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2 HISTÓRIA DO PROGRAMA DE EDUCAÇÃO EM CÉLULAS COOPERATIVAS

2.5 Início do Processo de Institucionalização do PRECE

Nós, agentes fundadores buscamos a institucionalização do PRECE a partir da criação do que foi nomeado Projeto Educacional Coração de Estudante em 18 de outubro de 1998. Com essa formalização, nós líderes poderíamos escrever projetos para captar recursos de diversas

instituições que, comumente, lançavam editais para fomento de ações educativas no âmbito da educação não formal de diversas entidades do terceiro setor, e esse avanço na elaboração sistemática da escrita de projetos sobre a experiência foi feito por Manoel Andrade.

Essa formalização se processaria a partir da sua organização estatutária, e sobre isso, destaco um trecho da ata de fundação4 da ONG que ilustra como aconteceu esse novo momento de planos e sonhos para o futuro dos estudantes e líderes que ali se encontravam e para tantos que viriam depois:

Aos 18 do mês de outubro. Do ano de mil novecentos e noventa e oito, às 20 horas na casa de farinha, situada na comunidade do Cipó, município de Pentecoste, Estado do Ceará, reuniram-se em Assembleia Geral de Constituição e Fundação os senhores membros do PRECE – Projeto Educacional Coração de Estudante. Estavam presentes muitas pessoas residentes nas comunidades adjacentes. Foi dada a saudação de boas vindas aos presentes pelo jovem Francisco Antônio Alves Rodrigues, o qual passou a palavra para o seminarista Alexsandro Rocha dos Santos, da Igreja Presbiteriana Independente do Brasil, que dirigiu uma devocional e na ocasião fez uma oração pedindo que Deus abençoasse a reunião e a Entidade a ser fundada. Após a oração, todos entoaram o cântico “Oh! Vinde vós os povos

de todas as nações, erguei-vos e cantai com alegria”. (Ata de Fundação, 1998)

A partir do fragmento do documento e do qual sou testemunha por estarmos todos imbuídos do mesmo objetivo, que era iniciarmos um processo de crescimento a partir da institucionalização, criando uma ONG que pudesse, principalmente, captar recursos de forma legal para o fomento dos vários projetos educacionais nascentes a partir de novas perspectivas educacionais. A liderança fundadora do PRECE e representantes de outras comunidades, a igreja local, todos estavam presentes nesses momentos importantes da vida do Projeto que crescia cada vez mais. Além, da possibilidade de captação de recursos, o grupo pautou o seguinte objetivo constante no 2º artigo do seu estatuto:

colaborar para o pleno desenvolvimento dos jovens, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho; promover atividades que possam despertar o interesse dos jovens pela educação, incluindo movimentos artísticos e culturais; promover cursos, treinamentos e outros eventos; desenvolver palestras, excursões, atividades esportivas tais como campeonatos e torneios; (Estatuto do Projeto Educacional Coração de Estudante, 1998)

Despertar o interesse dos jovens pela educação, esse foi o maior objetivo do PRECE até hoje, multiplicado em suas diversas facetas. Colaborar para o seu desenvolvimento pessoal e

4 Ata da Assembleia Geral de constituição do Projeto Educacional Coração de estudante (PRECE), realizada no dia

social e prepará-lo para ser um cidadão. O cidadão tem direitos e deveres, dentre outras atribuições do termo. Lutamos para crescer, intelectualmente e contribuirmos com as causas sociais que têm nos desafiado, diariamente, em nossas trajetórias de vida. Desde a primeira célula de estudo, cultivamos o nosso compromisso de retornar à comunidade de Cipó para acompanharmos os outros estudantes que se preparavam para a universidade.

Na ata de fundação do Projeto Educacional Coração de Estudante, o presidente da instituição criada fala que “estes estudantes que hoje já estão em um estágio mais evoluído de conhecimento, dedicam-se durante os finais de semana, a atividade de ensino aos seus colegas que ainda estão fazendo os supletivos do primeiro e segundo grau” (ata de fundação, 1998). As ações aconteciam de forma dinâmica, o grupo inicial caminhava e os projetos iam surgindo das ideias do líder principal que instigava os participantes a se envolverem na execução dos mesmos. Uma dessas ideias foi a criação do Jornal Tribuna do Estudante, que tinha o objetivo de divulgar as práticas socioeducativas realizadas pelo PRECE. O primeiro número do jornal foi lançado no dia da oficialização da experiência conforme exposto antes.

