4 A DIMENSÃO CULTURAL DA NATUREZA E DAS SEMENTES
5.1 A TUTELA JURÍDICA DO PATRIMÔNIO CULTURAL NO SISTEMA JURÍDICO
5.1.2 A Convenção para a Proteção do Patrimônio Mundial, Cultural e Natural
Da conferência geral da Organização das Nações Unidas para Educação, a Ciência e a
Cultura, realizada em Paris, de 17 de outubro a 21 de novembro de 1972, resultou a
Convenção para a Proteção do Patrimônio Mundial, Cultural e Natural. Essa Convenção foi
aprovada no Brasil pelo Decreto Legislativo n.º 74, de 30 de junho de 1977, e promulgada
pelo Decreto Presidencial n.º 80.978, de 12 de dezembro de 1977. O Congresso Nacional fez
ressalva e o Presidente da República a manteve com relação ao item 1 do art. 16 da referida
Convenção, referente ao repasse de verbas para o Fundo do Patrimônio Mundial.
45A referida Convenção de certa forma reforça a relação entre patrimônio cultural e
natural, pois estes são abordados no mesmo instrumento. Além disso, em suas considerações
iniciais afirma-se que o patrimônio cultural e o patrimônio natural estão “cada vez mais
45 “Art. 16. 1. Sem qualquer prejuízo de outra contribuição voluntária complementar, os Estados-partes da presente Convenção comprometem-se a depositar regularmente, a cada dois anos, para o Fundo do Patrimônio Mundial, contribuições cujo montante será calculado segundo percentual uniforme aplicável a todos os Estados, por decisão da assembléia [sic] geral dos Estados-partes da Convenção, reunida durante as sessões da Conferência Geral da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura. Esta decisão da assembléia [sic] geral é adotada pela maioria dos Estados-partes presentes e votantes que não tenham feito a declaração mencionada no parágrafo 2 do presente artigo. A contribuição obrigatória dos Estados-partes da Convenção não poderá ultrapassar, em caso algum, 1% de sua contribuição ao orçamento regular da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura” (BRASIL, 1977).
ameaçados de destruição não somente devido a causas naturais de degradação, mas também
ao desenvolvimento social e econômico agravado por fenômenos de alteração ou de
destruição”, bem como que “a degradação ou o desaparecimento de um bem cultural e
natural
46acarreta o empobrecimento irreversível do patrimônio de todos os povos do mundo”
(BRASIL, 1977).
Todavia, nos seus artigos 1º e 2º são definidos os conceitos de patrimônio cultural e de
patrimônio natural, tornando-os distintos:
Artigo 1
Para os fins da presente Convenção, são considerados “patrimônio cultural”: - os monumentos: obras arquitetônicas, esculturas ou pinturas monumentais, objetos ou estruturas arqueológicas, inscrições, grutas e conjuntos de valor universal excepcional do ponto de vista da história, da arte ou da ciência; - os conjuntos: grupos de construções isoladas ou reunidas, que, por sua arquitetura, unidade ou integração à paisagem, têm valor universal excepcional do ponto de vista da história, da arte ou da ciência;
- os sítios: obras do homem ou obras conjugadas do homem e da natureza, bem como áreas, que incluem os sítios arqueológicos, de valor universal excepcional do ponto de vista histórico, estético, etnológico ou antropológico.
Artigo 2
Para os fins da presente Convenção, são considerados “patrimônio natural”: - os monumentos naturais constituídos por formações físicas e biológicas ou por conjuntos de formações de valor universal excepcional do ponto de vista estético ou científico;
- as formações geológicas e fisiográficas, e as zonas estritamente delimitadas que constituam habitat de espécies animais e vegetais ameaçadas de valor universal excepcional do ponto de vista estético ou científico,
- os sítios naturais ou as áreas naturais estritamente delimitadas detentoras de valor universal excepcional do ponto de vista da ciência, da conservação ou da beleza natural (BRASIL, 1977).
O Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional - IPHAN, em cartilha
formulada acerca da Convenção sobre Proteção do Patrimônio Mundial, Cultural e Natural de
1972, destaca duas categorias de bens, a partir dos bens referidos na Convenção: (a) o
Patrimônio Misto, que corresponde aos “bens que respondam parcial ou totalmente às
definições de patrimônio natural e cultural que figuram na Convenção”; (b) a Paisagem
Cultural, que corresponde aos “bens culturais que representam obras conjuntas do homem e
da natureza, e que ilustram a evolução da sociedade humana e seus assentamentos ao longo do
tempo”, os quais são “condicionados pelas limitações e/ou pelas oportunidades físicas que
apresenta seu entorno natural e pelas sucessivas forças sociais, econômicas e culturais, tanto
externas como internas” (IPHAN, 2008, p. 12-13).
