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2. A Cooperação Internacional

2.3 Desdobramentos da Cooperação

2.3.2 Formação de Professores (experiências anteriores e recentes)

Após a independência, Cabo Verde assume a responsabilidade da educação, que se entende naquele momento fator chave para o desenvolvimento e a consolidação do país como Estado independente. Contudo, sobrevieram dificuldades, devido à falta de professores qualificados com o retorno dos portugueses à ex-metrópole, obrigando a utilização de professores sem formação ou com formação precária.

Antes da independência havia somente duas escolas de formação de professores (Escola do Magistério Primário), professores com pouca qualificação para a função. Após a independência, a instituição passa por algumas transformações políticas e socioeconômicas que a permitem criar, em 1977, na cidade da Praia, a Escola de Formação de Professores

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para o Ensino Secundário (EFPES), que também passa a formar professores para o Ensino Básico Complementar (EBC), a partir de 1981. Em 1984, foram encerradas as atividades da Escola do Magistério Primário do Mindelo, funcionando, a partir desta data, somente na cidade da Praia, para o Ensino Básico Elementar (EBE) (EDUCAÇÃO, apud VIEIRA, 2005).

Mais tarde, seria criado em 1988 o Instituto Pedagógico (IP), a partir da antiga Escola de Magistério Primário, com a responsabilidade de qualificar os professores primários de Cabo Verde. Na década de 1990, a formação de professores do Ensino Básico passou a ser formados pelo IP, e os professores do ensino secundário pelo Instituto Superior de Educação (ISE), criado em 1995, que mais tarde viria a integrar a Universidade de Cabo Verde. Até o momento que surgem as primeiras IES de Cabo Verde, só se formavam professores para as categorias pré-ensino superior.

Dadas as suas condições estruturais, econômicas, ainda não é possível, garantir a formação de professores que responda à demanda nacional. Assim, Cabo Verde mais uma vez aposta na cooperação bilateral com o Brasil a possibilidade de melhorar a quantidade e qualidade dos seus professores através do “Ajuste Complementar ao Acordo Básico de Cooperação Técnica e Científica para Apoiar a Implementação do Projeto Fortalecimento e Capacitação Técnica de Recursos Humanos para o Sistema de Formação Profissional de Cabo Verde.

A ligação entre os dois países vai muito além da língua e da colonização portuguesa. Desde 2004, o governo brasileiro apoia a formação de professores, projetos pedagógicos e oferece capacitação profissional e

bolsas para os cabo-verdianos. (Globo Universidade67, 2012).

Este acordo possibilita muitos projetos no âmbito da qualificação de professores cabo-verdianos no Brasil nas mais diversas áreas. Estes projetos são desenvolvidos, a partir de entendimentos entre os ministérios da educação dos respectivos países e essencialmente entre o Ministério da Educação de Cabo Verde e IES brasileiras que têm autonomia para isso.

67 Ver vídeo e reportagem de Lizandra Trindade (Rede Globo) no programa

Globo Universidade, dia 7 de abril de 2012. Disponível em:

http://redeglobo.globo.com/globouniversidade/noticia/2012/04/globo-universidade-mostra-parcerias-entre- brasil-e-cabo-verde-no-sabado.html. Acesso em 5/12/2012.

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2.3.2.1 Programa Linguagem das Letras e dos Números (PLLN)

Este Programa é mantido pelos Ministérios de Ciência, Tecnologia e Inovação, da Educação e das Relações Exteriores do Brasil para a formação continuada de professores africanos. Idealizado pelo assessor especial do MCTI, o PLLN tem como finalidade ministrar cursos de formação presencial com carga horária de aproximadamente 200 h/a.

Já trouxe ao Brasil 426 professores, sendo 300 de Cabo Verde, 114 da Guiné-Bissau e 12 dos demais países de língua oficial portuguesa: Angola (4), Moçambique (4) e S. Tomé e Príncipe (4). Além disso, ofereceu cursos complementares em Cabo Verde para cerca de 90 professores de Língua Portuguesa, dentre os quais dois de Angola e um de Guiné- Bissau. Somando as atividades realizadas fora do Brasil, PLLN beneficiou mais de 500 professores da educação básica dos países citados (GARCEZ, 2011).

Estes cursos de formação presencial visam capacitar os professores africanos na vivência de práticas pedagógicas e conteúdos atuais das disciplinas de Português e Matemática. Os cursos do PLLN oferecem aos professores formação continuada, levando- os a refletir sobre as formas de promover, na sala de aula, e noutros meios escolares o uso da língua portuguesa em situações concretas, tratando de temáticas relevantes em seus contextos de atuação social (GARCEZ, 2011).

O PLLN realiza dois cursos destinados a professores do ensino secundário de Cabo Verde, nomeado “Projeto Amílcar Cabral” de formação presencial de professores de Matemática de Cabo Verde, e o Projeto José Aparecido de Oliveira de formação de professores de Língua Portuguesa de Cabo Verde. O projeto é financiado pela cooperação brasileira que inclui despesas de viagens, alojamento e alimentação durante um período de 30 dias, na cidade de Fortaleza/CE.

Projeto “Amílcar Cabral”

O "Projeto Amílcar Cabral", nome dado pelo presidente da CAPES, Jorge Guimarães, em homenagem ao libertador de Cabo Verde e Guiné Bissau, segundo informa o assessor do Ministério da Ciência e Tecnologia, idealizador e articulador da iniciativa. Este projeto pretende capacitar professores com aulas de reforço teóricas e práticas no curso com

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professores da pós-graduação de Matemática da Universidade Federal do Ceará. A iniciativa, que começou em 2008, já trouxe quatro grupos de mestres africanos a Fortaleza.

Em 2011, o PLLN realizou o curso a 100 professores do ensino secundário de Cabo Verde na UFC (Universidade Federal do Ceará), sendo já a quarta edição do Projeto Amílcar Cabral de formação presencial de professores de Matemática de Cabo Verde, e em 2012, o PLLN pretendia novamente desenvolver atividades complementares em Cabo Verde e receber outros 110 professores de Cabo Verde em Fortaleza para novas edições dos cursos de formação presencial (GARCEZ, 2011).

Projeto “José Aparecido de Oliveira68

O “Projeto José Aparecido de Oliveira” (PJAO) também é um projeto de cooperação do governo brasileiro com os países da CPLP, no âmbito da Educação. Criado com o intuito de capacitar os professores de Português para uma melhor metodologia do ensino- aprendizagem, e seu idealizador foi Hélio Guedes de Campos69 (Revista Encontros, 2011).

Estes cursos tiveram início em 2009, numa interação de professores de algumas universidades brasileiras: Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Universidade Federal do Ceará (UFC), Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), Universidade Estadual de Ponta Grossa (UEPG), Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA) e da Escola Projeto (GARCEZ, 2011).