Mais uma fonte documental que registrou esse dia de institucionalização da experiência, o Tribuna do Estudante, foi uma maneira criativa de comunicação e fortalecimento do projeto para aquele contexto ainda em atraso. Segue-se a análise do número 01 do periódico que surgiu como uma espécie de manifesto de implantação de uma cultura de estudos autônomos, cooperativos e solidários. Dentro dessa ideia foi que Manoel Andrade pensou em lançar um jornal que representasse nossa causa.

No primeiro número do jornal, de forma oficial, nomeamos essa prática social educativa de Projeto Educacional Coração de Estudante. Após o processo de nominalização oficial perante um grupo, o projeto passou a ter uma identidade, um nome.

O periódico Tribuna do Estudantefoi lançado no mesmo dia da intitucionalização do PRECE e surgiu pela necessidade de divulgar as nossas ações educacionais. O primeiro jornal faz parte de uma coletânia de 19 a 20 fascículos. Esse fascículo representa o nosso momento de atuação, mostra o que estávamos fazendo e funciona quase como um mini-relatório de nossas atividades no PRECE em 1998. Esta análise se destina a mostrar quais objetivos, princípios e ideias que sustentavam as práticas educativas do PRECE, sendo, portanto, a nossa primeira iniciativa de divulgação via impressa.

Primeiro destaco o Editorial do número 01 do periódico de apenas duas páginas. No estudo do Editorial, inspirado nas reflexões de Pierre Bourdieu acerca do nome próprio, em seu artigo “A ilusão Biográfica” (1986), apresento uma análise sobre o ato de nomear uma prática social, o grupo de estudantes pioneiros do PRECE. Aqui se trata de algo com natureza institucional, um grupo, um movimento social em seus primórdios e que caminha para sua formalização e nominação referendada pelo grupo, pela sociedade e pelo Estado, chegando a se constituir em uma ONG.

Os estudantes do grupo inicial do PRECE eram bastante estimulados a não desistirem frente às dificudades econômicas e políticas presentes em seu contexto local e as adversidades de pobreza material. Esses estudantes foram estimulados pelo exemplo de superação do professor Manoel Andrade, que vivia nas mesmas comunidades dos estudantes e que lutou e superou a pobreza e ausência do poder público para se formar e se tornar professor da UFC.

A presença de Manoel Andrade gerava motivação para que eles continuassem lutando por uma vida melhor, frase muito recorrente nas entrevistas e depoimentos desses primeiros precistas. Observei haver em alguns deles, valores aprendidos em nossas trajetórias, tais como o amor ao próximo, a solidariedade, a cooperação, a ajuda desinteressada ao outro e o cuidado com esse outro. E todos esses valores foram surgindo de um ponto central que era a crença no Deus cristão, Jesus Cristo.

O número 01 do jornal tem apenas duas páginas de tamanho A4, escrito com a cor verde e destaques em vermelho, cores representativas do PRECE, constante na primeira logo. Nas nossas discussões, a partir das proposições de Manoel Andrade, sugeridas ao grupo, o vermelho significava o amor, o coração do estudante; o verde simbolizava a esperança, a nova vida que se esperava com a transformação de uma trajetória difícil, de pobreza para outra mais digna e justa. Uma vida transformada no sentido de se abrir a construção de saberes, entendendo a realidade social e o conhecimento histórico acumulado que “empodera” o ser. Na primeira página, lemos o editorial, escrito por Manoel Andrade Neto. Destaco um excerto do editorial que apresenta a temática do jornal e seu objetivo:

Dezoito de outubro é um dia muito especial. Digo especial, pela relevância no que diz respeito a sua natureza histórica. Nascem oficialmente dois possíveis grandes baluartes do futuro município de Pentecoste: o projeto educacional Coração de Estudante que recebe a significativa sigla de PRECE e o seu principal órgão de divulgação o jornal Tribuna do Estudante para o qual tenho a honra de redigir seu primeiro editorial. Neste dia, completam-se quatro anos de existência oficiosa, porém não oficial, de um projeto cujo principal objetivo é colaborar com o pleno desenvolvimento dos jovens e seu preparo para o exercício da cidadania [...]. (ANDRADE NETO, 1998, p.01).

