimensão de como os números brasileiros têm aumentando, fazendo com que a participação do Brasil no âmbito do ciberespaço torne-se mais vultosa. Entretanto, é claro que a disparidade entre os países mais ricos e os demais países do mundo ainda ocupam um alto teor de desigualdade em termos de participação e acesso ao ciberespaço. Juntos, América do Norte Anglo-saxônica (EUA e Canadá), União Europeia, Japão e Austrália, correspondem a mais de 60% de todos os quantitativos demonstrados37.

Ocidental, como a Alemanha, França e Reino Unido tiveram 27 milhões, 20 milhões e 22 milhões, respectivamente. Até o final de 2006, o número total de PCs em uso havia subido para mais de 755 milhões, uma taxa de crescimento anual de 11% de 2003 para 2007, com o PC penetrado mais profundamente mercados mais maduros” (YATES et al., 2007, p. 2, tradução livre).

32 Disponível em: Worldometers <http://www.worldometers.info/computers/>, acesso em 30 de janeiro de 2013.

33 Disponível em: The World Bank <http://data.worldbank.org/?display=graph>, acesso em 10 de janeiro de 2013.

34 Idem. 35 Idem. 36 Idem. 37 Idem.

A metodologia utilizada para a tabulação desses dados, segundo o Banco Mundial (2013), leva em conta os seguintes critérios: para o quantidade de usuários de internet foram considerados aqueles indivíduos que possuem acesso à internet pelo menos uma vez por semana em qualquer âmbito (trabalho, casa, escola, universidade, etc.); para as assinaturas de internet foram consideradas os assinantes de linhas digitais, modem por cabo ou qualquer outra tecnologia de alta velocidade; as linhas de telefone foram quantificadas tomando-se linhas telefônicas que conectam o terminal do assinante à rede telefônica pública e que possuem uma porta em uma central telefônica; as assinaturas de telefonia móvel foram computadas tanto a telefonia pós como a pré-paga, que fornecem telefonia de tecnologia celular fornecendo acesso à rede telefônica pública comutada.

Figura 01

Quantidade de Usuários de Internet (2000 – 2011)

(Por 100 habitantes) 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 ,00 10,00 20,00 30,00 40,00 50,00 2,87 4,53 9,15 13,21 19,07 21,02 28,18 30,88 33,83 39,22 40,65 45,00 6,76 8,08 10,56 12,25 14,08 15,77 17,53 20,58 23,19 25,74 29,52 32,77 Brasil Mundo

Fonte: Banco Mundial38.

38 Disponível em: The World Bank <http://data.worldbank.org/?display=graph>, acesso em 10 de janeiro de 2013.

Figura 02

Quantidade de Assinaturas de Internet Banda Larga (2000 – 2011)

(Por 100 habitantes) 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 0,00 2,00 4,00 6,00 8,00 10,00 0,06 0,19 0,41 0,53 1,72 1,74 2,54 4,01 5,05 5,85 6,81 8,56 0,36 0,62 1,06 1,65 2,60 3,45 4,61 5,24 6,16 6,97 7,71 8,62 Brasil Mundo

Fonte: Banco Mundial39 .

Figura 03

Quantidade de Linhas Telefônicas (2000 – 2011)

(Por 100 habitantes) 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 ,00 5,00 10,00 15,00 20,00 25,00 30,00 17,73 21,16 21,65 21,58 21,53 21,43 20,64 20,76 21,53 21,47 21,62 21,88 15,96 16,72 17,30 17,92 18,74 19,38 19,20 18,83 18,55 18,32 17,82 17,31 Brasil Mundo

Fonte: Banco Mundial40.

