• Nenhum resultado encontrado

2. CAPÍTULO 2

3.1. Dr João Gomes Machado Corumbá

3.1.5. A primeira aula de aritmética e geometria

Entre os anos de 1830 e 1834, em todo Brasil, houve um aumento significativo de es- colas de Primeiras Letras. Esse fenômeno surgiu devido à Lei de 15 de outubro de 1827, para a educação, que no seu Art.1º dizia que:

em todas as cidades, vilas e lugares mais populosos haverá as escolas de primeiras letras que forem necessárias (Câmara dos Deputados – Decretos, Leis e Alvarás).

No início do ano de1831, ainda governava a Província de Goiás o Brigadeiro Miguel Lino de Moraes. Nesta época, no Conselho Geral da Província de Goiás84, um dos assuntos a ser discutido era o recurso destinado ao custeio das escolas de Primeiras Letras, cujos salários dos professores deveriam ser aprovados na lei do orçamento. Para ser professor de uma dessas escolas, de acordo com ordens imperiais85 recebidas, os candidatos deveriam ser capazes de ensinar de acordo com as determinações do Artigo 6o da Lei de 15 de outubro de 1827:

os professores ensinarão a ler, escrever, as quatro operações de aritmética, prática de quebrados, decimais e proporções, as noções mais gerais de Geometria prática, a gramática de língua nacional, e os princípios de moral cristã e da doutrina da religião católica e apostólica romana, proporcionados à compreensão dos meninos; preferindo para as leituras a Constituição do Império e a História do Brasil. Câmara dos Deputa- dos: Coleção de Leis do Império do Brasil-1821-183086.

83 Examinador em Matemática: Pela atas das reuniões dos conselhos, em nossa opinião, a pessoa era convidada pelo conselho para avaliar os candidatos às Cadeiras de Primeiras Letras nas matérias de Aritmética e Geo- metria.

84 jornal “A Matutina Meyapontense” de 19 de julho de 1831 - Atas das sessões de 7 a 9 de Março de 1831. 85 Decisão Imperial, nº 17 de 29 de Janeiro de 1829. Decretos, Leis e Alvarás. http://www.camara.gov.br Aces-

so em 10 de julho de 2006.

80

Além disso, por decisão imperial o professor interessado numa das cadeiras de Primei- ras Letras, ao ser avaliado nas matérias específicas do Art. 6º da Lei de 15 de outubro de 1827 e que não se mostrasse instruído nelas, não deveria ser aprovado. Devido às exigências da lei, surgiram dúvidas por parte dos membros do Conselho sobre a existência, na província de Goiás, de Mestres com os conhecimentos especificados.

Existia, nessa época, para serem preenchidas na Comarca do Norte, uma Aula de Gra- mática Latina, três Aulas de Ensino Mútuo, cinco Aulas de Ensino Individual e uma Escola de Meninas. Tais aulas já haviam sido aprovadas87 pela regência provisória em nome do Impera- dor. Na Comarca do Sul havia quatro Aulas de Ensino Mútuo, vinte e uma de ensino individual e uma Escola de Meninas.

A solução encontrada foi antecipar a convocação das pessoas que se julgassem prepa- radas para ocupar uma das cadeiras de Primeiras Letras existente em Goiás. Então, por meio de um edital, houve uma convocação para aquelas pessoas que estivessem interessadas. Por esse edital, a pessoa deveria, no primeiro dia do mês de setembro de 1831, apresentar seu requeri- mento com habilitações precisas.

Para que ocorresse o concurso era necessário, segundo o Conselho, ter a certeza de que existiriam examinadores. Assim, lembraram de escrever ao Bacharel pelo Curso Matemático da Universidade de Coimbra, João Gomes Machado Corumbá, ao Ouvidor da Comarca, Joaquim Francisco Gonçalves Ponce de Leão, e ao Juiz de fora da Cidade, João Chrisóstomo Pinto da Fonseca, consultando sobre o interesse dos mesmos em participar desse evento.

Ainda em março de 1831, o “Dr. Corumbá” foi consultado sobre o seu interesse em participar como examinador das matérias de Aritmética e Geometria nos concursos públicos. Ele respondeu enviando um ofício que foi apresentado no Conselho88. Nesse ofício, além de aceitar o convite para ser examinador nas matérias de Aritmética e Geometria, conforme o Art. 6o. da Lei de 15 de outubro de 1827, também oferecia para “ensinar uma hora, todas as tardes, por um espaço de seis meses, na casa que se destinar, àquelas pessoas que quiserem se instruir em Arit- mética e Geometria, a fim de se habilitarem para poderem ser professores de Primeiras Letras”.