Logo nas duas primeiras linhas, observo o esforço para se criar uma identidade e referência do grupo que já tinha uma trajetória de quatro anos. A criação desse aparelho de mídia contribuiu para dar o tom oficial e poderoso do recurso midiático, desde os primórdios da história jornalística no mundo. Esse registro escrito também afirmava uma espécie de pacto social entre o grupo. A publicação era uma forma de dizer para todos do município de Pentecoste quem eram os agentes precistas e porque estavam ali.

A história social do PRECE se confunde com a história individual de seus agentes. Sobre isso, Bourdieu faz uma reflexão que reforça o que discuto aqui, ou seja, a trajetória de um coletivo, de uma entidade, mas também de percursos individuais, de agentes de uma prática. Ele fala de histórias de vida, de “caminhos”, “estradas”, “carreiras” e de “encruzilhadas”. Segue-se a citação do referido autor:

[...] um caminho que percorremos e que deve ser percorrido, um trajeto, uma corrida, uma passagem, uma viagem, um percurso orientado, um deslocamento linear, unidirecional (“a mobilidade”), que tem um começo (“uma estreia na vida”), etapas a um fim, no duplo sentido, de término e de finalidade (“ele fará seu caminho” significa “ele terá êxito”, “fará uma bela carreira”), um fim da história. (BOURDIEU, 1986, p.01).

Na história do PRECE e de seus protagonistas, em termos cronológicos, foi estabelecida uma linha divisória no tempo, demarcando um antes, e um depois de 1994 repleto de caminhos, trajetos, passagens, viagens, paradas que apontam para uma “estreia de vida”. Depois, veio um devir, marcado por “ele fará seu caminho”, “ele terá êxito”, “fará uma bela carreira” que confirma um continuar, renovando – se de tudo, numa construção sublinhada por trajetórias individuais que tomam corpo no âmbito coletivo.

Ao se contar essa história, supõe-se ter um fim, mas talvez não tenha fim, pois sempre haverá uma meta a se alcançar, um objetivo para se conservar vivo, renascendo em outros sujeitos, em outros espaços, para a ação quase contínua de “colaborar com o desenvolvimento dos jovens e seu preparo para o exercício da cidadania”. O testemunho do registro escrito pelo Tribuna do

Estudante e referendado pela publicação diante do grupo e da comunidade marca o início de uma procura por identidade, nomeação, reconhecimento e legitimação.

O autor do editorial é enfático ao dar nome oficial ao grupo de estudos, caracterizando- o como uma estrutura de sustentação forte e segura que daria suporte ao “futuro do município”, assinalando para uma espécie de missão social que precisavam realizar e que ultrapassava a dimensão individual. Por isso, fez-se um ato público, uma espécie de manifesto, com o lançamento de um jornal que publicou o momento solene.

O destaque honroso do significado da sigla PRECE, ou seja, da institucionalização com nome próprio que de agora em diante seria conhecido e chamado de Projeto Educacional Coração de Estudante e ainda de seu pequeno órgão de mídia, o jornal Tribuna do Estudante. Nesse expediente, o Tribuna do Estudante contribuiu para uma apresentação pública do ente social instituído pelo nome próprio.

Aqui me refiro a um projeto educacional que percebeu o valor de um periódico para ampliar a luta por uma educação libertadora e transformadora de base freireana, na qual os sujeitos realizam a mediação do saber que parte de uma ação social, seguindo-se uma práxis que poderíamos chamar de praxiologia freireana (FREIRE, 2011).

Muitos grupos ou instituições, ao longo da história do mundo, fundaram um jornal, canal de comunicação entre o fundador e seu público. Acerca da importância do jornal na História da Educação, destaco o que pontua Celina Mizuta:

Nesse sentido, os jornais podem trazer à tona os elos fundamentais para recompor a História da Educação uma vez que na origem do jornalismo na Europa, ele tornou-se um poderoso instrumento do projeto iluminista para desencadear mudanças nas ideias e nos comportamentos das pessoas comuns. (MIZUTA, 2017, p. 02).

