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A Criação das EPC: ações pedagógicas, cooperativas e solidárias do

2 HISTÓRIA DO PROGRAMA DE EDUCAÇÃO EM CÉLULAS COOPERATIVAS

2.6 A Criação das EPC: ações pedagógicas, cooperativas e solidárias do

O espaço de origem do PRECE passou a ser chamado de EPC Cipó, a partir de 2003. Essa EPC foi considerada ‘mãe’ ou ‘sede’ por ter sido a primeira. Esse processo ocorreu a partir da vinda dos primeiros estudantes da cidade de Pentecoste (Figura 14) para estudarem na casa de farinha em Cipó. Com isso, o espaço não comportou mais e nem a liderança estudantil foi suficiente para acompanhar os estudantes, de acordo com a necessidade de cada um. Com o problema, surgiu a ideia da expansão e multiplicação da experiência do PRECE para outras comunidades.

Figura 14 - Estudantes da sede de Pentecoste em Cipó (2000)

Fonte: Arquivo do Memorial do PRECE.

Assim, o primeiro núcleo foi criado em 2003, na sede de Pentecoste, pois era necessário criarmos novas estratégias para os estudantes da cidade que precisavam também entrarem na universidade e para isso, pracuravam o PRECE. Sobre como se deu essa primeira expansão, necessita haver um estudo mais aprofundado de cada EPC e analisar as possíveis causas porque foram desativadas.

Para viabilizar esse processo, sob a coordenação de Manoel Andrade, foi criado em 2005, o Projeto Incubadora de Células Educacionais. Esse projeto visava a formação dos estudantes

que desejassem levar a metodologia do PRECE, das células educacionais de estudo para suas comunidades e assim, criarem associações estudantis denominadas de EPC. Esse projeto, basicamente, consistia em os estudantes da preparatória para o vestibular ou para EJA, ao passo que estudavam nessa preparação, eram orientados a como fundarem e registrarem as suas associações estudantis.

Nas EPCs, além dos projetos Pré-Vestibular (Figura 15) e Educação de Jovens e Adultos (EJA), os líderes poderiam desenvolver outras iniciativas dentro das necessidades locais de cada comunidade. A partir dessa formação, os estudantes líderes de várias localidades fundaram treze EPCs a partir do ano de 2003 até 2008. Durante os anos de 2007 e 2008, a experiência das EPCs foi escrita em um projeto selecionado pela Fundação Lemann para receber apoio financeiro para o fortalecimento dessas escolas. Ao final de cada ano, era redigido um relatório técnico- pedagógico das atividades realizadas pelas EPC, nesse período. (Instituto Coração de Estudante, Relatório Anual 2007, p.13).

Figura 15 – Eu em aula de Português nas EPC - FOR e EPC - Benfica

Fonte: Arquivos do Memorial do PRECE.

Avendaño (2008, p. 29) fala que as EPCs “como organizações estudantis autogestionárias, formam uma rede de atuação em educação básica, controle social, governança e desenvolvimento econômico”. Elas foram associações estudantis fundadas e geridas por estudantes pré-universitários, universitários e graduados do PRECE. Elas tiveram o intuito de estimularem e sediarem os encontros das células de estudo, bem como fomentar ações protagonistas, cooperativas e solidárias, contando com o apoio e colaboração das famílias da comunidade.

De acordo com os dados do último relatório (2008), as EPCs eram distribuídas nos municípios de Pentecoste, Apuiarés, Paramoti, General Sampaio e Fortaleza (EPC - FOR e EPC - Benfica). De acordo com esse relatório, o PRECE através das EPC, teve em 2018, 976 estudantes participando das atividades, distribuídos nos projetos conforme quadro abaixo, extraído do relatório (ibidem), com as devidas correções de erros de soma, feitos por mim, coordenadora do projeto e autora do relatório naquela época.

Até 2008, o total de aprovados para o ensino superior no PRECE/EPC conforme a soma dos dados enviados por cada coordenador das escolas populares naquele ano foi de 358. Desses, hoje, grande parte estão graduados e outros deram continuidade à carreira acadêmica, concluindo

mestrado e doutorado. Apresento a tabela abaixo para ilustrar a compreensão de como se configuravam os projetos realizados pelo PRECE nessa fase de sua história.

Dentre os projetos dispostos na (Tabela 01), os dois primeiros estiveram presentes desde os primeiros anos da experiência até o fim das EPC, mas sem sistematização ou divulgação; os outros tiveram vida efêmera ou se transmutaram em outras ações educativas, sobre esses, falo mais logo à frente.