39 Disponível em: The World Bank <http://data.worldbank.org/?display=graph>, acesso em 10 de janeiro de 2013.

Figura 04

Quantidade de Assinaturas de Telefones Celulares (2000 – 2011)

(Por 100 habitantes) 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 ,00 20,00 40,00 60,00 80,00 100,00 120,00 140,00 12,08 15,54 18,48 22,32 27,43 33,97 41,84 50,62 59,86 68,21 77,11 85,55 13,29 16,25 19,46 25,53 35,68 46,35 53,16 63,74 78,65 90,02 104,10 123,18 Brasil Mundo

Fonte: Banco Mundial41 .

Quando se compara esses quadros com dados do Censo do IBGE de 201042,

percebe-se que os mesmos apresentam uma certa concordância: sinal de que a expansão do ciberespaço brasileiro vêm seguindo ou mesmo superando os patamares das médias mundiais. O Censo 2010 demonstra que, de cada 100 domicílios, 38 possuem computadores e 95 possuem televisores43. Por mais que, 73,9 milhões de

pessoas já possuíssem acesso à internet no Brasil, segundo o Censo 2010, ainda se verificava que em 2010, 61% da população brasileira estava fora desse realidade, entretanto, quando se analisa os dados do Banco Mundial (Figura 01, acima), já em 2011 esse dado diminui para 55%, o que corresponde a cerca de 11,4 milhões de

41 Disponível em: IBGE <http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/populacao/censo2010/default.shtm>, acesso em 20 de janeiro de 2013.

42 Idem.

43 Isso corresponde a 95% dos 67,6 milhões de domicílios recenseados no Brasil em 2010. Ao se observar que em 2003 havia cerca de 36 milhões de televisores no Brasil (segundo dados do CIA World Factbook <https://www.cia.gov/library/publications/the-world-factbook/>, acesso em 20 de dezembro de 2012), observa-se que em sete anos o números de televisores nas residências brasileiras aumentou em 87,7%. É claro que existem problemas com relação à equiparação entre os dois dados, afinal, ambos não possuem o mesmo critério metodológico de verificação, mas a comparação serve a título de aproximação.

pessoas a mais com acesso à internet em apenas um ano (6% da população total do Brasil).

No que toca à rede de telefonia, os números brasileiros superam os mundiais tanto na rede fixa quando na telefonia móvel. E nesse último ponto, os dados são surpreendentes e demonstram a imensa popularização dos telefones celulares no Brasil: 202,94 milhões de celulares para um grupo de 190 milhões de habitantes, segundo o Censo 2010.

É óbvio que esses dados demonstram um aumento significativo na participação brasileira no ciberespaço e, em consequência, na intensidade dessa participação. Dados do Comitê Gestor da internet no Brasil44 – CGI.br (BARBOSA,

2011), apontavam a seguinte disposição:

Figura 05

Proporção de Domicílios que Possuem Equipamentos TIC por Área Brasil - 2010 Urbana Rural 0,00% 25,00% 50,00% 75,00% 100,00% 99,00% 96,00% 86,00%87,00% 84,00% 68,00% 43,00% 12,00% 34,00% 11,00% Televis ão Rádio Telefone Celular Telefone Fixo

Com putador de Mes a

Fonte: CGI.br (BARBOSA, 2011).

O que demonstra uma clara disparidade entre o meio urbano e o meio rural no que tange ao acesso às TIC necessárias para a participação no ciberespaço. O meio

44 “O Comitê Gestor da internet no Brasil (CGI.br) foi criado pela Portaria Interministerial nº 147, de 31 de maio de 1995 e alterada pelo Decreto Presidencial nº 4.829, de 3 de setembro de 2003, para coordenar e integrar todas as iniciativas de serviços internet no país, promovendo a qualidade técnica, a inovação e a disseminação dos serviços ofertados.” Disponível em: CGI.br <http://cgi.br/sobre-cg/index.htm>, acesso em 20 de janeiro de 2013.

urbano, por exemplo, possui um percentual de mais que o dobro do correspondente rural no quesito computador de mesa, o que demonstra o quão intensa é a desigualdade de participação dessa parcela da população no ciberespaço45. Fato que

pode ser corroborado regionalmente, como na Figura 06, abaixo, que dispõe sobre o número de desktops em cada domicílio:

Figura 06

Proporção de Domicílios que Possuem Computador de Mesa por Região Brasil - 2010 Centro-oeste Nordeste Norte Sudeste Sul 0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80% 90% 100% 34,00% 12,00% 19,00% 40,00% 36,00%

Fonte: CGI.br (BARBOSA, 2011).