A ideia da criação do jornal partiu do professor Manoel Andrade que iniciou tal empreendimento comunicativo do PRECE sabendo do poder que esse instrumento tem para fomentar e ser sustentáculo de lutas sociais e políticas educacionais de qualidade. Junto com ele, estávamos todos nós que fazíamos parte do expediente5 e nos responsabilizávamos pelas novas publicações. No entanto, o periódico teve vida efêmera, por motivos que precisam ser analisados

5 Diretor: Francisco Antonio Alves Rodrigues; Editor: Prof. Manoel Andrade Neto; Revisora: Ana Maria Teixeira

Andrade; Diagramação e artes: Manoel Andrade Neto; Colaboradores: Francisco José Teixeira Gonçalves, José Orismar da Silva Barroso, Adriano Sérgio da Silva Andrade, José Noberto Sousa Bezerra.

em outro estudo. Mesmo assim, sua curta vida trouxe informações importantes e guardou a memória do grupo que será importante como registro histórico da educação no Ceará.

Além do editorial, tem-se um espaço intitulado de Dito pelos homens, onde se destacava, a cada número, um dito, uma frase; no primeiro número publicou-se a frase célebre do escritor Monteiro Lobato: “Um país se faz com homens e livros e o futuro de um homem depende de ele ter tido ou não, uma biblioteca em sua casa” (KOSHIYAMA, 2006, p. 212). Essa frase me lembra do fato de que nos lares da maioria das pessoas que constituíam nosso grupo não havia um lugar adequado para estudar, imagine uma biblioteca! Essa frase nos tocava pela razão da valorização inicial de que nosso espaço de estudo, a casa de farinha, deveria ser cheio de livros. Nesses quatro anos iniciais, recebemos muitas doações de livros de professores da UFC.

Segue-se outro espaço de título O que disse Jesus, e nele, constava um versículo bíblico que diz: “no mundo tereis aflições, mas tende bom ânimo, eu venci o mundo” (Jo 16:33, Bíblia). A utilização do versículo era para estimular o grupo a não desanimar frente às adversidades que encontrariam em suas trajetórias de vida. O modelo era Jesus, no sentido de se ter uma missão social e de resistir a uma cultura antiética na política local que aumentava cada vez mais o abismo social entre a classe pobre e a pequena elite, dado as diferenças nas devidas proporções da analogia utilizada pela máxima bíblica. A (figura 12), dividida em A e B ilustra o jornal aqui analisado.

Figura 12 – Página 1 da 1º edição do Jornal Tribuna do Estudante (A)

Fonte: Arquivo pessoal da autora.

Figura 12 – Página 2 da 1º edição do Tribuna do Estudante (B)

Na página 02, há uma coluna de título Acontecimentos. Nesta há alguns subtítulos como a Fundação do PRECE, o Dia da Criança, Encontros de convivência em Mundaú (figura 13), praia onde fizemos o primeiro encontro de convivência do nosso grupo, cujo objetivo era trabalhar os relacionamentos entre os participantes do PRECE e a sua unidade. A foto representa um momento de dinâmica sobre a interdependência entre os participantes da experiência que nos levou a refletir acerca da importância de nos unir com vistas a um só propósito.

Figura 13 - Primeiro encontro de convivência do PRECE em Mundaú (1996)

Fonte: Arquivo do Memorial do PRECE.

Depois vem o espaço para a divulgação dos aniversários dos estudantes, opotunizando momentos festivos entre os amigos do projeto. Em seguida, há outra coluna de título Fatos

Marcantes, onde se registrava a aprovação de algum estudante no vestibular, e isso servia de

estímulo e fortalecia os objtivos do projeto educacional e do periódico. Havia outra coluna chamada de Esportes e esta não poderia faltar, pois os estudantes(homens), do PRECE tinham o esporte como o seu maior lazer e momento de interação com os amigos de estudo e com a comunidade. Posteriormente, vem o espaço da Entrevista onde registrávamos entrevistas dos estudantes do