Em 1831, não se pensava, conforme os relatórios89 do governo da Província de Goiás, em um curso que preparasse professores para as Escolas de Primeiras Letras, e isso devia ser

87 Foram dois, os Decretos de 7 de junho de 1831: um criou a Aula de Gramática Latina e o outro as Aulas de Primeiras Letras.

88 Conselho Geral da Província de Goiás sessões 10 a 17 de março de 1831. – publicado pelo Jornal “A Matu- tina Meyapontense” de 28 de julho de 1831.

81

um problema também nas outras províncias90.

A Lei de 15 de outubro de 1827 lembrou da formação do professor de Primeiras Letras, dizendo, em seu Art. 5º, que:

os professores que não tiverem a necessária instrução deste ensino irão instruir-se em curto prazo e à custa de seus ordenados nas escolas das capitais. (Câmara dos Depu- tados – Coleção de Leis do Império do Brasil: 1821 – 1830).

Em Goiás, nessa época, as escolas existentes continuavam sendo as mesmas do pe- ríodo colonial: seis de Primeiras Letras e uma de Gramática Latina. Além disso, o ensino de Primeiras Letras estava sendo modernizado pela Lei de 15 de outubro de 1827. Logo, é possível que na Cidade de Goiás não existisse um professor que pudesse preparar outros professores para essas escolas.

Pelo convite feito a algumas pessoas para serem examinadores dos concursos públi- cos, entendemos que os candidatos às cadeiras existentes para professores de Primeiras Letras seriam avaliados, nas matérias citadas no Art 6º da lei, separadamente e não pelo conjunto de conhecimentos.

Dessa forma, ao se oferecer espontaneamente para ministrar um curso de seis meses para aquelas pessoas que quisessem se habilitar a serem professores de Primeiras Letras, João Gomes Machado Corumbá, provavelmente, iria ensinar as quatro operações de Aritmética, a prática de quebrados, decimais e proporções e as noções mais gerais de Geometria Prática. Na Universidade de Coimbra, no seu primeiro ano do curso Matemático, cursou as cadeiras de Aritmética, Álgebra, Geometria e Trigonometria, que foram estudadas no compêndio Matemá- tica Pura de Francoeur91 e Geometria de Euclides. Possivelmente, a sua proposta de curso deve ter sido inspirada neste autor ou na Aritmética de Bézout92.

Até essa época, não há registro de alguma pessoa que ministrasse aulas públicas de Aritmética e Geometria na província de Goiás. Oferecer para ministrar um curso gratuitamen- te tornou-se um fato importante por dois motivos: o presidente da província podia aumentar o número de escolas públicas e proporcionar mudanças na educação, e porque o curso tinha, como único objetivo, instruir pessoas em Aritmética e Geometria que quisessem fazer os con- cursos para as cadeiras de Primeiras Letras. Por essa razão, consideramos que ele inaugura o

90 Na Coleção de Leis do Império, só encontramos autorização para abertura de Escola Normal a partir de 1835, sendo, a primeira delas, em Niterói.

91 Pedimos informações sobre os livros adotados no Curso Matemático entre 1822 e 1827. Foi nos enviado um documento avulso de 1838/1839. Segundo dados da Universidade de Coimbra, as cadeiras e os compêndios eram os mesmos utilizados anteriormente.

92 Segundo Valente (1999, p.81), a Aritmética de Bézout foi traduzida do francês por ordem do Marquês de Pombal e inúmeras reimpressões pela Universidade de Coimbra até 1826.

82

primeiro curso que teve como finalidade formar professores. Podemos imaginar algumas ra- zões que contribuíram para que ele propusesse esse curso. Uma delas poderia ser que, devido à sua formação, quisesse colocar em pratica os ensinamentos obtidos nos cursos Filosófico e Matemático da Universidade de Coimbra. Em segundo, poderia ser a falta de conhecimento matemático dos habitantes de Goiás apresentados pelo governo93. Terceiro, a falta de preparo dos professores e de pessoas interessadas nos concursos, de acordo com a lei de 15 de outubro de 1827, que, em 1831 era preocupante, uma vez que Goiás estava carente de escolas. Havia ainda a discussão, no Conselho da Província, sobre a existência de uma verba que poderia pro- porcionar mais qualidade na instrução pública.

