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1. Ensino Superior: aspectos conceituais/teóricos

1.2. Ensino Superior após a Convenção de Bolonha

1.2.1. A Convenção de Bolonha

Antes de falar precisamente da Convenção de Bolonha, é necessário resgatar alguns antecedentes históricos de maior relevância, que culminaram no atual Processo de Bolonha. Para ANTUNES (2005), os anos 70 é o momento crucial para a cooperação europeia no campo da educação superior. São os anos onde surgem as instituições de caráter permanente, como a UNESCO-CEPES (Centro Europeu Para o Ensino Superior) em 1972, cujo objetivo era proporcionar um ambiente de cooperação na comunidade europeia em

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questões como o reconhecimento das qualificações, garantia da qualidade do ensino superior, mobilidade estudantil, governação e legislação relativa às instituições de ensino13. Em 1984 o Parlamento Europeu adotou a “Resolução sobre a educação superior e o desenvolvimento da cooperação entre instituições de ensino” (13 de março), criando a rede NARIC de Centros Nacionais de Informação sobre a Recognição Acadêmica14.

De maneira inesperada, mas de muita relevância, pela Decisão (87/327/EEC) do Conselho Europeu de 15 de junho de 1987, adotou-se a forma de mobilidade estudantil ERASMUS (European Action Scheme for the Mobility of University Students).

Cinco anos depois (1992) a União Europeia vivenciou um momento importante com assinatura do Tratado de Maastricht, a primeira experiência que institucionaliza a capacidade de intervenção da Comunidade nas áreas da educação e da formação profissional. Este tratado se concretizou de maneira plena com o lançamento do Programa SOCRATES15 em 1994, que visa o financiamento de vários programas, e no ensino superior é representado pelo Programa ERASMUS16.

Outro momento importante do processo é a assinatura da Convenção de Lisboa17 em abril de 1997, que fortaleceu ainda mais o processo de europeização da educação superior. Este documento propõe algumas práticas para os procedimentos de reconhecimento de títulos de ensino superiores estrangeiros, que seria usado posteriormente no Processo de Bolonha.

A última etapa com grande relevância é o que aconteceu na celebração do aniversário da Universidade de Paris (1998), onde ministros da educação da França (Claude Allegre), Itália (Luigi Berlinguer), Reino Unido (Tessa Blackstone) e Alemanha (Jürgen Rüttgers) se reuniram e discutiram sobre o estado e as perspectivas do ensino superior na Europa,

13 Disponível em:

http://www.coe.int/t/dg4/highereducation/ehea2010/stakeholderscepes_EN.asp(Acesso em: 29/03/2012).

14 Disponível em: Http://www.enic-naric.net/. (Acesso em: 29/03/2012).

15 O SOCRATES é o programa de ação comunitária para a cooperação transacional no domínio da educação. Abrange os Estados-Membros da União Europeia bem como a Islândia, o Liechtenstein e a Noruega, no âmbito do acordo sobre o Espaço Econômico Europeu. Este programa é composto por diversas áreas de ação, sendo o ERASMUS a componente relativa ao Ensino Superior.

16 Disponível em: http://ec.europa.eu/education/lifelong-learning-programme/doc78_en.htm.

Acesso em 29/03/2012.

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levando a “Declaração conjunta sobre a harmonização da arquitetura do sistema de ensino superior europeu” (ou Declaração da Sorbonne). Este encontro deu o impulso final para o estabelecimento do Processo de Bolonha, que discute e propõe medidas para a criação de um Espaço Europeu de Ensino Superior (EEES).

Após uma primeira tentativa não concretizada na universidade de Sorbonne, foi finalmente assinado por ministros da educação de 29 países europeus18, em 19 de junho de 1999, o que ficou conhecido como Processo ou Acordo de Bolonha.

O Processo de Bolonha é um acordo de cooperação internacional no âmbito do ensino superior. Tem como objetivo propor medidas que tornam o ensino superior europeu, de modo geral, um ensino mais atrativo no contexto global, permitindo a mobilidade interuniversitária, através da compatibilização dos sistemas nacionais e da melhoria da prática do reconhecimento de títulos estrangeiros, e principalmente proporcionar um ensino superior de maior qualidade.

