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1. Ensino Superior: aspectos conceituais/teóricos

1.2. Ensino Superior após a Convenção de Bolonha

1.2.2 Os desafios do ensino superior após a convenção de Bolonha

O processo de Bolonha sem dúvida representou uma reação às demandas globais no que se refere ao Ensino Superior. Mesmo antes do Processo de Bolonha, já havia programas com preocupações semelhantes, como foi o caso do SOCRATES- ERASMUS (European Action Scheme for the Mobility of University Students), e que buscavam o fortalecimento do Ensino Superior europeu nas áreas da pesquisa, da classe docente, promovendo a integração, a competitividade e a mobilidade entre países.

Contudo, nem as iniciativas que antecedem o Processo de Bolonha, nem as que estão sendo levadas em curso depois dela, representam uma tarefa fácil para os governos europeus. Claro que o processo tem tido avanços consideráveis, a ponto de ganhar atenção e reconhecimento internacional das comunidades acadêmicas e científicas, apesar de se perceber que a comunidade europeia não vivencia na totalidade os propósitos do Processo de Bolonha, temendo o fato de as IES perderem a perspectiva de longo prazo com a apresentação de currículos curtos, com a não exatidão dos custos desta reforma, e pelo medo das instituições perderem a sua autonomia, o grau aceitação do mercado de trabalho que receberá estes quadros formados no novo sistema, entre outros motivos (DIAS SOBRINHO (2007)).

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Áustria, Bélgica, Bulgária, República Tcheca, Dinamarca, Estônia, Finlândia, França, Alemanha, Grécia, Hungria, Islândia, Irlanda, Itália, Letônia, Lituânia, Luxemburgo, Malta, Países Baixos, Noruega, Polônia, Portugal, Romênia, Eslováquia, Eslovênia, Espanha, Suécia, Suíça, Reino Unido (desde 1999), Croácia, Chipre, Liechtenstein, Turquia (desde 2001), Albânia, Andorra, Bósnia e Herzegóvina, Santa Sé, Rússia, Sérvia, Macedônia (desde 2003), Armênia, Azerbaijão, Geórgia, Moldávia, Ucrânia (desde 2005), Montenegro (desde 2007) e Cazaquistão (2010).

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Dias Sobrinho (2007) ainda mostra que, embora muitos governantes, diretores, professores e boa parte dos alunos tenham aceitado a proposta, ainda existe uma parte que questiona e sente suas inquietações quanto a isso. Por ser uma reforma proposta de cima para baixo, pelo menos ao que parece, o que deixa os alunos em situação bem desconfortável, pois a decisão deles é importante para a boa implementação e sucesso do processo.

O grande receio é que este processo se torne muito burocrático e superficial, ofuscando a identidade das instituições, suas vocações próprias, tornando uma ameaça à própria autonomia não alcançando os reais objetivos. Assim a participação dos alunos e da comunidade científica no processo é imprescindível, pois a aceitação de uma proposta é mais bem aceite e entendida quando se participa dela, e também porque os alunos são a categoria diretamente afetada por essas mudanças (DIAS SOBRINHO, 2007).

Ao propor a competitividade, as mudanças de currículos, e a mobilidade desejando responder positivamente às demandas do mercado, deve ser ressaltado também o risco, em curto prazo, de o ensino superior funcionar em prol do mercado de trabalho em detrimento dos referenciais sociais.

O desafio de fazer o Processo de Bolonha ser a resposta para o espaço europeu de ensino superior, e ser uma comunidade bem-sucedida, carece de um pouco mais de esforço e cuidado:

Todos os esforços que estão sendo feitos no sentido de aumentar a convergência da educação superior esbarram em tensões e contradições bastante fortes. De um lado, acrescente pressão por aumentar a competitividade e aumentar os vínculos da educação superior com o mercado e as necessidades laborais. Por outro lado, a defesa dos valores acadêmicos e da função política de democratização (DIAS SOBRINHO, 2007, p. 124).

A Europa está em busca de uma universidade que responda de forma coerente aos desafios globais de livre mercado, mobilidade, empregabilidade e eficiência competitivas com o resto do globo. Para alcançar esses objetivos o Processo de Bolonha mais que mudanças precisam ser a estratégia, que procura ultrapassar os desafios do ensino superior comparado, por exemplo, com o dos Estados Unidos. Estratégia estas que possam atrair

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estudantes do mundo todo para o EEES, daí a necessidade de novos programas, garantia de qualidade e boa produtividade acadêmica.

Esta nova configuração da universidade europeia é complexa, sendo assim ela tem as suas tensões que são inevitáveis, pois envolve questões acadêmicas, científicas, sociais, culturais, políticas, econômicas e acima de tudo globais. Agora se a universidade europeia se propõe levar avante isso, não terá tempo de duvidar da crença de que o potencial das instituições, a política e o conhecimento intelectual desta região são capazes de levar avante este Processo de maneira que a comunidade europeia, a curto espaço de tempo, veja os resultados tão esperados, não só na Europa, mas no panorama global (DIAS SOBRINHO, 2007).

Os entraves da diversidade de diplomas, critérios de convalidação, currículos, tempo de duração dos cursos e a legislação são alguns desafios que ainda a Europa terá que enfrentar para vencer a competitividade. Há uma necessidade de currículos mais curtos e mais semelhantes, tendo em vista os requisitos do mercado de trabalho. Sem dúvida, o desafio de criar uma norma para a elaboração de currículos competitivos, flexíveis e comparativos que possa aproximar o aluno do mercado de trabalho em um tempo menor, mas com qualidade.

Para Dias Sobrinho (2007), ultrapassando estes desafios a Europa estará mais preparada para a competitividade mundial, e pronta para ampliar os intercâmbios internacionais além dos países com tradição nessa prática, tais como: Portugal, França, Espanha e Inglaterra, ao observar que: “Com um sistema superior europeu mais competitivo e mais organizado, é mesmo provável que os intercâmbios entre suas universidades e as latino-americanas apresentem mais amplas oportunidades” (DIAS SOBRINHO, 2007, p. 131).

Assim, fica a grande expectativa de saber quais as mudanças e inovações o Processo de Bolonha trará para essa emergente universidade europeia, que estratégias de acordo com as tendências de desenvolvimento e motivadas pela globalização ela adotará, de maneira a ocupar um lugar de destaque no cenário internacional, e também que contribuição se pode esperar dela para o sistema global.

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