Portanto, em que pese a Convenção sobre Proteção do Patrimônio Mundial, Cultural e
Natural de 1972 tenha feito distinção entre bens culturais e naturais, é inegável a relação entre
ambos, e a possibilidade de um mesmo bem possuir valor cultural e natural ao mesmo tempo.
Ademais, deve-se considerar que o entendimento existente à época da Convenção (1972)
evoluiu para tornar cada vez menor a distinção entre “patrimônio natural” e “patrimônio
cultural”.
Prosseguindo, nos termos do art. 11 da referida Convenção, é atribuição de cada
Estado-parte da Convenção submeter ao Comitê do Patrimônio Mundial uma lista (que não é
exaustiva) dos bens do patrimônio cultural e natural situados em seu território e suscetíveis de
serem inscritos na “Lista do Patrimônio Mundial.” Cabe ao Comitê estabelecer, atualizar e
divulgar essa lista (pelo menos a cada dois anos), contendo os bens do patrimônio cultural e
do patrimônio natural que considere de valor universal excepcional (BRASIL, 1977).
Segue a lista do Patrimônio Mundial no Brasil, disponibilizada no sítio eletrônico da
Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura – UNESCO (consulta
em 27 de janeiro de 2015):
Sítios do Patrimônio Cultural
1980 – A Cidade Histórica de Ouro Preto, Minais Gerais
1982 – O Centro Histórico de Olinda, Pernambuco
1983 – As Missões Juesuíticas, Ruínas de São Miguel das Missões, Rio Grande do
Sul e Argentina
1985 – O Centro Histórico de Salvador, Bahia
1985 – O Santuário do Senhor Bom Jesus de Matosinhos, em Congonhas do Campo,
Minas Gerais
1987 – O Plano Piloto de Brasília, Distrito Federal
1991 – O Parque Nacional Serra da Capivara, em São Raimundo Nonato, Piauí
1997 – O Centro Histórico de São Luiz do Maranhão
1999 – Centro Histórico da Cidade de Diamantina, Minas Gerais
2001 – Centro Histórico da Cidade de Goiás
2010 – Praça de São Francisco, na cidade de São Cristóvão, Sergipe
2012 – Rio de Janeiro, paisagens cariocas entre a montanha e o mar
Sítios do Patrimônio Natural
1986 – Parque Nacional de Iguaçu, em Foz do Iguaçu, Paraná e Argentina
1999 – Mata Atlântica – Reservas do Sudeste, São Paulo e Paraná
1999 – Costa do Descobrimento – Reservas da Mata Atlântica, Bahia e Espírito
Santo
2000 – Complexo de Áreas Protegidas da Amazônia Central
2000 – Complexo de Áreas Protegidas do Pantanal, Mato Grosso e Mato Grosso do
Sul
2001 – Áreas protegidas do Cerrado: Chapada dos Veadeiros e Parque Nacional das
Emas, Goiás
2001 – Ilhas Atlânticas Brasileiras: Reservas de Fernando de Noronha e Atol das
Rocas
O art. 11 prevê ainda uma Lista do Patrimônio Mundial em Perigo, objetivando uma
conservação continuada do mesmo. Busca-se evitar a degradação, a destruição das
características e qualidades que justificaram a inclusão daquele sítio na Lista do Patrimônio
Mundial, nos termos do item 4:
4. O Comitê estabelece, atualiza e divulga, cada vez que as circunstâncias assim o exigirem, sob o nome de “Lista do Patrimônio Mundial em Perigo”, os bens que figuram na Lista do Patrimônio Mundial, cuja salvaguarda exige intervenções importantes e para os quais foi solicitada assistência nos termos da presente Convenção. Esta lista contém estimativa dos custos das operações. Nela figurarão apenas os bens do patrimônio cultural e natural sob ameaça precisa e grave, com o rico de desaparecimento devido a degradação acelerada, empreendimentos de grande porte públicos ou privados, desenvolvimento urbano e turístico acelerados, destruição devida a mudanças de uso, alterações profundas por causas desconhecidas, abandono por qualquer motivo, conflito armado já iniciado ou latente, calamidades ou cataclismas, incêndios, terremotos, deslizamentos de terra, erupções vulcânicas, modificação do nível das águas, inundações e maremotos. O Comitê pode, a qualquer momento, em caso de emergência, proceder a nova inscrição na Lista do Patrimônio Mundial em Perigo e dar-lhe imediata divulgação (BRASIL, 1977).