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É o apoio do povo que empresta poder às instituições de um país, e este apoio não é mais que a continuação do consentimento que, de início, deu origem às leis. Hannah Arendt294

No discurso pronunciado na cidade de Blumenau em 28 de maio de 1938, o Interventor resumiu com “fé, entusiasmo e ufanismo” o que representava a hora do renascimento, a sua firmeza no projeto de nacionalização e a exaltação de seus próprios feitos. Enfim, deu uma prévia de como seria exigido o “zelo pelas coisas de interesse nacional”, reflexo explícito do governo forte.

Nós respeitamos os estrangeiros nos direitos que lhes asseguramos, por isso que são valiosos elementos de colaboração para o nosso progresso. Mas nem porque os recebemos com a doçura do nosso temperamento; nem porque os acolhemos com a hospitalidade, que é traço inconfundível do nosso caráter, abrimos mão do direito que nos é fundamental como nação soberana de orientar e dirigir a formação dos que nasceram no Brasil. (NEREU RAMOS, 1938, .p. 7-8)295.

Corroborando com as palavras que o Interventor catarinense há muito vinha pronunciando, Vargas em seu discurso na cidade de Blumenau, em 10 de março de 1940, enfatizou que não poderia permitir que elementos estranhos, vindos de fora, procurassem perturbar a tranqüilidade das populações coloniais tentando arrastá-las e organizá-las para o exercício de atividades contrárias aos interesses da pátria. Assim, como as conveniências da política regionalista não podiam prevalecer, do mesmo modo os agentes forasteiros não deveriam constranger a população colonial, que, por suas inclinações e pelas tradições de sua vida, era genuinamente brasileira. E, dando ênfase ao sentimento de brasilidade, disse:

O Brasil não é inglês nem alemão. É um país soberano, que faz respeitar as suas leis e defende os seus interesses. O Brasil é brasileiro. Agora, esta população de origem colonial, que há tantos anos exerce a sua atividade no seio da nossa terra constituída de filhos e netos dos primitivos povoadores, é brasileira. Aqui, todos

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ARENDT, Hannah. Crises da República. São Paulo: Perspectiva, 1973. p. 120.

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RAMOS, Nereu. Nacionalização do Ensino. Discurso pronunciado em Blumenau, no grande banquete de sábado, 28 de maio de 1938. Florianópolis: IOESC.

são brasileiros, porque nasceram no Brasil receberam educação (VARGAS, 1980).296

Essa linguagem revelava que o Estado Novo, aqui representado pelo Interventor Nereu Ramos, estava, através do conjunto de decretos – federal e estaduais –, pondo termo a “excessos de liberdade, que representavam crime contra a nacionalidade”. Elucida ainda que, para assumir e diluir dificuldades, “nesta nobre empreitada” estariam associados na frente de batalha governantes e governados, civis e militares, num construir harmônico da unidade da pátria.

Para tornarem efetivas e ágeis as medidas estabelecidas pelas leis federais e pelos decretos estaduais relativamente à orientação e fiscalização das escolas primárias particulares e especialmente quanto à nacionalização do ensino, o Interventor Federal através do Decreto-Lei n.º 124297 criou a Inspetoria Geral de Escolas Particulares e Nacionalização do Ensino, subordinada à Superintendência Geral do Ensino298.

Essa nova Inspetoria, comandada por Luiz Sanches Bezerra da Trindade299, veio agregar forças aos trabalhos da nacionalização que o Inspetor Federal Areão já desenvolvia no Estado, juntamente com todos os exortados por Nereu Ramos.

Assim, o Interventor deixou todos os pontos bem esclarecidos. Dirimidas as dúvidas, veremos do que foi capaz tal legislação nas mãos de seus executores, porque,

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SILVA, Hélio; CARNEIRO, Maria Célia Ribas. Vargas. Pensamento Político Brasileiro. Porto Alegre: L&M Editores Ltda., 1980. p. 104.

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Decreto-Lei nº 124, de 18 de junho de 1938, Estadual, assinado pelo Interventor Federal Nereu Ramos, Gustavo Neves e Altamiro Guimarães. Livro de Leis, Decretos e Resoluções, 1938. APESC.

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Competia à Inspetoria Geral fazer junto com os inspetores concursados ou nomeados para esse fim a inspeção dos estabelecimentos de ensino particular, regidos pelas leis do Estado. Velar pelo fiel cumprimento das leis estaduais quanto à adoção dos programas, às normas de ensino e educação, à orientação pedagógica e à eficiência dos professores, dando as necessárias instruções aos inspetores escolares e docentes. Tornar efetivas as exigências do Decreto-Lei n.o 88, de 31/03/1938, e das leis federais no tocante à nacionalização do ensino; cooperar com a Superintendência Geral do Ensino nos trabalhos que esta indicar para o aperfeiçoamento do ensino nas escolas particulares; fiscalizar as associações; auxiliar a fiscalização federal do ensino primário privado; aplicar penalidades regulamentares aos funcionários que lhe forem subordinados; apresentar anualmente à Superintendência Geral do Ensino relatório dos serviços desempenhados. 18/06/1938. APESC. Livro de Leis, Decretos, Decretos-Lei e Resoluções, 1938. p 127-129.

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Professor Luiz Sanches Bezerra da Trindade, catarinense que trabalhou com Orestes Guimarães, do qual parece ter recebido grande influência. Em 1935 implantou uma reforma no ensino catarinense, tendo como preocupação básica dotar o Estado de uma superestrutura administrativa, criando para tanto o Departamento de Educação, subordinado à Secretaria de Estado dos Negócios do Interior e Justiça (Decreto n.º 713, de 5/01/1935). Pelo Decreto-Lei nº 124 passa a comandar a Inspetoria Geral de Escolas Particulares e Nacionalização do Ensino.

segundo Arendt300, “(...) o burocrata em geral se apegava a normas não como orientação mas como dogmas inquestionáveis e pré-fixados de conduta”.

Em primeiro lugar faremos um quadro geral sobre as unidades escolares catarinenses, a matrícula e a freqüência em 1935, ano em que Nereu Ramos assumiu o Governo do Estado, para compararmos os dados arrolados antes e depois da força fiscalizadora, ativa e constante, imprimida pelos inspetores apoiados que estavam pelo conjunto de leis decretadas pelo Governo Federal e Estadual.

QUADRO Nº 7 - UNIDADES ESCOLARES, MATRÍCULA E FREQÜÊNCIA (1935)