Tabela 1 - Projetos principais realizados e público beneficiado pelas EPCs do PRECE em 2008.

PROJETO Nº DE ESTUDANTES

PRÉ – VESTIBULAR COOPERATIVO 532

EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS 80

APOIO À ESCOLA PÚBLICA – (ESTUDANTE ATIVO/ESTUDANTE COOPERATIVO E APOIO À INFÂNCIA)

364

TOTAL 976

Fonte: Relatório Fortalecimento e Expansão das Ações Educacionais no Sertão Cearense.

Conforme pontuei, os dois projetos que caminharam juntos, desde o início do PRECE, antes da criação das EPC e após, foram o Projeto Educação de Jovens e Adultos e o Projeto Pré- vestibular Cooperativo. Com a criação das EPC, eles passaram a ser implementados por cada uma delas em diversas comunidades que as sediavam, em Pentecoste, em outros municípios vizinhos e em Fortaleza. Na zona rural de Pentecoste, as escolas só atendiam até, no máximo, a quarta série, e o ensino fundamental ocorria, em algumas escolas, pelo sistema TV Educativa, por isso, era grande a demanda de estudantes para concluir o ensino médio.

Logo no início quando chegaram os sete estudantes pioneiros desejando se escolarizar e concluir o ensino fundamental e médio, o campo de atuação já requeria uma tomada de decisão sobre o que fazer para melhorar a vida desses jovens estudantes que chegavam a cada semana, e, além disso, só havia em Pentecoste a EJA do ensino fundamental.

A decisão precisava ser rápida, pois quem ia chegando ao projeto, Manoel Andrade sugeria e orientava a fazer o supletivo do ensino fundamental e médio com o apoio do estudo em grupos (células estudantis), aprendendo uns com os outros para realizarem as provas nessa

modalidade; e depois iniciarem os estudos preparatórios para os exames vestibulares das universidades.

Como só faziam as provas em Fortaleza, os estudantes em fase de escolarização, passavam por dificuldades de deslocamento, para fazerem as provas de EJA fora de sua comunidade. Desse modo, para fazê-las, havia períodos em que tinham que se hospedar em nossa residência. Com esses obstáculos de mobilidade, tendo que pagarem alimentação, passagens de ônibus, tudo foi ficando pesado para sustentar. Com isso, precisávamos buscar alternativas para continuarmos com o projeto que era a espinha dorsal do PRECE.

Por toda essa problemática, Manoel Andrade e todos nós, estudantes pioneiros (Figura 16) buscamos a parceria com o CEJA Padre Luís Gonzaga Xavier de Lima, da Coordenadoria Regional de Desenvolvimento da Educação (CREDE) 02, no município de Itapipoca. A parceria foi firmada em uma reunião da liderança do PRECE com o diretor da escola Pedro Jaime de Oliveira (figura 16) que, de modo acolhedor, enviou dois professores (Figura 17), aos fins de semana, para aplicarem as provas de EJA para os estudantes do PRECE na própria comunidade de Cipó. O apoio do diretor foi algo que marcou a vida de todos nós, precistas iniciantes e de muitos outros que viriam.

Figura 16 - Reunião de parceria com o CEJA – Itapipoca

Assim, firmou-se no ano de 2000, a parceria entre essa escola e o Projeto Educacional Coração de Estudante, que se responsabilizaria pela infraestrutura, orientação dos estudantes e apoio aos professores do CEJA na aplicação das avaliações.

Para melhorar as práticas educativas no projeto EJA, foi escolhida uma coordenação que, inicialmente, ficou com Adriano Sérgio da Silva Andrade. Posteriormente, o projeto foi coordenado por Francisco Antonio Alves Rodrigues; nesse período, ambos eram estudantes universitários. Havia uma sistemática metodológica que consistia em os estudantes poderem optar entre duas alternativas de estudo, de acordo com o tempo disponível de cada um. Eles podiam receber os módulos de ensino para estudarem em casa ou podiam formar células de estudos e serem acompanhados por monitores. Os monitores eram estudantes do pré-vestibular que moravam na comunidade.

