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4. CAPÍTULO 4

5.1. O Liceu da cidade de Goiás

5.1.2. A Criação do Lycêo da Cidade de Goyaz

Os problemas vivenciados na Província de Goiás não eram restritos somente à educa- ção. Vejamos que o ano de 1846, para o Dr. Joaquim Ignácio de Ramalho, conforme relatório apresentado à Assembléia Legislativa em 1o. de maio de 1847, foi considerado de perfeita tran- qüilidade. Ele considerou que “o fato mais notável praticado contra a segurança individual” foi o assassinato de D. Vitória de Souza e Oliveira, da Vila de Pilar, por seu escravo de nome Adão. E nas palavras do presidente:

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foram tão prontas, e enérgicas as providências da Polícia e do Poder Judiciário, que dentro de quatro meses, foi o delinqüente preso, processado, executado, observando- se em tudo as fórmulas legais (relatório, 1847, p.66).

Essa tranqüilidade colocada pelo presidente137, muitas vezes, também era afetada por ataques de índios. O relatório apresentado mostra que grande parte do território da Província era de domínio dos índios e alguns deles, como os Xavantes, em especial os da nação Canoeira, eram temidos pela população. A Província de Goiás, nessa época, contava com novas povoa- ções e estabelecimentos rurais promissores. Esses índios assassinavam, roubavam e destruíam propriedades, aterrorizando as pequenas comunidades do interior e os lavradores, obrigando-os a abandonarem suas terras e procurarem abrigos no centro das povoações, causando prejuízos para o crescimento da indústria e comércio da província.

Apesar dessas dificuldades, um acontecimento considerado de grande importância para Goiás foi a fundação da Sociedade de Navegação do Araguaia. A navegação dos rios que cortam o território goiano foi objeto de discussão desde o período colonial. Voltou a ser discuti- da nos governos de José Rodrigues Jardim e de D. José de Assis Mascarenhas. Os governantes procuravam, através da navegação pelos diversos rios, um meio de comercializar com mais facilidade os gêneros produzidos pela província. As idéias foram apresentadas aos capitalistas da época e para pessoas abastadas da Capital, mostrando-lhes um ensaio de navegação e co- mércio entre a Província de Goiás e do Pará. As pessoas mostraram-se interessadas no projeto e adquiriram ações para a realização da empresa. Para administrá-la, foi escolhido o Dr. Rufino Theotônio Segurado por ser um homem que merecia crédito por suas habilidades, além de ter conhecimentos práticos de navegação.

Também em 1846, no dia 29 de julho, nascia a Princesa Isabel, que foi a herdeira do trono de 1851 a 1889 e que em três ocasiões governou o Brasil na ausência de seu pai, D. Pedro II138. Outro acontecimento importante para a Província foi concretizar a idéia de ter um Liceu na Cidade de Goiás. Ele foi criado pela Lei nº 9, de 20 de junho de 1846, e inaugurado no ano seguinte, conforme está registrado no Livro de Ouro, na sua Ata de abertura de 23 de fevereiro de 1847 e no relatório139 apresentado à Assembléia Legislativa de Goiás em 1o. de maio desse mesmo ano, pelo então presidente da província, Dr. Joaquim Ignácio de Ramalho. Também, por um Regulamento de 15 de fevereiro de 1847, expedido pelo governo da Provín- cia e citado na ata de abertura, foram criadas no Liceu as aulas de Latim, Francês, História e

137 Relatório do Dr. Joaquim Ignácio de Ramalho, 1847, p.66. In: Memórias Goianas nº 4.

138 In: Barman, Roderick – Princesa Isabel do Brasil , 1937. Traduzido por Luiz Antonio Oliveira Araújo, 2005.

139 Livro de Ouro: primeiro livro de registros do Liceu da Cidade de Goiás – Museu das Bandeiras, Cidade de Goiás e relatório de 1847, do governo de Joaquim Ignácio de Ramalho (1847, p.77).

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Geografia, Aritmética e Geometria, Retórica e Poética, Lógica, Metafísica e Ética. O Liceu da Cidade de Goiás, em 1847, era o único estabelecimento de ensino secundário do local.

