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1. Ensino Superior: aspectos conceituais/teóricos

1.2. Ensino Superior após a Convenção de Bolonha

1.2.5 Críticas ao Processo de Bolonha

Em alguns cursos e áreas acadêmicas as mudanças impostas pelo Processo de Bolonha não foram bem executadas, ou a sua implementação trouxe descontentamento de alguns gestores e até entidades ligadas ao mundo acadêmico, como foi o caso das Ordens

24 Esta é uma das maiores e mais constatada reclamação dos alunos, principalmente na hora

de enfrentar a competição no mercado de trabalho, apresenta-se como uma desvantagem na hora das entrevistas de emprego. Na hora de entrevista de emprego a pergunta clássica é “Você se formou antes o depois da implementação do Processo de Bolonha?”. Assim comentam todos os alunos que foram abordados informalmente. (Entrevistas informais do autor, 2012).

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de Advogados e a Ordem dos Engenheiros, e até de instituições de ensino superior (Portugal) como mostram os seguintes exemplos:

Cerca de 90 por cento dos licenciados em Direito chumbou nos exames de acesso ao estágio da Ordem dos Advogados. À TSF, Marinho Pinto disse que o Processo de Bolonha é uma «fraude». Os examinadores consideraram que a larga maioria dos 275 licenciados não estava preparada para passar ao estágio que está atualmente a ser feito por mais de 5000 pessoas. O bastonário da Ordem dos Advogados disse que ficou surpreendido com o nível de chumbos e responsabilizou a qualidade do ensino universitário de Direito, que o Processo de Bolonha encolheu. Marinho Pinto começou por lembrar que quem tiver um Mestrado ou uma Licenciatura de cinco anos não precisa de fazer o exame, ao contrário dos «bacharéis, que vêm batizados de licenciados». Segundo Marinho Pinto (TSF, 2010).

Outro exemplo parecido aconteceu na área das engenharias em Portugal, onde também há o questionamento sobre o tempo de duração dos cursos:

“O Bastonário da Ordem dos Engenheiros considera que a designação de licenciado na versão do Processo de Bolonha está a criar confusão em alunos e empregadores. «Aparece o termo licenciado e isso cria dificuldades na avaliação dos profissionais que passam a ter uma designação com o mesmo valor acadêmico, mas correspondente a conhecimentos completamente diferentes», a aplicação deste processo «cria confusão nos alunos, porque podem ser induzidos a ir para o mercado com uma formação de 1º Ciclo, porque tem o termo licenciado e vão para o mercado a dizer 'já sei fazer engenharia'», algo que considerou «errado». A aplicação do Processo de Bolonha e a falta de qualidade do ensino proporcionado no caso da advocacia pelas novas curriculares que

entretanto surgiram. Explica Carlos Matias Ramos” (TSF, 2010).

Um terceiro exemplo é já no campo acadêmico e também expressa a concepção e o processo inicial da implementação do processo de Bolonha:

A confusão a nível nacional é muito grande ainda, há muito poucas definições disciplinares já estabilizadas, cada nova reunião traz novos dados do problema, há evoluções muito significativas da opinião das pessoas - legítimas, sem dúvida - mas isso quer dizer que ainda há pouca consolidação das decisões e das opiniões sobre essa matéria. Evidentemente que não. Desde logo, a Lei de Bases vigente carece de regulamentação, designadamente ao nível do financiamento, o que aumenta a indeterminação existente sobre esta matéria (...). Vamos progredir cautelosamente neste processo, sem nos precipitarmos, de modo

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a não contribuirmos para a confusão nacional que há sobre esta matéria (DIÁRIO DE NOTÍCIA, 2006).

A partir dos exemplos apontados acima, entende-se que o Processo de Bolonha ainda está longe de vencer os seus desafios e se consolidar como sistema educativo de referência mundial como se objetiva. Pois ao propor o Processo de Bolonha as autoridades europeias buscavam a criação de um Espaço Europeu de Ensino Superior que competisse em qualidade com os Estados Unidos, e não ser ultrapassado por sistemas como o da China que apresenta bom crescimento (BIANCHETTI, 2010). Embora tenha sido implementado e experimentado internamente e externamente, precisa também se estabelecer e concretizar como um sistema efetivo e referencial em outros contextos mundiais.

Entende-se que a motivação do docente é fator chave para esta consolidação, pois através do seu empenho pode motivar os alunos a uma melhor aceitação e compreensão do processo. Como observa Fernandes (2001), o docente é um dos motores da mudança, por isso deve-se investir melhor na sua formação e condição de trabalho, e pela sua motivação e adaptação influenciará os alunos a se mostrarem mais abertos ao processo de mudança.

Para isso também é necessário mais do que mudanças metodológicas e pedagógicas, mas mudanças físicas que evitem turmas com elevado número de alunos, que pode se tornar um fator de desmotivação. É necessária também a adaptação constante dos currículos de maneira a acompanharem a velocidade dos acontecimentos históricos, tecnológicos, econômicos e sociais, de maneira que as mudanças não sejam, segundo Sousa (2011), apenas “adaptações cosméticas”, mas sim mudanças que levam a um modelo ativo de ensino-aprendizagem.

As mudanças impulsionadas pelo Processo de Bolonha precisa fazer com que a qualidade do ensino-aprendizagem seja uma realidade capaz de levar os alunos a serem criativos, solucionadores de problemas, produtores de conhecimento e geradores de recursos econômicos, ou seja, empreendedores.

Sendo assim, é necessária a elaboração de políticas educativas sustentáveis, e, principalmente, concretizáveis, evitando reformas impostas de cima para baixo, capazes de causar conflitos, camuflar as mudanças e que por sua vez possam não produzir melhorias necessárias.

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(...) então há que pensar que o Processo de Bolonha não está implementado com sucesso só porque ao nível legislativo e discursivo está concretizado (...). O desafio da mudança implícita no Processo de Bolonha não se concretizará pela existência de um quadro legislativo extenso e abrangendo todos os requisitos formais; pelo contrário, só será vencido se, na prática, a mudança gerar novas atitudes (SOUSA, 2011, p. 444)

Alguns dos objetivos do processo de Bolonha têm sido alcançados tanto interna como externamente, especialmente o atrativo de alunos de outras regiões para o EEES. Especialmente alunos dos países em desenvolvimento, que é o que na verdade tem animado e sustentado em parte as universidades europeias.

1.3 A Influência do Processo de Bolonha no Subsistema de Ensino Superior