O produto desta convenção propôs ao sistema educacional europeu novos horizontes visando à melhoria do ensino superior na Europa. Assim, a Declaração de Bolonha propunha o estabelecimento do Espaço Europeu de Ensino Superior. Posteriormente nas Conferências de Praga (2001) e Berlim (2003) foram feitos os ajustes e a reafirmação das definições assinadas em Bolonha, sendo estabelecido o ano de 2010 como o ano limite para a formação do denominado Espaço Europeu de Ensino Superior (EEES).

O Processo de Bolonha tem como finalidade a construção de um Espaço Europeu do Ensino Superior, segundo consta na mesma declaração:

O estabelecimento até 2010 dum Espaço Europeu de Ensino Superior, coerente, compatível, competitivo e atrativo para estudantes europeus e de países terceiros. Espaço que promova a coesão Europeia através do conhecimento, da mobilidade e da empregabilidade dos diplomados, forma de assegurar um melhor desempenho afirmativo da Europa no Mundo (DECLARAÇÃO DE BOLONHA, 1999).

18 Alemanha, Áustria, Bélgica, Bulgária, Dinamarca, Espanha, Eslováquia, Eslovênia, Finlândia,

França, Grécia, Hungria, Islândia, Irlanda, Itália, Letônia, Lituânia, Luxemburgo, Malta, Países Baixos, Noruega, Polônia, Portugal, Reino Unido, Romênia, República Checa, Suécia, Suíça.

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Processo este que acarreta mudanças significativas no ensino superior, desde a forma de pensar, aprender e ensinar. E a década seguinte a esta declaração fica reservada para a consolidação do EEES.

Os pontos mais significativos da proposta de mudança foram19:

a) Adoção de um sistema de graus acadêmicos facilmente legíveis e comparáveis, incluindo também a implementação do Suplemento ao Diploma20;

b) Adoção de um sistema baseado essencialmente em três ciclos:

 Adotar estruturas de formação formal de primeiros ciclos com a duração de 6 semestres, correspondentes a 180 créditos (European CreditTransfer System – ECTS).

 Adotar estruturas de formação formal de segundos ciclos com duração de 4 semestres, correspondentes a 120 ECTS.

 Os cursos de Doutoramento corresponderão aos terceiros ciclos.

c) Promoção da mobilidade intra e extracomunitária de estudantes, docentes e

investigadores;

d) Fomento da cooperação europeia em matéria de garantia de qualidade;

e) A adoção de um sistema europeu de créditos curriculares (ECTS – European Credit Transfer System), baseado no trabalho dos estudantes;

f) Promoção da aprendizagem ao longo da vida;

g) Maior envolvimento dos estudantes na gestão das instituições de Ensino Superior.

Todas estas propostas vão implicar mudanças consideráveis na União Europeia e no Ensino Superior, propondo um aumento significativo da competitividade do sistema europeu de ensino superior e promovendo a mobilidade e a empregabilidade dos diplomados do ensino superior em todo o espaço europeu. Mudanças estas que não só reconfiguram o sistema educativo para o ensino superior no espaço europeu (os 29 países

19 De acordo com o site do Ministério da Cultura, Tecnologia e Ensino Superior de Portugal

(2010).

20 «…students graduating as from 2005 should receive the Diploma Supplement

automatically and free of charge. It should be issued in a widely spoken European language» (Comunicado, 2003).

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que assinaram a Declaração de Bolonha em 1999), mas também de “terceiros”. Primeiramente de países da comunidade europeia que não aderiram ao processo na sua concepção, mas que no decorrer do tempo passaram a fazer parte, em 2010 já se contavam 47 países do continente europeu21, e em segundo lugar, os países localizados fora da comunidade europeia, que não puderam fazer parte do acordo, mas que mesmo assim acabaram sendo influenciados e adotaram algumas recomendações deste processo, devido às cooperações internacionais com países membros do EEES.