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Desde o período de sua permanência no Congresso Federal, o Deputado Getúlio Dorneles Vargas era um homem fascinado pela comunicação. À época a imprensa escrita e a falada eram os veículos de comunicação mais adotados.

Certa ocasião, quando conheceu o jornalista Assis Chateaubriand, Vargas ficou impressionado com o seu projeto, que pretendia montar ou comprar jornais em São Paulo e Minas Gerais e iniciar junto com o do Rio de Janeiro uma “cadeia nacional de comunicação”. Vargas entusiasmou-se com a palavra “nacional” e desabafou com o jornalista (que será seu amigo, admirador e com o passar do tempo seu inimigo):

Mais do que qualquer outra coisa, este país precisa de instituições que lhe dêem unidade. Cada estado brasileiro é uma ilha voltada de costas para as outras, como se fossem países diferentes. A cadeia de jornais (...) pode ser um embrião da unidade nacional por que eu tanto luto71.

Essas palavras proferidas ao jornalista Chateaubriand já sintetizavam a visão do político sobre a força da imprensa e, conseqüentemente, da propaganda por ela divulgada. Assim sendo, logo que assumiu o Governo Provisório, Getúlio Vargas demonstrou uma real preocupação com a sua utilização.

Sabendo-se que a imprensa opera com os fatos cotidianos – seleciona-os, ordena- os, sistematiza-os e os devolve à população, conforme sua maneira particular de pensar a sociedade e de interferir nela –, então sua eficácia está contida em sua pretensa objetividade e neutralidade. Os sujeitos vivem trajetórias variadas, motivados por crises sociais e políticas, e a imprensa interfere no rumo dos acontecimentos, sugere e condiciona atitudes, além de ser formadora de opinião.

Desta maneira, por considerá-la (a imprensa) um meio de ação eficaz para a divulgação de seus atos, Vargas, desde logo, coloca-a ao alcance de suas mãos manejando- a de acordo com os seus interesses. Foi atribuído à imprensa o caráter de utilidade pública,

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Entrevista de Vargas ao jornalista Assis Chateaubriand em seu primeiro encontro, marcado pelo então Deputado Federal e redator-chefe do jornal O País Lindolfo Collor. In: Chato, o Rei do Brasil. p. 145.

o que obrigava a todos os jornais a publicarem comunicados do governo; o não- cumprimento dessa exigência levava à prisão o diretor do jornal72.

A relação que Getúlio Vargas manteve com a imprensa foi conflituosa durante praticamente todo o período de 1930 a 1945. A esmagadora maioria da imprensa73 nesse período, principalmente da Capital da República, era contrária a Vargas. Isso explica os evidentes cuidados do ditador e do Ministério da Educação com esses veículos, para garantir sempre que possível a homogeneidade cultural.

No início do Governo Provisório, Vargas agradece o apoio decidido e corajoso que os jornalistas deram à “Revolução” e depois, no Estado Novo, pratica severa censura a eles (legislação sobre os “delitos” de imprensa): fecha jornal, confisca emissora de rádio etc.

A Carta Constitucional de 1937 atribuiu à imprensa a qualidade de serviço de utilidade pública, além de traçar os limites para sua atuação através de uma série de restrições. Várias atividades passaram a ser incorporadas pelo DIP, inclusive a de atuar em todos os campos relacionados com o que se denominou “educação nacional”.

Em Santa Catarina, já no ano de 1934, o Inspetor Federal das Escolas Subvencionadas Prof. João dos Santos Areão, em seu relatório ao Ministro da Educação e Saúde Pública, alertava sobre a concessão dada aos jornais de Joinville (“Colônia Zeitung” e “Joinviller-Zeitung”), de Blumenau (“Der Unwadsbote” e “Blumenauer-Zeitung”) e de São Bento (“Volks-Zeitung”), além de outros, todos editados em suas línguas, o que representava para a nacionalização um grande tropeço.

O Inspetor Areão fez esse alerta porque, dos grupos estrangeiros presentes nas zonas de colonização, o que mais preocupava aos governantes e seus auxiliares era mesmo o alemão, conforme pode ser observado por Schwartzman, Bomeny e Costa (2000, p. 92):

(...) núcleo estrangeiro mais fechado em torno de sua cultura, de sua própria língua e de sua própria nacionalidade (...) eram acusados de impedirem a nacionalização pela constância que mantinham suas características étnicas. (...) participavam ativamente da vida brasileira com seu trabalho e com obediência civil, mas ao mesmo tempo mantinham acesos os laços que os prendiam à nação de origem, provocavam nas autoridades nacionais: um misto de admiração e medo.