Inicialmente, a modalidade EJA foi muito importante para dar base a todo o trabalho do PRECE, pois todos os agentes fundadores da experiência passaram por esse sistema de estudos, a única exceção foi Manoel Andrade. Rodrigues (2007) diz que:

muitos dos estudantes que hoje são universitários passaram pela modalidade do curso supletivo no PRECE. Todos os estudantes fundadores da entidade, por exemplo, passaram por essa modalidade de ensino, evidenciando que ela teve considerável importância ao viabilizar a continuidade dos estudos de jovens e adultos moradores da zona rural. (idem, p.77-78).

O primeiro estudante do PRECE, Francisco Antonio Alves Rodrigues, concluiu o ensino médio profissionalizante na modalidade EJA em um Programa do Ministério da Educação (MEC), denominado de LOGOS II e assim como ele, eu também fiz o meu ensino médio no mesmo curso, ficamos amigos e passamos a estudar juntos, principalmente, na última etapa quando teríamos que ministrar cinco aulas práticas e, para isso, tínhamos que treinar, pois havia um passo a passo que não podíamos deixar de seguir direitinho para poder conseguir a nota em todas as aulas e assim, poder concluir o curso profissionalizante em Pedagogia.

Foi por meio do projeto EJA que os agentes fundadores do PRECE se escolarizaram. O programa atendia aos estudantes, em qualquer nível de conhecimento, possibilitando-lhes a certificação expedida pelo Centro Educacional de Jovens e Adultos citado. A aplicação das provas ocorria na casa de farinha, em Cipó, porém com as dificuldades de locomoção dos docentes, pioradas pelas cheias do inverno, na estrada de Pentecoste a Cipó, eles não puderam mais continuar. Desse modo, o diretor nos deu a credibilidade merecida; permitindo que aplicássemos as provas e

entregássemos os resultados a cada fim de mês. Da esquerda para a direita na foto são os professores do CEJA e o primeiro estudante do PRECE, então coordenador desse projeto:

Figura 17 - Professores do CEJA – Itapipoca aplicando provas da EJA em Cipó

Fonte: Arquivo do Memorial do PRECE.

Segundo Rodrigues (2007) “a partir de abril de 2000, a instituição firma uma das mais importantes parcerias do ponto de vista do trabalho educacional que desenvolvia”. (idem, p.76). Em sua pesquisa de mestrado em Educação Brasileira, ele comenta que “após seis meses de atividades, a equipe do PRECE, formada por estudantes universitários, assumiu tanto as atividades de acompanhamento quanto a de aplicação das avaliações, apresentando ao CEJA, mensalmente, os relatórios dos trabalhos realizados”. (idem, p.77).

O projeto EJA no PRECE visava oportunizar aos estudantes fora da idade escolar a sua escolarização através de um sistema modular de educação que é o corriqueiro do sistema formal, mas havia o diferencial do estudo em célula com o apoio mútuo entre os estudantes mais experientes do Programa. De acordo com o 2º relatório pedagógico dos projetos realizados pelo PRECE em 2008, o processo metodológico da EJA funcionava mais ou menos assim: os estudantes que já tinham passado pelo sistema cooperavam como monitores educacionais ajudando os que ainda estavam cursando as disciplinas.

Os universitários, aos finais de semana, ao retornarem de Fortaleza, orientavam os monitores e aplicavam as avaliações para os estudantes do Projeto EJA. Cabe destacar que alguns recém-graduados atuavam na gestão do Projeto EJA na EPC de sua comunidade. O interessante era

a facilidade que o Projeto EJA oferecia para os estudantes de serem atendidos em sua própria comunidade, como uma escola itinerante. (Relatório 2007, p. 09).

Os monitores de cada disciplina eram escolhidos pelo seu engajamento no projeto e pelo seu interesse pela disciplina que pretendia compartilhar os seus saberes. Os conteúdos seguiam a grade curricular da EJA, reforçados por outros que o estudante necessitasse, conforme o nível em que chegava ao projeto. Nas células, cultivava-se a discussão em grupo e o debate sobre variados temas de interesse do estudante, privilegiando-se a leitura e a escrita já que havia uma atividade obrigatória que era a produção de redação semanalmente, porém se o estudante quisesse, podia escrever mais de uma redação por semana. Essa atividade era muito valorizada por Manoel Andrade que orientava a todos os facilitadores a priorizarem essa prática, não deixando de fazer a correção de todas as produções, emitindo comentários e pedindo a refacção das mesmas, se necessário.