O conselho agradeceu o seu oferecimento espontâneo e pediu que ele declarasse a hora e o local que fosse mais adequado para ele, assim como a data em que pretendia iniciar esse curso para que fosse publicado em edital.

Ele respondeu ao conselho, indicando o local e a hora, mas quanto ao dia em que pre- tendia começar o ensino da Aritmética e Geometria, estava fazendo algumas reflexões a respei- to. No Conselho94 foi comunicado que fosse publicada a abertura da aula para o dia 1o do mês de Setembro e convidava todas as pessoas que quisessem freqüentar, inclusive, os candidatos às cadeiras de Primeiras Letras no concurso de 1o de março do ano seguinte. Esse diálogo ocor- reu entre março e abril de 1831. O Conselho, nesse período, anunciou que o concurso para os professores de Primeiras Letras aconteceria em 1o de março de 1832. E anunciou que, a partir daquele momento, estavam aceitando requerimentos de todos aqueles que se julgassem aptos a fazerem os exames. Comunicou ainda que, no dia 4 de junho de 1831, poderiam entrar em concurso as senhoras que se destinassem ao magistério das meninas na Cidade de Goiás, e que estas poderiam enviar seus requerimentos ao Sr. Presidente para que o conselho se reunisse.

É interessante observar que o concurso foi marcado para 1º de março de 1832, e o iní- cio das aulas para 1o de setembro, exatamente seis meses antes do mesmo.

Em 1o de setembro, conforme o previsto, o Dr. Corumbá fez a abertura da aula de Arit- mética e Geometria, que, segundo contam, foi um ato solene. Na ocasião estiveram presentes o Exmo. Sr. Vice-Presidente, o Exmo. Conselheiro do Governo, a Câmara Municipal e demais autoridades, demonstrando gratidão para com o Dr. Corumbá, que se ofereceu para ensinar gratuitamente por seis meses. Foi então conduzido para o Paço do Conselho Geral, onde ele fez um discurso sobre a matéria, mostrando-se reconhecido aos agradecimentos que recebia. Em seguida, foi reconduzido pelos mesmos senhores à sua casa, onde 12 alunos se matricularam.

93 Relatórios apresentados pelo governo da Província – 1831 e 1832. In: Jornal “A Matutina Meyapontense”. 94 Sessões de 7 a 13 de abril de 1831 do Conselho Geral da Província.

83

Esse acontecimento marcou a abertura da primeira aula de Aritmética e Geometria do estado de Goiás e foi noticiado pelo jornal “A Matutina Meyapontense”, de setembro de 1831.

Para abrir a sua aula de Aritmética e Geometria, Dr. Corumbá exigiu mesa, cadeira, bancos, campainha, papel, lápis e tinta, sendo tudo da melhor qualidade. Ainda pediu uma sala boa, pintada de novo, e uma tábua pintada de preto, larga, quadrada e sustentada por um triân- gulo. Essa tábua preta, mais tarde, foi doada a um professor de Primeiras Letras pelo método de Ensino Mútuo, em 9 de janeiro de 1833. É possível que João Gomes Machado Corumbá tenha inaugurado um novo modelo de organização de sala de aula e de apresentar a matéria aos alunos, pois nos pedidos de materiais relatados nos conselhos, geralmente, estavam coisas mais simples como penas, tinta e papel. Ele trouxe um modelo de quadro negro que deveria ser do conhecimento das pessoas que estudaram fora de Goiás, mas que estas não trouxeram para a sua prática.

Para essa primeira aula, o Intendente dos Armazéns Nacionais95 havia ordenado que o Dr. João Gomes Machado Corumbá, Lente96 de Aritmética e Geometria, recebesse os com- pêndios existentes para que distribuísse aos alunos no primeiro de setembro. Mas os livros só chegaram depois de primeiro de setembro e foi pedido ao Dr. Corumbá um recibo de entrega do material. O importante nesse ato foi a distribuição de livros às pessoas interessadas nas aulas de Aritmética e Geometria, porque, pelos relatórios do governo, era um material raro na Província de Goiás.