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FUNDAÇÃO GETÚLIO VARGAS. Diretrizes do Estado Novo (1937-1945). Educação, Cultura e Propaganda. Imprensa. Disponível em: <www.cpdoc.fgv.br>. Acesso em: 21 set. 2003.

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FUNDAÇÃO GETÚLIO VARGAS. Diretrizes do Estado Novo (1937-1945). Educação, Cultura e Propaganda. Imprensa. Disponível em: <www.cpdoc.fgv.br>. Acesso em: 21 set. 2003.

Em se tratando da economia, os estrangeiros, em especial os alemães, representavam, ao menos no Estado de Santa Catarina, uma considerável força produtiva, porém, não deixavam de cultivar sua saudade à Alemanha. Por isso, a divulgação de matérias em língua estrangeira era assunto amplamente debatido, seja defendendo-a por respeito ao outro, seja acusando-a por medo ao desconhecido. O fato é que esses jornais em língua estrangeira funcionaram com liberdade até 1938.

O Inspetor Federal das Escolas Subvencionadas pela União, professor Areão74, considerava o assunto abusivo, alegava que já bastava aceitar os livros, as revistas e os outros jornais que vinham diretamente da Alemanha, e que se devia limitar essa benevolência, obrigando a tradução de um artigo escrito em língua estrangeira.

Alertava ainda, o Inspetor, no mesmo relatório que: “O cultivo da língua não é o ponto de vista principal de tais publicações e, sim, também a defesa e propaganda dos seus princípios políticos”.

A imprensa estava se tornando tecnicamente moderna, e o jornalismo praticado na época poderia até ser descompromissado com a ética, como no caso das colônias onde “a cortesia manda não se imiscuírem em assuntos administrativos porque são estrangeiros”, mas seus efeitos já se faziam sentir.

Sendo o Brasil um país de proporções continentais e levando em conta que na época os meios de comunicação eram rudimentares, somente um órgão federal bem articulado poderia superar as dificuldades para a assimilação do novo ideal introduzido pela Aliança Liberal.

Para isso, em 1931, o governo cria o Departamento Oficial de Propaganda, que a partir de 1934 passa a ser chamado de Departamento Nacional de Propaganda e Difusão Cultural e após o Golpe de Estado de 1937 passa a ser chamado de Departamento de Imprensa e Propaganda – o DIP – como é mais conhecido.75 O DIP atuou com força total em todos os Estados como forma de orientar, fiscalizar e coibir publicações desfavoráveis ao governo em geral.

Segundo Finardi,76 a censura era sempre feita por intermédio do Departamento de Imprensa e Propaganda, que tinha agentes em todos os Estados, inclusive em Blumenau,

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AREÃO, João dos Santos. Inspetor das Escolas Subvencionadas pela União, em relatório apresentado ao Ministro da Educação e Saúde Pública, Gustavo Capanema, em abril de 1934.

75

OLIVEIRA, Lúcia Lippi. O Intelectual do DIP: Lourival Fontes e o Estado Novo. IN: BOMENY, Helena. (Org.). Constelação Capanema: Intelectuais e políticas. Rio de Janeiro: FGV, 2001. p. 37.

76

FINARDI, José Escalabrino. Jornalista nascido em Ascurra em 04/01/1913, em entrevista ao professor Neto Osti (LHO –UFSC - REG:006 – 06/05/1976. p. 7).

através da polícia. Os diretores dos jornais recebiam circulares para a divulgação de notícias. De acordo com o jornalista Finardi, até a notícia sobre uma “gripe muito perigosa” que grassava o País ficou terminantemente proibida de ser divulgada ou mencionada. Afirma ainda que:

O governo federal por intermédio do setor de Imprensa e Propaganda divulgava todos os fatos e o endeusamento de Getúlio Vargas, dos seus esbirros, dos seus políticos, dos seus interventores. Tudo era laudatória.... Era proibido qualquer aparte sobre chefes políticos e mandatários do estado.

Para o comando do DIP, foi escolhido Lourival Fontes77, que, espelhando-se nos exemplos dos governos fascista de Mussolini e nazista de Hitler, cria o “mito Vargas” no Brasil.

O Estado/Nação carente de legitimação utilizava-se do DIP como arma poderosa para levar aos rincões mais distantes os discursos que enfatizavam as realizações do regime. Destacava a educação como solução para os problemas das reivindicações verdadeiras e legítimas da coletividade, visando a um futuro progressista e alvissareiro.