Nós, professores de Português, sempre íamos ampliando as ideias com novas propostas textuais que se ligassem à história de vida do estudante, como demonstro, à frente, uma experiência sobre esse trabalho no PRECE. Com o decorrer dos anos, as atividades foram se diversificando e outras práticas foram se somando, por exemplo, orientávamos a “leitura de paradidáticos, a escrita de diários, de histórias populares, cordéis, autobiografias e biografias de pessoas da própria comunidade, etc.” (RELATÓRIO, 2008, p. 09).

Devido a ação do PRECE acontecer, principalmente no meio rural, considerava-se a realidade do campo, “da geografia, das distâncias, das intempéries, da cultura daquele povo, enfim, de todos os dissabores do próprio ambiente”. Todo estudante que nos procurava com o objetivo de se escolarizar na EJA e se preparar para o ensino superior, era bem acolhido e não havia processo seletivo que pudesse excluir ninguém, permanecer ou não, a escolha para entrar e estudar era somente de cada um.

Destaco na (Tabela 02) (ibidem) uma primeira amostra quantitativa de resultados do Projeto EJA, realizado em 2008 com o apoio da Fundação Lemann que oportunizou a sistematização de nossas atividades pedagógicas na modalidade EJA no PRECE. Com a visualização, temos uma noção de quantidade, de público e de resultados desse projeto em 2008:

Tabela 2 - EPCs que realizam o Projeto EJA/ Com estudo em células ou não/Público/Resultados quantitativos EPC Nº de estudantes ingressos na EJA Estudantes - atuais Realiza o estudo em células Nº de provas realizadas por aluno mensalmente Nº de concludentes Ensino

Fundamental Ensino Médio

Cipó 17 14 Não* 5 0 5

Canafístula 27 19 Sim 5 0 8

Boa Vista 24 22 Sim 6 1 3

Ombreira 4 4 Não 2 0 0

TOTALIZAÇÃO 72 59 50% Média geral = até 5 1 16

Fonte: Relatório Fortalecimento e Expansão das Ações Educacionais no Sertão Cearense.

Conforme a tabela, destaco que em relação a questão metodológica do estudo cooperativo, nem todas as EPCs conseguiam aplicar o estudo em Células, algumas se dobravam à forma de estudo mais comum no sistema formal de EJA que era levar o módulo fornecido pelo sistema de ensino, estudar em casa e vir ao Cipó apenas realizar as provas. Isso era algo que tentávamos desestimular e continuar focando na proposta de um estudo mais ativo e contextualizado com o interesse de cada grupo de estudantes e comunidade aprendente que era a proposta do PRECE, ou seja, ver além da prova e da certificação do ensino médio e dentro desse olhar, logo que o estudante de EJA concluía o ensino médio, já orientávamos esse a continuar seus estudos preparatórios para o ensino superior no Projeto Pré-Vestibualar Cooperativo. É importante ainda destacar que nem todos os estudantes matriculados nesse ano, deveriam concluir, cada um tinha o seu próprio ritmo, por isso, a taxa de conclusão se mostra baixa, apenas 01 no ensino fundamental e 16 no ensino médio.

No Pré-Vestibular Cooperativo, fomos aperfeiçoando o estudo em células, em que os educandos com maior competência em conteúdos da formação básica, cooperavam para o aprendizado de outros, com histórico avaliado de pouca competência acadêmica.

Desde a primeira célula do PRECE, nos reuníamos para compartilharmos nossos conhecimentos e nos construirmos como lideranças e nunca foi necessário seleção de monitores por sermos ainda poucos e necessários nos estudos preliminares com o saber que tínhamos, mas os educandos que vieram nos anos posteriores a esse período de 1994 à 1998 eram selecionados e submetidos a uma capacitação básica para se constituírem monitores e articuladores e assim,

darmos conta da alta demanda que surgia à medida que nossos resultados aumentavam e repercutiam na região.

Esses estudantes que passavam por uma formação docente necessária no contexto de escassez de professores licenciados, já muito cedo, foram se constituindo facilitadores educacionais. Em 2002, com a ida dos estudantes da sede de Pentecoste surgem também as dificuldades de acomodação, alimentação e responsabilidade de gestão para com esse público, já que era necessário cuidar desses rapazes e moças, desde aulas, material didático, alimentação, alojamento e acompanhamento em toda situação que pudesse surgir nos âmbitos social e emocional, assim, ocorreu a primeira multiplicação, já comentado.