95 Armazéns Nacionais: Depósitos para estocar mercadorias importadas e para exportação. Podiam ser estatais ou privados.

84

FIGURA 30 - Ata da reunião do Conselho do governo da Província de Goiás, sessão 10 a 17 de março de 1831. Nesta reunião foi apresentado o ofício de João Gomes Machado Corumbá aceitando ser Examinador e oferecendo para ensinar por seis meses, uma hora todas as tardes Aritmética e Geometria.

FIGURA 31 - Nota sobre a primeira aula de Geometria. In: Jornal “A Matutina Meyapontense” de setembro de 1831.

FIGURA 32 - Nota sobre entrega de Compêndios In: Jornal “A Matutina Meyapontense” de setembro de 1831.

85

Através dos relatos de Auguste de Saint-Hilaire, vimos que, mesmo no período colo- nial, existiram pessoas em Goiás que tinham bibliotecas particulares; em Santa Luzia de Goiás, ele conheceu o vigário João Teixeira Alvarez que sabia Latim, Francês, Italiano e Espanhol e possuía algumas centenas de livros; em Jaraguá, conheceu o capelão, que era um mulato co- nhecido por seu gosto pela matemática e que aprendera um pouco de grego e de filosofia. Em sua biblioteca existiam alguns livros de autores franceses. Na Cidade de Goiás, foi valorizada a estante do Padre Luiz Antônio da Silva e Souza.

As dificuldades de proporcionar conhecimentos de Aritmética e Geometria a professo- res era uma tarefa difícil, uma vez que faltava no Brasil material impresso sobre o assunto. Isso dificultava o estudo dessas matérias e o interesse das pessoas em progredir nos seus estudos, ou seja, de estudar e aprender sozinhas. Isso foi colocado em relatório pelo governo da Província de Goiás97.

Por volta de 1830, começaram a surgir no Brasil as primeiras obras didáticas. No Rio de Janeiro, em 1832, surgiu o Compêndio de Aritmética, de Candido Batista de Oliveira; em 1838, o Compêndio de Matemáticas Elementares, de Pedro d’Álcântara Bellegarde; e a edição brasileira de Geometria, de Vilela Barbosa, cuja primeira edição era de 181598. Não podemos afirmar se alguns destes livros chegaram a Goiás nessa época por não encontrar registros dos professores desse tempo.

Em 28 de fevereiro de 1832, na sessão do Conselho, leu-se o requerimento de Vicente Pinto de Souza, professor de Primeiras Letras com o método de Ensino Mútuo99 da Cidade de Goiás, pedindo dispensa de dar aulas às tardes enquanto se dedicava ao estudo da Geometria para participar do concurso para a cadeira de Primeiras Letras citada. De acordo com a nova lei, nos seus art. 7º e 9º, para continuar nessa cadeira, o professor deveria ser examinado publica- mente diante dos presidentes em conselho. O Conselho propôs que fosse nomeada uma pessoa hábil para ensinar à tarde, durante o tempo do mesmo estudo.

Nessa mesma sessão, o presidente da província ofereceu uma das salas da Casa, Re- sidência do Governo, para o ensino da Aritmética e Geometria, já que o Conselho Geral havia recusado emprestar o local para a aula dessas matérias. Ainda solicitou ao Sr. Pedro Gomes Machado, membro do Conselho e pai do Dr. Corumbá, Lente de Aritmética e Geometria, que consultasse sobre qual era a vontade do seu filho.

97 Jornal “A Matutina Meyapontense” de 15 de junho de 1830. 98 Castro, F. M. de Oliveira (1999, p.34)

99 Ensino Mútuo: Também conhecido como método lancasteriano. Esse modo de ensinar visava suprir a falta de professores, pois um aluno adiantado poderia ensinar a um grupo de alunos sob orientação e supervisão de um único professor. In: Dicionário da Educação Brasileira - http://www.educabrasil.com.br. Acesso em 17 de agosto de 2007.

86

Nos concursos, os candidatos eram examinados em Aritmética e Geometria, cujos conteúdos eram as quatro operações de Aritmética, prática de quebrados, decimais e propor- ções, as noções mais gerais de Geometria prática, exigidas pelo Art. 6o da Lei de 15 de outubro de 1827. Para esse exame, os conhecimentos de Geometria eram dificuldades que muitos candi- datos não estavam dispostos enfrentar, talvez por não existir alguém que a ensinasse. Podemos dizer que isso acontecia em todo o Brasil, pois na sessão de 15 de junho de 1830 da Câmara dos Deputados100, entrou em discussão um projeto de Lei que alterava o método de prover as esco- las de Primeiras Letras, independente do exame de Geometria, nos lugares onde aparecessem candidatos que não a soubessem. Foram apresentados diversos argumentos:

deveria dispensar o exame de Geometria que embaraçava serem as cadeiras digna- mente providas por não haver em muitos lugares quem a soubesse, nem quem a en- sinasse.