Todos os meios de comunicação da época foram utilizados. O rádio principiava como fonte de informação para todo o País. A “Hora do Brasil”, noticiário radiofônico oficial do governo, surgiu em 1935; e aos noticiários dos ministérios e das autarquias eram acrescentados números musicais e de declamação.

O cinema, apesar de não atingir a todos, e o esporte também foram altamente usados como instrumentos de exposição, técnica "visível" para a reprodução política. O cinema nacional era o elemento que significava a aproximação dos vários ambientes do País, através deles Vargas expunha sua política paternalista, procurando cada vez mais unificar e fortalecer a estabelecida doutrina do Estado.

Conhecedor da potencialidade que o cinema representava, o Inspetor Federal das Escolas Subvencionadas, João dos Santos Areão, no Relatório apresentado ao Ministro da Educação e Saúde em outubro de 1934, faz referência ao “cinema educativo”. Ele solicita

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FONTES, Lourival. Jornalista sergipano colaborou em diversos jornais de seu Estado e da Bahia. Membro do Partido Liberal, apoiou o movimento que levou Vargas ao poder. Em 1931, no Rio de Janeiro, fundou e dirigiu as revistas “Política” e “Hierárquica”. Esta última de tendência fascista teve como colaborador Plínio Salgado. Em 1933 dirigiu o Departamento de Propaganda e Difusão Cultural (DPDC), que mais tarde, em 1939, passou a se chamar Departamento de Imprensa e Propaganda. Permaneceu no cargo até 1942. (FUNDAÇÃO GETÚLIO VARGAS. A era Vargas – Biografias. Disponível em: <www.cpdoc.fgv.br>. Acesso em: 23 jun. 2004).

um “maquinário cinematográfico” indispensável para tornar o ensino concreto por meio de projeções e pergunta ao Ministro:

Não seria de grande utilidade que esta inspetoria estivesse munida de uma dessas máquinas com filmes sempre renovados e adequados ao fim nacionalizador, para exibir nas escolas do interior?78

Persistente, reforçou seu pedido, colocando parte de uma reportagem apresentada pela Revista de Cinema Educativa79, n.º 2, publicada em Florianópolis naquele ano; diz a reportagem referindo-se ao cinema:

Já se sabe que ele não somente educa os alunos (e, nas sessões culturais o adulto) como também é o maior propagandista da escola, atraindo para ela gerais simpatias e desfazendo o carranquismo da escola medieval. (...) Principalmente no interior do país constitui o Cinema Educativo uma inovação de grande alcance. O interesse que ele geralmente desperta é tão intenso que uma professora diligente poderá habilmente se aproveitar do ambiente assim criado em benefício da escola.

Ao fazer essa solicitação ao Ministro, o Inspetor reforça que a técnica do cinema permite ao ator ser visto e ouvido por um número ilimitado de pessoas, assim "a exposição" desse ator (Estado forte na figura paternal de seu ditador e seu projeto nacionalizador) motiva o público (povo), que com ele se identifica. O ator com o papel principal brilha, destaca-se, passando a ser copiado, respeitado, referenciado. Em suma, passa a ser tudo aquilo que todo ditador deseja ser: o referendum do povo.

Quanto ao rádio, este foi seguramente um dos veículos de maior eficiência na difusão do projeto político-pedagógico estadonovista. Em seus programas transmitiam-se os padrões de comportamento e valores desejáveis.

Se é verdade que os indivíduos vivem e são obrigados a sobreviver a cada hora do dia em um mundo de palavras, é também verdade que a sociedade monocrática não permite escolhas ao apregoar a eles palavras tendenciosas.

Bobbio80 expõe que: 78

AREÃO, João dos Santos. Inspetor Federal das Escolas Subvencionadas. Relatório apresentado ao Ministro da Educação e Saúde em outubro de 1934. Arquivo Público do Estado de Santa Catarina. (IES.r. 1934.) (20. 12.cx.69) p.33-34.

79

Idem. p. 34.

80

BOBBIO, Norberto. Os Intelectuais e o Poder: dúvidas e opções dos homens de cultura na sociedade contemporânea. São Paulo: Universidade Estadual Paulista, 1997. p. 12.

Assim como o meio do poder político é sempre em última instância a posse das armas e o meio do poder econômico é a acumulação de bens materiais, o principal meio do poder ideológico é a palavra, ou melhor, a expressão de idéias por meio da palavra, e com a palavra.

Assim, o poder de difusão da palavra, na época em que a ideologia política se exprimia principalmente por meio dos discursos radiofônicos, buscou influenciar o comportamento de quem os escutava, induzindo os indivíduos a agirem através de suas verdades.