Nesse contexto, destaco duas figuras, além de Manoel Andrade, que foram muito importantes nesse processo de expansão do PRECE, saindo dos limites de Cipó; uma delas é a de Adriano Sérgio Andrade e a outra é a de Elizeu Peixoto; o primeiro destaca-se na implementação do projeto, por ter demonstrado total desprendimento pessoal, abdicando de projetos pessoais para se dedicar, integralmente, a causa e assumindo todo tipo de papel, desde a preparação de material didático ao transporte de universitários, diuturnamente de Fortaleza a Pentecoste e vice-versa para darem aulas no novo PRECE Pentecoste, que teve como primeira sede alugada o então Centro Educacional João XXIII.

A segunda pessoa, por ter sido o apoiador financeiro, tendo a coragem de mexer naquilo que poucas pessoas têm, nas finanças para emprestar dinheiro ao PRECE para comprar um carro, a Kombi (figura 18). Com isso, garantiu-se a presença dos universitários para conduzirem as aulas todas noites.

Para essa expansão do PRECE obter sucesso, a Kombi foi essencial, pois como as lideranças principais do projeto estavam na universidade, em Fortaleza, e, sem a presença delas na semana, em Pentecoste e, aos fins de semana, em Cipó, o projeto não poderia ter frutificado tanto ao longo de sua história.

Com a compra da Kombi, as ações do PRECE obtiveram mais êxito, pois o núcleo original em Cipó se manteve forte e a ideia da multiplicação, pensada por Manoel Andrade que consistia em “dividir para poder multiplicar” foi exitosa. Nesse ideal, houve a semeadura nos campos férteis, a começar pela EPC – Pentecoste, e dali para frente, não se parou mais.

Até hoje, a partir desse olhar para a minha história de vida no PRECE, vi soma nos diversos grupos existentes na história da experiência e vi divisão e multiplicação na replicação da

pedagogia do PRECE para outras comunidades, EPCs, escolas públicas (Secretaria de Educação do Estado do Ceará - SEDUC e Superintendência das Escolas Estaduais de Fortaleza - SEFOR) e universidades (UFC e Universidade do Estado do Mato Grosso - UNEMAT).

A Kombi foi uma personagem inanimada fundamental para que houvesse vida, vida estudantil, vida comunitária, e tudo isso ligado ao sonho de cada um que fez parte desse processo. Havia momentos em que o professor de geografia Adriano Andrade, homem proativo e prático que era e é, assumia o cargo de motorista da Kombi.

Nossa personagem e seu motorista sofriam na estrada esburacada de Croatá a Pentecoste, diuturnamente. Todos saíamos de Fortaleza no fim da tarde para estarmos na escola João XXIII às 18h30min, tempo em que deveríamos entregar as xerox aos outros professores e aos monitores antes das 19h, quando começavam as aulas. A Kombi foi muito querida e, antes de ser vendida, tirou-se uma foto dela para guardar na memória do PRECE (figura 18).

Figura 18 – Transporte usado na multiplicação do PRECE

Fonte: Arquivo Memorial do PRECE.

Na implementação do PRECE na cidade de Pentecoste, com o início da primeira EPC de Pentecoste, colaborei acompanhando os novos precistas da cidade um dia na semana, no turno da noite. A Kombi me levava às 17 horas de Fortaleza à Pentecoste para facilitar uma aula geminada de Língua Portuguesa, que se iniciava às 19h e terminava às 21h e 30min. Acompanhávamos todos

os grupos de estudo da nossa disciplina em um dia na semana e, ao término de cada dia de aula, nos reuníamos durante meia hora com cinco ou mais monitores de cada grupo para recebermos o feedback de cada célula de estudo naquele dia e em seguida retornávamos para Fortaleza, chegando por volta de meia-noite.

Trabalhávamos com a mesma sistemática metodológica do estudo em células, com cinco ou seis estudantes no máximo, e, dentre estes, havia um monitor previamente selecionado e um coordenador de disciplina, que era um de nós graduandos. Todos os facilitadores do PRECE que atuavam conosco nesse novo momento, passavam por essa mesma rotina. No geral, cada disciplina tinha em torno de 20 ou mais estudantes. Às vezes, ocorriam problemas nas células de estudo das disciplinas que teriam que ser resolvidos na mesma noite, pois não haveria tempo depois, já que gestores e universitários não se veriam mais até as próximas aulas da semana seguinte.

Não podíamos adiar os conflitos, pois se assim agíssemos, como as células poderiam