O Lycêo da Cidade de Goyaz foi aberto na Cidade de Goiás, na Casa da Tesouraria. Para a solenidade de abertura, conforme foi registrado em ata, estiveram presentes: o presidente da Província de Goiás e o de Mato Grosso que estava de passagem pela cidade; o Reverendo Bispo Diocesano; o clero; o vice-presidente da Província, os chefes das repartições de Fazenda Geral e Provincial, da Câmara Municipal, as autoridades judiciárias e policiais, os professores do Liceu, e pessoas gradas e notáveis da capital de Goiás.

O primeiro diretor do Liceu foi o Reverendo Emydio Joaquim Marques que, no mo- mento da abertura, declarou que em virtude da Lei n° 9, de vinte de junho de 1846 e em cum- primento as ordens de Exmo. Sr. Presidente da Província, de doze de fevereiro de 1847, ficava

instalado e aberto o Lycêo da Cidade de Goyaz. Uma ata foi lavrada por Vicente Moretti

Foggia, professor de Aritmética e Geometria e secretário do Liceu. A ata foi assinada pelo pre- sidente da Província, Dr. Joaquim Ignácio de Ramalho, e pelas pessoas presentes.

Os primeiros professores do Liceu foram: o padre Emydio Joaquim Marques, primeiro diretor do Liceu e que, em 1840, era professor de Gramática Latina na Cidade de Goiás, consi- derado por D. José de Assis Mascarenhas um excelente professor140; o Padre José Ribeiro Dan- tas d’Amorim, que ocupou a cadeira de Latim em prosa e verso; José Militão Xavier de Barros, a cadeira de Francês em prosa e verso; Vicente Moretti Foggia, Cirurgião Mor da Província, ocupou a cadeira de Aritmética e Geometria.

Em 1847, as cadeiras de Retórica e Poética, Lógica, Metafísica e Ética e História e Geografia não foram ocupadas.

Um regulamento de 15 de fevereiro de 1847 estabeleceu que as matrículas se inicias- sem no primeiro dia útil do mês de março e terminassem no último dia útil do mesmo mês, com exceção das aulas de Latim e Francês, nas quais seriam admitidos alunos durante todo o ano. Por essa razão, para matricular-se nessas aulas, o aluno não precisaria ter nenhum preparo.

No primeiro ano de funcionamento141, matricularam-se nos diversos cursos 52 alunos, sendo 33 em Latim em prosa e verso, 11 em Francês em prosa e verso, e 8 em Aritmética e Geometria.

Os professores, segundo o Dr. Joaquim Ignácio de Ramalho, tiveram um bom desem- penho com relação ao trabalho. Tanto os professores quanto os alunos tiveram assiduidade e

140 Relatório apresentado à Assembléia Legislativa em 1840 por D. José de Assis Mascarenhas.

141 Relatório apresentado pelo Dr. Joaquim Ignácio de Ramalho à Assembléia Legislativa de Goiás - 1847, p.96. In: Memórias Goianas nº 4 e livro de matrículas do Liceu – Museu das Bandeiras – Cidade de Goiás.

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respeito, e os alunos, além disso, demonstraram interesse, talento e vontade de aprender142. Podemos dizer que a maior dificuldade do Liceu era a falta de um prédio próprio para o seu estabelecimento. Desde sua abertura, funcionava em salas improvisadas, no andar inferior da Casa da Tesouraria, que estavam desocupadas e não tinham um destino certo.

Para sua instalação143, foram preparadas três salas com os móveis necessários para que ocorressem as aulas e uma secretaria para a organização de todo o seu expediente. A Província, segundo os governantes, não podia dispor de muito dinheiro com a instrução pública. Por isso, tudo deveria ser feito com o máximo de economia.

O governo reconhecia a importância do Liceu para Goiás por ser o único estabeleci- mento de ensino onde acontecia instrução secundária na Província e porque a idéia de criar um Liceu na Cidade de Goiás surgiu da necessidade de formar professores para as escolas públicas da Província.

Mas a Cidade de Goiás, devido ao estilo de suas construções, não possuía nenhum pré- dio que pudesse colocar esse estabelecimento de ensino. Por isso, era necessário que o governo fosse autorizado a destinar quantias precisas para adquirir um prédio onde pudesse colocar o Liceu.