A efetiva influência de uma estação de rádio difusora com capacidade para ser ouvida em todo o Estado do Paraná e parte do Rio Grande do Sul foi mencionada ao Ministro Capanema no Relatório do Inspetor Federal das Escolas Subvencionadas já no final de 1934. O Relatório enfatizou que o rádio poderia prestar um saliente papel à educação, mormente nas zonas coloniais, onde o ensino de nossa língua deveria ser difundido.

Após essa introdução que enaltece os benefícios do rádio, Areão sugere que o Ministério da Educação subvencione “esta primeira estação, para animar esse grande empreendimento que muito virá contribuir para o maior desenvolvimento do ensino vernáculo”81.

Ciente do poder do cinema e rádio, o Inspetor buscou o apoio ministerial para, através dessas novidades, proteger, amparar e fortalecer a campanha da difusão da língua vernácula.

Segundo Benjamin82,

O rádio e o cinema não modificam apenas a função do intérprete profissional, mas também a função de quem se representa a si mesmo diante desses dois veículos de comunicação. Seu objetivo é tornar "mostráveis", sob certas condições sociais, determinadas ações de modo que todos possam compreendê- las (...) sob certas condições naturais.

81

AREÃO, João dos Santos. Relatório ao Ministro da Educação e Saúde. Outubro de 1934. p. 35.

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BENJAMIN, Walter. Magia e Técnica, Arte e Política. Ensaios sobre literatura e história da cultura. Brasiliense, 1985. O autor considerava que, com a mediação tecnológica, tudo se transforma, porque ela dá visibilidade ao mundo, o som e a imagem se colocam no lugar da realidade, configurando-se a "Caverna de Platão". Vargas se utilizou intensamente dos meios de comunicação. Sobre o assunto ver: Paulo Duarte (Condena) e Samuel Wainer (Justifica) em Revista História, Rio de Janeiro, Três, n.° 29, 1973.

Para Vargas era indispensável dar essa visibilidade ao Estado, que tem na figura de seu Presidente o expoente máximo de um poder forte, o do tutor da Nação.

Sempre que possível, Vargas procura ratificar a importância da imprensa de um modo geral. Em junho de 1934, dirigindo-se aos profissionais do cinema, ele declara83:

O cinema será (...) o livro de imagens luminosas, no qual as nossas populações praieiras e rurais aprenderão a amar o Brasil, acrescendo a confiança nos destinos da Pátria. Para a massa dos analfabetos, será essa a disciplina pedagógica mais perfeita, mais fácil e impressiva. Para os letrados, para os responsáveis pelo êxito da nossa administração, será uma admirável escola. Associando ao cinema o rádio e o culto racional dos desportos, completará o Governo um sistema articulado de educação mental, moral e higiênica, dotando o Brasil dos instrumentos imprescindíveis à preparação de uma raça empreendedora, resistente e varonil. E a raça que assim se formar será digna do patrimônio invejável que recebeu.

Vargas articulava seus propósitos cooptando a imprensa e estimulando “paternalmente” seus responsáveis para as questões da brasilidade, ou melhor, para a sua ideologia política.

O DIP84 coordenava, orientava e centralizava a propaganda interna e externa. Todos os meios de comunicação foram, por esse órgão, submetidos à censura prévia, teatro, cinema e funções esportivas e recreativas. Além disso, o DIP organizava manifestações cívicas, festas patrióticas, exposições, concertos, conferências e dirigia o programa de radiodifusão oficial do governo.

Para barrar a influência alemã no País, após o alinhamento do Brasil com os Estados Unidos e demais países aliados (nome dado aos países que lutaram contra o eixo “Berlim−Roma−Tóquio” – Inglaterra, França Livre (comandada por De Gaulle)) –, foi realizada uma campanha, com o auxílio do DIP, de penetração cultural do governo norte- americano. Vieram ao Brasil artistas famosos como o cineasta Orson Welles, Walt Disney e o magnata Nelson Rockfeller.

Várias coleções sobre temas nacionais foram editadas pelo setor de divulgação do DIP, como a Coleção Brasil, Vultos, Datas e Realizações e o Brasil na Guerra. E, para

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VARGAS, Getúlio. O cinema nacional, elemento de aproximação dos habitantes do País (discurso na manifestação promovida pelos cinematografistas, em 25 de junho de 1934). In: ______. A Nova política do

Brasil. Rio de Janeiro: José Olimpío, 1938. p.188-189. v. III.