projeto, uma biografia a cada edição do jornal e, finalmente, a última, nomeada de Curiosidades, a qual falava de amenidades, pequenas informações acerca de descobertas, fatos curiosos, etc. Sobre o significado de nome próprio, o termo serve para individualizar uma pessoa, nações, povoações, instituições, etc (HOLANDA, s/d, p.1197). Aqui, verso sobre a constituição do nome próprio Projeto Educacional Coraçãoo de Estudante (PRECE) que dá existência oficial a uma instituição criada e sustentada por seus agentes fundadores. A partir desse marco, foi constituída uma diretoria, uma ata, um estatuto e, posteriormente, um CNPJ. Com essa nomeação, ficou, oficialmente, garantida uma existência institucional, ou seja, uma ONG. Percebo que a essência (a necessidade, a motivação) do nome próprio, pensado para nomear a ação de estudantes estudarem juntos, confunde-se com a essência de cada integrante, transitando do coletivo para o individual. Sobre isso, vejamos o que pensa Bourdieu em suas reflexões sobre o tema:

[...] o nome próprio é o suporte [...] daquilo que chamamos de estado civil, [...] produto do rito de instituição inaugural que marca o acesso à existência social, ele é o verdadeiro objeto de todos os sucessivos ritos de instituição ou de nominação através dos quais é construída a identidade social: essas certidões (em geral públicas e solenes) de atribuição, produzidas sob o controle e com a garantia do Estado, também são designações rígidas, isto é, válidas para todos os mundos possíveis, que desenvolvem uma verdadeira

distribuição oficial dessa espécie de essência social, transcendente as flutuações históricas,

que a ordem social institui através do nome próprio [...]. (BOURDIEU, 1986, p.02).

O aniversário de quatro anos de existência do grupo como uma espécie de “rito de instituição inaugural” demarcou a existência, a história e a perspectiva de uma nova história social e individual. Esse momento cercado por frases como “dia muito especial” e “tenho a honra” simboliza ato solene e gera atributos produzidos para assegurar uma garantia oficial que mantém a ação social instituída e legitimada pelo grupo e pela comunidade.

Essa “nominação”, esses “mundos possíveis” se aplicam bem ao PRECE. Seu nome, sua designação, é tão forte que transcende às mudanças históricas e se transmuta em novas práticas sociais, não somente na educação não formal, mas na rede pública de ensino fundamental, médio e superior e em novas parcerias que merecem um estudo à parte, em outro momento. Essa sigla é mantida, porém com novos significados, sendo partilhada oficialmente em sua natureza social, elevando-se às “flutuações históricas” instituídas socialmente pelo “nome próprio”.

Na história do PRECE, desde o seu início, destaco como as principais motivações para a criação do Projeto Educacional Coração de Estudante as péssimas condições para o desenvolvimento econômico e educacional no município, assinaladas aqui pelo editorial do jornal

Tribuna do Estudante. Outra importante motivação era a situação de pobreza pela qual cada estudante vivia em sua realidade, consequência da anterior. Diante disso, apresento mais um fragmento do editorial para entendermos um pouco a visão do grupo sobre o contexto político de Pentecoste:

Cinco (posteriormente entraram mais dois, totalizando sete – grifos da autora.) jovens que resolveram se reunir para mudarem o destino de suas vidas, inicialmente imposto por um sistema desonesto e desumano, onde só os que podem pagar uma boa escola é que de fato tem direito a uma educação eficaz [...]. (ANDRADE NETO, 1998, p.01).

Sistema político “desonesto” resume um estado de negação, de enganação, mentira, falta de integridade, atos velhacos, improbidade administrativa e não ser sincero perante a população a qual representa. Sistema capitaneado por indivíduos desprovidos de decência e que não demonstram honestidade no tratamento da coisa pública. Sem honra e falta de decoro, dentre outras denominações dadas a esse tipo de governo. A segunda palavra, “desumano” trata-se de alguém que não expressa humanidade, que tende a ser tirano, bárbaro e atroz. São termos fortes que se justificam pelo despreparo e descompromisso social de muitos governos municipais do Ceará.

No geral, no senso comum, os órgãos de fiscalização dos municípios são tidos como não confiáves e não fiscalizam seriamente, com ética. Para se ter uma ideia, segundo os jornais de Fortaleza, o grupo politico que governa Pentecoste nessas três últimas décadas, em 2018, passou a