O que a Lei exigia de Geometria era muito pouco e indispensável a todos.

A Lei era vaga a respeito de Geometria e deixava ao arbítrio do Governo ou do exa- minador o exigir mais ou menos conhecimento.

A Geometria era a verdadeira Lógica prática e com ela se dispensava a Lógica e a Me- tafísica de Genuense101 e a Ética de Heinéccio102 (Jornal “A Matutina Meyapontense”

- 27 de Novembro de 1830).

Em Goiás, no ano de 1830, João Gomes Machado Corumbá talvez fosse o único que possuísse conhecimentos de Aritmética e Geometria. Não podemos afirmar com certeza que seu objetivo primeiro era ser professor dessa cadeira. Na época de sua chegada em Goiás, em 1828, o Presidente, Brigadeiro Miguel Lino de Morais, tinha dificuldades com a instrução pública da Província. Existiam poucas escolas e talvez não houvesse pessoas interessadas em ocupar as diversas cadeiras que estariam sendo propostas conforme a Lei de 15 de outubro de 1827, que instituía o método de Ensino Mútuo e conhecimentos de Aritmética e Geometria. Pela situação geográfica da Província de Goiás e os problemas enfrentados com a instrução pública, podemos concluir que a chegada de João Gomes Machado Corumbá foi recebida com entusiasmo pelo Presidente da Província, principalmente, porque a sua presença na Cidade de Goiás poderia contribuir na preparação de “opositores” que tivessem possibilidade de aprova- ção em concurso público.

O Brigadeiro Miguel Lino de Moraes iniciou um trabalho para superar as dificuldades com a instrução pública: propôs a criação de várias escolas de Primeiras Letras em toda a Pro-

100 Rio de Janeiro – Câmara dos Deputados: 34º Sessão em 15 de junho de 1830 – Publicada pelo Jornal “A Matutina Meyapontense” de 27 de novembro de 1830.

101 Antonio Genovesi (1712 – 1769) também conhecido pelo nome latino de Genuense. Suas três grandes obras foram Metafísica Elementar (1713), A Instituição da Lógica (1746) e Lições de Comércio (1765). Além do Panfleto A Verdadeira Finalidade das Letras e das Ciências (1753).

87

víncia de Goiás, mas foi deposto em 1831, e a Província passa a ser governada pelo Cel. José Rodrigues Jardim.

Durante este governo, a instrução teve um grande progresso comparado a outros tem- pos. Houve concursos públicos para as escolas de Primeiras Letras e Escolas de Meninas, além de ser autorizado pela Regência Imperial, o preenchimento das cadeiras de Filosofia, Geometria e Francês da Cidade de Goiás103, que estavam vagas. Quanto à cadeira de Lógica, que foi apro- vada pelo o Conselho de Goiás e encaminhada ao Imperador para aprovação, não encontramos nenhuma referência sobre ela. Mas podemos imaginar, pelas discussões ocorridas no Conselho de Goiás e na Câmara dos Deputados, que ao autorizar o preenchimento das cadeiras de Filoso- fia e Geometria, estaria contemplando as idéias presentes na proposta da cadeira de Lógica.

Para o Cel. José Rodrigues Jardim104, era necessário ter Escolas de Primeiras Letras em todas as povoações que pudessem reunir certo número de alunos e, nessas aulas, deveria ser ensinada a leitura, a escrita, as quatro operações de Aritmética e a doutrina cristã. Na sua administração105 chegou a gastar a quarta parte da renda da Província com a instrução pública.

Diversas resoluções106 do governo, de 1829 a 1832, estabeleceram, na Província de Goiás, escolas com o método de Ensino Mútuo e com o método de Ensino Individual em dife- rentes vilas.

Nessa época, em todo o Brasil, houve aumento das escolas pelo método de Ensino Mútuo, devido à Lei de 15 de outubro de 1827 no seu Art. 4º:

as escolas serão de ensino mútuo nas capitais das províncias; e o serão também nas cidades, vilas e lugares populosos delas, em que for possível estabelecerem. (Câmara