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Departamento de Imprensa e Propaganda (DIP). (FUNDAÇÃO GETÚLIO VARGAS. Diretrizes do Estado Novo. Educação, Cultura e Propaganda. Disponível em: <www.cpdoc.fgv.br>. Acesso em: 26 jun. 2004).

divulgar essas obras, foi criada uma rede de bibliotecas em escolas, quartéis, hospitais e sindicatos.85

Usando dessas prerrogativas, a citação transcrita abaixo é um exemplo de divulgação e refere-se à entrevista concedida pelo Presidente da República, exaltando “O Estado Novo e suas Realizações”, à imprensa carioca, em São Lourenço, em 22 de abril de 1938.

Este plano de trabalho, do qual retiramos dois parágrafos, anuncia uma reorganização do aparelho governamental, dando ênfase ao nacional. Ele foi disseminado por todo o País através de programas radiofônicos, como "A Hora do Brasil", dos jornais e dos livretes distribuídos ao povo graciosamente pelos emissários de Vargas, os “conferencistas”.86

Como se trabalha. Torna-se necessário, por isso, divulgar as atividades do

Governo para que todos conheçam, e as acompanhem, para que façam sugestões e intervenham, quando menos, por dever patriótico, na marcha dos negócios públicos. Sendo precisamente a imprensa o instrumento informativo de maior penetração popular que possuímos, a ela recorro mais uma vez, cumprindo aliás, promessa voluntariamente feita. Não é demais, por certo, que decorridos alguns meses do advento do novo regime, venha relembrar sucintamente o que já se fez, o que se está fazendo e o que se pretende fazer, nesta fase de promissor renascimento da vida brasileira. Sobre a educação: (...) Não se cogitará apenas de alfabetizar o maior número possível, mas também de difundir princípios uniformes de disciplina cívica e moral, de sorte a transformar a escola primária em fator eficiente da formação do caráter das novas gerações, imprimindo-lhe rumos de nacionalismo sadio (...) A educação é, entretanto, um problema nacional por excelência. Torna-se preciso e urgente, por isso, fazer emanar do poder federal tudo o que se refere à sua definição e disciplina...87

Guardando-se as devidas proporções aos avanços tecnológicos dos meios de comunicação atuais, podemos dizer que, na época, o DIP, através de Lourival Fontes, utilizou um bem estruturado plano de “marketing” aos moldes europeus para a difusão e

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FUNDAÇÃO GETÚLIO VARGAS. Diretrizes do Estado Novo. Cultura e Propaganda. Disponível em: <www.cpdoc.fgv.br>. Acesso em: 29 jun. 2004.

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Os itens salientados por Vargas no discurso transcrito no livreto são: O Governo e o Povo; Como se Trabalha; Tarefa de Emergência; Transformação Econômica; Medidas Administrativas; Leis Sociais; Salário Mínimo; Cooperativismo; Programa de Trabalho; Forças Armadas; Transportes e Comunicações; Exploração das Riquezas Minerais; Carvão Nacional; O Problema Siderúrgico; Instituto do Mate; Vale do São Francisco; Educação e Preparo Técnico; Saúde e Assistência; Política Exterior; Dívida Externa; Governo Forte e Democracia; O Estado Novo. Neste discurso Vargas resume enfim o que considera prioritário em seu Governo.

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VARGAS, Presidente. O Estado Novo e suas Realizações. Abril, 1938. Este discurso do Presidente foi impresso e distribuído pelo País. Nele Getúlio fala que aboliu os intermediários (os partidos políticos e os grupos de pessoas que defendiam seus próprios interesses) entre o povo e o Governo como forma de poder

massificação do projeto da nacionalização, antes e mais especificamente durante o Estado Novo.

Um outro expediente utilizado como divulgador da nacionalidade foi a prática do “canto orfeônico”, disciplina obrigatória desde 1934 em todas as instituições de ensino primário e secundário do País, com normas estabelecidas pelo Governo Federal através do Decreto n.° 24.79488.

A música, mais especificamente o canto orfeônico, era como um mediador estratégico na relação entre Estado e as maiorias iletradas do País. Na verdade, o canto orfeônico desempenhou um papel de destaque na educação das massas, pois, ao ser divulgado como hinos patrióticos, propagava a educação de sentimentos cívicos e disciplina coletiva.

Enquanto escreve ao Ministro da Educação, no mês de outubro de 1934 o Inspetor Federal João dos Santos Areão deixa transparecer, no corpo do Relatório, sua preocupação com o conhecimento do “hinário” nas escolas subvencionadas. Dedicava especial atenção ao canto coletivo por ser ele um fator de civismo e disciplinamento.