Como uma pesquisa amostral, que não tem a mesma cobertura do Censo 2010, a Pesquisa sobre o Uso das Tecnologias da Informação e da Comunicação no Brasil do CGI.br (BARBOSA, 2011), servem para ilustrar como o universo material do ciberespaço tem se ampliado na realidade brasileira. Acerca dessa proporção, Flávio Rech Wagner (2011) apresenta um resumo de como tem funcionado a perspectiva da inclusão digital no Brasil, especialmente no tópico referente à internet:

O Brasil é um país onde tem ocorrido um enorme aumento na penetração da internet. Segundo a pesquisa sobre o uso das tecnologias de informação e comunicação no Brasil – TIC Domicílios, realizada anualmente pelo Cetic.br, sob coordenação do Comitê Gestor da internet, 45% da população 45 E logo, de representação, ponto que será discutido no capítulo referente às questões territoriais do

ciberespaço.

teve algum acesso à internet em 2009. Tomando-se as pessoas que acessaram a rede pelo menos uma vez nos últimos três meses, a proporção aumentou de 24%, em 2005, para 39%, em 2009. Por mais que esse crescimento expressivo demonstre o progresso do país na área, ainda assim os indicadores revelam grandes desafios. Em primeiro lugar, 55% da população, que representam mais de 90 milhões de pessoas, continuavam sem acessar a internet em 2009. Em segundo lugar, a frequência de acesso é muito mais baixa nas regiões Norte e Nordeste – 30% da população nessas regiões acessou a internet nos últimos três meses, contra 45% no Sudeste e 43% no Sul – e especialmente nas pequenas cidades e nas zonas rurais – onde apenas 18% de pessoas acessaram a internet nos últimos três meses, contra 43% nas áreas urbanas (indicadores de 2009). Além disso, o preço do acesso à internet ainda é muito alto, e mais uma vez especialmente em pequenas cidades e zonas rurais, onde não existe competição entre as grandes operadoras. (WAGNER, 2011, p. 97)

Além desse dimensionamento do tamanho e da abrangência do uso de equipamentos de TIC, fornecendo um diagnóstico do suporte material do ciberespaço no Brasil, é necessário que se tome em medida alguma caracterização do universo do tamanho da internet no mundo e no Brasil, bem como dos veículos de mídia, especialmente os televisivos, afinal, o quantitativo de rádios no mundo é um dado ainda complicado de se averiguar, visto que existem – ainda bem – muitas rádios piratas, além das oficiais declaradas.

Iniciando pelos dados referentes às emissoras de televisão, estudo46 da Central Intelligence Agency – CIA47 – aponta que existem cerca de 10.000 emissoras

de TV no mundo, além de mais de 30.000 estações de rádio. Tais dados são extremamente imprecisos e carecem de uma metodologia mais coerente para que possam ser corretamente analisados, mas servem como estimativa do real quadro presente no mundo.

No que se refere à dimensão da internet mundial, maiores apontamentos serão trabalhados no capítulo referente à relação ciberespaço e território, mas já para possibilitar uma visualização do tamanho que se está trabalhando, fica aqui disposta a margem de mais de 3,82 bilhões de sites hospedados no mundo48, isso apenas para

as páginas indexadas presentes na surface web.

46 Disponível em CIA World Factbook <https://www.cia.gov/library/publications/the-world-factbook/>, acesso em 20 de dezembro de 2012.

47 Agência Central de Inteligência, em tradução livre.

No documento O CIBERESPAÇO COMO CATEGORIA GEOGRÁFICA (páginas 68-76)